MEGAPETRO PETROLEO BRASIL S.A. A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.

Transcrição

1 AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO. INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. - Presentes indícios do preenchimento dos requisitos do art. 50 do CC, bem como dos arts. 133 e 134 do CPC, possível a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária. - No caso dos autos, há duas pessoas jurídicas constituídas no mesmo endereço, com as mesmas atividades no entanto, com CNPJs e razões sociais diversas. Ademais, embora nenhum ativo seja localizado em nome da devedora, as páginas em redes sociais demonstram plena atividade, motivos para o deferimento do processamento do incidente. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº (Nº CNJ: ) MEGAPETRO PETROLEO BRASIL S.A. TRANSBERLAINE - TRANSPORTES DE CARGA E COMERCIO LTDA DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE AGRAVANTE AGRAVADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao agravo de instrumento. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes Senhores DES.ª LIÉGE PURICELLI PIRES E DES. GIOVANNI CONTI. Porto Alegre, 23 de maio de

2 DES. GELSON ROLIM STOCKER, Relator. DES. GELSON ROLIM STOCKER (RELATOR) R E L A T Ó R I O MEGAPETRO PETROLEO BRASIL S.A. interpõe agravo de instrumento à decisão que, nos autos de incidente de desconsideração da personalidade jurídica proposto em desfavor de TRANSBERLAINE - TRANSPORTES DE CARGA E COMERCIO LTDA, assim decidiu: Vistos. A presente demanda trata-se de um incidente de desconsideração da personalidade jurídica a qual a parte autora alega em síntese, que a executada deve à exequente a quantia de R$ ,34 que estão sendo cobrados por meio de ações judiciais. Aduziu ainda que a empresa executada era uma empresa familiar que era administrada pela família Dutra da Silva, composta pelos irmãos Gilberto Carlos Dutra, Elaine Dutra da Silva e Gilmar Dutra da Silva e pelos pais Oscar e Vera da Silva. Afirmou que a família Dutra da Silva em flagrante fraude à execução, constituiu uma nova empresa cujo nome fantasia é Silva e Dutra Transportes desativando a executada Transberlaine. Referiu que a nova empresa está inscrita no CNPJ Nº /001-63, está sediada em Pantano Grande e possui patrimônio de mais de R$15.000,000,00. Alegou ainda que, em suma, a família DUTRA DA SILVA desativou a empresa executada e passou a operar com a nova empresa SILVA E DUTRA TRANSPORTES, para a qual transferiram todo o patrimônio e todos os recursos, em flagrante má-fé e fraude à execução. Passo a decidir. O aludido instituto possui por escopo restringir atos que representem manipulação fraudulenta ou abusiva do princípio da autonomia patrimonial da sociedade ou em desvio da finalidade social, praticados pelos administradores ou sócios. Embora tenha a parte autora alegado a configuração de dissolução irregular da empresa ré, esse 2

3 dado, por si só, não referenda, o deferimento da drástica medida. No caso dos autos, não se observa, por ora, que houve desvio de finalidade nas atividades da pessoa jurídica ou confusão patrimonial. Note-se, que a impossibilidade de a empresa cumprir as suas obrigações com a parte ré, por si só, não é motivo suficiente para determinar a desconsideração da personalidade jurídica, mormente porque o sistema jurídico pátrio adotou a teoria maior da desconsideração. É dizer, o preceito da desconsideração da personalidade jurídica do ente devedor só prepondera acaso existente prova robusta daquelas circunstâncias específicas. Inclusive, impede ressaltar, que sequer os sócios são os mesmos, sem qualquer indício de sucessão empresarial, ou de transferência de ativos com o fim precípuo de frustração de credores. Na espécie, porém, ao menos, por ora, não se vislumbra dita prova de abuso da personalidade jurídica, com finalidade de lesão a direito de terceiro. Assim, ausente prova cabal da prática de fraude ou abuso de direito por meio da manipulação da estrutura formal da pessoa jurídica, não há falar em desconsideração da personalidade jurídica. Ante o exposto, rejeito o presente incidente. Transitada em julgado a presente decisão, arquive-se com baixa o presente incidente. Dil. Legais. Em suas razões, a parte agravante postula a desconsideração da personalidade jurídica, a fim de alcançar o patrimônio de Gilmar Dutra da Silva Eireli. Afirma que a dívida soma valor que se aproxima de um milhão de reais. Refere que a empresa agravada era administrada pelos irmãos Gilberto Carlos Dutra da Silva, Elaine Dutra da Silva, Gilmar Dutra da Silva e pelos seus pais, Oscar Dutra da Silva e Vera Regina da Silva. Narra que, em 11/03/2011, logo após a citação nas três execuções em que lhe move a agravante, a família constitiu nova empresa (inicialmente Silva e Dutra Transportes Ltda e após Gilmar Dutra da Silva Eireli) com o mesmo ramo da executada (transporte de madeira), mesmo telefone, aproveitando-se da clientela e transferindo o patrimônio, eis que o capital social da Eireli é de R$ ,00, tendo como sócios Vera e Gilmar. Alega a existência de desvio de finalidade e confusão patrimonial. Quanto à Eireli, menciona que Gilberto e Elaine (sócios da executada) não compõem o quadro social, mas são sócios ocultos, o que se extrai das redes sociais. Assevera que Gilmar, Elaine e Gilberto cederam 3

