A missão hoje. Fundamento, conversão e extensão a partir do Documento de Aparecida
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- Sebastião Barros Chagas
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1 A missão hoje Fundamento, conversão e extensão a partir do Documento de Aparecida
2 A missão no DAp O capítulo onde se aborda especificamente o tema da missão no DAp é um dos mais interessantes. Aqui encontramos três aspectos: 1. O fundamento e a dinâmica da missão ( Viver e comunicar a vida nova em Cristo ); 2. A necessidade de uma metanóia pessoal e estrutural para tornar-se sujeito da missão ( Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades ); 3. A necessária extensão da ação missionária para o mundo inteiro ( Nosso compromisso com a missão ad gentes ).
3 Profundidade e extensão Esse esquema, fundamento conversão extensão, tenta responder a um dos propósitos principais da V Conferência (cf. DA 11). Ao mesmo tempo, retoma com vigor um eixo vital de Puebla: A evangelização tem de calar fundo no coração do homem e dos povos. Por isso sua dinâmica procura a conversão pessoal e a transformação social. A evangelização há de estender-se a todos os povos; por isso sua dinâmica procura a universalidade do gênero humano. Ambos estes aspectos são de atualidade para evangelizar hoje e amanhã a América Latina (Puebla 362).
4 Fundamento Viver e comunicar a vida nova em Cristo
5 O que é a missão? A Igreja peregrina é missionária por natureza, porque tem sua origem na missão do Filho e do Espírito Santo, segundo o desígnio do Pai (AG 2). Por isso, o impulso missionário é fruto necessário à vida que a Trindade comunica aos discípulos (DA 347). A grande novidade que a Igreja anuncia ao mundo é que Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, a Palavra e a Vida, veio ao mundo para nos fazer participantes da natureza divina (2 Pd 1,4), para que participemos de sua própria vida (DA 348).
6 Jesus a serviço da vida Compreender a missão não como necessidade histórica, mas como essência gratuita de Deus Amor, significa para o presbítero adoção de uma prática jesuana de proximidade aos outros. Se quiser encontrar Jesus, é preciso ir à Galiléia: lá está ele, pregando a Boa Nova do Reino e curando todo tipo de doença (Mt 4,23). A essência missionária da Igreja diz respeito também à essência do Evangelho que vão anunciar: Deus é Pai, nós somos seus filhos e filhas, irmãos e irmãs entre nós.
7 Uma vida plena A vida em Cristo inclui a alegria de comer juntos, o entusiasmo para progredir, o gosto de trabalhar e de aprender, a alegria de servir a quem necessite de nós, o contato com a natureza, o entusiasmo dos projetos comunitários, o prazer de uma sexualidade vivida segundo o Evangelho, e todas as coisas com as quais o Pai nos presenteia como sinais de seu sincero amor (DA 356) A missão do anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo tem destinação universal. Seu mandato de caridade alcança todas as dimensões da existência, todas as pessoas, todos os ambientes da convivência e todos os povos. Nada do humano pode lhe parecer estranho (DA 380).
8 Uma vida plena O Deus de Jesus quer que todos sejam felizes. A única coisa que nos pede é aquela de viver como filhos do Pai e como irmãos entre nós: isso é a origem, o caminho e a meta da missão. A nossa fé não constitui uma moral, um rito: funda e se realiza num humanismo. Amar o humano em todas as suas manifestações: isto é divino e isto é exigido aos discípulos. O Evangelho não indica as condições para salvar a própria alma: indica como viver plenamente, humanamente, na base do amor gratuito. Ele é recompensa para si próprio.
9 Uma missão que comunica vida Uma vida plena segundo o Evangelho é uma vida que se torna dom. A vida de Jesus foi um dom: tomai e comei, isto é o meu corpo. Nós fazemos eucaristicamente memória desse dom quando nos entregamos inteiramente à doação, até coincidir rigorosamente com o Dom recebido. Isso tem uma conseqüência direta para a missão: fazer discípulos (Mt 28,19) significa envolver os nossos interlocutores nessa lógica do dom, fazendo com que eles também participem da vida de Deus.
