Desenvolvimento Sustentável Capítulo II. O Desenvolvimento Sustentável e suas Dimensões Social e Econômica
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- Maria das Dores Ferreira Rodrigues
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1 Desenvolvimento Sustentável Capítulo II O Desenvolvimento Sustentável e suas Dimensões Social e Econômica A Dimensão Social do Desenvolvimento Sustentável: O caso da Energia Eólica Segundo Sachs (1993), a dimensão social do desenvolvimento sustentável tem como objetivo construir uma civilização onde seus integrantes tenham a maior eqüidade na distribuição dos recursos e da renda, para melhoria dos direitos e condições de vida, reduzindo a distância entre padrões de vida. Uma sociedade onde seus integrantes compartem os recursos naturais e onde todos os produtos originam se dos processos produtivos deve manter equidade na distribuição de todos esses recursos. O bem comum é a base da dimensão social do desenvolvimento sustentável. Um dos recursos energéticos que se discute neste capítulo é a energia elétrica, motivo de muita discussão em todo o mundo, principalmente no nordeste do Brasil, pela escassez de água, bem como pela falta de políticas que priorizem a solução deste problema. O Brasil registrou, a partir de maio de 2001, uma deficiência no fornecimento de energia elétrica, em virtude dos baixos investimentos no setor elétrico, níveis de precipitações de água inferiores aos normais e erros na condução do sistema e redução dos reservatórios (FUNDAÇÃO KONRAD ADENAUER, 2002), ocasionando racionamentos para a melhor utilização, o que por uma parte foi benéfico à educação e conscientização social, mas para toda a população esta carência deixou sem energia total, parcial ou limitada a muitas famílias, que em geral são de classes menos favorecidas. É importante ter se outras fontes de geração de energia que permitam suprir as deficiências de geração elétrica. A energia eólica, ou seja, aquela que se utiliza da força dos ventos para gerar energia elétrica já demonstrou em muitos países a importância da sua participação no setor energético. O empreendimento deste tipo de geração de energia pode levar a energia elétrica a comunidades, que estão afastadas da capital ou para locais de grande potencial turístico; porém distantes das linhas de transmissão, a energia elétrica poderia ser suprida por geração de fontes como a eólica, que levaria a estas populações não somente o conforto, mas também poderia levar a geração de emprego e renda. Um exemplo é a usina eólica instalada em Fernando de Noronha PE, considerada uma reserva natural e ponto turístico dos mais apreciados no Nordeste, mediante a qual um aerogerador fornece energia elétrica sem necessidade de redes de transmissão. Como efeito nesta dimensão, vê se que a preocupação principal é com o bemestar humano, as condições humanas e os meios utilizados para aumentar a qualidade de vida; deve se preservar o capital humano e social; dificilmente se pode mensurar o capital humano que está ligado diretamente às riquezas, mas
2 é somente parte de um conjunto de fatores da sustentabilidade conformado por necessidades essenciais de uma sociedade, como saúde, educação, habitação, infra estrutura e saneamento básico. O principal é diminuir as diferenças nesses fatores entre níveis sociais e ter se melhoria das condições de vida das populações. Quanto a maiores oportunidades de serviços, os diferentes níveis sociais terão oportunidade de acessos iguais (BELLEN, 2005). Esses serviços são os básicos: água potável, esgoto e energia elétrica, então os benefícios da energia eólica seriam a de fornecer eletricidade das demandas do sistema elétrico nacional, interligado a povoados que estão fora dessa rede e que com sistemas autônomos eólicos forneceriam eletricidade. Com respeito à água, deixar se ia de utilizar este recurso para gerar eletricidade por substituição da força dos ventos e aproveitar para o consumo humano. Atualmente, observa se que o setor energético no Brasil, pouco a pouco está superando suas carências, e a utilização de energias não renováveis está sendo mais discutida antes da sua utilização, dando oportunidade a outras novas fontes de energia, que favorecerão aos objetivos da dimensão social. A aceitação de energias novas como a eólica está sendo utilizada pela sociedade mundial. Na Espanha, por exemplo, pesquisas indicam que entre 75 e 80% da população estão aceitando a instalação de usinas eólicas como as de Perelló, que já receberam mais de visitantes turistas, e a geração de emprego por esta indústria já significa neste país postos diretos e postos indiretos de trabalho (DELÁS, 2005). A Dimensão Econômica do Desenvolvimento Sustentável A sustentabilidade econômica pode se definir como uma progressiva alteração do sistema produtivo e de seus padrões qualitativos e quantitativos, mediante uma gestão eficiente dos recursos, por um fluxo regular de investimentos públicos e privados, levando à sociedade a melhoria econômica sustentável (BEZERRA et alii, 2002 e SACHS, 1993). Esta melhoria na gestão eficiente dos recursos refere se ao aproveitamento, sem prejuízo do ecossistema. Este prejuízo poderia acontecer por desastres ou impactos negativos no meio ambiente ou prejuízos econômicos, em horizonte de médio ou longo prazo. Os gastos gerados para a manutenção da qualidade ambiental são contabilizados como um incremento nas receitas e produtos nacionais, podendo ser aproveitado na manutenção da sociedade que, segundo Bezerra, Facchina e Ribas (2002), têm o significado de geração de emprego e renda, redução da concentração fundiária rural e todas as condições que propiciam moradia para as populações urbana e rural. A energia elétrica é um recurso fundamental na economia dos países, é o energético que movimenta grande parte da indústria e comércio do Brasil, como representado na figura abaixo. Portanto, a busca de melhoras na geração de energia elétrica é importante, detectando a falta de produtividade
