OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
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1 1 OS CANAIS DE PARTICIPAÇÃO NA GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO PÚBLICO PÓS LDB 9394/96: COLEGIADO ESCOLAR E PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Leordina Ferreira Tristão Pedagogia UFU littledinap@yahoo.com.br Co autora Profª Drª Orientadora Marta Leandro da Silva marta@faced.ufu.br Este artigo deriva das atividades de ensino pesquisa desenvolvidas na Monografia II. Nele abordamos o princípio de gestão democrática do ensino público consubstanciado na LDB 9394/96 focando o conselho escolar, o projeto políticopedagógico e as diferentes formas de participação da comunidade escolar e extraescolar. Na pesquisa documental identificamos os instrumentos normativos da legislação federal e estadual que disciplinam a atuação dos conselhos escolares e as orientações para elaboração do projeto político pedagógico. Ao pensarmos a lógica e as dinâmicas de participação nas instituições escolares é fundamental repensar os processos de decisão, a organização e as condições de trabalho, os objetivos e as prioridades da instituição, a autonomia e a identidade escolar e, fundamentalmente, o papel dos diferentes sujeitos sociais, bem como as estratégias para a implementação de processos coletivos de tomada de decisão. Com enfoque metodológico de pesquisa qualitativa em educação objetiva se investigar em uma escola da rede estadual (Uberlândia/MG), as perspectivas e os impasses na construção da gestão democrática, bem ainda identificar a percepção dos sujeitos escolares sobre o processo de gestão. Nessa etapa priorizamos o estudo dos documentos que consubstanciam a política pedagógico organizacional: Regimento Escolar, Plano Escolar, Projeto Político Pedagógico, Atas do Conselho Escolar. Evidenciamos contradições entre o discurso legal e as proposições dos documentos institucionais e as formas de organização do processo educativo. O Conselho Escolar é um colegiado formado por todos os segmentos da comunidade escolar e extra escolar: pais, alunos, professores, direção e demais
2 2 funcionários. Assim, esse colegiado torna se não só um canal de participação, mas também um instrumento de gestão democrática da própria escola. Sua configuração varia entre os municípios e estados que já o implantaram. As atribuições dos Conselhos Escolares, seu funcionamento e/ou normas e sua composição, dentre outros aspectos, são determinados pelo Regimento Comum de cada rede de ensino. É fundamental pensar a articulação entre o princípio da autonomia e o papel dos Conselhos Escolares no processo de democratização da gestão. Para que esse quadro de democratização seja repensado, destacamos alguns princípios a serem articulados sem prejuízo de outros: a participação nos Conselhos de Escola e no processo de elaboração e participação no Projeto Político Pedagógico. Para que a participação seja realidade são necessários meios e condições favoráveis, ou seja, é preciso repensar a cultura escolar os processos de distribuição do poder no seu interior. Dentre os meios e as condições destaca se a importância de se garantir infra estrutura adequada, quadro de pessoal qualificado a apoio estudantil. Outro dado importante é entender a participação como processo a ser construído coletivamente. Quando falamos em autonomia, estamos defendendo que a comunidade escolar tenha um grau de autonomia e liberdade para coletivamente pensar, discutir, planejar, executar e construir seu P.P.P, entendendo que neste, está contido o projeto de educação ou de escola que a comunidade deseja, bem como estabelece os processos de participação no dia a dia da escola. A nova LDB, publicada em 1996, coloca na escola uma ênfase que não havia sido, ainda, dada por nenhuma outra lei no Brasil. A primeira das incumbências para as escolas é elaborar e executar sua proposta pedagógica. Essa exigência da lei está, por sua vez, fortemente vinculada ao princípio constitucional da gestão democrática que se expressa na LDB de forma bastante explícita, quando, no art. 15, se coloca: Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica, que os integram, pr ogr essivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público.
