Proteção Jurídica do Conhecimento Tradicional Associado à Biodiversidade. Harmonização dos artigos 8ª (j) da CDB e 27.
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- Raphaella Klettenberg Castel-Branco
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1 Proteção Jurídica do Conhecimento Tradicional Associado à Biodiversidade Harmonização dos artigos 8ª (j) da CDB e 27.3(b) do TRIPS
2 Importância do uso da biodiversidade, principalmente na indústria farmacêutica. 118 dos 150 medicamentos mais prescritos no ano de 1997continham ao menos um dos principais ingredientes ativos derivados de componentes da diversidade biológica. Apenas 40 espécies são utilizadas, e menos de 1% das espécies da flora tropical tiveram sua atividade bioquímica analisadas.
3 Brasil como país megabiodiverso O Brasil é considerado como sendo o país que abriga a maior biodiversidade do planeta. Outros países considerados megabiodiversos são a Índia, Colômbia, Peru, México, Madagascar, Zaire, Austrália, China, Indonésia e Malásia. Juntos estes países contém aproximadamente 70% das espécies do mundo.
4 Importância mundial dos mecanismos de proteção ao direito de propriedade intelectual. TRIPS Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights Agreement. Tratado administrado pela Organização Mundial do Comércio, com atualmente 148 signatários
5 Objetivos do Tratado: Redução das distorções e impedimentos ao comércio internacional Promover efetiva e adequada proteção aos direitos de propriedade intelectual, e assegurar que medidas e procedimentos de proteção aos DPI não se tornem barreiras para o comércio legítimo. Estabelecimento de novas regras para cumprimento dos DPI, levando em consideração as diferenças entre os sistemas legais nacionais
6 Princípio do Tratamento Nacional Cada Membro concederá aos nacionais dos demais Membros tratamento não menos favorável que o outorgado a seus próprios nacionais com relação à proteção da propriedade intelectual
7 Princípio do Tratamento da Nação mais favorecida Impõe a obrigação de estender para todos os demais membros qualquer vantagem, privilégio ou imunidade concedida a um determinando país ( Com relação à proteção da propriedade intelectual, toda vantagem, favorecimento, privilégio ou imunidade que um Membro conceda aos nacionais de qualquer outro país será outorgada imediata e incondicionalmente aos nacionais de todos os demais Membros )
8 Abrangência do Tratado Copyrights, trademarks, indicações geográficas, patentes, registro de desenho industrial, segredos industriais, controle de práticas anti-concorrenciais.
9 Dispositivo mais significativo para o objetivo deste estudo Art. 27.3(b) do TRIPS - permite aos membros excluir a patenteabilidade de plantas e animais, e os obriga a conceder proteção para variedades de plantas através de patentes ou de um sistema sui generis. Inexiste previsão da obrigação de informar a origem geográfica da planta a ser patenteada
10 Patentes Concedidas para invenções que atendam aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.
11 Sistema de patentes norte-americano: análise do requisito de novidade dicotomia territorial A legislação americana dá tratamento diferenciado à aferição da novidade em se tratando de referência nacional ou internacional (35 USC 102(b)). Para que uma patente seja rejeitada com base em referências nacionais, basta que a invenção seja conhecida ou utilizada por terceiros. Para referências internacionais, é necessário que a invenção tenha sido patenteada ou descrita em publicação escrita.
12 Crítica: Dispositivo que viola o princípio do Tratamento Nacional.
13 Conhecimento tradicional Informações transmitidas através de gerações de forma tipicamente oral, partilhadas por comunidades específicas, ainda que algumas vezes detidas apenas por membros especiais da comunidade (pajés), e geradas em contexto associado com a cultura do grupo.
14 Dificuldades com a legislação americana: Fragilidade do conhecimento tradicional associado perante outras formas de conhecimento documentado; Características de oralidade e de não ser o conhecimento detido por um indivíduo isoladamente (insuceptibilidade de patenteamento); Grande parte do CT não possui qualquer registro escrito.
15 Hipótese Processo de preparação um remédio para tratamento de infecções, há muito utilizado por uma comunidade indígena, e obtido através de infusão de sementes e folhas de plantas nativas. Seria tal processo patenteável?
16 Hipótese - Impossibilidade Impossibilidade de proteger juridicamente tal invenção através do sistema de patentes adotado por grande parte dos países do mundo.
17 Impedimentos Não é possível datar a invenção, e portanto não se pode avaliar se o requerimento de patente foi realizado dentro prazo legal; Por se tratar de uma invenção que vem sendo usada por um longo período de tempo, igualmente restaria não atendido o requisito da novidade; Não é possível identificar o inventor, uma vez que o conhecimento é compartilhado por toda a comunidade. Patentes são concedidas a pessoas determinadas, ou pelo menos a um pequeno grupo, e não a um grupo indeterminado.
