PANORAMA GERAL DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI de Sylvia Maria Mendonça do Amaral
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- Domingos Godoi Laranjeira
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1 PANORAMA GERAL DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA LEI de Sylvia Maria Mendonça do Amaral Muito tem sido noticiado em todos os meios de comunicação quanto a alteração na Legislação Civil com a entrada em vigor do novo Código Civil em 11 de janeiro de Apesar de novo, inicialmente há que se mencionar que o anteprojeto de Lei, que deu origem ao denominado Novo Código Civil data de agosto de 1972, tendo seu texto inicial sofrido várias emendas tanto no Senado Federal como na Câmara dos Deputados, o que resultou no texto promulgado em 10 de janeiro de 2002, consagrando alguns temas inovadores e muitos outros aspectos jurídicos já reconhecidos anteriormente por nossos Tribunais, passando a existir expressamente como texto legal. Ademais, em fevereiro, o deputado federal Ricardo Fiúza reapresentou perante a Câmara dos Deputados, projeto para aprovação de cerca de 310 alterações no Novo Código Civil (Lei ). No momento, devido a grande divulgação do tema, considerando que muitos temas ainda não foram suficientemente esclarecidos, passamos a apresentar um apanhado geral das principais alterações que têm efeito imediato no cotidiano de todos nós, sem deixar de informar que em boletins futuros, serão aprofundados os pontos ora destacados. Maioridade Civil A pessoa se torna habilitada para todos os atos da vida civil ao completar 18 anos de idade. A emancipação pode ser providenciada aos 16 anos de idade mediante instrumento público assinado pelos pais, ou por um deles na falta do outro. Regulamentação aos direitos da personalidade - Os direitos sobre o próprio corpo, sobre a intimidade, o nome e à imagem passaram a ser expressamente regulados. Despersonalização da pessoa jurídica Anteriormente a pessoa jurídica era despersonalizada podendo-se atingir aos bens do sócio com base em artigos do Código Tributário Nacional (art.135), do Código de Defesa do Consumidor (art. 28) e da Lei das Sociedades Anônimas. O Novo Código Civil passou a regulamentar a matéria em seu artigo 50. Lesão Grave e Estado de Perigo Na vigência do Código Civil antigo, apenas o erro, o dolo, a coação, a simulação e fraude contra credores autorizavam a anulação do negócio jurídico. O Novo Código Civil incluiu a lesão e o estado de perigo como fatores que poderão anular o negócio jurídico. Entende-se como lesão o lucro exagerado de uma das partes quando, em contrapartida, a outra parte que realizou negócio é inexperiente ou estava sob necessidade. Já o estado de perigo decorre da situação em que se encontra o indivíduo que realiza o
2 negócio apenas para salvar a si próprio ou a pessoa de sua família, desde que o outro contratante tenha conhecimento da situação de necessidade. Contrato de Adesão - Nos contratos em que uma das partes simplesmente adere sem alterar seu texto, anuindo com todas as cláusulas previamente estipuladas, ante cláusulas ambíguas e contraditórias, prevalecerá a interpretação que favorecer ao aderente. Onerosidade Excessiva - Nos contratos que se executam continuadamente (p.ex. leasing) se a prestação se tornar excessivamente onerosa para o devedor e houver extrema vantagem para o credor, em decorrência de acontecimentos extraordinários, poderá o contrato ser resolvido. Venda de bem por parte do ascendente ao descendente A venda de bem por parte do ascendente ao descendente, desde que sem o consentimento dos outros descendentes e cônjuge anulável e não nula. Título de Crédito O Novo Código Civil passa a conter disposições gerais sobre os títulos de crédito, incluindo disposições sobre o título nominativo, ou seja, aquele no qual consta o nome do favorecido no registro de emitente. Usucapião Redução do prazo para a aquisição do bem mediante a posse contínua. Antes a ocupação tinha de ser exercida em alguns casos por 20 (vinte) anos. O Novo Código Civil reduziu esse prazo para 15 (quinze) anos. Em outras hipóteses a ocupação que tinha de ser exercida por 10 (anos), em havendo utilização da área para moradia ou realizado investimentos, será o prazo reduzido para 5 (cinco) anos. Usucapião Especial O Novo Código Civil incorporou as regras do Usucapião Especial previsto anteriormente tão somente na Constituição Federal para áreas rurais de até 50 hectares e áreas urbanas de até 250 metros quadrados, após a ocupação ininterrupta de 5 anos, desde que o ocupante não seja proprietário de outro imóvel. Perda do Imóvel O Novo Código Civil prevê a possibilidade do particular perder a sua propriedade para o Município ou Distrito Federal, desde que o bem imóvel seja urbano e esteja abandonado, não havendo qualquer pessoa no exercício da sua posse, após três anos. Caso o bem seja rural, o imóvel será confiscado pela União Federal. Presume-se o abandono na hipótese do proprietário deixar de arcar com os ônus fiscais. Multa Condominial A multa por inadimplemento condominial poderá ser fixada em no máximo 2% do valor do condomínio. Condômino Anti-social O condômino que desrespeitar as suas obrigações gerando incompatibilidade para a convivência com os demais condôminos poderá ser constrangido a pagar multa até o décuplo do valor atribuído a contribuição para as despesas condominiais.
