DESMITIFICANDO ESTERIÓTIPOS SOBRE POPULAÇÕES INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRABALHO DE CAMPO.

Transcrição

1 DESMITIFICANDO ESTERIÓTIPOS SOBRE POPULAÇÕES INDÍGENAS ATRAVÉS DO TRABALHO DE CAMPO. Liziane Neves dos Santos- Aluna do curso de Geografia e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID- CAPES) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Daiala Barroso Saltoris - saltorisd@hotmail.com Aluna do curso de Geografia e bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID-CAPES) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Willian Silva da Rocha - zwrilha@hotmail.com Aluno do curso de Geografia e bolsista do Programa de Iniciação Científica (PIBIC) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro INTRODUÇÃO A geografia, em seu processo de ensino-aprendizagem, consiste em relacionar as dimensões físicas e sociais. Em sua especificidade, a mesma, analisa as relações e manifestações socioculturais e de formação populacional, abrangendo perspectivas das diferentes sociedades. Através dela, observa-se a formação da população brasileira, que enquanto colônia de Portugal constituiu um pensamento eurocêntrico e hierárquico e também, a inserção no sistema capitalista. Nesse contexto, a visão sobre as populações indígenas, que já habitavam o território brasileiro, era inferiorizada pelo colonizador por não os considerá-los civilizados, somente por não possuir os padrões da sociedade européia Após mais de

2 quinhentos anos do período colonial, o pensamento arcaico em relação aos povos originários ainda é muito pertinente nos dias atuais. O protótipo do senso comum, que cerca as sociedades indígenas, tende a se consolidar a partir das ações midiáticas e de práticas pedagógicas que reproduzem a imagem do índio ainda no período colonial e as apresentam de forma homogênea. Contudo, podemos utilizar a geografia como instrumento de desvinculação dessa imagem através das apresentações metodológicas que visam à compreensão da dinâmica dessas sociedades, assim como suas interações sociais e manifestações culturais. Segundo Lacoste(1977), a geografia, na produção do saber, trata-se do reconhecer e dominar os elementos do concreto e extrair idéias de sua função problemática, assim, obtém ferramentas para desconstruir o pensamento colonizador. Nessa perspectiva, o desenvolvimento de aprendizagem, abordagem conceitual, juntamente com a aproximação da empiria, promove um maior entendimento dos povos originários correlacionado com sua compreensão do real. OBJETIVOS Através da epistemologia de construção da sociedade brasileira, podemos observar que as influências de seu colonizador obtêm suas marcas na sociedade contemporânea, dita moderna. O discurso progressista tecnológico exclui sociedades que possuem os cotidianos voltados à outra perspectiva, como a de subsistência, por não contribuem com o sistema capitalista e para o desenvolvimento econômico. A paralisia imaginária de outros métodos de vida traz a população um pensamento único em relação ao modo de vida de produção e consumo. Sendo assim, a proposta utilizada pelo trabalho de campo integrado do curso de Licenciatura plena em Geografia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro do Instituto Multidisciplinar consiste em analisar uma sociedade específica, distinta da realidade dos discentes e docentes que participaram da atividade. A partir da vivência na

3 Aldeia da Pedra Branca, da etnia Krahô, localizada próximo ao município de Itacajá- Tocantins pode-se obter a integração de culturas e proporcionar aos estudantes uma nova perspectiva de relação em sociedade. O conhecimento empírico, através da observação e interações sociais, contribuiu para a desconstrução do pensamento folclórico sobre os povos indígenas. Essa ideologia é constituída a partir de metodologias de ensino que reforçam o estigma de estagnação cultural e exclusão dessas sociedades como parte do presente. Assim, há a necessidade de formação de docentes que possuam uma perspectiva da realidade de diferentes sociedades para combater o pensamento único. METODOLOGIAS A temática indigenista ao ser introduzida como objeto para percepção do indivíduo necessita de aspectos que trabalhem a diferença entre as sociedades, assim como a utilização cultural apropriada da nossa sociedade. Com isso, o planejamento compôs-se da utilização de textos que para o entendimento da organização social da comunidade Krahô, organização espacial e suas atividades culturais fossem apresentadas aos estudantes. Assim, como a exibição de vídeos que expõem a vivência de outros indivíduos com aldeias da mesma etnia. O planejamento "pré-campo" consistiu na elaboração de oficinas em que os discentes e docentes participantes do campo discutiram as interações entre a aldeia e a cidade, e foram apresentadas as dinâmicas citadas acima. A vivência, como forma empírica de conhecimento, traz abordagens que a conceituação não atende na formação do docente, pois a integração e a relação de compreensão vêm da perspectiva da pesquisa in loco, não somente laboratorial.

4 Após a implementação dessas metodologias, o entendimento inicial sobre a etnia Krahô foi estabelecida parcialmente para que os estudantes descobrissem a partir das interações na aldeia e houvesse a fomentação de indagações sobre a temática. Dentre as abordagens, é importante salientar a diversidade de grupos indígenas existentes no Brasil, que possui mais de 215 etnias que também utilizam línguas distintas, assim, observa-se que há a necessidade da preparação dos estudantes para não haver um choque cultural. RESULTADOS PRELIMINARES A realização de integração intercultural na formação do professor vem da necessidade de perspectiva abrangente para mediação de conhecimentos em sala de aula, sendo assim, a vivência contribui para uma nova perspectiva de educação pois não há homem sem mundo, nem mundo sem homem, não pode haver reflexão e ação fora da relação homem-realidade (FREIRE, ) assim a análise de outros grupos sociológicos parte da observação, por vezes considerado com cunho antropológico, tange a geografia pelo caráter crítico aplicada a temática. Através do trabalho de campo, os futuros docentes desconstruíram o pensamento congelado e não evolutivo para com os povos tradicionais, obtendo maior senso crítico em relação à perspectiva contra hegemônica que no que tange as questões indígenas. Segundo Lacoste: Primeiramente, que os estudantes de Geografia, mesmo iniciantes em boa parte, podem apresentar após uma dezena de dias de trabalho intensivo este tempo não é, aliás, suficiente- um conjunto coerente de informações em grande proporção inéditas. Elas contribuíram para tomada de consciência por uma parte da população estudada (mas não somente os notáveis e os intelectuais) de um certo número de problemas que, até então, ela não se colocava, e cujas soluções determinarão seu futuro. Seguramente, só se trata, de uma iniciação à pesquisa mas, é o começo de uma verdadeira pesquisa. (LACOSTE, 1977, P.19)

5 Sendo parte de uma pesquisa inicial, a discussão da introdução de questões indigenistas na formação do docente e a realização de trabalhos de campo para sua desmistificação não se esgota no presente trabalho, pois os impactos relacionados com as experiências promovidas pelo campo serão refletidas em docência, e que obtêm processo de resultado gradual, se estendendo nas práticas pedagógicas adotadas pelo profissional da educação que obteve essa experiência. BIBLIOGRAFIA FREIRE, Paulo, Educação e mudança. 1, Ed.- Rio de Janeiro: Paz e Terra, GALLOIS, Dominique Tilkin. Sociedades indígenas em novo perfil: alguns desafios. Revista do Migrante Travessia, Ano XIII/ , p LACOSTE, Yves. A pesquisa e o trabalho de campo: Um problema político para os pesquisadores, estudantes e cidadãos. Revista Hérodote n 8, out./dez. de 1977, p VENTURI, Luis Antonio Bittar. O uso de técnicas e práticas no ensinoaprendizagem e suas contribuições no processo de formação. Entre - Lugar, Dourados, MS, ano 3, n.6, p Semestre de 2012.