DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO TOCANTINS PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO TOCANTINS PADRÃO DE RESPOSTA DEFINITIVO"

Transcrição

1 Prova Discursiva P2 Questão 1 Data de Aplicação: 24/4/2022 A situação proposta já foi enfrentada pelo STF. Na ocasião do julgamento, fixou-se a seguinte tese de repercussão geral: Os Estados-Membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de postagem de boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas (Tema 491). Portanto, a competência privativa da União para legislar sobre serviço postal (CF, art. 22, V) não engloba a distribuição de boletos bancários, de contas telefônicas, de luz e água e de encomendas. Ao revés, no dizer do STF, a atividade desenvolvida pelo ente central restringe-se ao conceito de carta, cartão-postal e correspondência agrupada (ADPF 46). Nessa perspectiva, com apoio no princípio da predominância do interesse, diante de dúvida sobre determinada regra de distribuição de competência, é preciso prestigiar a autonomia local e suas especificidades. Na hipótese, a fixação das regras sobre as postagens das correspondências está amparada no art. 24, V e VIII, da CF, tendo, pois, natureza consumerista. Ademais, o STF salientou que a previsão de data nas postagens não viola a intimidade dos consumidores. Assim, segundo o STF, a lei discutida está em compasso com as regras de competências constitucionais. Quesito Não respondeu à indagação ou respondeu que a lei invadiu a competência legislativa da União. 1 Respondeu que a lei não invadiu a competência legislativa da União, mas não fundamentou a resposta. 2 Respondeu que a lei não invadiu a competência legislativa da União e fundamentou parcialmente a resposta. 3 Respondeu que a lei não invadiu a competência legislativa da União e fundamentou adequadamente a resposta: pelo princípio da predominância do interesse ou pela natureza consumerista ou pela competência concorrente/suplementar dos Estados- Membros e do Distrito Federal. Quesito Não mencionou o princípio ou mencionou outro princípio. 1 Mencionou o princípio, mas não o explicitou ou o explicitou erradamente. 2 Mencionou o princípio e o explicitou adequadamente. Quesito Não mencionou a natureza consumerista ou mencionou outra natureza. 1 Mencionou a natureza consumerista, mas não a explicitou ou a explicitou erradamente. 2 Mencionou a natureza consumerista e a explicitou adequadamente.