3 Vaga de Garagem - O condômino que resolver alugar a garagem para veículos de pessoas estranhas ao condomínio poderá faze-lo, desde que seja respeitada a preferência dos condôminos. Igualdade entre homens e mulheres O novo Código Civil igualou expressamente os direitos dos homens e mulheres, adequando-se aos já preceituados na Constituição Federal de Isso fez com que alguns dispositivos deixassem de existir como, por exemplo, o fato de não ser mais possível a anulação de casamento se a mulher ao casar não for mais virgem. A guarda dos filhos que antes era preponderantemente destinada à mãe, agora será dada àquele que tiver melhores condições de sustentar a criança. O antigo pátrio poder agora é denominado poder familiar, sendo exercido pelo homem e mulher em paridade. Os cônjuges têm dever mútuo de prestar alimentos na hipótese de um deles assim necessitar. Casamento - O casamento religioso em qualquer credo tem efeitos civis, desde que seja registrado em até 90 dias da sua realização. Casamento Gratuito O novo Código Civil estabelece que para aqueles que se declararem pobres, o casamento será gratuito. Regime de Casamento Pelo novo Código Civil, o regime de casamento pode ser alterado a qualquer momento, o que antes era vedado. Ressalte-se que é possível o casamento por quatro formas de regime: comunhão universal de bens, comunhão parcial de bens, separação total de bens e participação final nos aqüestos. Separação Judicial Se ambos os cônjuges desejarem se separar, a separação judicial poderá ser pleiteada após 1 (um) ano da data do casamento. Pela legislação extraordinária que regulava a matéria, esse prazo era de dois anos. Divórcio - Não mais se exige que para haver o divórcio haja estipulação para a partilha dos bens. Não há mais perda do direito de alimentos daquele que pede o divórcio independentemente de comprovar a culpa do cônjuge. Adultério O adultério continua a ser hipótese de culpa para a separação judicial, mas o cônjuge adúltero não perde o direito de pleitear alimentos. O cônjuge adúltero pode casar-se com seu amante, direito que lhe era vedado pelo Código Civil anterior.
4 Filiação O novo Código Civil passa a considerar presumida a filiação de crianças havidas na constância do casamento por inseminação artificial heteróloga, desde que com prévia autorização do marido. Paternidade - Antes o prazo para contestar a paternidade era de 2 meses do nascimento da criança. Pelo novo Código Civil a paternidade pode ser contestada a qualquer tempo. Testamento O número de testemunhas necessárias no testamento público e cerrado foi reduzido de 5 (cinco) para apenas 2 (dois). No testamento particular, o número de testemunhas foi reduzido de 5 (cinco) para 3 (três). Herança no casamento A principal mudança veio a incluir o cônjuge na ordem de sucessão, dependendo do regime de bens instituído para o casamento. Melhor esclarecendo, na hipótese do regime da comunhão parcial de bens e no regime da separação total de bens (voluntária), o cônjuge passa a concorrer com os descendentes na ordem de sucessão hereditária, sendo caracterizado como herdeiro necessário. Assim, em havendo descendentes e cônjuge, a herança passa a ser dividida entre eles igualmente. Não havendo descendentes, mas havendo ascendentes e cônjuge, estes concorrem em paridade para o recebimento da herança. Não havendo nem descendentes, nem ascendentes, mas havendo cônjuge, este último herda a totalidade dos bens. Herança na união estável A companheira ou o companheiro participará da herança um do outro em relação aos bens adquiridos onerosamente na constância da união estável. Cláusulas de incomunicabilidade, impenhorabilidade e inalienabilidade No caso de disposição por testamento, havendo a estipulação de cláusula de inalienabilidade dos bens deixados em testamento, referida cláusula implica na assunção também das cláusulas de incomunicabilidade e impenhorabilidade. Entretanto, não mais se admite a estipulação de cláusula de inalienabilidade sem que haja justa causa para tanto nos bens que corresponderem à legítima. Ressalta-se que nos testamentos feitos anteriormente a 11 janeiro de 2003, estes devem ser refeitos para que conste expressamente a justa causa da cláusula de inalienabilidade nele inserida, sob pena de não subsistir a restrição. União Estável - A regulamentação da União Estável passa a constar expressamente do novo Código Civil, não mais ficando adstrita a legislação extraordinária. Relevante alteração vem no sentido de que será considerada união estável o relacionamento daquele que estiver separado de fato do respectivo cônjuge e se envolver em união com terceiro. Bem de Família Como os companheiros em regime de união estável estão tendo paridade de direitos com os cônjuges casados sob o regime da comunhão parcial de bens, as disposições sobre bem de família passaram a
5 incluir taxativamente as expressões união estável e companheiros, para que não pairem dúvidas quanto a aplicabilidade desse instituto também para os conviventes sob o regime da união estável. Aval Passou a ser expressamente exigida a assinatura de ambos os cônjuges na emissão do aval. Anteriormente bastava a assinatura de um deles. Fiança Além de se manter a exigência da assinatura de ambos os cônjuges, o Código inovou ao determinar que nos contratos por prazo indeterminado, os fiadores deixem o referido encargo com a mera notificação, ficando ainda responsáveis pelo prazo de 60 (sessenta) dias. Anteriormente, somente era possível destituição do fiador por sentença judicial. Administrador O administrador da sociedade, mesmo que não seja sócio, tem responsabilidade solidária pelos prejuízos causados pela empresa à sociedade. Sylvia Maria Mendonça do Amaral - Advogada formada pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo com especialização em Direito de Família pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC-MG. Atua nas áreas contenciosa e consultiva desde Membro do IBDFAM Instituto Brasileiro de Direito de Família. Palestrante de temas relacionados ao Direito de família e Direito Civil. Autora do livro Direitos dos Homossexuais e Transexuais e editora do site sylvia@smma.adv.br
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