Boletim Econômico Edição nº 42 setembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico
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- Ana Luísa de Almada Maranhão
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1 Boletim Econômico Edição nº 42 setembro de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Eleição presidencial e o pensamento econômico no Brasil 1
2 I - As correntes do pensamento econômico e suas influências no Brasil O Brasil, como país anteriormente subdesenvolvido e atualmente emergente, sofreu historicamente as influências de todas as três correntes gerais do pensamento econômico mundial. 1. Alguns períodos de governo no Brasil e suas experiências econômicas Ao longo de nossa formação econômica como nação o Brasil teve períodos onde o Estado foi mais interventor, como no período de Vargas e de Lula, por exemplo, mais planejador e mediador como no período de JK, e mais com predominância do mercado como no período de FHC e dos governos militares. São alguns exemplos de tipos diferenciados de condução da economia brasileira com resultados também diferenciados. Houve crescimento econômico em todos esses períodos, com menor intensidade no período de FHC. Há que se considerar que as maiores taxas de crescimento econômico alcançado coincidiram com expansões econômicas externas e excesso de liquidez internacional. Ou seja, o Brasil é absolutamente dependente de uma boa conjuntura econômica apresentada no mundo, principalmente nos ciclos de prosperidade econômica dos EUA. 2
3 2. Características do Estado brasileiro O Estado brasileiro sempre foi forte e grande, dada a necessidade de forçar a expansão econômica dos mercados para reduzir as nossas históricas e gigantescas desigualdades sociais, bem como fazer o país galgar a estágios de desenvolvimentos melhores. O Brasil, por ser uma economia capitalista tardia e com um desenvolvimento industrial também tardio, necessitou da pujança do Estado e de sua intervenção direta na produção econômica e, conseqüentemente, no desenvolvimento do nosso setor privado e os principais segmentos econômicos do nosso mercado nacional. O Estado sempre foi no Brasil uma espécie de extensão da iniciativa privada e um produtor aguerrido. Essa cumplicidade entre o Estado e o mercado no Brasil gerou crescimento econômico, mas também gerou atraso social, alienação política da população e um péssimo desenvolvimento educacional ao longo da história. II - O pensamento econômico na eleição presidencial Os três principais candidatos à presidência da república possuem vertentes econômicas divergentes. 1. PT e Dilma A Candidata do PT possui orientação econômica intervencionista, com muita regulação, aparelhamento político do Estado e prioriza as camadas sociais mais pobres através de programas pontuais de redução da miséria. Continuou a insistir no consumo como principal política de bem- 3
4 estar social e status quo da população média e baixa. Implantou as desonerações tributárias como instrumento para incentivar o crescimento econômico, se utilizou da taxa de juros, tanto para aumentar o crédito bancário (redução da taxa) como para combater a inflação (aumento da taxa). Um Estado partidarizado comanda a economia e uma máquina pública muito grande foi construída e mantida de forma dispendiosa. A política de superávit primário foi o instrumento de ajuste fiscal para honrar os compromissos com os encargos financeiros da dívida pública. O câmbio deixou de ser livre e passou a ser controlado pelo Banco Central. Defende a reforma política através de plebiscito e a continuidade de um Estado inchado. A chamada conta social também deverá crescer. Desdobramentos: A reeleição da Presidente Dilma vai significar a manutenção de um Estado grande, forte e interventor nos destinos da economia brasileira. As políticas sociais deverão ser ampliadas, como a bolsa família, Minha casa, minha vida e Mais médicos. Em novo mandato, haverá reajustes nos chamados preços administrados (combustível, energia e transportes públicos) com aumento da inflação. As desonerações tributárias continuarão e a reforma política deverá avançar. O chamado tripé econômico, câmbio flutuante, metas de inflação e superávits primários, deverá continuar sendo flexibilizado. 2. PSDB e Aécio O candidato do PSDB Aécio pertence à chamada social democracia brasileira que se pauta mais pela desregulamentação econômica e pela hegemonia do mercado na condução dos destinos da economia. Na era de FHC, também PSDB, foi implantado o programa de privatização e reduzido sobremaneira o tamanho do Estado. Seguiu-se em seu governo a lógica do neoliberalismo (Estado mínimo) e a inserção do país na globalização econômica através do comando do setor privado. Entretanto, o câmbio foi por muito tempo congelado (1 para 1) e foi priorizado o combate à inflação, o que deverá ocorrer novamente. O futuro Ministro da Fazenda de seu governo é um homem estritamente do mercado. Quanto à máquina pública, defende um Estado pequeno, tanto na economia quanto na administração e gestão. Defende também menos 4
