AGRICULTURA FAMILIAR E POLITICAS PÚBLICAS: um desafio para o desenvolvimento.

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1 284 AGRICULTURA FAMILIAR E POLITICAS PÚBLICAS: um desafio para o desenvolvimento. Diogo Giacomo Eleutério (UNI - FACEF) Maria Zita Figueiredo Gera (UNI FACEF) INTRODUÇÃO Este artigo diz respeito ao Projeto de Pesquisa da disser... de mestrado que será desenvolvido na área de agricultura familiar e políticas públicas. Nas ultimas décadas, tem-se observado no cenário econômico mundial uma crise gerada por vários fatores, o que tem agravado os problemas sociais de geração de renda, o desemprego, que se multiplicam ao passo que soluções nem sempre apresentam resultados satisfatórios. A partir da década de 60 do século XX, atraído por incentivos, o setor industrial se desenvolveu em grande escala nos grandes centros, proporcionando uma grande oferta de postos de trabalhos e este desenvolvimento levou trabalhadores oriundos do setor rural a trocarem suas atividades produtivas pelos grandes centros. Com a queda da geração de postos de trabalhos em meados dos anos de 1990, volta-se o olhar para o campo e percebe-se a necessidade de incentivo para a agricultura familiar, como alternativa para o desenvolvimento e geração de renda. Segundo a EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (2000), aproximadamente 60% dos produtos ofertados na cesta alimentar básica, são produzidos por trabalhadores desse segmento, sendo a composição da agricultura familiar formada de pequenos e médios produtores rurais, geralmente com baixo nível de escolaridade. A EMBRAPA (2000) aponta que existem no Brasil cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos com estas características. Pensando nisso, este projeto de pesquisa recortou da sociedade uma parcela a ser analisada e compreendida. A escolha recaiu sobre pequenos e médios produtores rurais de cidades da região de Franca, Estado de São Paulo.

2 285 O estudo busca conhecer a realidade da agricultura familiar nessas cidades, a fim de verificar a existência e aplicabilidade de políticas públicas do setor e apontar em que medida contribuem para o desenvolvimento local. Visa também conhecer o núcleo familiar destes produtores buscando caracterizar e analisar a influência que as políticas públicas aplicadas no setor exercem na qualidade de vida e desenvolvimento econômico das mesmas. OBJETIVO E OBJETO Esta pesquisa tem o objetivo geral de investigar as políticas publicas que são aplicadas no campo da agricultura familiar em cidades da região de Franca, Estado de São Paulo. São objetivos específicos: - Verificar se há incentivos por parte do governo que levem a agricultura familiar ao desenvolvimento, e se existe um conhecimento por parte das famílias quanto a esses incentivos governamentais. - Obter referencial para pensar nas políticas públicas relativas á agricultura familiar dos municípios em estudo, identificando os problemas existentes. - Conhecer a realidade das famílias beneficiadas e questões pertinentes a inclusão social dessas famílias. Diante do exposto, surgem as indagações que constituirão o objeto de estudo: Será que os programas criados para a agricultura familiar são suficientes para trazer o desenvolvimento local e a inclusão social das famílias? Se existem linhas para subsidio, porque muitas agriculturas familiares continuam a mercê do mercado? Quais seriam as ações que os governantes locais utilizam para sanar tal deficiência? Será que há conhecimentos por partes dos responsáveis, da realidade das agriculturas familiares? Somente a partir de um levantamento de dados, seria possível traçar meios eficazes e ações regionalizadas a fim de atender as necessidades deste grupo de

3 286 trabalhadores. Uma política bem trabalhada e focada poderia trazer a uma determinada região um desenvolvimento esperado. 1 CONTEXTUALIZANDO A QUESTÃO Responsável pela maior parte dos alimentos consumidos no mercado brasileiro, a agricultura familiar representa grande importância na produção de alimentos no Brasil. Toscano (2005, p 45) ratifica os dados da EMBRAPA, mostrando que [...] a agricultura familiar é responsável por cerca de 60% dos alimentos consumidos pela população brasileira, e quase 40% do valor bruto da produção agropecuária nacional, além de apresentar-se como o segmento que mais cresceu durante a década de 1990, aproximadamente 3,8% ao ano num período que os preços caíram 4,7% ao ano. Este segmento tem um caráter particular; segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) é composto por pequenos e médios produtores, com baixo nível de escolaridade, que têm sua renda oriunda das atividades econômicas vinculadas em sua propriedade, utilizando-se mão de obra da própria família. No Brasil aproximadamente 80% da população reside em centros urbanos, resultado da industrialização gerada nos grandes centros, os atrativos a cidade são inúmeros, que contribuem e muito para o êxodo rural. Entre eles melhores oportunidades de emprego, estudo, saúde e moradia. Mesmo tendo a maior parte da população no meio urbano o país é considerado um dos maiores produtores agrícolas do mundo com aproximadamente 200 milhões de hectares de terras produtivas que são utilizadas tanto para o agronegócio como para agriculturas familiares.

