X RELAÇÕES ENTRE O PLANEJAMENTO URBANO E O PLANEJAMENTO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM: ESTUDO DE CASO DO RIBEIRÃO AREIAS EM BETIM - MG
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1 X RELAÇÕES ENTRE O PLANEJAMENTO URBANO E O PLANEJAMENTO DOS SISTEMAS DE DRENAGEM: ESTUDO DE CASO DO RIBEIRÃO AREIAS EM BETIM - MG Nilo de Oliveira Nascimento (1) Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia da UFMG. Engenheiro Civil pela UFMG. Mestre em Hidrologia FOTOGRAFIA pela École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Suiça. Mestre e Doutor em Recursos Hídricos pela École Nationale des Ponts et Chaussées, França. NÃO Rodrigo de Almeida Leite Barbosa DISPONÍVEL Engenheiro Civil pela UFMG. Mestrando do programa de pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia da UFMG. Osmar de Vasconcelos Costa Estudante de graduação em Engenharia Civil pela UFMG. Márcio Benedito Baptista Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola de Engenharia da UFMG. Engenheiro Civil pela UFMG. Mestre em Técnicas e Gestão Ambiental e Doutor em Recursos Hídricos pela École Nationale des Ponts et Chaussées, França. Endereço (1) : Escola de Engenharia da UFMG - Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos. Av. do Contorno, o andar - Belo Horizonte - MG - CEP: Brasil - Tel: (31) Fax: (31) niloon@ehr.ufmg.br RESUMO O presente trabalho apresenta os resultado de estudos hidrológicos e hidráulicos desenvolvidos na bacia hidrográfica do Riacho das Areias, situada no Município de Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde observam-se processo intensificado de urbanização e problemas de funcionamento inadequado do sistema de macrodrenagem implantado na bacia, com freqüente ocorrência de inundações. Os estudos desenvolvidos para a Prefeitura Municipal de Betim objetivaram o diagnóstico da situação atual e as simulações de funcionamento do sistema de macrodrenagem no horizonte de ocupação urbana da bacia, segundo o Plano Diretor 2010, contemplando ainda o estudo de alternativas de controle de cheias. Os resultados confirmam a inadequação de projeto do sistema de macrodrenagem e o elevado nível de risco de inundação. Ao longo do presente documento busca-se evidenciar a importância da integração do planejamento de drenagem urbana no planejamento urbano, bem como as possibilidades de emprego de técnicas alternativas de drenagem urbana, tais como as bacias de detenção, uma das soluções previstas para o caso em estudo, por apresentarem um grande potencial de redução dos impactos da urbanização tanto em controle de cheias como da poluição urbana de origem pluvial. Ressalta-se que seu emprego deve ser precedido de planejamento detalhado para possibilitar a gestão do sistema de drenagem, mais complexa com a presença das bacias. PALAVRAS-CHAVE: Hidrologia Urbana, Controle de Cheias, Planejamento Urbano, Bacia de Detenção, Modelagem Matemática. INTRODUÇÃO A cidade de Betim, localizada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, vem sofrendo, ao longo do tempo, um processo intensificado de urbanização, sobretudo a partir dos anos 60. Segundo o Plano Diretor Betim 2010, a população do Município era já de habitantes em 1995, sendo que 95% desta concentra-se na área urbana. Esse processo de urbanização tem conduzido à implantação de obras de infra-estrutura, exigindo investimentos significativos e intenso planejamento urbano. Um dos eixos principais desta expansão urbana corresponde ao Riacho das Areias, que corta o município de Leste a Oeste. O processo de urbanização da bacia hidrográfica vem acompanhado do aumento da freqüência de ocorrência de inundações no fundo de vale. Além disto, a continuidade das obras de canalização do curso d água principal e a ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