4 bens avaliados em mais de R$ ,00 à Silva e Dutra Transportes Ltda., empresa da qual são sócios ocultos. Menciona que, após a citação, nove caminhões foram transferidos pela executada à Silva e Dutra Transportes, com a intenção de lesar credores. Postula o bloqueio de ativos da empresa Gilmar Dutra da Silva Eireli e, caso insuficiente, requer o lançamento de restrição à alienação dos veiculos em nome de tal pessoa jurídica. A antecipação da tutela recursal foi indeferida (fls. 349/352). O prazo para contrarrazões transcorreu in albis (fl. 358). Regularmente distribuídos, vieram os autos conclusos para julgamento. Registro que foi observado o disposto nos artigos 929 a 946, do Código de Processo Civil, tendo em vista a adoção do sistema informatizado. É o relatório. V O T O S DES. GELSON ROLIM STOCKER (RELATOR) Os requisitos de admissibilidade já foram analisados no momento do processamento do recurso. Trata-se de ação de execução lastreada em duplicatas em que a parte autora, credora, alega a existência de fraude, caracterizada pela confusão patrimonial com a pessoa jurídica capitaneada pela esposa do devedor, pelo que requer a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica da devedora. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, com procedimento previsto a partir do art. 133, do CPC, dispõe que, para a instauração do procedimento, que no Códex Processual é classificado como tipo de intervenção de terceiros, necessário o preenchimento dos requisitos constantes no art. 134, 4º, do CPC 1. Sobre a matéria, ensina Alexandre Freitas Câmara 2 : 1 Art. 134, 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica. 2 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro 3. ed. São Paulo: Atlas, f

5 Impende determinar, em primeiro lugar, qual o momento em que se deve considerar instaurado o incidente. É que poderia parecer, numa interpretação apressada, que bastaria a parte (ou o Ministério Público) peticionar requerendo a instauração do incidente que já se poderia considerar o mesmo instaurado. Assim não é, porém. É que a petição pela qual se requer a instauração do incidente precisará necessariamente preencher alguns requisitos (art. 134, 4o). Assim, vindo a petição a juízo, deverá ser realizado um juízo de sua admissibilidade e, caso seja o mesmo negativo, não se instaurará o incidente. No caso dos autos, o Juízo a quo indeferiu a instauração do incidente em razão da ausência de demonstração do abuso da personalidade jurídica. Entretanto, compulsando os autos eletrônicos, há duas pessoas jurídicas constituídas no mesmo endereço, com as mesmas atividades (fls. 280 e 282), no entanto, com CNPJs e razões sociais diversas. Ademais, embora nenhum ativo seja localizado em nome da devedora, as páginas em redes sociais demonstram plena atividade (fls. 230/231, 264). Assim, há indícios suficientes para instauração do incidente a fim de observar o contraditório. Poderá, ao final, não ser desconsiderada, mas para a instauração do incidente, vislumbro os requisitos mínimos. Transcrevo precedente do TJRS que trata da admissibilidade do incidente: AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. PLEITO DE INCLUSÃO DE OUTRAS EMPRESAS DO MESMO GRUPO ECONÔMICO NO POLO PASSIVO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. DECISÃO MANTIDA. Com o advento do Novo Código de Processo Civil, para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a instauração do incidente previsto nos arts. 133 e ss, resguardando-se o contraditório e a observância das formalidades legais para o processamento do pedido. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Angela Terezinha de Oliveira Brito, Julgado em 28/06/2018) 5

6 AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO DE EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. INSTAURAÇÃO DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. - Presentes indícios do preenchimento dos requisitos do art. 50 do CC, bem como dos arts. 133 e 134 do CPC, possível a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária. - No caso dos autos, há duas pessoas jurídicas constituídas no mesmo endereço, com as mesmas atividades, no entanto, com CNPJs e razões sociais diversas. Ademais, embora nenhum ativo seja localizado em nome da devedora, as páginas em redes sociais demonstram plena atividade, motivo para o deferimento do processamento do incidente. AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº , Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 23/09/2018) Deste modo, diante da presença de indícios de confusão patrimonial, com base no art. 134, 4º, do CPC, determino o processamento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. No que toca aos pedidos de constrição de bens, por ora, vão indeferidos, eis que, para que tal seja possível, imprescindível a desconsideração da personalidade anterior. DISPOSITIVO. Ante o exposto, dou parcial provimento ao agravo de instrumento, para determinar o processamento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. É o voto. DES.ª LIÉGE PURICELLI PIRES - De acordo com o(a) Relator(a). DES. GIOVANNI CONTI - De acordo com o(a) Relator(a). DES. GELSON ROLIM STOCKER - Presidente - Agravo de Instrumento nº , Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO." 6

7 Julgador(a) de 1º Grau: 7