3 que incorpora aos custos características de ineficiência em conversão, transmissão, distribuição e fornecimento da energia elétrica. A sustentabilidade econômica está na procura da criação de mecanismos para novos sistemas produtivos que sejam integrados e de base local, para que estimulem as atividades econômicas mediante estímulos para que a agricultura, indústria, comércio e setor de serviços gerem melhoras nas condições de vida (LAGE e BARBIERI, 2001). O serviço elétrico brasileiro precisa de constantes iniciativas de investimento de capital estrangeiro e nacional, na procura de abrir novos negócios; e estes novos negócios irão procurar a utilização de novas fontes de geração como a eólica (ventos), biomassa, fotovoltaica (luz solar), entre outras renováveis, que ainda têm percentagens de utilização relativamente baixas. Outros 15% Comercial 15% Industria 43% Residencial 27% Consumo de energia no Brasil por setores Fonte: ALDABÓ, 2002 A sustentabilidade econômica abrange a alocação e distribuição dos recursos naturais dentro de uma escala apropriada. É um mundo em termos de estoques e fluxos de capital, onde estão incluídos o capital humano, ambiental ou natural e o capital social. A distribuição estará associada à divisão dos recursos entre as pessoas e as quantidades que correspondam a cada um dependendo da escala. Assim, segundo Bellen (2005), a teoria econômica temse abstraído da questão de escala de duas maneiras opostas: dizendo que por uma parte o meio ambiente é uma fonte infinita de recursos naturais e também uma fonte infinita de resíduos. Na elaboração de projetos no setor elétrico para ampliações ou instalação de novas fontes de geração de energia, não somente devem avaliar se os aspectos macroeconômicos em função da eficiência da operação e retorno dos investimentos, mas se devem variar ou suplantar os modelos tradicionais que medem crescimento e desempenho da economia por modelos de indicadores que incorporem a variável ambiental. Existe, atualmente, a tendência de avaliar projetos também em função dos impactos ambientais.
4 O Meio Ambiente como fonte de Recursos Naturais O meio ambiente é a fonte principal de toda a matéria prima utilizada pelo homem para produção dos bens e serviços utilizados em seu cotidiano. O homem está sempre recorrendo a natureza na intenção de que suas necessidades sejam atendidas. Para que estes bens e serviços utilizados, hoje, pelo homem sejam desenvolvidos é imprescindível a utilização de recursos naturais. Os recursos naturais podem ser representados como sendo bens ou serviços primários dos quais todos nós dependemos. Segundo Barbieri os recursos naturais, denominados terra nos textos de economia, envolvem elementos ou partes do meio ambiente físico e biológico, como solo, plantas, animais, minerais e tudo o que possa ser útil e acessível à produção da subsistência humana. Os recursos naturais estão tradicionalmente classificados em: Renováveis animais, ar, energia solar, água, plantas; Não renováveis minérios, petróleo, carvão mineral, areia. Sendo o conceito de recursos renováveis diretamente ligado à possibilidade de ser obtido infinitamente, de uma mesma fonte. No caso dos recursos nãorenováveis, estes possuem a característica de serem finitos, ou seja, caso sejam explorados com continuidade serão esgotados. Na verdade é possível que todos os recursos se renovem de forma natural, porém, essa renovação poderá demandar muito tempo, em alguns casos até milhões de anos. Importante observar que a renovação de um recurso natural dependerá diretamente do modo com que estes são utilizados. Também não podemos esquecer que os recursos naturais fazem parte de uma grande cadeia, onde todos são dependentes e interligados. Portanto, se um recurso é utilizado de forma incorreta, essa má utilização poderá interferir negativamente em outros recursos. Por exemplo, a devastação das florestas poderá interferir na renovação dos mananciais de água. Segundo Aguiar (1994) o conceito de meio ambiente é totalizador. Embora possamos falar em meio ambiente marinho, terrestre, urbano, etc. Essas facetas são partes de um todo sistematicamente organizado onde as partes, reciprocamente, dependem umas das outras e onde o todo é sempre comprometido cada vez que uma parte é agredida. Observem o quadro a seguir que ilustra os tipos e exemplos de recursos naturais, assim como a importância da variável tempo na renovação ou não destes recursos.