2 patente diferença de capacidade de transporte de vazão entre as seções típicas de canalização adotadas no passado e no projeto de canalização em curso de implantação conduziram a Prefeitura Municipal de Betim a desenvolver novos estudos visando a avaliação de riscos de inundação a busca de alternativas de controle de cheias na área. Nesse sentido, estudos foram desenvolvidos estudos hidrológicos e hidráulicos sobre a bacia hidrográfica e o curso d água Areias, tendo por objetivos básicos: o diagnóstico da situação atual e a avaliação do funcionamento do sistema de macrodrenagem no horizonte de ocupação urbana da bacia, segundo o Plano Diretor 2010; o estudo de alternativas de controle de cheias. Os estudos foram desenvolvidos adotando-se uma metodologia mais completa que a empregada quando do projeto e dimensionamento das canalizações já implantadas e daquelas ainda por implantar. Assim foram utilizados os modelo HEC-HMS e HEC-RAS, desenvolvidos pelo U.S. Army Corps of Engineers nos estudos hidrológicos e hidráulicos, respectivamente. CONTEXTO DO PROBLEMA: O SISTEMA EXISTENTE E SEU FUNCIONAMENTO A bacia do Riacho das Areias apresenta uma área total de drenagem de 41,4 km 2, sendo ocupada, na atualidade, em 64% por áreas urbana e industrial e em 36% por áreas verdes. No horizonte do Plano Diretor 2010 a ocupação urbana e industrial deverá evoluir para 85,5% da área da bacia. No planejamento urbano da bacia, o conceito urbanístico de avenida sanitária foi adotado para o tratamento do fundo de vale do Riacho das Areias. Esse curso d água, afluente da margem esquerda do Ribeirão Betim, nasce nas proximidades do Parque Fernão Dias, próximo à divisa dos Municípios de Betim e Contagem e percorre uma distância de cerca de 16 km até sua foz. Ao longo do processo de urbanização, o curso d água sofreu dois tipos principais de intervenção: canalização em seção transversal composta, de formato próximo ao trapezoidal, com revestimento em gabião ou gabião argamassado, no leito, e taludes revestidos em grama, em um trecho de m, a partir da confluência com o Betim, projetado para uma vazão de tempo de retorno igual a 25 anos (Figura 1); 2,40 1, Figura 1: Seção transversal típica da canalização do Riacho das Areias trecho jusante. mais recentemente, canalização em seção predominantemente aberta, retangular, com revestimento em concreto, a montante do trecho descrito acima obra em curso em um trecho total projetado de m, dos quais m encontram-se concluídos, projetado considerando-se a urbanização plena da bacia segundo Plano Diretor Betim-2010, para uma vazão de projeto de tempo de retorno de 50 anos (Figura 2). 3,10 m Figura 2: Seção transversal típica da canalização do Riacho das Areias, trecho de montante. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 A concordância entre as duas seções típicas faz-se por meio de um estreitamento no canal, com relação à seção de montante, cuja extensão é de 45,00 m e a largura mínima, no leito, é de 4,50 m. As recentes ocorrências de inundação, o processo de urbanização em curso, a construção da nova canalização para montante e a patente diferença de capacidade de transporte entre as duas seções típicas de canalização adotadas conduziram a Prefeitura Municipal de Betim aos seguintes questionamentos: a) quais serão os impactos do processo de urbanização sobre o comportamento hidrológico da bacia, sobre o funcionamento hidráulico da canalização trapezoidal (Figura 1) e, mais a jusante, sobre o funcionamento hidráulico do Rio Betim? b) haverá necessidade de intervir nesta canalização? Em caso positivo, que tipo de intervenção adotar? c) qual é o comportamento hidráulico do trecho de canal de transição entre as duas seções típicas e qual seu reflexo para montante, no canal de seção retangular? d) há possibilidade de redução desses impactos através da construção de bacias de detenção na bacia do Areias? ESTUDOS HIDROLÓGICOS E HIDRÁULICOS Simulações hidráulicas preliminares Com o objetivo de estimar-se a capacidade de transporte de vazão do canal para orientar as simulações hidrológicas e a análise de seus resultados, realizaram-se simulações hidráulicas preliminares adotando-se vazões constantes definidas a priori e regime de escoamento gradualmente variado. O modelo utilizado foi o HEC-RAS (USCE, 1998) e os valores adotados para as vazões foram 80 m 3 /s; 100 m 3 /s; 120 m 3 /s (vazão de projeto do canal trapezoidal no trecho próximo à confluência Areias-Betim) e 150 