A valorização do Real: evidências e tendências

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1 Ano 10 Número 5 11 de novembro de A valorização do : evidências e tendências A valorização do é um processo anterior à crise financeira de 2008 Reflete a superação de nossa vulnerabilidade externa e as expectativas de crescimento da economia brasileira O foi uma das moedas que mais se desvalorizou frente ao dólar com a crise em 2008 Entre agosto de 2008 e outubro de 2009 o ainda mostra desvalorização de 8% frente ao Dólar A tendência de valorização persistirá com a abundância de liquidez mundial e juros externos baixos Situação exige ações de curto prazo na política monetária e cambial de forma a evitar danos permanentes à economia brasileira. Valorização do exige ação ativa da política econômica Acentua-se, de forma preocupante para a indústria, a tendência de fortalecimento da moeda brasileira. Após um período de enfraquecimento do com a crise, o câmbio voltou ao nível de A valorização forte e persistente da moeda prejudica a competitividade dos produtos brasileiros e causa dificuldades expressivas às empresas industriais. A valorização do é o preço do sucesso da superação de nossa vulnerabilidade externa que, no passado, causou instabilidade e impôs sérias limitações ao crescimento. Reflete o sucesso das transformações ocorridas na economia do País e a melhora da competitividade. Novas manifestações de sucesso da economia como a superação da crise e o retorno do crescimento poderão aprofundar esse quadro. A diferença entre o custo do capital no Brasil e no exterior, em especial nos Estados Unidos, exacerba o processo de valorização atual. A manutenção de expressivo diferencial de taxa de juros possibilita operações de arbitragem que provocam um excesso de oferta de moeda estrangeira e contribui de forma decisiva para a valorização adicional da moeda brasileira. Qualificando a valorização recente Uma grande preocupação da indústria brasileira hoje é a tendência de valorização do. O mundo pós-crise será fortemente caracterizado pelo acirramento da competição nos mercados. A preocupação com a competitividade se torna ainda mais crítica em face da continuidade do processo de valorização da moeda brasileira, que expõe as dificuldades de competição não apenas no caso das exportações, mas também na competição com importados no próprio mercado doméstico. O se apreciou fortemente em Até outubro, a valorização do foi de 27% frente ao Dólar, 2 frente ao, 27% com relação ao, 21% frente à e 35% na comparação com o Peso Argentino. No mesmo período, quando comparada a uma cesta de moedas dos principais parceiros comerciais, a moeda brasileira apresentou valorização de 18%. Com relação ao Dólar, o é a moeda que mais se apreciou em Como se pode ver no Gráfico 1 abaixo, o caso brasileiro (valorização de 27%) só é semelhante à valorização das moedas da Austrália (26%), África do Sul (25%) e Nova Zelândia (24%). Confederação Nacional da Indústria

2 Gráfico 1 - Variação na cotação de moedas selecionadas frente ao dólar Média outubro 2009 / média dezembro % 1 5% 12% 4% -5% -1% -1% -5% -1-8% -9% -1-13% -15% -2-15% -16% -16% -25% -3-24% -25% -26% -27% Ressalte-se, contudo, que o foi uma das moedas que mais se desvalorizou frente ao dólar na crise financeira e econômica mundial, mais especificamente, com a quebra do banco Lehmann Brothers. Entre agosto de 2008 e dezembro do mesmo ano, o desvalorizou-se 48%. Como se pode ver pelo Gráfico 2, esse efeito foi muito acima do registrado para uma série de outras moedas. Gráfico 2 - Variação na cotação de moedas selecionadas frente ao dólar Média dezembro 2008 / média agosto % % 31% 31% 3 27% 27% 27% 25% 22% 17% 16% 13% 11% 5% % -3 2 Ano 10, n.5, 12 de novembro de 2009

3 Assim, se considerado todo o período entre agosto de 2008 e outubro de 2009, vê-se que o desvalorizou-se 8%. Na verdade, a moeda que mais se apreciou no período foi o (17%). Se tomada a cesta de 13 moedas com os quais o Brasil mais transaciona, a desvalorização é de 4,4%. Essa constatação reforça a idéia que a tendência para o é de valorização nos próximos meses e que esse movimento é anterior a crise econômica. Gráfico 3 - Variação na cotação de moedas selecionadas frente ao dólar Média outubro 2009 / média agosto % 26% 25% 21% 17% 1 11% 8% 6% 3% 1% -1-2% -3% -4% -6% -2-17% A tendência de valorização do, como se pode ver pelo Gráfico 4, é bem anterior a crise econômica. Ao se comparar a média da taxa de câmbio de 2005 entre várias moedas e a média de 2009 (até outubro), vê-se que o é a moeda que apresentou a maior valorização. A valorização é próxima a observada em moedas de países desenvolvidos, como o e o. Gráfico 4 - Variação na cotação de moedas selecionadas frente ao dólar Média 2009 / média % 3 27% 25% 2 18% 16% 15% 14% 1 11% 4% 2% -1-4% -6% -1-12% -14% -16% -2 Rúpia indiana Ano 10, n.5, 12 de novembro de

