Porque a violência e o trauma tornaram-se um problema de Saúde Pública e o que fazer para diminuir sua incidência?
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- Leonor Fortunato Bernardes
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1 Porque a violência e o trauma tornaram-se um problema de Saúde Pública e o que fazer para diminuir sua incidência? Dados preliminares do sistema de informações de mortalidade do Ministério da Saúde de 2006 indicam óbitos por homicídio (130 por dia), mortes por transito (96 por dia) e suicídios (23 por dia) o que equivale a 249 mortes ao dia. Não podemos esquecer que as mortes correspondem à ponta do iceberg, uma vez que o número de pessoas vitimadas é muito maior e muitas vezes com seqüelas elevando o custo da saúde. Segundo o IPEA o custo total com violência e trauma foi de 90 bilhões de reais em 2004 o que representou 5% do PIB Brasileiro e equivale a um gasto de R$ 519,00 por brasileiro contra R$ 360,00 reais que a Saúde /MS gasta por ano/ habitante. Devido a este fato hoje a violência é tratada como uma epidemia silenciosa e por ser um fenômeno sócio histórico, a violência não é em si, uma questão exclusiva de Saúde Publica e nem um problema médico típico, mas com reflexos enormes na saúde tais como: Provoca morte, lesões e traumas físicos e um sem número de agravos mentais emocionais e espirituais; Diminui a qualidade de vida das pessoas e das coletividades; Exige uma readequação da organização tradicional dos serviços de saúde; Coloca novos problemas para o atendimento medico de urgência, preventivo e curativo; Evidencia a necessidade de uma atuação muito mais especifica, interdisciplinar, multidisciplinar, Intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos cidadãos com uma nova visão integrada dos setores de Segurança Pública, Educação, Cultura, Saúde e Esporte. Enquanto problema de Saúde Publica, a violência e o trauma expressam-se com alto impacto no adoecimento e morte da população, especialmente na mortalidade precoce, na diminuição da expectativa e qualidade de vida de adolescentes, jovens e adultos. O fenômeno possui causas múltiplas, complexas e correlacionadas com determinantes sociais e econômicos tais como: desemprego, baixa escolaridade, concentração de renda, exclusão social, aspectos relacionados ao comportamento e cultura. Acreditamos que o setor saúde, articulado com os demais setores governamentais e não governamentais participantes, como aliados ao controle social da comunidade, com esforço integrado dos cidadãos poderão enfrentar as diversas formas de violência e promover a saúde e a cultura da paz. Eis o grande desafio para a construção de um mundo mais saudável, com direitos garantidos, equidade, justiça, inclusão social, cidadania e paz.
2 Alguns aspectos da violência obriga-nos a reflexão em um campo social mais amplo uma vez que: 1) São as mulheres que mais sofrem agressão principalmente na adolescência e na vida adulta, na maioria das vezes cometida por um único individuo, do sexo masculino. 2) 58% das violências acontecem na residência e 31% são atos de repetição. 3) 43% das violências contra crianças foram praticadas pelo pai e/ ou a mãe. 4) 30% das violências contra pessoas adultas foram praticadas pelo conjugue e 1% pelo ex-cônjuge. 5) 37% das violências contra idosos e idosas foram praticadas pelo filho (a), e 17% por outros parentes e 10% pelo cônjuge. 6) As mortes violentas representam a terceira causa de morte na população, mas são as principais responsáveis de morte dos brasileiros entre 01 e 39 anos de idade. 7) O jovem do sexo masculino é a maior vítima: 80% de seus óbitos são por causas externas, das quais mais da metade são homicídios e acidentes de transportes. 8) Os negros são vítimas de homicídio quase duas vezes mais que os brancos e são as principais vítimas em quase todos os tipos de violência, principalmente nos casos de agressões. 9) Entre 2003 e 2005 foram poupadas vidas e possíveis vítimas de homicídio por arma de fogo, porém em 2006 o número de homicídios por arma de fogo voltou a subir. 10) Dados do Serviço de Emergência em 40 municípios brasileiros apontam que 47% dos homens vítimas de agressão teriam feito uso de álcool. 11) A maior parte dos óbitos por suicídio ocorreu no sexo masculino. 12) Enforcamento foi o meio mais utilizado para suicídio (57,5%), seguido por disparo de arma de fogo (13,2%) e intoxicação química (12,5%). Para que seja enfrentado de maneira pró-ativa, os estudos indicam que cinco áreas de atuação deverão ser abrangidas: -Vigilância Mapeamento e integração dos sistemas de informação, tanto na área de saúde, segurança, trânsito e outros;