m 3 /s (vazão de projeto do canal retangular no trecho próximo à transição entre os dois modelos de seção transversal). Não houve, nessa fase do estudo, o interesse em uma análise hidráulica detalhada das condições de escoamento no canal, em termos de regime de escoamento, ação de controles hidráulicos, influência de diferentes transições entre canal aberto e galerias e mudanças de declividade, etc. Procurou-se apenas detectar pontos de extravasamento ou funcionamento em calha cheia. Os resultados indicam que o canal trapezoidal é capaz de transportar vazões de até 100 m 3 /s, desde que sejam executadas intervenções nas pontes existentes, de forma a eliminar o extravasamento local e os efeitos de remanso. Porém, na região de influência da transição retangular-trapezoidal, o estreitamento de seção provoca um efeito de remanso que se reflete para montante, produzindo extravasamento já para a vazão de 100 m 3 /s. Constatam-se, desta forma, as condições críticas de funcionamento da canalização, mesmo em se considerando as vazões calculadas quando do projeto, e com o uso de metodologias menos acuradas. Simulações hidrológicas As simulações hidrológicas foram realizadas utilizando-se o modelo HEC-HMS (USCE, 2000). Adotaram-se as opções seguintes para a estruturação do modelo: função de produção (chuva efetiva): método do U. S. Soil Conservation Service (SCS), com emprego do parâmetro CN, calibrado segundo tipo de solo, uso do solo e estado inicial de umidade do solo, com base em estudos de Ramos, Viana e Baptista (1999) para Belo Horizonte; função de transferência: hidrograma unitário triangular proposto pelo SCS; propagação hidrológica nos cursos d água: método Muskingum-Cunge; propagação hidrológica em reservatórios: método de Puls modificado. De forma a permitir a avaliação do impacto da urbanização e da implantação da canalização, as simulações hidrológicas foram efetuadas considerando três cenários, que são os seguintes: cenário AAT: correspondente ao comportamento hidrológico atual; cenário AATc: correspondente ao comportamento hidrológico na situação de canalização do curso d água concluída; cenário AFT: correspondente ao comportamento hidrológico de horizonte final de ocupação urbana. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
4 A Figura 3 mostra o modelo topológico adotado para a bacia hidrográfica nas simulações hidrológicas. Na Tabela 1 listam-se os principais parâmetros físicos e funcionais adotados para nas diferentes simulações efetuadas. Figura 3: Modelo Topológico da bacia hidrográfica do Riacho das Areias. Tabela 1: Parâmetros do modelo hidrológico da bacia hidrográfica do Riacho das Areias. Sub-bacia Dados da bacia Dados do canal CN Área tc Trecho L I n (AFT) AAT AFT [km 2 ] [min] - [m] [m/m] Leito margens A A A , ,00 0, ,017 0,017 A , ,00 0, ,017 0,017 A , A , ,00 0, ,017 0,017 A , A , ,00 0,0054 0,017 0,017 A ,30 99 A ,88 17 ED 1000,00 0, ,018 0,018 A ,74 23 CB 875,00 0, ,018 0,018 A BA 2525,00 0,0022 0,025 0,035 A ,67 15 DC 975,00 0, ,035 0,035 A A-AB (Obs.: CN = número de curva - SCS tc = tempo de concentração n = coeficiente de Manning) ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 As chuvas de projeto adotadas na modelagem foram construídas a partir de estudo de regionalização de chuvas para a Região Metropolitana de Belo Horizonte (Pinheiro e Naghettini, 1998). Entre as opções do modelo de distribuição temporal propostos no referido trabalho, optou-se pela probabilidade de excedência de 50%. A distribuição espacial da chuva foi considerada uniforme em toda a bacia. Objetivando a identificação de situações efetivamente críticas, optou-se por não fixar a duração da chuva de projeto segundo o tempo de concentração estimado para a bacia, de forma diferenciada das práticas correntes em hidrologia urbana. Assim, a chuva crítica foi definida a partir de simulações de eventos de precipitação de duração 2, 3, 4 e 6 horas, com tempo de retorno 50 anos, para a configuração AFT. Adotou-se a duração que resultou na situação mais crítica, ou seja, 2 horas. A figura 4 mostra o modelo da chuva de projeto para um evento com tempo de retorno de 