2 Prova Escrita Discursiva P2 Questão 2 Aplicação: 24/4/2022 O caso Márcia Barbosa e Familiares foi recentemente julgado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, envolvendo o feminicídio da jovem paraibana Márcia Barbosa. Negra e de família humilde, ao tentar trabalho na cidade de João Pessoa, os sonhos de Márcia foram prematuramente interrompidos pela morte. No curso das investigações, verificou-se que o principal suspeito era o deputado estadual Aércio Pereira, que contou com o apoio de seus pares na Assembleia Legislativa da Paraíba para não autorizar o prosseguimento da ação penal, assim, reconhecendo a imunidade formal de maneira desproporcional e arbitrária. Desse modo, a mais recente condenação do Brasil na Corte Interamericana reconhece, mais uma vez, o contexto de violência estrutural e generalizada contra mulheres no Brasil, que, através da sobreposição de opressão e discriminação de mulheres negras, jovens e da periferia, aumenta, ainda mais, a vulnerabilidade da condição de gênero no país. Entre os principais fundamentos da decisão da Corte, podem ser destacados: (i) o abuso da imunidade parlamentar formal, tendo como solução o teste de proporcionalidade estrito, que leva em conta a gravidade da infração, inclusive, servindo de parâmetro para todos os países submetidos à jurisdição da Corte; (ii) a perpetuação da violência estrutural de gênero no Brasil por meio de estereótipos (v.g. mulher, negra, pobre); e (iii) o reconhecimento que tais condutas consistem em violação às convenções de Belém do Pará (Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher) e das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). Por fim, cabe mencionar os principais aspectos da condenação que o Brasil sofreu: (i) obrigação de realizar o controle de convencionalidade da imunidade parlamentar com base na interpretação realizada pela Corte; (ii) a criação de um sistema nacional de compilação de dados sobre a violência contra a mulher com o perfil das vítimas; (iii) a confecção de um plano de capacitação de funcionários públicos responsáveis pelas investigações, com base na perspectiva de gênero e étnico-racial das vítimas; e (iv) o desenvolvimento de um protocolo nacional de diretrizes para investigação de crimes de feminicídio. 2.1 Contextualização do caso Márcia Barbosa: (i) jovem, negra e de família humilde; (ii) feminicídio praticado por deputado; (iii) ausência de autorização da Assembleia Legislativa para prosseguimento da ação penal; (iii) aplicação desproporcional e arbitrária da imunidade parlamentar formal; (iv) contexto de violência estrutural e generalizada contra mulheres no Brasil; (v) a sobreposição de opressão e discriminação aumenta a vulnerabilidade de alguns grupos de mulheres, como por ex. as jovens, negras e sem recursos financeiros. 0 - Não contextualizou o referido caso ou contextualizou outro caso. 1 - Contextualizou o caso, apontando ao menos um aspecto. 2 - Contextualizou o caso, apontando ao menos dois aspectos. 3 - Contextualizou o caso, apontando mais de dois aspectos Aspectos fundamentais da decisão: (i) abuso da imunidade parlamentar formal (teste de proporcionalidade estrito que leve em conta a gravidade da infração), (ii) violência estrutural de gênero (estereótipos de gênero, condição social e raça somados perpetuam um quadro de violência estrutural contra as mulheres no Brasil) e (iii) violação à Convenção de Belém do Pará (a violência estrutural de gênero viola a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher) e das Nações Unidas sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). 0 - Não indicou nenhum aspecto fundamental da decisão. 1 - Indicou ao menos um aspecto fundamental da decisão. 2 - Indicou ao menos dois aspectos fundamentais da decisão. 3 - Indicou todos os aspectos fundamentais da decisão. 2.3 Principais medidas de não repetição: (i) obrigação de realizar o controle de convencionalidade da imunidade parlamentar com base na interpretação realizada pela Corte; (ii) criação de um sistema nacional de compilação de dados sobre a violência contra a mulher com perfil das vítimas (banco de dados), (iii) confecção de um plano de capacitação de policiais para investigações sob a perspectiva de gênero e étnico-racial e (iv) desenvolvimento de um protocolo nacional de diretrizes para investigação de crimes de feminicídio. 0 - Não citou nenhuma das principais medidas de não repetição. 1 - Citou ao menos uma das principais medidas de não repetição. 2 - Citou ao menos duas das principais medidas de não repetição. 3 - Citou ao menos três das principais medidas de não repetição. 4 - Citou todas as principais medidas de não repetição.

3 Prova Escrita Discursiva P2 Questão 3 Aplicação: 24/4/2022 Deverá o candidato apontar que assiste razão à administração, dado o entendimento do Superior Tribunal de Justiça de que a acumulação ilegal de cargos públicos, expressamente vedada pelo art. 37, XVI, da Constituição Federal, protrai-se no tempo, podendo ser investigada a qualquer época, até porque os atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso temporal, não havendo que se falar em decadência da pretensão da Administração. Segundo o STJ: 1 Não ocorre a decadência do direito da Administração Pública em adotar procedimento para equacionar ilegal acumulação de cargos públicos, uma vez que os atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso do tempo. Agravo Interno não provido. (AgInt no REsp /RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 25/10/2021, DJe 04/11/2021) 2 Não é possível, em sede de recurso especial, o reexame de matéria fático-probatória, o que enseja a incidência da Súmula 7 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. Esta Corte possui entendimento de que a acumulação ilegal de cargos públicos, expressamente vedada pelo art. 37, XVI, da Constituição Federal, protrai-se no tempo, podendo ser investigada a qualquer época, até porque os atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso temporal, não havendo que se falar em decadência da pretensão da Administração. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp /RS, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/11/2020, DJe 27/11/2020) Não respondeu à questão ou respondeu que não assiste razão à administração. 1 - Respondeu que assiste razão à administração, mas não justificou a resposta nem com base na CF nem no entendimento do STJ. 2 - Respondeu que assiste razão à administração, com fundamento apenas na vedação expressa da CF em relação à acumulação ilegal de cargos. 3- Respondeu que assiste razão à administração, com fundamento no entendimento do STJ de que a acumulação ilegal de cargos públicos, expressamente vedada pelo art. 37, XVI (ou 10 do art. 37 ou art. 40, 6º), da CF, protrai-se no tempo, podendo ser investigada a qualquer época porque os atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso temporal ou não havendo que se falar em decadência da pretensão da administração ou ausência de direito adquirido perante preceito constitucional. 4 - Respondeu que assiste razão à administração, com fundamento no entendimento do STJ de que a acumulação ilegal de cargos públicos, expressamente vedada pelo art. 37, XVI, da Constituição Federal, protrai-se no tempo, podendo ser investigada a qualquer época, porque os atos inconstitucionais jamais se convalidam pelo mero decurso temporal, não havendo que se falar em decadência da pretensão da administração. Obs. Menção a outros fundamentos, como princípio da autotutela ou teoria do fato consumado não serão levados em consideração para fins de avaliação.