3 - Prevenção e promoção ampliação e fortalecimento da rede nacional de prevenção de violência e promoção da saúde por meio das cidades protetoras da vida, ou seja, cidades que adotam políticas de prevenção da violência e promoção da cultura de paz; - Organização da assistência pela desbanizalização do sofrimento da população nos serviços de saúde especialmente nas urgências médicas, pela profissionalização da gestão e da atenção às urgências e pela responsabilização dos gestores nas três esferas de governo e nos próprios serviços de urgência. Pela implementação plena da Política Nacional de atenção às urgências médicas; - Formação e educação permanente pela promoção e capacitação das equipes de PSF e agentes comunitários em parceria com o PRONASCI Programa Nacional de Segurança do Cidadão Ministério da Justiça; - Legislação Mudanças da legislação em relação ao uso de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos com controle sobre o consumo e a publicidade. Apoio à implementação que altera o Código de Trânsito Brasileiro Lei nº alcoolemia zero. Reforço das ações de leis que tratam da violência de crianças, adolescentes, idosos e populações especiais. Alteração da legislação no sentido de reforçar as ações de combate à repressão e ao crime no combate de drogas. Cubatão Dados do Ministério da Saúde, através do indicador de Analise da Desigualdade em Saúde realizado em 2006, referente ao período de 2002 a 2004, no item municípios acima de 100 mil habitantes, que Cubatão, uma cidade com população aproximada de em 2003, teve 219 mortes por agressão, classificada como a trigésima cidade no aspecto de violência. No município de Cubatão, assim como em todo o Brasil, tem-se observado ao longo dos anos importante diminuição dos óbitos por doenças infecciosas e aumento da expectativa de vida, queda da fecundidade, envelhecimento da população, diminuição expressiva da mortalidade infantil e aumento da importância das doenças crônicodegenerativas e elevação da morbi-mortalidade decorrente da violência. As principais causas de óbito no município têm sido: doenças do aparelho circulatório, causas externas (violências), neoplasias e causas mal definidas. Entre as mulheres a principal causa de morte são as doenças aparelho circulatório, doenças do aparelho respiratório e neoplasias. Para os homens a principal causa de morte são as doenças do aparelho circulatório seguida pelas causas externas (violências) e doenças do aparelho respiratório. Causas externas (violências)
4 A Figura abaixo apresenta os coeficientes de mortalidade padronizados por faixa etária para as causas externas - Violência. Cubatão apresenta coeficientes muito maiores que as outras regiões. Os dados disponíveis para comparação são os de 1980 a Coeficiente de mortalidade padronizado por faixa etária - Causas externas - Brasil, Estado de São Paulo, Baixada Santista e Cubatão a br sp baixada 100 cubatao Como apresentado anteriormente às mortes violentas foram a segunda em importância no município de Cubatão em A tabela a seguir apresenta as principais causas violentas por faixa etária. Em 2007, metade dos óbitos por causas externas foram devido a acidente de transporte. Tabela - Principais causas de óbito do capítulo da CID 10 por faixa etária Causas externas Cubatão 2007 Faixa Etária Total < a 20 a 50 e Ignor Causas ado N.º % 1. Acidente de Transporte Afogamento Suicídios Homicídios Eventos intenção 00 indeterminada Demais causas externas
5 Total Conclusão Devido à violência e trauma serem responsáveis pela morte anual de 120 mil brasileiros e que 360 mil sobrevivem com seqüelas, levando a um gasto anual do tratamento do trauma de 04 bilhões de dólares e que 90% destas lesões podem ser prevenidas por ações em educação, cumprimento da legislação, promoção da saúde, cultura da paz, urge a necessidade dos gestores, quer seja federal, estaduais e principalmente municipais de assumirem o compromisso para a diminuição dos números atuais por meio de políticas públicas, investimento em profissionais da área da saúde e demais áreas envolvidas. Doutor Armando Tadeu Guastapaglia Médico, Conselheiro Nacional de Saúde Representante das entidades Médicas Nacionais (Associação Médica Brasileira), Coordenador da Comissão Intersetorial Permanente do Trauma e Violência do Conselho Nacional de Saúde e Diretor do Serviço de Emergência da Prefeitura Municipal de Cubatão. Reunião com o Ministro da Saúde Dr. José Gomes Temporão.
6 Nossos desafios para o futuro... ß Aprimorar o conjunto de nossas equipes para a identificação das situações de violência; ß Aprimorar o sistema de registro e divulgação dos resultados; ß Utilizar dados de vigilância para orientar as ações nas comunidades; ß Envolver as comunidades o enfrentamento das causas externas; ß Aprimorar o atendimento às vítimas de violência de modo a não revitimizar e ser resolutivo; ß Identificar parceiros e fortalecer as redes locais, da nossa cidade e de outras; ß Diminuir até eliminar as mortes e lesões por causas externas visto que são eventos essencialmente evitáveis.
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