OS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, FAVORECENDO CONDIÇÕES LETRAMENTO.
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- Ísis Sequeira Wagner
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1 2937 OS LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA PORTUGUESA DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS - EJA, FAVORECENDO CONDIÇÕES LETRAMENTO. Valéria Campos Cavalcante UFAL/SEMED. Maria Vilma Da Silva UFAL/ SEEE. Este texto é parte do meu projeto de pesquisa ora em desenvolvimento no Mestrado em Educação Brasileira que tem como objetivo de estudo uma análise dos livros didáticos de Língua Portuguesa, adotados e selecionados pela Secretaria Municipal de Educação, do município de Maceió (SEMED), para o 1º segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), avaliando até que ponto esses materiais favorecem condições de letramento dos alunos da EJA. Em nossa análise, procuramos observar os aspectos referentes às (aos): Gêneros textuais apresentados diversidade textual, Temática dos textos e interesse dos alunos. A opção metodológica centrou-se em análise documental. Os resultados da pesquisa, ainda que parciais, nos apontam que: em relação aos gêneros textuais, contidos no material, percebemos que há pouquíssima diversificação textual nele, com relação a temática dos textos apresentados, percebemos que muitos deles não estão conectados a realidade dos alunos da EJA, trazendo temáticas que infantilizam ou estão acima do nível dos alunos, pois, são complexos, obscuros e de difícil compreensão.todas essas deficiências associadas atrapalham a ampliação do letramento dos alunos. Atualmente, podemos observar que a escola, efetivamente, não está conseguindo alfabetizar funcionalmente grande parte da população que chega até ela. Por isso, se constata um índice tão alarmante de pessoas que até conseguem ler e escrever de forma rudimentar, mas que são incapazes de utilizar de maneira produtiva esses conhecimentos. Esses indivíduos são denominados Analfabetos Funcionais. Segundo Perini (2002.p,78): A maior parte da população brasileira adulta é funcionalmente analfabeta, se bem que sejam capazes de assinar o nome e de decifrar o letreiro do ônibus que tomam diariamente, não conseguiriam ler com compreensão adequada uma página completa, ainda que se tratasse de assunto dentro da sua competência. Muito desses analfabetos funcionais já passaram por algum tipo de escolarização formal, são na maioria pessoas com mais de 15 anos, que tem até quatro ou mais anos de escolaridade, mas que são incapazes de utilizar de forma produtiva a leitura e a escrita em tarefas cotidianas. Essa constatação nos leva a uma reflexão simples: existem problemas sérios nas escolas brasileiras. Na verdade, essa afirmação não é nenhuma novidade, pois todos nós sabemos que existem sérias deficiências em nosso sistema educacional. Acentuando, ainda mais, essa crise da educação pública brasileira, principalmente, no que diz respeito a educação de Jovens e Adultos ( EJA), percebemos que a referida modalidade sempre foi negada na história educacional do país. A falta de políticas públicas que atendam a EJA, acabam atrasando avanços na área, as poucas que existem em alguns Estados e Municípios são assumidas por determinados governantes, por isso, são políticas de governo que oscilam de acordo com a intenção e vontade dos mesmos. Desta maneira, a educação de jovens e adultos trabalhadores, no Brasil, ocupou/a um lugar secundário no interior das políticas do Ministério de Educação, a insuficiência de ações por parte deste Ministério possibilita-nos afirmar que não há uma preocupação específica e, muito menos, uma proposta eficaz para o enfrentamento do problema da baixa escolaridade da População Economicamente Ativa (PEA) brasileira. Mesmo com o seu reconhecimento oficial em 1988, após a nova Constituição democrática, na qual a EJA foi contemplada, enfatizamos que ainda existe mais retrocessos que avanços para referida modalidade de ensino.
2 2938 Isso deve-se a tentativa de desobrigação, por parte dos gestores em todos os níveis, a União transfere a responsabilidade para os Estados e municípios e esses que sempre se voltaram mais para educação infantil afirmam que se sentem preparados (ou interessados) em fortalecer uma política educacional para esses sujeitos. No geral, as iniciativas que até hoje apareceram em âmbito nacional ocorrem sob forma de campanhas/programas aligeirados e improvisados, são projetos que têm pretensão de acabar com analfabetismo em poucos meses, sempre havendo apelos para o engajamento de voluntários, ou seja o aspecto assistencialista da alfabetização de EJA permanece. Por falta de tradição os materiais didáticos e pedagógicos da EJA são, na maioria das vezes, adaptações de materiais utilizados com as crianças, Avaliando esses materiais didáticos, em várias épocas do Brasil até os dias atuais, podemos afirmar que alguns deles, muitas vezes, são uma mera adaptação dos materiais didáticos utilizados para o público infantil, mudando-se apenas a capa e algumas imagens com o público adulto. Considerando que os educandos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), são justamente, esses indivíduos que tem mais de 15 anos e que fazem parte dessa estimativa que foi citada anteriormente, acreditamos que nós professores e educadores de EJA, necessitamos refletir sobre a qualidade dos livros didáticos que estão sendo levados para sala de aula, principalmente, a qualidade dos livros didáticos de língua portuguesa. Baseados nesses pressupostos este texto enfatizará um aspecto que acreditamos ser essencial para a escolha de um livro didático de Língua Portuguesa adequado para EJA: Os livros didáticos de Língua Portuguesa da EJA necessitam favorecer condições constante de letramento dos alunos, utilizando uma diversificação dos gêneros textuais e que esses estejam conectadas com a realidade e interesse dos alunos. As palavras alfabetismo e analfabetismo, há muito tempo, são conhecidas do brasileiro. O fato de existirem pessoas que não sabem ler nem escrever, pessoas analfabetas, é assunto e preocupação desde o Brasil colônia. Durante muito tempo a palavra alfabetização foi suficiente para designar a aprendizagem inicial da língua escrita, no entanto, esse conceito de alfabetização vem sofrendo inúmeras alterações ao longo da história da língua, à medida que o analfabetismo vem sendo, até certo ponto superado e a sociedade tornou-se grafocêntrica, bem como, grande parte das interações sociais e dos usos e funções da escrita foram se multiplicando e diversificando: apenas saber ler e escrever revelou-se insuficiente. Observemos o que Soares ( 1998, p.45-46) diz à respeito: Não basta apenas aprender a ler e a escrever. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente incorporam a prática da leitura e da escrita, não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita, para envolver-se com as práticas sociais de escrita: não lêem livros, jornais, revistas, não sabem redigir um ofício, um requerimento, uma declaração, não sabem preencher um formulário, sentem dificuldade para escrever um simples telegrama, uma carta, não conseguem encontrar informações num catálogo telefônico, num contrato de trabalho, numa conta de luz, numa bula de remédio... A partir dessa nova realidade, surge também uma nova preocupação: avaliar até que medida as pessoas alfabetizadas conseguem desenvolver as habilidades de leitura e escrita adquiridas nas práticas sociais e profissionais. Com essa nova demanda, surgem alguns termos: letrado e letramento. Segundo Soares (1998, p.40), a palavra letramento ainda não está dicionarizada por que foi introduzida muito recentemente na língua portuguesa. Letramento é muito mais do que alfabetização, é o estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Letrado é quem faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e escrita. Evidentemente, o letramento é um processo longo e contínuo que pode durar boa parte de nossa vida, além de ser condição importante para o exercício pleno da cidadania, portanto estamos sempre melhorando nosso grau de letramento. Marcuschi (2001) define letramento desta forma:
3 2939 O letramento, por sua vez envolve as mais diversas práticas da escrita na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir as mercadorias pelas marcas etc, mas não escreve cartas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso do indivíduo que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances. Letrado é o indivíduo que participa de forma significativa de eventos de letramento e não apenas aquele que faz uso formal da escrita. Partindo desses pressupostos, observamos que os analfabetos também podem ter um certo nível de letramento. Na medida em que, não tendo adquirido a tecnologia da escrita, utiliza-se de quem tem para fazer uso da leitura e da escrita, ou mesmo utilizam estratégias visuais ( números, letras cores) e outros recursos para conseguir comunicar-se no mundo letrado. Alfabetizar e letrar são ações diferentes, porém inseparáveis, saber ler e escrever uma centena de palavras e frases não capacita o indivíduo para a leitura do jornal, de um documento etc. Daí a necessidade de se letrar os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem. Portanto, o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja, ensinar a ler escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita, possibilitando, assim, ao aluno tornar-se alfabetizado e letrado. Ser simplesmente alfabetizado não garante uma atuação eficaz no mercado de trabalho. Atualmente, os jovens e adultos trabalhadores do país, mais especificamente de Alagoas, necessitam muito mais do que apenas dominar o código escrito, para poderem melhorar de vida e exercer sua cidadania plenamente. Sendo assim, ser alfabetizado não basta, é necessário que o trabalhador de hoje seja alfabetizado e letrado. A respeito disso Queiroz ( 2004, p 43), afirma que: Desta forma, se o nosso aluno jovem e adulto da SEMED aprender a ler e a escrever, disso procurando fazer uso das práticas sociais de leitura e escrita, então esse aluno é considerado letrado. Se esse mesmo aluno souber simplesmente apenas ler e escrever, ele será considerado alfabetizado. O que desejamos para nosso aluno é que ele venha a ser ao mesmo tempo alfabetizado e letrado, para não somente saber ler e escrever, mas também para fazer uso nas situações sociais dessa leitura e escrita. Não podemos afirmar que o letramento por si só garanta ao aluno a inclusão social, mas a falta de letramento determina a exclusão social, mesmo por que, o sujeito letrado é socialmente mais participante, pois ele passa a ter outra condição cultural que se reflete em sua vida social. Esse indivíduo não muda de classe social, porém seu modo viver e enxergar a realidade muda e, consequentemente, sua vida é transformada, bem como a relação com os outros e com o contexto do qual ele faz parte. Mesmo sendo um pouco tarde, resta-nos admitir que termos despertado para o problema, a falta de letramento das pessoas alfabetizadas, significa dizer que já percebemos que o problema não é só ensinar a ler e escrever, mas é acima de tudo, levar os indivíduos a fazer uso da leitura e da escrita. Para tanto, é necessário que haja, efetivamente, condições para que essas pessoas alfabetizadas se tornem letradas. Entretanto, o que ocorre no Brasil é que não há políticas públicas que garantam as crianças e aos adultos disponibilidade e acesso à materiais de leitura, já que não há material impresso posto à disposição gratuitamente, os preços de livros, revistas e jornais, muitas vezes, são inacessíveis. As bibliotecas públicas, não só em Alagoas, como em todo Brasil são quase inexistentes, consequentemente essa escassez, segundo Soares, é um dos principais motivos para o fracasso das campanhas de alfabetização em nosso país, já que, segundo a autora, essas campanhas contentam-se apenas em ensinar a ler e escrever, sem dar acesso aos livros de forma continua posteriormente. Afirmamos, assim, que se não podemos criar condições de letramento fora da escola, precisamos ao menos garantir dentro das instituições, das quais fazemos parte, um processo que ultrapasse a visão de apenas ensinar a ler e escrever, ou seja um ensino de leitura que agregue o letramento a alfabetização. Para tanto, acreditamos que seja necessário haver nas escolas publicas do
4 2940 país um ensino de leitura que ajuste a qualidade e a quantidade dos gêneros textuais utilizados em sala de aula, ao nível e a realidade dos educandos Principalmente na EJA que é uma modalidade de ensino na qual estudam jovens e adultos trabalhadores, pessoas que possuem conhecimento adquiridos de maneira informal, viventes de uma cultura totalmente letrada, mas que têm acesso a um diversidade muito limitada de gêneros textuais. Assim sendo, cabe à escola, promover, de forma significativa, o acesso a outros gêneros, para que ele possam ampliar o seu nível de letramento. Observemos, o que Marcuschi (2002, p.19), afirma, à respeito da importância dos gêneros textuais: Os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer situação comunicativa. Essa transformação garantiria uma melhoria no ensino de língua portuguesa, referente ao desenvolvimento das competências de leitura e, isso só será obtido através da utilização de livros didáticos que apresentem textos de gêneros diversificados que possam provocar no aluno o seu interesse pelo ato de ler. Desse modo, o ensino de leitura dessa modalidade de ensino não deve utilizar apenas textos literários de difícil compreensão, bem como, não pode se limitar só a gêneros textuais com os quais os educandos têm mais convívio, como o gênero carta ou bilhete, é necessário um trabalho diferenciado em sala de aula que contemple todos os gêneros textuais possíveis, dos domínios discursivos, que circulam pela sociedade, já que, a intenção primordial do ensino de língua portuguesa é auxiliar os educandos na apropriação tanto da leitura, como da escrita, para poderem ser inclusos em nossa sociedade excludente e injusta. Um trabalho, assim, diferenciado de leitura, na educação popular, principalmente na EJA, é fundamental, pois, para esses indivíduos excluídos e marginalizados o direito de ler representa, além do direito ao aprendizado, a possibilidade de poder desenvolver suas potencialidades intelectuais, aumentando, consideravelmente, a sua capacidade crítica, para que ele possa romper com a opressão, diminuindo assim as desigualdades e exclusões às quais é submetido. Com esse trabalho, tencionamos levar os educadores o alerta para a escolha de bons livros didáticos. Com efeito, um bom livro didático deve trazer diversos gêneros textuais, já que um trabalho, com essa visão, proporciona uma articulação entre as práticas sociais e os objetos escolares, ou seja, uma convivência mais inclusiva dos educandos no mundo letrado, que lhes permita, não apenas aceitálo, mas, principalmente, questioná-lo, imprimindo-lhe mudanças. CONCLUSÕES PARCIAIS Gostaríamos de reafirmar que a formação de um leitor proficiente e letrado depende de vários fatores e que os atuais livro didáticos sozinhos não dão conta de toda essa responsabilidade. Entretanto, evidenciamos que esses manuais didáticos de Língua Portuguesa da EJA necessitam ser de melhor qualidade, para auxiliar na extinção do preconceito lingüístico tão arraigado nas escolas brasileiras, para tanto, é fundamental que esses livros respeitem a diversidade cultural e lingüística do público que se pretendem atender, ou seja, que não valorize apenas a norma culta que utilizada por uma minoria. Em relação ao letramento dos educandos esses livros didáticos, necessitam apresentar gêneros mais diversificados, que não apenas aumente os conhecimentos dos alunos, mas que possam provocar no aluno o seu interesse pelo ato de ler, informando e divertindo, induzindo-o assim, a um permanente hábito de leitura. Desse modo, o aluno poderá descobrir no ato de ler, um processo de interação que o auxilie em seu desenvolvimento e em sua transformação, e que também propicie prazer. Enfim, afirmamos que ao trabalharmos com materiais de boa qualidade, estaremos possibilitando ao aluno sua inserção consciente na sociedade. Dessa maneira, a escola estará
5 2941 cumprindo seu papel social de formar cidadãos críticos, conscientes do seu papel socio-histórico na sociedade. Portanto, é fundamental que os professores da Educação de Jovens e Adultos, de todo país, ao escolher os livros didáticos, reflita sobre a concepção de linguagem, que esses materiais trazem implícitos ou explícitos, bem como no compromisso político que, da mesma forma, eles apresentam contra ou a favor das discriminações e das desigualdades sociais. REFERÊNCIAS BAGNO, M. et.alli. Língua Materna: Letramento, Variação e Ensino. 3ª ed. São Paulo: Parábola, BAGNO, M. Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz. 47ª ed. São Paulo: Edições Loyola, BORTONI-RICARDO,S, M. Nós cheguemu na escola e agora? São Paulo: Parábola Editorial, MARCUSCHI, L, A. Gêneros Textuais: definição e funcionalidade. IN:DIONISIO, A,P. Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, MARCUSCHI, L, A. Da fala para a escrita: atividades de textualização. 3ª ed. São Paulo:Cortez, PERINI, M, A. A leitura funcional e a dupla função do texto didático. In ZILBERMAN Et. alli. Leitura Perspectivas interdisciplinares. São Paulo: àtica, QUEIROZ, M, L. et.alli. Gêneros textuais na Educação de Jovens e adultos em Maceió. Maceió: FAPEAL, SOARES, M. Letramento um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
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