4 Prova Escrita Discursiva P2 Peça Processual Aplicação: 24/4/2022 Ao juízo/exmo. Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Palmas TO Autos n.º DJ, já qualificado nos autos, por meio da Defensoria Pública do Estado do Tocantins, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., apresentar Alegações Finais por Memorial, nos termos do art. 404, parágrafo único, do CPP, pelos seguintes fundamentos fáticos e jurídicos: I. Preliminar Falta de condição de procedibilidade: não houve representação da vítima Não consta nos autos que a vítima fez a representação criminal contra DJ, sendo que, na data dos fatos, 23/9/2018, a ação penal pela prática do crime previsto no art. 213 do CP era pública condicionada à representação, só tendo se tornado ação incondicionada com o advento da Lei n.º , que entrou em vigor em 24/9/2018, ou seja, no dia posterior aos fatos. Por ser uma novatio legis in pejus, ela não retroage, permanecendo sob ação penal pública condicionada à representação os crimes ocorridos até a publicação da lei. Assim, falta condição de procedibilidade para o exercício da ação penal, sendo inadmissível sua propositura. A denúncia deveria ter sido rejeitada conforme determina o art. 395, II, do CPP, sendo flagrante o prejuízo causado ao acusado em razão de a defesa não ter identificado e alegado a ilegitimidade do Ministério Público para a propositura da ação penal ao apresentar resposta à acusação, motivo pelo qual o réu deve ser absolvido. II. Preliminar - Nulidade absoluta: inépcia da denúncia e réu indefeso O Ministério Público não descreveu precisa e detalhadamente a imputação que fez ao acusado na peça exordial, sequer tendo mencionado se houve violência ou grave ameaça no constrangimento da vítima ou referido a natureza do ato libidinoso praticado, conforme exige o art. 41 do CPP. Portanto, por violação do princípio do contraditório e da ampla defesa, está inepta a denúncia. O art. 395, I, do CPP prevê a rejeição da denúncia nesse caso, o que não ocorreu nem foi alegado pela defesa na resposta à acusação, o que prejudicou o acusado. III. Preliminar - Nulidade absoluta: falta de citação pessoal do acusado e réu indefeso A citação pessoal válida é requisito indispensável do devido processo legal e consequência do direito à informação e da observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa. O art. 360 do CPP estabelece que o preso deverá ser pessoalmente citado. Assim, estando o réu em isolamento, o oficial de justiça deveria ter retornado em outra oportunidade. Note-se que a apresentação de resposta à acusação pelo advogado particular e sua omissão em argui-la não a torna preclusa, dada a nulidade absoluta por violação do art. 564, III, "e", do CPP. Reconhecida a nulidade da citação, impõe-se a renovação de todos os atos processuais. Obs. Não será critério de avaliação o candidato que suscitar eventuais outras nulidades, como aquela referente à nomeação automática da Defensoria Pública para patrocinar a defesa do acusado, sem que seja dada ao réu a oportunidade prévia de nomear ou constituir um novo patrono. IV. Mérito - Falta de comprovação da materialidade do crime/in dubio pro reo Não foi comprovada a materialidade do crime de estupro. O laudo de exame de corpo de delito apontou apenas lesões leves, não havendo vestígios de ato libidinoso. As testemunhas não presenciaram a prática de ato de natureza sexual, conforme se verifica em seus depoimentos. A vítima não foi localizada para esclarecer o ocorrido. O acusado nega o fato. É injusta e viola o princípio da inocência uma condenação por crime sexual hediondo com pena mínima de 6 anos de reclusão sem que exista prova pericial ou testemunhal de sua ocorrência, devendo prevalecer o in dubio pro reo. Isto posto, requerse a absolvição do réu com base no disposto no art. 386, inciso II ou VII, do CPP.