50 anos e duração 2h Tempo ( x 10 min ) Figura 4: Chuva de projeto para T = 50 anos, com 50% de probabilidade de excedência. Para efeito de simulação, foram calculados eventos de tempo de retorno 2, 5, 10, 25, 50 e 100 anos. Esses tempos de retorno foram associados às vazões calculadas, como é prática corrente nos casos de inexistência de longas séries de vazão observada. A adoção de eventos de vários tempos de retorno permite estimar com maior precisão, quando das simulações hidráulicas, os tempos de retorno efetivos para os quais as estruturas hidráulicas deixam de funcionar segundo as especificações de projeto. No caso de modelagem da planície de inundação, podem-se estimar os riscos de inundação e suas conseqüências. Finalmente, no caso do estudo de estruturas alternativas de drenagem, como as bacias de detenção, torna-se possível conhecer de forma mais precisa seu funcionamento e seu impacto para o controle de cheias. IMPACTOS DA URBANIZAÇÃO E DA CANALIZAÇÃO As simulações hidrológicas permitem a avaliação dos impactos da urbanização sobre as vazões de cheia na bacia hidrográfica, como pode ser visto na Tabela 2, que traz os valores de vazão de pico para diferentes tempos de retorno, obtidos para os cenários AAT e o AFT, anteriormente citados. Os pontos de controle considerados são os seguintes: Ponto B segmento de transição entre as canalizações retangular e trapezoidal. Ponto JAB confluência do Riacho das Areias com o Rio Betim; Os resultados mostram que, para o cenário AAT, o tempo de retorno da canalização retangular é superior a 5 e inferior a 10 anos e o da canalização trapezoidal situa-se em torno de 5 anos. Considerando-se o cenário AFT, o tempo de retorno do canal trapezoidal é inferior a 2 anos e o do canal retangular é da ordem de 2 anos. De fato, a urbanização produz aumentos na vazão de pico que variam entre 50% para tempos de retorno superiores a 10 anos e 80% para T =2 ou 5 anos, segundo os cenários considerados. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 Tabela 2: Vazões de pico para diferentes tempo de retorno. Tempo de Retorno Vazões de pico no ponto B[m 3 /s] Vazões de pico no ponto JAB[m 3 /s] [anos] AAT AFT AAT AFT O impacto isolado da canalização sobre a relação chuva-vazão, na bacia, pode ser visto por intermédio da Figura 5, que retrata as vazões de pico em função dos tempos de retorno, para as situações atual (AAT) e com projeto de canalização concluído (AATc) no ponto de controle B Vazão (m³/s) Tempo de Retorno (anos) Areias-AT Areias-ATc Figura 5: Vazões de pico em função do tempo de retorno relativos aos cenários AAT e AATc. Ao aumentar as velocidades de escoamento e reduzir consideravelmente o amortecimento de cheias no curso d água, a canalização concentra os volumes de escoamento e modifica a cronologia dos eventos, resultando em aumento de vazões. No cenário AAT com tempo de retorno de 50 anos, os tempos para o pico nos pontos de controle 1, 5, B e JAB são respectivamente 108, 114, 118 e 132 minutos. Tomando-se o cenário AATc com o mesmo tempo de retorno e nos mesmos pontos de controle, obtêm-se os tempos para o pico de 108, 106, 110 e 126 minutos. A Tabela 3 relaciona os valores de vazão de pico e os percentuais de aumento dessas vazões com a urbanização para os tempos de retorno simulados no ponto de controle B. Tabela 3: Impactos da urbanização e da canalização no ponto de controle B. Tempo de Vazões de pico [m 3 /s] Impacto da Impacto da Relação Retorno [anos] AAT AATc AFT canalização - IC (%) urbanização IU (%) IC/IU (%) Esses resultados mostram, que os impactos de conclusão da canalização são significativos, implicando em aumentos na vazão de pico entre 8 e 19%. Em relação à situação atual, o tempo de retorno do trecho de canal retangular passa de cerca de 8 para aproximadamente 6 anos, com a conclusão da canalização. No caso do canal trapezoidal, a redução é de 5 para 3 anos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