3 3 Segundo Barroso (2001, p.16 17), autonomia está etimologicamente ligada à idéia de auto governo, isto é, a faculdade que os indivíduos têm de se regerem por regras próprias. Contudo, se a autonomia pressupõe a liberdade (e capacidade) de decidir, ela não se confunde com a independência. A autonomia é um conceito relacional pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações [...], a autonomia é, por isso, uma maneira de gerir, orientar, as diversas dependências em que os indivíduos e os grupos se encontram no seu meio biológico ou social, de acordo com as suas próprias leis [...]. Ela é um campo de forças onde se confrontam e equilibram diferentes detentores de influência (externa e interna) dos quais se destacam o governo, a administração, professores, alunos, pais e outros membros da sociedade local. Em se tratando de gestão da educação escolar, segundo CURY (2000, p 44), hoje o Brasil conta com um grande número de leis e outras normatizações provindas da área federal, estadual e municipal. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96), sobre a gestão democrática, dispõe em seu artigo 14: Art. 14 Os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto político da escola; II Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. Nas palavras de PARO (2002), o artigo 14 da LDB é de uma pobreza sem par. Segundo ele, o primeiro princípio é o que há de mais óbvio, já que seria mesmo um total absurdo imaginar que a elaboração do projeto pedagógico da escola pudesse dar se sem a participação dos profissionais da educação. O segundo e último principio apenas reitera o que já vem acontecendo na maioria das escolas públicas do país. Além disso, ao prever a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes, a lei sequer estabelece o caráter deliberativo que deve orientar a ação desses conselhos. Mas o que se entende por gestão democrática? A gestão democrática implica a efetivação de novos processos de organização e gestão baseados a uma dinâmica que favoreça os processos coletivos e participativos de decisão. Assim, por gestão
4 4 democrática, entendemos a garantia de mecanismos e condições para que espaços de participação, partilhamento e descentralização e responsabilização do poder ocorram. A instituição educativa, no cumprimento do seu papel e na efetivação da gestão democrática, precisa não só criar espaços de discussões que possibilitem a construção coletiva do projeto educativo como também criar e sustentar ambientes que favoreçam essa participação. Entende se por mecanismos de participação colegiada na escola, as maneiras ou formas que os segmentos sociais envolvidos na comunidade escolar e local têm de participar ativamente da escola e do seu funcionamento, por meio do envolvimento coletivo nas discussões, no planejamento e na definição de projetos para a instituição escolar. Essa participação pode ocorrer de várias formas, cabe aos sistemas e as escolas definirem as formas e os mecanismos de participação. Entre os mecanismos de participação que podem ser vivenciados em uma instituição educativa, estão os órgãos colegiados (Caixa Escolar Associação de Pais, grêmio estudantil) e com destaque o Conselho Escolar (gestão pedagógico organizacional e social) e o Conselho de Classe (processo ensino aprendizagem). Dentre essas, destacaremos o Conselho Escolar. Um conselho constitui um colegiado de pessoas, de natureza pública, para aconselhar, dar parecer, deliberar sobre questões de interesse público, em sentido amplo ou restrito. Podemos então dizer que um conselho de educação é um colegiado extra e intra escolar, por meio de pareceres ou decisões, em defesa dos direitos educacionais da cidadania, fundados em ponderação refletida prudente e de bom senso. O termo colegiado, que deriva de colégio, vem sempre associado ao funcionamento dos conselhos, uma vez que esses só assumem poder, só podem deliberar, no coletivo dos colegas, dotados da mesma dignidade, com o mesmo poder, independentemente das categorias que representam. Em geral, as normas sobre conselhos referem se a funções deliberativa, consultiva, normativa, mediadora, mobilizadora, fiscal, recursal e outras. Na verdade, na condição de órgãos colegiados, os conselhos sempre deliberam, ora como decisão com eficácia administrativa, quando definem normas ou determinam ações na sua esfera de competência, ora como simples aconselhamento, quando oferecem uma orientação. As funções denominadas como normativa, recursal e outras têm caráter deliberativo ou consultivo, de acordo com o grau de autonomia e as competências que a lei confere ao conselho, e sempre estabelecem uma mediação entre o governo e a sociedade. Em instância final, as decisões do conselho, a não ser nos casos em que este
