PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é apelante JEFERSON FERREIRA PORTO, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente) e NEWTON NEVES. São Paulo, 6 de dezembro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Criminal nº Comarca: São Bernardo do Campo Apelante: JEFERSON FERREIRA PORTO Advogado: Alexandre Marques Frias VOTO Nº Apelação. Homicídio simples tentado e porte de munição. Sentença condenatória. Pleito defensivo de aplicação do princípio da consunção em relação ao delito do Estatuto do Desarmamento. Impossibilidade. Crimes autônomos. Subsidiariamente, requer a diminuição da pena imposta e aplicação do regime inicial semiaberto. Condenação pautada no farto e seguro acervo probatório. Dosimetria escorreita. Manutenção do regime inicial fechado, mais adequado 'in casu'. Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto pela douta defesa de JEFERSON FERREIRA PORTO, contra sentença de primeiro grau (fls. 219/223), prolatada em 12 de fevereiro de 2016, pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Gustavo Kaedei, da Vara do Júri da Comarca de São Bernardo do Campo, que, de acordo com a decisão dos jurados, o condenou às penas de 6 anos, 2 meses e 20 dias, de reclusão, em regime inicial fechado; 1 ano, de detenção, em regime inicial aberto; e ao pagamento de 10 dias-multa, no piso, declarando-o como incurso no art. 121, caput, c.c. art. 14, inciso II, ambos do Código Penal, e no art. 12, da Lei /03, na forma do art. 69, do Apelação nº

3 Código Penal. Irresignada, a defesa interpôs o presente recurso de apelação objetivando, em síntese, a aplicação do princípio da consunção com relação ao delito do Estatuto do Desarmamento e, subsidiariamente, a diminuição da pena imposta e aplicação do regime inicial semiaberto. Em suas contrarrazões, o Ministério Público bateu-se pela manutenção do decisum. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, opinou pelo desprovimento ao apelo. É o relatório. Devidamente processado, o apelo não comporta provimento, merecendo ser mantida r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 12 de novembro de 2014, por volta de 17h30min, na Estrada dos Alvarengas, nº 53062, cidade de São Bernardo do Campo, JEFERSON FERREIRA PORTO, prevalecendo-se das relações domésticas e de coabitação, com intenção homicida, efetuou disparos de arma de fogo contra sua companheira, Lourdes Vidal de Paula, causando-lhe os ferimentos descritos no laudo de exame de corpo de delito de fl Iniciando, dessa forma, a execução de um delito de homicídio que somente não se consumou por circunstâncias alheias a sua vontade. Consta, ainda, que JEFERSON, nas mesmas circunstâncias de tempo e local, possuía e mantinha sob sua guarda, munições de arma de fogo, consistentes em 9 Apelação nº

4 cartuchos íntegros de calibre 38, de uso permitido, conforme auto de exibição e apreensão de fl. 13, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no interior de sua residência. Finda a instrução o apelante foi condenado pelo Tribunal do Júri, por homicídio simples. Embora não seja objetivo do recurso, observo que a decisão se coaduna com as provas coligidas nos autos, sendo a tese acusatória corroborada pelas testemunhas ouvidas e a própria confissão parcial do acusado. A testemunha Ana Paula Vidal de Paula, filha da vítima, confirmou os fatos narrados na denúncia e reconheceu Jeferson como sendo o autor da tentativa de homicídio. O acusado, em plenário, alegou que, no dia dos fatos, chegou bêbado em sua casa e, na tentativa de travar a arma, disparou acidentalmente contra a vítima. Não teve a intenção de atingi-la. Não soube explicar o motivo de estar armado no momento da discussão e confessou a posse de munição em sua residência. O revólver acabou por dispensar em local incerto após os fatos. Como demonstrado, as testemunhas presenciais confirmam a intenção homicida nos disparos efetuados pelo apelante, não sendo cabível hipótese de erro ao manusear a arma, mesmo porque foram 3 tiros na cabeça da vítima. A dosimetria, por sua vez, não merece Apelação nº

5 qualquer reparo, porquanto fixada a base acima do mínimo legal, ante o motivo e consequências do crime, sendo que a vítima sofreu graves lesões e ficou permanentemente incapaz de trabalhar. Tratando-se de crimes distintos, a pena corretamente foi somada, de acordo com o art. 69, do Código Penal. Por fim, ante a pluralidade de crimes e as circunstâncias do homicídio, de rigor a manutenção do regime inicial fechado, como bem fundamentado pelo juízo a quo, conforme art. 33, 3º, do Código Penal. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo interposto por JEFERSON FERREIRA PORTO, mantendo-se, in totum, a r. decisão atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº