PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 10a Turma RECURSO ORDINÁRIO. INTERVALO INTRAJORNADA. CONCESSAO PARCIAL. O intervalo intrajornada tem como finalidade a segurança e a saúde do trabalhador. Depois de diversos estudos, chegou-se a conclusão que o período mínimo para um empregado, cuja jornada exceda a seis horas, alimentar-se e descansar para retomar o segundo turno de sua jornada, com as energias recompostas, é de uma hora. Por este motivo não se admite o fracionamento do período nem sua concessão de forma reduzida, salvo quando o estabelecimento possui refeitório e há prévia autorização pelas autoridades competentes em segurança e medicina do trabalho (artigo 71, 3º, da CLT). A concessão parcial assegura o trabalhador o pagamento de uma hora acrescida do adicional de 50% a título de hora extra, cabendo sua incidência nas demais parcelas contratuais. Vistos, relatados e discutidos os autos do recurso ordinário em que são partes: ELIZABETE CRISTINA GOMES DIAS, como recorrente, RENAN DA PENHA SILVA -ME, como recorrido. RELATÓRIO: Inconformada com a r. sentença de fls. 72/73, complementada pela decisão de Embargos Declaratórios de fls. 76-verso, prolatada pela I. Juíza Aline Tinoco Boechat, em exercício na 2ª Vara do Trabalho de Campos dos Goytacazes/RJ, que julgou procedentes, em parte, os pedidos formulados na exordial, recorre ordinariamente a reclamante, às fls. 78/81. afv/mg

2 A reclamante pugna pelo pagamento do intervalo intrajornada. Afirma que restou deferido na sentença a dedução das horas consignadas nos controles. Entretanto, alega que restou incontroverso pelos livros de ponto acautelados, que os intervalos nunca foram deferidos na integralidade. Pugna, assim, pelo seu pagamento de uma hora como extra e reflexos. Custas pela reclamada. Contrarrazões às fls. 83/86 com preliminar de não conhecimento do recurso por ausência de sucumbência. Dispensada a remessa dos autos ao Douto Ministério Público do Trabalho em razão de a hipótese não se enquadrar na previsão de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Região nº 027/08-GAB, de 15/01/2008. É o relatório. V O T O Da Preliminar de Não Conhecimento do Recurso Arguida em Contrarrazões REJEITO. É certo que o pedido de pagamento do intervalo intrajornada formulado no item 5 da exordial restou deferido. Contudo, o juízo fez uma ressalva, pois autorizou a dedução das horas destinadas ao repouso consignada nos controles de ponto, admitindo a inexistência da pausa para os períodos em que não há controle nos autos. A autora afirma, exatamente, neste ponto, que errou o juízo ao autorizar a dedução pois não há o que ser deduzido, haja vista que a ré nunca observou o período. Desse modo, tem-se que o pedido não foi deferido como requerido, possuindo a autora interesse em ver a sentença reformada para que sejam julgadas procedentes as horas extras relativas ao intervalo intrajornada na forma postulada afv/mg

3 na exordial, ou seja, todos os dias trabalhados. Conheço do recurso ordinário por presentes todos os pressupostos legais para a sua admissibilidade. MÉRITO Do Intervalo Intrajornada DOU PROVIMENTO. Pugna a autora pela concessão de uma hora como extra pela concessão parcial do intervalo intrajornada. Afirma que os livros de ponto registram a concessão de menos de uma hora. De fato, da análise dos três livros de ponto, constata-se que a reclamante usufruía cerca de trinta minutos de pausa diariamente, raramente gozando uma hora de descanso. Ora, como se sabe, o intervalo intrajornada tem como finalidade a segurança e a saúde do trabalhador. Depois de diversos estudos, chegou-se a conclusão que o período mínimo para um empregado, cuja jornada exceda a seis horas, alimentar-se e descansar para retomar o segundo turno de sua jornada com as energias recompostas, seria de uma hora. Por este motivo não se admite o fracionamento do período nem sua concessão de forma reduzida, salvo quando o estabelecimento possui refeitório e há prévia autorização pelas autoridades competentes em segurança e medicina do trabalho (artigo 71, 3º, da CLT), o que não é a hipótese dos autos. O intervalo concedido de forma reduzida sem o preenchimento dos requisitos legais para tanto, garante ao trabalhador o pagamento de uma hora com acréscimo de 50% como extra, refletindo nas demais parcelas contratuais, consoante vaticinam as Orientações Jurisprudenciais nos 307, 342-I, e 354 da SBDI- 1, TST: afv/mg