5 5 assume funções também executivas, o que não é da sua natureza, dependem, para serem objetivadas em ação, do ato administrativo da homologação pelo Executivo. Gestão democrática: aprendizagem e exercício de participação: A democratização dos sistemas de ensino e da escola implica o aprendizado e a vivencia do exercício de participação e tomadas de decisões. Trata se de processo a ser construído coletivamente, que considera a especificidade a possibilidade histórica de cada sistema de ensino, de cada escola. O importante é compreender que esse processo não se efetiva por decreto, portarias ou resoluções, mas é resultante, sobretudo, da concepção de gestão e de participação que temos. Pensarmos a democratização implica compreendermos a cultura da escola e dos seus processos, bem como articulá los com as relações sociais mais amplas. A compreensão dos processos culturais na escola envolve diretamente os diferentes segmentos das comunidades locais e escolares, seus valores, atitudes e comportamentos. Nesse sentido, quando buscamos construir na escola um processo de participação baseado em relações de cooperação, no trabalho coletivo e no partilhamento do poder, precisamos exercitar o respeito às diferenças, garantindo a liberdade de expressão, a vivência de processos de convivência democrática, a serem efetivados no cotidiano, em busca da construção de projetos coletivos. Os autores Catani e Gutierrez ao discutirem a relação entre a participação e a gestão escolar, afirmam que toda e qualquer organização que tente implantar e desenvolver práticas de natureza participativa vive sob a constante ameaça de reconversão burocrática e autoritária dos seus melhores esforços. As razões para isto são diversas: história de vida de seus membros, supervalorização ideológica das formas tradicionais de gestão, demandas especifica difíceis de conciliar, etc. De tudo isso um ponto deve ser destacado: a participação se funda no exercício do diálogo entre as partes. Essa comunicação ocorre, em geral, entre pessoas com diferentes formações e habilidades, ou seja, entre sujeitos dotados de distintas competências para a construção de um plano coletivo e consensual de ação. Na prática da gestão escolar, esta diferença, que em si não é original nem única, assume uma dimensão muito maior do que a grande maioria das propostas de gestão participativa e autogestão que pode ser observada. A gestão da escola se traduz cotidianamente como ato político, pois implica sempre uma tomada de posicionamento dos sujeitos sociais. Logo, a sua construção não
6 6 pode ser individual, pelo contrário, deve ser coletiva, envolvendo todos os sujeitos na discussão e na tomada de decisões. Para que a tomada de decisão seja partilhada, é necessária a implementação de vários mecanismos de participação, tais como: o aprimoramento dos processos de provimento ao cargo de diretor, a criação e consolidação de órgãos colegiados na escola (Conselhos Escolares, Conselho de Classe, ou similares), o fortalecimento da participação estudantil por meio da criação e consolidação de grêmios estudantis, a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico da escola, a progressiva autonomia da escola e, conseqüentemente, a discussão e a implementação de novas formas de organização e de gestão escolar e a garantia de financiamento público da educação e da escola nos diferentes níveis e modalidades de ensino. A construção de uma educação emancipatória e democrática se constrói por meio da garantia de novas formas de organização e gestão, pela implementação de mecanismos de distribuição do poder, que é só possível a partir da participação ativa dos cidadãos na vida pública, articulada à necessidade de formação para a democracia. Dessa forma é fundamental ressaltarmos a importância da construção coletiva de um Projeto Político Pedagógico pela escola, envolvendo todos os segmentos da comunidade local e escolar; da discussão e mudanças na organização do trabalho e na gestão da escola; do estabelecimento de formas de distribuição do poder, assim como da vivência e construção de novas formas de relacionamento interpessoal. A construção de uma escola em que a participação seja uma realidade depende, portanto, da ação de todos: dirigentes escolares, professores, estudantes, funcionários, pais de estudantes e comunidade local. Nesse processo, a articulação entre os diversos segmentos que compõem a escola e a criação de espaços e mecanismos de participação são fundamentais para o exercício do aprendizado democrático que possibilite a formação de indivíduos críticos e participativos.
7 7 Referências bibliográficas: BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei n 9.394/96. Disponível em: Acesso em 23/07/2008. BARROSO, João. O reforço da autonomia das escolas e a flexibilização da gestão em Portugal. In: FERREIRA, Naura C. (Org). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, P CATANI, Afrânio M.; GUTIERREZ, Gustavo L. Participação e gestão escolar: conceitos e potencialidades. In: FERREIRA, Naura C. (Org). Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, P CURY, Carlos R. Jamil. Os Conselhos de Educação e a gestão dos sistemas. In: FERREIRA, N.S.C.; AGUIAR, M.A. (Orgs). Gestão da educação: impasses, perspectivas e compromissos. São Paulo: Cortez, PARO, Vitor Henrique. O princípio da gestão escolar democrática no contexto da LDB. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de. (Orgs). Gestão, financiamento e direito à educação: análise da LDB e da Constituição Federal. São Paulo: Xamã, 2002.
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