FENDA RANIERI RIBAS. Edi tor a P e na lu x

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Márcio Castilhos
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1 FENDA RANIERI RIBAS Edi tor a P e na lu x Guaratinguetá, 2019

2 Rua Marechal Floriano, 39 Centro Guaratinguetá, SP CEP: Edição: França & Gorj editoração eletrônica: Karina Tenório Revisão: Victor Melo e Beatriz de Paula S. Ribas Imagem da capa: xxxx Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) R482f RIBAS, Ranieri Fenda / Ranieri Ribas Guaratinguetá, SP: Penalux, p.: 21 cm. ISBN: Poesia I. Título. CDD: B869 Índice sistemático: 1. Literatura Brasileira Todos os direitos reservados. A reprodução de qualquer parte desta obra só é permitida mediante autorização expressa do autor e da Editora Penalux.

3 I Quando através do veio a Luz vinga e luze a inteligência e vagueiam pupilas, os sentidos apuram-se em mim. Uma estela recua à meia-luz: eis que findam, por fim, sombra e negrume. E o matizado azul ao fundo das nuvens queda manso e norteia-me o pensamento que lento se conduz ao horizonte, ao diviso juízo entre sombra e luz. Vejo o tempo diáfano em movimento, malogro e simulacro de passamentos sob esta Fenda cuja Luz presenta à consciência todas as coisas que a senciente inteligência nomeia. Ranieri Ribas 9

4 II Pela Fenda me sei filho da Luz. Ela aureola um halo em mim e me alumia e finca o pensamento em perspectiva. Sei que aos olhos de um cego a Fenda é Luz; centro por onde o Sol à Fé invita e gravita seu contínuo luzir nascituro, seu renascer de lumes desde o cume. Pela Fenda que firma o sol do meio-dia, e afia a luz umbilical e a mim perfila, sou homem lusco, feto recurvo. Ao uno do ser, térreo vinculo-me. Cá dentro a Treva em si se fecha oclusa e nubla esta Luz que a tudo despe. Vieste à revelia. Disseste-me. Sequer tinhas um rosto em figura. 10 FENDA

5 III A Fenda é esta senda onde a luz caminha. Ela abre uma vereda para o sol, para o que acima está e dá-se em sinal. Mesmo quem nega a Luz pode ver quando o dia reluz e a madrugada finda o quão fecunda é ela quando oferta esta veste de luz para a sombra. A mão não toca a Luz como a Luz toca a mão numa manhã que se antecipa e prenuncia a claridade. Não. A luz adentra e lenta se extravia ao desvão e aguilhoa a vista e psia, num gesto que desperta todo o corpo ao hiato entre arcano e claridade. Eis o táctil dilúculo que nasce. Ranieri Ribas 11

6 IV Não se fazem visíveis as coisas aquém da Fenda, nem em pensamentos se fazem presentes às lembranças evanescentes. Se pensamos o quanto distamos de Deus pela réstia, pensamos aquém da fresta o que além dela se lança e gira celeste. Pela Fenda sabeis que Deus o conhece. Direi: sabeis o quanto a tudo desconheces. A Luz além de ti não te apequena: revela-te a mandorla de benção e vida, revela-te a promessa e o prumo e atravessas esta inconsútil casca que o tempo divisa e precisa a Luz numa Luz precisa. Em ti a vida-luz como uma fenda se fia. 12 FENDA

7 V À Fenda, luz e pó transitam silentes. Penso que nem mesmo a leveza das coisas, nem a delicadeza quando as suaviza, podem mantê-las livres ao que gravita. Não hesitam, pois força alguma estagna o movimento cujo peso e centro é o Sol, como vês neste pó suspenso. Somente a memória os regista para iludir-nos ante o tempo aparente das coisas infindas. A lembrança de um ar seco resseca as narinas. Imaginamos em exílio coisas possíveis. Movemo-nos à Fenda e vemos apenas pó suspenso à luz quase extinta, luz que sem música dança em confetes gris: Dança girando diamantes de cinzas. Ranieri Ribas 13

8 RÉS

9 HOMENS DE BRONZE E DIESEL A H.Dobal I O dia longo ergue o sol severo que se impõe sobre os rostos destes homens como se já nascessem velhos, homens de bronze com coleiras presas ao sol. O dia longo cansa e anoitece: lento divisa o tempo para o descanso. Mais do que os girassóis giram esses homens repetindo diários os mesmos semáforos, veredas sem rastros, périplos onde marcam sinais de fumaça no ar. E os pneus como cascos se gastam. O dia longo vence ao fim da tarde e as ruas são currais de asfalto e fuligem. No entanto, eles nascem, pele e diesel. Ranieri Ribas 15

10 Este livro foi composto em Sabon LT Std pela Editora Penalux e impresso em papel pólen bold 90 g/m², em abril de 2019.

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