TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO MATO GROSSO SEGUNDA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO Nº / CLASSE CNJ COMARCA CAPITAL APELANTE: BRADESCO SEGUROS S.A. APELADO: EDSON LOPES DA COSTA Número do Protocolo: /2008 Data de Julgamento: EMENTA APELAÇÃO CÍVEL FEITO DE COBRANÇA INDENIZAÇÃO SEGURO DPVAT PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO REJEITADA TRATOR VEÍCULO DE TRAÇÃO AUTOMOTORA DE VIA TERRESTRE AUSÊNCIA DE REGISTRO E LICENCIAMENTO IRRELEVÂNCIA INDENIZAÇÃO DEVIDA PROVA DO SINISTRO E DA DEBILIDADE PERMANENTE POSSIBILIDADE DE ARBITRAMENTO EM SALÁRIOS-MÍNIMOS RECURSO DESPROVIDO. Verifica-se ser irrelevante para concessão de indenização de seguro obrigatório a aferição quanto ao tipo de acidente, se de trânsito ou trabalho, a teor do estabelecido pela Lei n , de 1992, cuja exigência limita-se ao acidente envolvendo veículo automotor em via terrestre. Não obstante, os tratores que não circularem em via pública são considerados automóveis automotores para fins de DPVAT. 1 / 8

2 O recebimento da indenização securitária referente ao DPVAT não está condicionado ao registro e licenciamento do veículo, bastando a demonstração do nexo de causalidade. O laudo pericial do Instituto Médico Legal não configura documento essencial e imprescindível à propositura do feito de cobrança para indenização do seguro obrigatório - DPVAT, pois a incapacidade decorrente do sinistro pode ser aferida por outros meios de prova. O valor da cobertura do seguro obrigatório de responsabilidade civil de veículo automotor - DPVAT - é de quarenta (40) salários-mínimos, fixado consoante critério legal específico e vigente à época do sinistro. R E L A T Ó R I O EXMO. SR. DES. A. BITAR FILHO Egrégia Câmara: Apelação cível interposta por Bradesco Seguros S.A. contra sentença que julgou parcialmente procedente o pedido do reclamante, condenando a ré/apelante ao pagamento da indenização correspondente ao seguro obrigatório no valor de 40 (quarenta) salários-mínimos, devidamente atualizado a partir do ajuizamento da ação pelo índice do INPC e juros de 1% ao mês desde a citação. 2 / 8

3 Em preliminar, alega impossibilidade jurídica do pedido sob o fundamento de que o acidente foi provocado por trator sem licenciamento. No mérito, argumenta a impossibilidade de pagamento do seguro, pois a lesão ocorreu por acidente de trabalho ocasionado por trator na lavoura, fora de via pública de circulação. Acrescenta ainda o fato de não haver nos autos prova da existência de lesão de caráter permanente, bem como o grau da limitação sofrida. Esclarece quanto à impossibilidade de se vincular a indenização DPVAT ao salário-mínimo, sob o argumento de que a decisão é contrária à doutrina e à jurisprudência, além de contrariar a Lei nº 6.423/77 e a Constituição da República e que o limite máximo indenizável pelo seguro obrigatório é de R$13.500,00 (treze mil e quinhentos reais). Ao final, pede o provimento do recurso. Em contrarrazões, o apelado requer o improvimento do apelo. É o relatório. V O T O EXMO. SR. DES. A. BITAR FILHO (RELATOR) Egrégia Câmara: A preliminar de impossibilidade jurídica do pedido se confunde com o mérito e com ele será analisado. 3 / 8

4 No caso em exame, o autor ajuizou Ação de Cobrança de Seguro Obrigatório - DPVAT com o intuito de receber a indenização, na qualidade de vítima em acidente automobilístico ocorrido em (fl. 24), ocasionando-o a perda da visão do olho direito, com complicações de caráter permanente, conforme demonstrado pelos documentos de fls. 21/23. A apelante requer a reforma da decisão objetivando se extinga o processo sem resolução de mérito, ante a impossibilidade jurídica do pedido, caracterizando-se o fato como acidente de trabalho e não de trânsito, bem como pelo fato de o acidente estar relacionado a um trator não registrado nem licenciado, juridicamente inexistente. Tenho que nenhuma razão lhe assiste em seus argumentos. Isso porque a Lei n , de 1992 dispõe que o seguro obrigatório é devido no caso de "danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não " e uma vez considerando-se o disposto no art. 96 do Código de Trânsito Nacional, "classificam-se como veículos automotores de tração, o caminhão-trator, o trator de rodas, o trator de esteira e o trator misto", não há se falar que o caso em tela evidencia acidente de trabalho, como pretende fazer acreditar a apelante. Notadamente, o acidente noticiado nos presentes autos subsume-se inteiramente aos ditames da legislação específica para fins de considerá-lo como de trânsito. Convém esclarecer que a lei não especifica qualquer hipótese ou condições para o acidente enquadrar-se na tipificação dos acidentes automobilísticos, bem como do nexo de causalidade existente entre o dano sofrido e o evento provocado por um veículo automotor em via terrestre. Além disso, o fato de o sinistro noticiado ser ocasionado por um trator agrícola sem a existência do registro e licenciamento, também não impede a indenização do seguro, posto que mesmo sem licenciamento os tratores continuem sendo veículos automotores, inclusive especificado no próprio CNT. Não se mostra razoável o afastamento da obrigação da seguradora de indenizar eventuais 4 / 8