5 impostos e um novo pacto federativo que realize uma desconcentração tributária para favorecer estados e municípios. Câmbio flutuante, metas de inflação e superávits primários deverão voltar à cena econômica de maneira determinante. Desdobramentos: Deverá ser um governo que reduzirá o tamanho do Estado, fará desregulamentações econômicas para favorecer os mercados, reduzirá a máquina pública, incentivará a retomada dos investimentos do setor privado e terá como principal preocupação o combate à inflação e a estabilização monetária, a exemplo do Plano Real que foi implantado durante o governo do PSDB. A reforma tributária deverá entrar na pauta de governo de maneira mais sistemática. 3. PSB e Marina A candidata Marina do PSB ainda é uma incógnita do ponto de vista da governabilidade econômica. É adepta radical da chamada economia sustentável ou economia solidária que busca o equilíbrio entre a produção econômica e o meio ambiente. Além disso, por ter pertencido ao PT é de se projetar que manterá o Estado com seu caráter intervencionista na economia, porém de maneira menos excessiva e com uma máquina pública menor. Pretende dialogar com todos os setores econômicos e sociais e aproveitar o potencial técnico onde ele estiver, independente do partido político. Deve realizar um governo de entendimento nacional em prol das mudanças estruturais do país, construindo a sua sustentabilidade econômica de longo prazo. O PSB ainda não governou nacionalmente e, portanto, permanece com uma experiência política que cria expectativas novas. Desdobramentos: O eixo do governo será o debate da sustentabilidade econômica, com o meio ambiente valorizado. A chamada nova política pregada deve se pautar pela ética e por metas de desempenho em todas as áreas de atuação do Estado. A política externa deve se pautar por uma reaproximação política e econômica com os EUA. A reforma tributária deverá ser discutida mais fortemente. O instrumento da taxa de juros deverá ser menos valorizado no combate à inflação. A prioridade deverá 5
6 ser a agricultura familiar e a produção de alimentos para o mercado interno. III - A atual crise econômica e a herança futura 1. A crise da chamada Nova matriz econômica O país vive o final da chamada Nova matriz econômica iniciada no primeiro mandato do Presidente Lula e erradamente continuada e insistida até o momento pelo Governo Dilma. Em que consiste essa Nova Matriz Econômica? Consiste em incentivar o consumo, flexibilizando o crédito, além de desonerar vários tipos de tributos, como foi feito com o IPI com zero de alíquota para automóveis e eletrodomésticos. O resultado foi bom, porém pontual, pois permitiu o aumento do consumo para a classe média e as populações de mais baixa renda, mas com escassez de oferta. Isso gerou a volta da inflação. O resultado foi claro: o setor industrial foi a pique por falta de competitividade e de produtividade das empresas minadas pela infraestrutura precária do País, que torna caro o escoamento da produção e aumenta os gastos com insumos básicos, como energia e combustíveis. 2. O fim do tripé econômico? A geração de superávits primários nas contas públicas, juntamente com o regime de câmbio flutuante e o de metas para a inflação, consagrou-se 6
7 como uma das bases para a estabilização da economia durante o Governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mantida durante o Governo Lula (PT). Na Era Dilma, no entanto, pairam dúvidas sobre que papel tem a necessidade de financiamento do setor público na política econômica. Críticos do governo dizem que a atual gestão "abandonou" o tripé e que não há mais compromisso com a geração de superávits. Outros economistas consideram que o modelo está sendo "flexibilizado". O tripé deixou de ser o "objetivo final" da política econômica. O tripé deixou de ser o objetivo final da política econômica. A meta atual é a retomada do crescimento do país e, para isso, o governo está fazendo uma política anticíclica, reduzindo ou aumentando os gastos de acordo com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). 3. Medidas impopulares Qualquer um dos candidatos que vencer a eleição deverá tomar algumas medidas consideradas impopulares, tais como: 1. Reajustar os preços dos combustíveis, da energia e do transporte público, o que aumentará a inflação; 2. Reduzir os gastos públicos para evitar a redução cada vez maior do superávit primário da União; 3. Manter a taxa de juros elevada para segurar a inflação, e isso pode significar uma maior estagnação da economia pelo encarecimento do crédito para consumo; 4. Reduzir o crescimento da massa salarial pelo aumento do desemprego no setor privado, pois a indústria está parada; 5. Reduzir os gastos da máquina pública e congelar os salários dos servidores públicos federais. 7
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