7 Nota-se que o impacto da canalização decresce com o aumento tempo de retorno, evidenciando que as condições de escoamento na bacia hidrográfica exercem progressivamente um papel mais importante na geração da vazão de pico para eventos de tempo de retorno mais elevados. Observa-se, igualmente, que o incremento nas vazões de pico decorrente da urbanização é superior ao da canalização, como seria de se esperar. A tabela 3 mostra, entretanto, que o efeito de canalização representa uma parcela de cerca de 22% a 24% relativos ao impacto da urbanização futura que inclui canalização e urbanização, propriamente dita. EMPREGO DE BACIAS DE DETENÇÃO Considerando-se os resultados das simulações hidrológicas e hidráulicas realizadas, constata-se que o sistema de macrodrenagem do Riacho das Areias funciona com elevado nível de risco de extravasamento. Para o cenário futuro, o tempo de retorno da vazão de calha cheia encontra-se estimado em cerca de 2 anos, quando em projeto para o trecho de canal trapezoidal, deveria ser de 25 anos. Tendo em vista esses resultados, procuraram-se alternativas de configuração do sistema de macrodrenagem de forma a diminuir o risco de inundação na área de estudo. A alternativa de intervenção nas canalizações já existentes, com reconfiguração do leito (aumento de seção transversal, redução de rugosidade, retificação, entre outras), foi descartada em razão dos custos elevados, mas, sobretudo, porque tenderia a agravar problemas de insuficiência do sistema de macrodrenagem do Ribeirão Betim, do qual o Areias é tributário, em área central da cidade de Betim. Partiu-se, então para o estudo de alternativas de controle de cheias por meio da implantação de bacias de detenção na bacia hidrográfica do Riacho das Areias. Foram estudadas diversas configurações do sistema, prevendo-se a implantação de 1 a 5 bacias de detenção. A bacia de detenção 1 seria localizada no próprio curso do Areias, aproveitando-se uma área prevista para a implantação de um parque, entre os pontos D e C do diagrama topológico mostrado na figura 3. Essa bacia de detenção seria a maior do sistema, com capacidade de armazenamento de até m 3. As demais bacias de detenção previstas localizam-se em tributários do Areias, nas sub-bacias A11, A2 e A4 (ver figura 3), e possuem capacidade de armazenamento da ordem de m 3, cada. Desta forma, implantadas as 5 bacias de detenção simuladas, a capacidade total de armazenamento do sistema de macrodrenagem atingiria cerca de m 3. A tabela 4 lista as vazões de pico segundo os tempos de retorno dos eventos simulados e o arranjo de bacias de detenção, para o cenário de urbanização futura, nos pontos de controle B e JAB do sistema de macrodrenagem do Areias (ver figura 3). A tabela 5 relaciona os percentuais de redução das vazões de pico, nesses mesmos pontos de controle, quando são comparados os arranjos de implantação de bacias de detenção, dois a dois, partindo-se de uma bacia de detenção até atingir-se o limite das 5 bacias previstas. Tabela 4: Vazões de pico em função do tempo de retorno. Ponto B Ponto JAB T AFTR1 AFTR3 AFTR4 AFTR5 AFTR1 AFTR3 AFTR4 AFTR5 [a.] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] Q [m 3 /s] ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7
8 Tabela 5: Percentual de redução sobre as vazões de pico. Ponto B T AFTR1 AFTR3 AFTR4 AFTR5 com com com com AFTR AFTR1 AFTR3 AFTR4a AFTR1 com AFTR AFTR3 Com AFTR1 Ponto JAB AFTR4 Com AFTR3 AFTR5 com AFTR4a [a.] [%] [%] [%] [%] [%] [%] [%] [%] Os resultados das simulações realizadas evidenciam um papel bastante positivo de implantação das bacias de detenção, particularmente sobre os trechos de canal mais próximos do ponto de controle B. Como acontece com esse tipo de solução alternativa de controle de cheias, seu efeito de redução das vazões de pico tende a diminuir para jusante em razão das contribuições das áreas não controladas. De toda forma, pode-se concluir pelos resultados mostrados que os trechos de canalização localizados a jusante do ponto de controle B, cuja capacidade de transporte de vazões é de cerca de 100 m 3 /s, passam a funcionar adequadamente até vazões de tempo de retorno de cerca de 25 anos, se implantadas pelo menos 3 bacias de detenção no sistema. Os ganhos obtidos com a instalação de um maior número de bacias de detenção são pouco