5 lesados, pelo fato de o proprietário do automóvel não ter procedido ao seu registro e licenciamento, pois esta obrigação indenizatória decorre da própria sistemática legal, tuteladora das vítimas de acidente de trânsito. No âmbito da legislação discutida, não existem hipóteses legais de excludentes ou causas concorrentes da responsabilidade para fins do pagamento integral, satisfazendo-se a lei como o mero nexo de causalidade conforme mencionado acima. Nesse sentido os seguintes julgados: CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROPRIETÁRIOS DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIA TERRESTRE (DPVAT). RECURSO ESPECIAL. NULIDADE DO ACÓRDÃO. CPC, ART INOCORRÊNCIA. ACIDENTE CAUSADO POR TRATOR. COBERTURA DEVIDA. CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULA N. 43/STJ. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. JUROS MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. CITAÇÃO.... II. Os sinistros que envolvem veículos agrícolas passíveis de transitar pelas vias terrestres estão cobertos pelo DPVAT. (STJ, REsp /SP, Relator Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, DJ ). E ainda: AÇÃO DE COBRANÇA - SEGURO OBRIGATÓRIO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROPRIETÁRIOS DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIA TERRESTRE (DPVAT) - INAPLICABILIDADE DO PRAZO PRESCRIONAL DE 01 ANO - AÇÃO MOVIDA PELA ESPOSA DA VÍTIMA FATAL DO ACIDENTE - PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE DE QUALQUER SEGURADORA INTEGRANTE DO CONSÓRCIO - PRECEDENTES - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO PAGAMENTO DO SEGURO - IRRELEVÂNCIA - ACIDENTE COM TRATOR EM ÁREA RURAL - COBERTURA - SEGURO 5 / 8

6 DE CUNHO SOCIAL SENTENÇA MANTIDA - RECURSO IMPROVIDO. 1. O seguro obrigatório de responsabilidade civil dos proprietários de veículos automotores de via terrestre é exigido por força de lei em favor das vítimas dos acidentes que envolvam essa espécie de veículo O trator é veículo automotor e, como tal, está adequado aos ditames da Lei n 6.194/74, circulando ou não por via pública, distinção não pretendida pela legislação, que tem por escopo a indenização por acidente causado por qualquer veículo automotor de via terrestre, independentemente de haver outro veículo envolvido no sinistro. (TJ/MT, RAC 98122/2006, Relator Des. José Ferreira Leite, Sexta Câmara Cível, DJ ). Quanto à alegação de não haver prova nos autos de que a lesão decorreu de um acidente automobilístico, bem como da comprovação da lesão de caráter permanente e o grau da invalidez, também não merece acolhida. O boletim de ocorrência, bem como o laudo do perito oficial (fls. 20/24) demonstra que o apelado sofreu debilidade permanente de função (perda da visão do olho direito) em decorrência de acidente automobilístico, comprovando tanto a ocorrência do sinistro quanto o grau da invalidez. Ademais, nos feitos que visem o recebimento de indenização do seguro obrigatório de veículos - DPVAT, o laudo pericial do Instituto Médico Legal não configura documento essencial e imprescindível a sua propositura, visto que possível aferir a incapacidade decorrente do sinistro por outros meios de prova, como no caso em comento. Referentemente à impossibilidade de vinculação da indenização de seguro DPVAT ao salário-mínimo, em virtude de expressa vedação constitucional (art. 7º, IV, CF/88) e infraconstitucional (art. 1º, Lei nº 6.205/75), é pacífico na jurisprudência de que a fixação da cobertura do DPVAT em salários-mínimos cuida-se de mero critério indenizatório,de cunho 6 / 8

7 legal e específico dessa natureza de cobertura, sem característica de indexação inflacionária. Nesse sentido o julgado: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA - PRELIMINAR - FALTA DE INTERESSE RECURSAL - AUSÊNCIA DE LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ - DIREITO CONSTITUCIONAL DE RECORRER - REJEITADA SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT - INDENIZAÇÃO POR MORTE - VINCULADA AO SALÁRIO-MÍNIMO - POSSIBILIDADE - APLICAÇÃO DA LEI Nº 6.194/74 NÃO INCOMPATIBILIDADE COM AS LEIS Nº 6.205/75 E Nº 6.423/77 NÃO AFRONTA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL - RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS (CNSP) - NÃO SOBREPOSIÇÃO À LEI - RECURSO IMPROVIDO.... A condenação determinada em salários-mínimos não é inconstitucional, bem como o artigo 3º da Lei nº 6.194/74 não foi revogado pelas Leis nºs /75 e 6.423/77. A resolução do Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP não pode alterar o valor do seguro fixado por lei. (TJ/MT, RAC 82128/2007, Relatora Desa. Maria Helena Gargaglione Póvoas, DJ ). Pelo exposto, nego provimento ao apelo. É como voto. ACÓRDÃO 7 / 8

8 Vistos, relatados e discutidos os autos em epígrafe, a SEGUNDA CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, sob a Presidência do DES. A. BITAR FILHO, por meio da Câmara Julgadora, composta pelo DES. A. BITAR FILHO (Relator), DESA. MARIA HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS (1ª Vogal) e DR. MARCELO SOUZA DE BARROS (2º Vogal convocado), proferiu a seguinte decisão: RECURSO IMPROVIDO, UNANIMEMENTE. Cuiabá, 8 de julho de DESEMBARGADOR A. BITAR FILHO - PRESIDENTE DA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL E RELATOR 8 / 8