Projeto de Lei do Senado nº., de O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Transcrição

1 1 Projeto de Lei do Senado nº., de 2005 O CONGRESSO NACIONAL decreta: Obriga os estabelecimentos que especifica a fornecerem informações nutricionais dos alimentos e bebidas preparados. Art. 1º Os serviços de alimentação deverão disponibilizar, em local visível e de fácil acesso ao consumidor, as informações nutricionais básicas dos alimentos e bebidas preparados, assim compreendidos aqueles em condições de imediato consumo. 1º As informações de que trata o caput deverão incluir, obrigatoriamente, o valor calórico das porções de alimentos e bebidas preparados. 2º As informações nutricionais deverão constar de qualquer forma de divulgação dos produtos de que trata o caput, dentro ou fora do estabelecimento, e serão veiculadas de forma ostensiva, atendendo as características do meio de comunicação empregado para a divulgação. 3º As formas de apresentação das informações nutricionais serão definidas no regulamento desta Lei. Art. 2º O descumprimento do disposto no art. 1º desta Lei configura infração à legislação sanitária federal e sujeita os infratores às penalidades estabelecidas nos incisos IV e V do art. 10 da Lei nº , de 20 de agosto de 1977, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. Art. 3º Esta Lei entra em vigor cento e oitenta dias após a data de sua publicação.

2 2 J U S T I F I C A Ç Ã O Os distúrbios nutricionais constituem um grave problema de saúde pública, que permanece como um desafio para os governantes desde tempos imemoriais. No passado, a grande luta das sociedades era no sentido de prover alimento aos indivíduos e evitar a fome e a desnutrição. Hoje, muitos países superaram essas dificuldades, o que não significa que não tenham problemas de ordem nutricional. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), até o ano de 2020 dois terços da carga mundial de doenças serão atribuídos a enfermidades crônicas não-transmissíveis, sendo parte significativa delas associada à dieta, mais precisamente a uma alimentação excessiva e desbalanceada. Agora, a desnutrição já não é mais a grande vilã, apesar de ainda produzir vítimas em regiões de extrema pobreza. Na maioria dos países, incluindo o Brasil e, mesmo, boa parte das nações africanas, a obesidade está implicada na morte de muito mais pessoas do que a desnutrição. A maior responsável por toda essa mudança é a chamada transição nutricional, reflexo das mudanças dos hábitos alimentares e de vida da população mundial nas últimas décadas.

3 3 Atualmente, o consumo de grãos refinados e de alimentos ricos em gorduras animais e açúcares é muito expressivo, inclusive nos países em desenvolvimento, onde as pessoas estão abandonando suas dietas tradicionais, ricas em fibras e grãos integrais. A OMS já fala em epidemia de obesidade. Os resultados dos levantamentos epidemiológicos realizados em diversos países justificam essa afirmação. Nos Estados Unidos, cinqüenta e cinco por cento dos adultos estão acima do peso adequado, enquanto, no Brasil, esse número está próximo de quarenta por cento, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. O que mais assusta, contudo, é a velocidade de crescimento desse percentual. Na Inglaterra, por exemplo, a proporção de indivíduos com sobrepeso dobrou ao longo da década de 80. Entre as crianças brasileiras, a prevalência da obesidade saltou de três por cento para quinze por cento em um período de quinze anos. A estimativa atual é que esse índice já esteja próximo de vinte por cento. Trata-se, sim, de uma epidemia, que está completamente fora de controle em todo o mundo. O sobrepeso e a obesidade implicam desvantagens significativas para o indivíduo e para a sociedade: há aumento da morbidade, da mortalidade e dos custos com

4 4 saúde, e redução das oportunidades de emprego, do status social e das conquistas no campo educacional. Na maioria dos casos, essas condições geram sofrimento psicológico insuportável para o indivíduo, por vezes superando as limitações físicas inerentes ao excesso de peso. A obesidade por si só já é causa de inúmeros transtornos para o indivíduo, no entanto as doenças a ela associadas são ainda mais importantes: apnéia do sono, doenças cardiovasculares e osteoarticulares, diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias, infertilidade e mesmo alguns tipos de câncer. Dentro do chamado ambiente obesogênico em que vivemos, nada é mais representativo do que o crescimento vertiginoso da cultura do fast-food, que mereceu alerta da própria OMS. Nos Estados Unidos, as cento e setenta mil lanchonetes e as mais de três milhões de máquinas de vender refrigerante mudaram definitivamente os hábitos alimentares do país. O mesmo acontece em outros países, de modo mais ou menos intenso. No Brasil, o aumento do consumo de fast-food é evidente nas regiões mais urbanizadas. Por falta de tempo para retornar às suas casas para as refeições, muitos trabalhadores e estudantes optam pelo consumo de sanduíches em lanchonetes. É uma tendência que parece ter vindo para ficar, em função da praticidade e do preço acessível.

5 5 Nada obstante, a rapidez no preparo não é proporcional ao equilíbrio nutricional das refeições. Pesquisa recentemente divulgada pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor mostrou que, na média, os sanduíches servidos pelas grandes redes de lanchonetes contêm excesso de sal, proteínas e gorduras. Outro aspecto muito interessante desse estudo foi a observação de que há grande variação no conteúdo calórico e nos demais componentes nutricionais entre os diversos lanches examinados. Isso reforça a necessidade de municiar o consumidor com todas as informações necessárias para que possa escolher corretamente os seus alimentos. É com esse intuito que apresento o presente projeto de lei, pois acredito que o melhor instrumento para a defesa do consumidor é a informação ampla. Espero, assim, contar com o apoio desta Casa para sua aprovação. Sala das Sessões, Senador MARCELO CRIVELLA