10 Uma missão que comunica vida A vida se acrescenta dando-a, e se enfraquece no isolamento e na comodidade. O Evangelho nos ajuda a descobrir que o cuidado enfermiço da própria vida depõe contra a qualidade humana e cristã dessa mesma vida. Vive-se muito melhor quando temos liberdade interior para doá-la. Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: Que a vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isso é, definitivamente, a missão (DA 360).
11 Conversão Renovação missionária das comunidades
12 Conversão como saída de si A Igreja necessita de forte comoção que a impeça de se instalar na comodidade, no estancamento e na indiferença, à margem do sofrimento dos pobres do Continente (DA 362). Nós somos agora, na América Latina e no Caribe, seus discípulos e discípulas, chamados a navegar mar adentro para uma pesca abundante. Trata-se de sair de nossa consciência isolada e de nos lançarmos, com ousadia e confiança (parrésia), à missão de toda a Igreja (DA 363).
13 Ser de novo evangelizados O DAp menciona a falta de espírito missionário do clero e falta de solidariedade na comunhão dos bens entre as igrejas, como sombras na caminhada eclesial latino-americana. O tema da conversão, antes de ser dirigido aos destinatários da missão, é apontado pelo DAp como exigência para a própria Igreja. Para converter-nos numa Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora, temos que ser de novo evangelizados e fiéis discípulos (DA 549).
14 Como peregrinos a caminho Uma Igreja enviada é uma Igreja que está fora de casa, que faz a experiência radical do seguimento, do despojamento e da itinerância, como companheira dos pobres (cf. DA 398) e como hóspede na casa dos outros. A identificação de Jesus com o caminho foi algo de marcante para os primeiro cristãos. Eles se autodenominavam de pertencentes ao Caminho (At 9,2). A missão consiste no seguinte: não podemos esperar que as pessoas venham a nós, precisamos nós ir ao encontro delas e anunciarlhes a Boa Nova ali mesmo onde se encontram.
15 Abandonar as estruturas caducas Estruturas caducas estão enraizadas em nós: somos ainda muito eclesiocêntricos. Tradicionalmente, a missão sempre foi atrelada ao conceito de ação, de expansão, de conquista, de colonização e de território. Substituímos o termo missão com evangelização, sem mudar nossa visão. Continuamos chamar os outros de pagãos, infiéis, não-cristãos,... afastados (!), etc. Não conseguimos ser missionários fora do aconchego da nossa comunidade.
16 Ir além da pastoral de conservação Somos convidados a transformar não apenas as nossas pessoas, mas o nosso próprio agir. Aparecida faz um apelo para uma mudança de mentalidade em relação a um estilo projetual de fazer a missão. O projeto de Jesus (cf. Mt ,42) nos ensina a: Ver a realidade com os olhos de Deus; Chamar as pessoas para enviá-las em comunidade; Definir a missão em torno a destinatários específicos; Escolher os caminhos de promoção da vida; Procurar os meios simples e esseciais.
17 Extensão Nosso compromisso com a missão ad gentes
18 A missão hoje A Igreja se encontra hoje numa situação de diáspora. Cidades e metrópoles substituíram aldeias em todos os continentes. Nesse contexto a missão ad gentes amplia por inércia seu âmbito de ação. Três situações: a missão ad gentes, nova evangelização e cuidado pastoral. Tarefa primeira da Igreja, a de ser enviada a todos os povos (RMi 34).
19 O bom pastor Trata-se de um modelo aplicável ao cuidado pastoral (cf. RMi 33). É uma missão no espaço do curral. É uma missão que desenvolve uma relação pessoal, intima, com seus destinatários (chama pelo nome, as ovelhas ouvem, reconhecem ). É uma missão onde o pastor é guia que acompanha fora do curral. É uma missão onde se dá a vida.