4 287 Segundo o Censo Agropecuário de 2006, a agricultura familiar é apresentada como a mais produtiva e a que mais potencializa a geração de emprego no campo, conforme demonstram os gráficos a seguir: PESSOAS OCUPADAS POR ÀREA ,3 Agricultura Familiar Número de Trabalhadores a cada 100 hectares 1,7 Agricultura Não Familiar Fonte: Censo agropecuário O gráfico mostra que a cada 100 hectares a agricultura familiar emprega 15,3 pessoas e a agricultura não familiar 1,7. VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO POR ÀREA Agricultura Familiar Fonte: Censo agropecuário Expresso em R$ por hectare 358 Agricultura não Familiar Conforme o gráfico, a cada hectare a agricultura familiar apresentava um valor bruto de R$ 677,00, enquanto a agricultura não familiar R$358,00. 1 (valor o salário minino em 2006 era de... )

5 288 Apesar dos resultados aqui apontados os agricultores familiares, nem sempre contam com uma organização com poder de influenciar as instituições e o governo em busca dos seus interesses. A falta de políticas públicas com enfoque regionalizado acaba se tornando uma grande barreira para estes produtores; a falta de subsídios, a ausência de créditos acaba deixando estes trabalhadores à mercê do mercado. A inserção no mercado destas famílias é um grande desafio. Por um lado esbarram na exigibilidade em qualidade e diversificação dos produtos que o mercado consumidor necessita; em contra partida, para uma melhor produção se faz necessário investimento em tecnologia, insumos, transportes, infra estrutura entre outros tantos necessários, o que representa um grande obstáculo para o maioria dessas famílias. Para Brose (1999, p, 58), O desenvolvimento local, baseado na agricultura familiar depende fundamentalmente da intervenção estatal, regulando as assimetrias do mercado através de políticas públicas. O governo oferece alguns programas de financiamento como o PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que foi uma das primeiras políticas públicas em nível federal, destinada a favorecer os agricultores familiares. Este programa foi criado pela Resolução CMN/BACEN nº de 24/08/95 com a finalidade de conceder credito de investimento e custeio na atividade com característica familiar. Segundo Souza; Pedreira (2002, p. 47), o PRONAF tem como objetivo geral, propiciar condições para aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria da renda, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e a ampliação do exercício da cidadania por parte dos agricultores familiares. Um dos objetivos deste Programa é de fomentar o fortalecimento das atividades realizadas pelos produtores rurais, favorecer o desenvolvimento tecnológico, oferecer alternativas de financiamento, contribuindo para a redução da pobreza no meio rural. Para participar deste programa os produtores rurais precisam apresentar declaração de aptidão ao PRONAF DAP e ter as condições estabelecidas tais como:

6 289 - Explorem a terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária; - Residam na propriedade ou em local próximo; - Possuam, no máximo 4 módulos fiscais (6 módulos fiscais, no caso de atividade pecuária; - Tenham o trabalho familiar como base da exploração do estabelecimento; - Tenham renda bruta mensal conforme o grupo de beneficiários do PRONAF conforme tabela de classificação do Programa. Contudo, tais programas nem sempre conseguem atender a realidade das famílias, que acabam não conseguindo crédito em razão do atual sistema bancário ou mesmo por falta de conhecimento destas políticas. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente trabalho tem caráter social, sendo a pesquisa situada na linha de pesquisa - desenvolvimento social e políticas publicas. Trata-se de pesquisa exploratória de cunho qualitativo. O estudo bibliográfico perpassará todo o desenvolvimento do trabalho e se fará nas contribuições teóricas de vários autores que realizaram artigos, dissertações, teses sobre agricultura familiar, desenvolvimento e políticas públicas. (...) a teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de investigação como um sistema organizado de proposições, que orientam a obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu sentido. (MINAYO, 1994, p. 19). A pesquisa será desenvolvida em algumas cidades da região de Franca - SP, através de uma amostragem das agriculturas familiares existentes, sendo que os dados serão coletados através de entrevista semi-estruturada. Segundo Minayo (1999, p. 121), referindo-se à entrevista considera que:

7 290 (...) suas qualidades consistem em enumerar de forma mais abrangente possível as questões onde o pesquisador quer abordar no campo, a partir de suas hipóteses ou pressupostos, advindos, obviamente, da definição do objeto de investigação. Para o âmbito das políticas públicas serão consultados órgãos ligados a ações e políticas deste setor bem como serão envolvidas famílias que atuam nesta realidade. As informações coletadas através da pesquisa serão analisadas, classificadas e interpretadas conforme relevância ao objeto de estudo. A análise dos dados se fará em confronto entre a realidade das agriculturas familiares e os moldes em que são oferecidas as políticas públicas. Outra vertente será identificar questões relativas a forma como vivem e convivem as famílias desses pequenos e médios agricultores no seu sistema relacional. REFERÊNCIAS BROSE, Markus. Agricultura familiar: desenvolvimento local e políticas públicas. Rio Grande do Sul: Edunisc, LEITE, Antônio Dias. Crescimento econômico. Experiências históricas do Brasil e estratégica para o século XXI. Rio de Janeiro: José Olympio, VIEIRA, Paulo Freire; WEBER, Jaques. Gestão de Recursos naturais renováveis e desenvolvimento: novos desafios para a pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, DELGADO, Guilherme Costa; GASQUES, José Garcia; VERDE, Carlos Monteiro Vila. Agricultura e políticas publicas. 2 ed. Brasília: IPEA, p. BIANCHINI, Valter. Políticas Publicas para a agricultura familiar desenvolvimento local rural sustentável. Disponível em: <htttp: // Acesso em 26 fev.2010.

8 291 OLALDE, Alicia Ruiz. Agricultura familiar e desenvolvimento sustentável. Disponível em: <http: // Acesso em 26 fev TOSCANO, Luis Fernando.Agricultura familiar e seu grande desafio.disponível em: <http: // www. Acesso em 25 fev Disponível em: <hppt:// Acesso em 25 fevereiro 2010 Disponível em :< Acesso em 06 de abril 2010 Disponível em: < http: // www. ibge. gov. BR / home / estatística / economia / agropecuária / censoagro / 2006 / agropecuário. pdf>. Acesso em 23 de março