5 RECURSOS NATURAIS Não renováveis Renováveis Renováveis/Nãorenováveis Esgotam se com o uso Petróleo, carvão mineral, gás natural e energia nuclear. Esgotáveis, mas podem ser reutilizados, e reciclados. Areia, Argila, granito e metais. Não se alteram com o uso Energia direta solar, ventos, marés. Alteram com o uso Petróleo, carvão mineral, gás natural e energia nuclear. Alteram com o uso Ar, água, espaço, ciclos dos nutrientes, filtro solar, navegabilidade dos rios e lagos, e outros serviços ambientais. Fonte: Adaptado de TIVY, J O HARE, G. Human impacto n the ecosystem. Edimburgo: Oliver & Boyd, Preservação e Conservação dos Recursos Naturais O Brasil possui uma das maiores e mais ricas biodiversidades ( a variabilidade de organismos vivos, as interações que existem entre eles e destes com o ambiente. Abrange, ainda, a diversidade dentro de espécies (genética), entre espécies e de ecossistemas. Convenção da Diversidade Biológica.) do mundo. As maiores reservas de água doce do planeta encontram se em território brasileiro e um terço de toda a floresta tropical que ainda resta no mundo também. A conservação dos recursos naturais consiste em usá los de forma racional, bem como de forma econômica, ou seja, sem desperdício. Agindo assim os recursos renováveis não irão desaparecer por seu mau uso e nem os recursos não renováveis serão esgotados. Dessa forma é possível se pensar em um recurso perpétuo? Sim, porém, será necessário que os recursos sejam manejados de forma correta e que o homem
6 não pratique nenhuma ação nociva aos mesmos. Imaginem que a cada árvore arrancada fosse plantada outra em seu lugar certamente acabaríamos o problema da devastação das florestas. Da mesma forma, se houvesse uma preocupação maior em não poluir as águas dos rios, jamais sofreríamos com a escassez de peixes. O professor Álvaro Fernando de Almeida do Departamento de Ciências da USP nos diz que o uso indireto e racional de recursos naturais renováveis, mantendo se a taxa normal de extinção das espécies"; em outras palavras, em a Natureza, diversas espécies estão sempre em competição e pode ocorrer a extinção "natural" de algumas; não só a competição faz com que isso ocorra, mudanças climáticas, erupções vulcânicas, cheias, etc. também podem acarretar a extinção. Da mesma forma que espécies são extintas, outras podem aparecer... é um longo processo de evolução. Os recursos naturais fazem parte de uma paisagem geográfica importante e útil para a sobrevivência do homem. Essa paisagem quando modificada de forma brusca poderá desencadear sérios problemas ambientais chegando a colocar em risco a vida de outros seres vivos e até mesmo a vida dos próprios seres humanos. Os recursos naturais apesar de serem retidos pelo homem da própria natureza, dificilmente são consumidos em sua forma primitiva. Quase todos sofrem algum tipo de modificação ou beneficiamento antes de serem utilizados e o segredo da conservação está exatamente na forma como esse beneficiamento é realizado. Se existir uma preocupação com a reposição dos elementos que são retirados do meio ambiente, esses elementos jamais irão ser extintos e poderão estar disponíveis para as gerações vindouras. Do contrário, se continuarmos com uma exploração desenfreada dos recursos naturais, brevemente estaremos sentindo falta de alguns elementos que há em pouco tempo encontrávamos em abundância. Os recursos naturais precisam ser vistos de forma sistêmica, onde todos estão de alguma forma ligados uns aos outros. Dessa forma poderemos compreender que uma exploração indevida poderá vir a comprometer o ecossistema como um todo.
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