significativos, tomando-se por referência o trecho de canal em questão. Entretanto, podem contribuir para uma melhoria do funcionamento hidráulico do sistema, em trechos de montante, como também para assegurar melhores condições operacionais da bacia de detenção mais a jusante, a ser implantada no próprio curso do Riacho das Areias. CONCLUSÕES Adotando-se uma modelagem chuva-vazão discreta da bacia hidrográfica do Riacho das Areia, os resultados dos estudos hidrológicos mostram vazões de projeto significativamente diferentes e superiores àquelas utilizadas para dimensionamento dos canais. O elevado nível de discrepância em estimativas de vazões de projeto segundo diferentes metodologias empregadas revela o alto grau de incerteza associado a estas estimativas. A ausência de monitoração hidrológica em áreas urbanas, uma situação comum a quase todas as áreas urbanas brasileiras, dificulta a redução dessa incerteza. Da mesma forma, os estudo hidráulicos de determinação da linha d água, em regime variado, evidenciaram, igualmente, vários pontos de insuficiência de drenagem e de funcionamento inadequado das estruturas hidráulicas, mesmo considerando-se as vazões precedentemente calculadas, utilizadas quando do projeto e dimensionamento das canalizações. Evidencia-se, portanto, que o sistema de macrodrenagem em questão funciona com um elevado nível de risco de inundação, risco este que tende a agravar-se com o processo de urbanização da bacia e a realização das obras de infra-estrutura. Evidenciou-se também que a minimização destes impactos pode ser conseguida através da implantação de estruturas de amortecimento de cheias, tendo sido contemplados, no presente trabalho, os estudos de alternativas de emprego de uma a cinco bacias de detenção, aproveitando-se de áreas verdes e de áreas destinadas a parques e jardins. Como conclusão deste trabalho, podem ser discernidos dois aspectos principais, tomando o presente estudo de caso como referência. O primeiro, corresponde à importância da integração do planejamento de drenagem urbana no planejamento urbano como um todo, evitando-se não só incoerências e incompatibilidade de projetos, como também, e sobretudo, a inadequada consideração da urbanização na resposta hidrológica da bacia. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8
9 O segundo aspecto, não menos significativo, refere-se ao emprego de soluções alternativas de drenagem urbana, tais como as bacias de detenção. De fato, essas técnicas apresentam um grande potencial de redução dos impactos da urbanização tanto em termos de controle de cheias como de controle da poluição urbana de origem pluvial. Elas favorecem ainda a perspectiva da revalorização do espaço urbano, através da implantação de soluções combinadas com áreas verdes, parques, terrenos de esporte ou espelhos d água. Entretanto, seu emprego deve ser precedido de um trabalho detalhado de planificação que venha a possibilitar a gestão de sistemas de drenagem que, com seu emprego, tornam-se mais complexos que os sistemas clássicos, conforme já citado por Baptista, Nascimento e Sperling (1998). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BAPTISTA, M. B.; NASCIMENTO, N. O.; SPERLING, E. Inserção Ambiental de Bacias de Detenção Urbanas. Publicado nos anais do XXVI Congreso Interamericano de Ingenieria Sanitaria y Ambiental, promovido pela AIDIS, em Lima, Perú, em novembro de PINHEIRO, M. M. G.; NAGHETTINI, M. C. Análise regional de freqüência e distribuição temporal das tempestades na Região Metropolitana de Belo Horizonte RMBH. Publicado na RBRH, vol. 3, pp. 73 a 88, U.S. CORPS OF ENGINEERS HEC-RAS River Analysis System - Technical Reference Manual, U.S. CORPS OF ENGINEERS HEC-HMS Hydrologic Modeling System - Technical Reference Manual, RAMOS, M. H. D.; VIANA, C. S.; BAPTISTA, M. B. - Classificação dos solos de Belo Horizonte segundo grupos hidrológicos do US Soil Conservation Service. Publicado nos anais do XIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, promovido pela ABRH, em Belo Horizonte, em ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9
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