4 Razões para a valorização recente A entrada de divisas da economia brasileira determina a valorização do. Números do Banco Central mostram forte entrada de divisas. Nos meses de abril a outubro, a entrada líquida de divisas acumulou US$ 25,8 bilhões, após um período de saídas sucessivas entre outubro de 2008 até março de 2009 (excluindo-se fevereiro), que acumulou US$ 22 bilhões. Ou seja, a entrada líquida de divisas em 2009 supera a saída provocada pela crise. Somente em outubro último a entrada foi de quase US$ 15 bilhões, a maior cifra desde junho de A aplicação do IOF reduziu fortemente a entrada de capitais nesse mês (queda de 75%). A redução da atratividade dos papéis brasileiros reduziu a entrada, mas diversos outros fatores continuarão promovendo a valorização do câmbio no médio prazo. Um desses fatores é a rentabilidade, que mesmo com a aplicação do IOF, continua alta. A bolsa de valores brasileira (Bovespa) valorizou-se 64% no ano até 31 de outubro (média mensal), muito superior a outros mercados, emergentes ou não. O ingresso de recursos de investidores na Bovespa soma US$ 17,2 bilhões no ano até setembro em outubro, até o dia 23, acumularam-se entradas de mais US$ 8,76 bilhões. O valor acumulado no ano até setembro é mais de 10 vezes superior ao observado no mesmo período do ano passado. Gráfico 5 - Valorização em bolsas de valores selecionadas Período: 01/01/ /10/ % % 43% % 25% 24% 23% 2 21% 15% 14% 14% 13% 13% 13% 12% 11% 1 Brasil Hong Kong Suecia EUA (Nasdaq) Mexico Australia Espanha Holanda Canada EUA (S&P 500) Inglaterra Suica Italia Japao Alemanha Franca EUA (Dow Jones) A rentabilidade em títulos de renda fixa também continua bastante atrativa. Após as reduções das taxas de juros praticadas em todo o mundo por conta da crise, a diferença entre o rendimento dos títulos brasileiros e de outros países continuou elevado. Mesmo com os aumentos recentes praticados em alguns países e de outros que deverão fazer o mesmo, no médio prazo a rentabilidade continuará alta. Como resultado, o ingresso de capital estrangeiro em aplicações de renda fixa totalizou US$ 5,4 bilhões até setembro. Esses fatores são em sua maioria relacionados ao fato que o Brasil está sendo reconhecido como um dos países de melhor desempenho na crise: o emprego, por exemplo, foi pouco afetado na comparação com outros países. A robustez da demanda doméstica também é outro fator de diferenciação. A balança comercial também está contribuindo para a entrada de capitais: acumulou superávit de US$ 22,6 bilhões em outubro. O valor é 8,5% superior ao acumulado em igual período de Ano 10, n.5, 12 de novembro de 2009

5 Por fim, o dólar continuará a se desvalorizar por vários motivos. Um deles é que os investidores estão, cada vez mais, reduzindo sua aversão ao risco, que tinha aumentado com a crise. Na medida em que a economia global exiba sinais cada vez mais claros de recuperação, os aplicadores trocarão investimentos em títulos americanos, de baixo risco, mas com baixa rentabilidade, por ativos com expectativa de ganho maior. Além disso, a taxa de juros americana segue muito baixa, o que estimula o endividamento naquela moeda para se investir em moedas que pagam juros mais elevados, como o Brasil (o chamado carry trade). Ressalte-se que esse fator deverá ser menos im- portante no ano que vem, uma vez que deverá ocorrer algum aumento de juros por parte do FED (banco central americano). Por outro lado, os investimentos estrangeiros diretos, que recuaram durante a crise financeira, seguem significativos e deverão se intensificar nos próximos anos, com trajetória de crescimento. Não só pelo consumo das famílias, que continua crescendo, como também pelas perspectivas da realização de uma Copa do Mundo e das Olimpíadas no país, além da exploração do pré-sal; as oportunidades de investimento seguem atraindo capitais para o Brasil. Ações de múltiplo caráter para evitar continuidade do processo A situação do real altamente valorizado torna-se cada vez mais crítica. O processo de valorização impacta negativamente uma série de segmentos industriais e sua continuidade irá gerar conseqüências como perdas irrecuperáveis de mercado, redução de lucratividade e, eventualmente, fechamento de empresas e redução de empregos. Embora contrapor as forças da valorização seja complexo, a situação exige ações múltiplas de forma a evitar tais danos. Ações de curto prazo na política monetária e cambial: É absolutamente necessária uma postura mais ativa do Banco Central tanto na redução do diferencial de juros brasileiros e externos como na aquisição do excesso de moeda estrangeira. Também é importante implementar medidas voltadas a inibir a entrada de recursos de curto prazo, como é o caso da tributação pelo IOF. Ainda que sejam pontuais e de efeitos parciais, essas medidas contribuem para reduzir o excesso de oferta de moeda estrangeira. É crucial também atualizar a legislação cambial brasileira, definida para uma época de escassez de divisas, com a liberalização e facilitação da saída de capitais, que teriam impacto regulador sobre o fluxo de recursos externos. Ações estruturais para elevação da competitividade: Paralelamente, é urgente buscar a redução das ineficiências que reduzem a competitividade dos produtos brasileiros, tais como: eliminar a tributação sobre investimento, criar mecanismos ágeis e automáticos na recuperação de créditos tributários, prover infra-estrutura e logística eficientes, reduzir a burocracia e os encargos sobre os custos salariais. NOTAS ECONÔMICAS Publicação da Confederação Nacional da Indústria - CNI Unidade de Política Econômica - PEC Gerente-executivo: Flávio Castelo Branco Equipe técnica: Marcelo Azevedo Informações Técnicas: (61) Supervisão gráfica: Núcleo de Editoração Normalização bibliográfica: Área Compartilhada de Informação e Documentação - Acind Assinaturas: Serviço de Atendimento ao Cliente - SAC: (61) sac@cni.org.br SBN Quadra 01 Bloco C Ed. Roberto Simonsen Brasília, DF - CEP: Autorizada a reprodução desde que citada a fonte.