20 O semeador Trata-se de um modelo aplicável à nova evangelização (cf. RMi 33). É uma missão no espaço do campo. É uma missão que lança sementes de mão larga em todos os terrenos, sem excluir nenhum. É uma missão na mais absoluta gratuidade: a semente brota sozinha (cf. Mc 4,27), Deus faz crescer (cf. 1Cor 3,7). É uma missão marcada pela esperança.
21 O pescador Trata-se de um modelo aplicável à missão ad gentes (cf. RMi 33). É uma missão em alto mar. É uma missão que lança as redes sem alguma certeza de pegar alguma coisa. É uma missão na qual a Igreja descobre sua verdadeira vocação no deixar-se conduzir só pela palavra. É uma missão marcada pela pura fé.
22 5. Missão Universal 4. Missão ad gentes 3. Missão Continental 2. Comunidade missionária 1. Missão aos corações
23 1. Missão aos corações O campo da Missão ad gentes se tem ampliado notavelmente e não é possível definilo baseando-se apenas em considerações geográficas ou jurídicas. Na verdade, os verdadeiros destinatários da atividade missionária do povo de Deus não são só os povos não cristãos e das terras distantes, mas também os campos sócio-culturais, e sobretudo os corações (DA 375). É um afã e anúncio missionários que precisa passar de pessoa a pessoa, de casa em casa, de comunidade a comunidade (...) procurando dialogar com todos (DA 550).
24 2. Comunidade missionária A paróquia é chamada a tornar-se comunidade de comunidades (DA 309; 517e), comunidade missionária (DA 168) e lugar de formação permanente (cf. DA 306). Que seja menos instituição e mais comunidade, atenta à vida (cf. DA 225). A comunidade representa a grande proposta que a Igreja faz ao mundo com sua missão. A proposta de Jesus é de uma fraternidade peregrina que se faz próxima a todos, conjugando comunidade com missão: comunhão na missão e missão em comunhão.
25 3. Missão Continental Retoma o o conceito de nova evangelização. Por ser um projeto que tem como destinatários as igrejas locais, esse plano de missão continental tornou-se na realidade um projeto de animação missionária. A novidade da perspectiva da Missão Continental é de passar de uma nova evangelização para uma Igreja em estado permanente de missão. Outro aspecto é a cooperação entre as Igrejas do continente. Missão Continental poderia tornar-se também uma ocasião para promover uma inter-ajuda entre igrejas latino-americanas.
26 4. Missão ad gentes A missão ad gentes convoca hoje à Igreja na AL a um êxodo constante junto: aos pobres, principalmente, os moradores de rua, os migrantes, os enfermos, os dependentes químicos e os presos (DA VIII); à sociedade: atenção especial para a família, e a seus sujeitos (DA IX,1-7); aos areópagos: cultura moderna global, mundo da educação, da comunicação, da política, da economia, da ciência e tecnologia; Enfoques sobre a cidade, os indígenas e afrodescendentes, a integração LA (DA X,6-9).
27 5. Missão universal O mundo espera de nossa Igreja latinoamericana e caribenha um compromisso mais significativo com a missão universal em todos os Continentes. Para não cairmos na armadilha de nos fechar em nós mesmos, devemos formar-nos como discípulos missionários sem fronteiras (DA 376). Seria um erro deixar de promover a atividade evangelizadora fora do Continente com o pretexto de que ainda há muito para fazer na América, ou à espera de se chegar primeiro a uma situação, fundamentalmente utópica, de plena realização da Igreja na América (EA 74).
28 Conclusão Todos esses âmbitos da missão da Igreja são constitutivos para definir a identidade e a missão dos discípulos missionários hoje. A Igreja, com toda sua ministerialidade, é chamada a anunciar o Evangelho no meio de todos os povos. A missão ad gentes representa uma dimensão privilegiada para a vida e o compromisso de todos os batizados. Aumente o espaço de sua tenda, ligeira estenda a lona, estique as cordas, finque as estacas (Is 54,2).
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