4 OJ-SDI1-307 INTERVALO INTRAJORNADA (PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO). NÃO CONCESSÃO OU CONCESSÃO PARCIAL. LEI Nº 8.923/94 (DJ ) Após a edição da Lei nº 8.923/94, a não-concessão total ou parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, implica o pagamento total do período correspondente, com acréscimo de, no mínimo, 50% sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho (art. 71 da CLT). OJ-SDI1-342 INTERVALO INTRAJORNADA PARA REPOUSO E ALIMENTAÇÃO. NÃO CONCESSÃO OU REDUÇÃO. PREVISÃO EM NORMA COLETIVA. INVALIDADE. EXCEÇÃO AOS CONDUTORES DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS, EMPREGADOS EM EMPRESAS DE TRANSPORTE COLETIVO URBANO (alterada em decorrência do julgamento do processo TST-IUJEEDEDRR 1226/ ) Res. 159/2009, DEJT divulgado em 23, 24 e I - É inválida cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho contemplando a supressão ou redução do intervalo intrajornada porque este constitui medida de higiene, saúde e segurança do trabalho, garantido por norma de ordem pública (art. 71 da CLT e art. 7º, XXII, da CF/1988), infenso à negociação coletiva. (...) OJ-SDI1-354 INTERVALO INTRAJORNADA. ART. 71, 4º, DA CLT. NÃO CONCESSÃO OU REDUÇÃO. NATUREZA JURÍDICA SALARIAL (DJ ) Possui natureza salarial a parcela prevista no art. 71, 4º, da CLT, com redação introduzida pela Lei nº 8.923, de 27 de julho de 1994, quando não concedido ou reduzido pelo empregador o intervalo mínimo intrajornada para repouso e alimentação, repercutindo, assim, no cálculo de outras parcelas salariais. afv/mg

5 Nessa linha de considerações, merece reparo a sentença para que a ré seja condenada ao pagamento de uma hora, acrescida do adicional de 50% pela concessão parcial do período em todos os dias em que não houve o gozo do intervalo de no mínimo uma hora, de acordo com os livros de ponto. Como corolário, são devidos os reflexos nos RSR`s; férias, acrescidas do terço constitucional; décimo terceiro salario; aviso prévio, recolhimentos para o FGTS e respectiva multa de 40%. Para fins do disposto no artigo 832, 3º da CLT, declara-se de natureza salarial as horas extras deferidas e seus reflexos nos RSR's e no décimo terceiro salario. Rearbitra-se a condenação o valor de R$12.000,00. Custas de R$240,00 pela ré. Pelo exposto, REJEITO a preliminar de não conhecimento do recurso arguida em contrarrazões, CONHEÇO DO RECURSO e, no mérito, DOU-LHE PROVIMENTO para acrescer a condenação o pagamento de mais uma hora extra por dia, com adicional de 50% pela concessão reduzida do intervalo intrajornada, tendo-se por base os livros de ponto que acompanham os autos, nos termos da fundamentação supra. afv/mg

6 A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, REJEITAR a preliminar de não conhecimento do recurso arguida em contrarrazões, CONHECER DO RECURSO e, no mérito, DOU-LHE PROVIMENTO para acrescer a condenação o pagamento de mais uma hora extra por dia, com adicional de 50% pela concessão reduzida do intervalo intrajornada, tendo-se por base os livros de ponto que acompanham os autos, nos termos do voto do Excelentíssimo Desembargador Relator./// Rio de Janeiro, 13 de junho de Desembargador Federal do Trabalho Flávio Ernesto Rodrigues Silva Relator afv/mg