18 Seguindo a mesma Hipótese... Suponhamos que um cientista estrangeiro em visita à comunidade observe a bem sucedida combinação de plantas. De volta ao seu país ele adapta o processo à moderna tecnologia farmacêutica, e o prepara para comercialização. Seguindo esses passos, o cientista certamente obteria patente para o seu produto em alguns países sede de grandes indústrias farmacêuticas.
19 Modificação pela indústria farmacêutica Após isolar o princípio ativo de uma planta, qualquer indústria farmacêutica pode modificá-lo, tornando-o mais estável ou menos tóxico, e portanto susceptível de ser patenteado nos Estados Unidos; Mesmo considerando que a empresa adicionou certo valor ao conhecimento tradicional, aumentando as possibilidades de inserção do produto no mercado, ao final esta seria a beneficiária exclusiva de todos os lucros referentes à comercialização de tal produto, apropriando-se da parte produzida pela comunidade detentora do conhecimento tradicional.
20 Questionamentos de ordem moral e ética Comportamento que proporciona enriquecimento ilícito, em detrimento dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.
21 Legislação Brasileira O Brasil, de acordo com levantamento feito pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, é uma das poucas nações do mundo que já editou legislação de proteção jurídica aos conhecimentos tradicionais associados, ao lado apenas de Costa Rica, Guatemala, Panamá e Filipinas.
22 Solução para o problema Requer iniciativas pela via dos tratados internacionais.
23 Revisão do art (b) do TRIPS A Missão Permanente do Brasil na Organização Mundial do Comércio Em seu próprio nome e representando as delegações de outros dez países membros apresentou proposta de emenda ao artigo 27.3.b do acordo TRIPS.
24 Proposta: Proposta do Grupo composto pelo Brasil, Índia, Bolívia, Colômbia, Cuba, República Dominicana, Equador, Peru e Tailândia - qualquer requerente de patentes relacionadas a material biológico ou conhecimento tradicional associado à biodiversidade deverá, como condição para aquisição dos direitos patentários, indicar a fonte e o país de origem do material biológico e conhecimento tradicional usado na invenção, comprovar ter recebido consentimento prévio informado, com aprovação das autoridades do país de origem, bem como ter promovido distribuição justa e equitativa dos benefícios resultantes da exploração do recurso.
25 Proposta que envolve a harmonização do TRIPS com a Convenção da Diversidade Biológica, especialmente artigo 8 (j): Cada Parte Contratante deve, na medida do possível e conforme o caso: (...) (j) Em conformidade com sua legislação nacional, respeitar, preservar e manter o conhecimento, inovações e práticas das comunidades locais e populações indígenas com estilo de vida tradicionais relevantes à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica e incentivar sua mais ampla aplicação com a aprovação e a participação dos detentores desse conhecimento, inovações e práticas; e encorajar a repartição eqüitativa dos benefícios oriundos da utilização desse conhecimento, inovações e práticas;
26 Outras propostas: Proposta Suíça: Emenda ao Tratado de Cooperação e Patentes da OMPI para que leis nacionais exijam que o inventor informe a fonte do material genético e do CT. Omissão poderá resultar na impossibilidade de concessão da patente ou, quando fraudulenta, invalidar a patente já concedida.
27 Outras propostas: Proposta da União Européia: Instituição da obrigação de informação da origem, porém com conseqüências que não atinjam a concessão da patente. Proposta dos EUA: obrigação de informar deverá ser baseada nas legislações nacionais e em contratos.
28 Outras propostas: Proposta do Grupo Africano: O Grupo Africano apóia a proposta do Brasil, além de entender que o acordo TRIPS deve proibir o patenteamento de todas as formas de vida.
29 Harmonização das diferenças Países desenvolvidos devem observar que o sistema de patentes lhes serve mais do que aos países em desenvolvimento.
30 Estatísticas da OMPI para requerimentos de patentes no ano de 2002 Países em desenvolvimento: PAÍS RESIDENTES NÃO-RESIDENTES Brasil Costa Rica Índia Indonésia México
31 Estatísticas da OMPI para requerimentos de patentes no ano de 2002 Países desenvolvidos: PAÍS RESIDENTES NÃO-RESIDENTES EUA Japão União Européia
32 Análise dos quadros Como se observa, países em desenvolvimento mantêm leis e sistemas de patentes majoritariamente para atender a estrangeiros, ao contrário dos países desenvolvidos, onde se verifica um equilíbrio.
33 Propostas para a adoção de um sistema sui generis incluem: bancos de dados; direitos de propriedade intelectual coletivos; modelos de utilidade (patentes com requisitos menos rigorosos); segredos industriais.
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