5 V. Desclassificação por crime menos grave Caso não sejam acolhidas as teses anteriores, impõe-se a desclassificação para crime menos grave ou contravenção, pois não ficou comprovada a intenção do acusado em praticar ato sexual com ou contra a vítima. O fato de algumas pessoas terem dito que a vítima gritou tarado não significa que um crime de estupro ou eventualmente importunação sexual (art. 215-A do CP) estava em curso, não havendo qualquer vestígio desse ato. Em relação às lesões nas pernas constatadas no laudo pericial, não há indícios de que foram causadas pelo acusado e eventual desclassificação para o crime de lesão corporal leve ou culposa também exigiria representação da vítima, o que não houve. Isto posto, em caso de desclassificação, também urge o reconhecimento da falta de condição de procedibilidade para a ação penal. VI. Afastamento da agravante da reincidência De fato, o acusado teve condenação penal transitada em julgado, mas a pena já foi integralmente cumprida há mais de 5 anos, razão pela qual não pode ser considerada para fins de reincidência, conforme estabelece o art. 64, I, do CP. VII. Direito de Apelar em liberdade/revogação da prisão preventiva Considerando os argumentos já expostos, verifica-se que não estão presentes os requisitos que justificariam a manutenção da prisão preventiva, pois sequer há prova da existência de crime, razão por que o acusado deve ser posto imediatamente em liberdade para aguardar, livre, eventual recurso (arts. 596 e 597 do CPP). VIII. Detração Penal Remição Em caso de condenação, deve-se considerar que o acusado permaneceu preso durante toda a persecução penal, fazendo jus ao cômputo do tempo da prisão provisória para fins de detração remição, nos termos do art. 387, 2.º, do CPP. Pedidos Por todo o exposto, requer-se a absolvição do acusado; não sendo acolhido o pedido anterior, requer-se o reconhecimento de nulidade absoluta; em caso de condenação, a desclassificação para crime menos grave; o afastamento da reincidência; a concessão do direito de apelar em liberdade e o cômputo dos dias em que ficou preso para a remidos na fixação do regime inicial de cumprimento de pena. Local. Data. Assinatura Defensor Público Não endereçou nem nomeou a peça. 1 - Endereçou a peça, mas não a nomeou ou vice-versa. 2 - Endereçou e nomeou a peça de forma incompleta. 3 - Endereçou e nomeou a peça adequadamente Não abordou a preliminar. 1 - Abordou apenas um dos seguintes tópicos a preliminar sem fundamentar: falta de representação ou falta condição da ação ou ilegitimidade do MP. 2 Abordou um dos tópicos e o pedido de absolvição a preliminar fundamentando-a, mas não detalhou a novatio legis in pejus. 3 - Abordou a preliminar fundamentando-a e dois tópicos ou detalhou a novatio legis in pejus e o pedido de absolvição. 4 Detalhou a preliminar e o pedido Não abordou a preliminar. 1 - Abordou apenas a inépcia da denúncia. 2 - Abordou a inépcia da denúncia e um dos seguintes tópicos: violação aos princípios constitucionais ou réu indefeso porque não foi alegado na resposta à acusação. 3 - Detalhou a preliminar Não abordou a preliminar. 1 - Abordou apenas o fato de que a citação tem de ser pessoal. 2 - Abordou o fato de que a citação é pessoal e um dos seguintes tópicos: gera nulidade ou atos processuais devem ser renovados ou réu indefeso por não ter o advogado arguido na resposta à acusação. 3 - Detalhou a preliminar.

6 Não abordou o mérito nem mencionou qualquer pedido. 1 Argumentou apenas acerca da falta de provas/materialidade. 2 - Argumentou acerca da falta de provas e abordou um dos seguintes tópicos: princípio da inocência ou in dubio pro reo ou pedido de absolvição. 3 - Detalhou os tópicos e fez o pedido Abordou genericamente a desclassificação. 2 - Detalhou a possibilidade de desclassificação para crime menos grave ou contravenção Fez pedido genérico de afastamento da agravante. 2 - Fundamentou que não pode ser considerada a reincidência Formulou pedido de liberdade do acusado ou revogação da prisão preventiva Formulou pedido cômputo dos dias remidos de detração penal.