NOTA PEDAGÓGICA EDUCAÇÃO PERMANENTE COMO ESTRATÉGIA DE REFLEXÃO PARA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE
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- Silvana Soares Camelo
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1 NOTA PEDAGÓGICA EDUCAÇÃO PERMANENTE COMO ESTRATÉGIA DE REFLEXÃO PARA ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE Para refletir... A educação seja doravante permanente, isto é, um processo ininterrupto de aprofundamento tanto da experiência pessoal como da vida coletiva que se traduz pela dimensão educativa que cada ato, cada gesto, cada função assumirá, qualquer que seja a situação em que nos encontramos, qualquer que seja a etapa da existência que estejamos vivendo. (FURTER, 1974) Educação Permanente em Saúde De acordo com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (2009, p.20), a Educação Permanente é: Aprendizagem no trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao cotidiano das organizações e ao trabalho. A educação permanente se baseia na aprendizagem significativa e na possibilidade de transformar as práticas profissionais. A educação permanente pode ser entendida como aprendizagemtrabalho, ou seja, ela acontece no cotidiano das pessoas e das organizações. Ela é feita a partir dos problemas enfrentados na realidade e leva em
2 consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas já têm. Propõe que os processos de educação dos trabalhadores da saúde se façam a partir da problematização do processo de trabalho, e considera que as necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores sejam pautadas pelas necessidades de saúde das pessoas e populações. Os processos de educação permanente em saúde têm como objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria organização do trabalho. O enfoque da Educação Permanente representa uma importante mudança na concepção e nas práticas de capacitação dos trabalhadores dos serviços (BRASIL, 2009, p.44): incorporando o ensino e o aprendizado à vida cotidiana das organizações e às práticas sociais e laborais, no contexto real em que ocorrem; modificando substancialmente as estratégias educativas, a partir da prática como fonte de conhecimento e de problemas, problematizando o próprio fazer; colocando as pessoas como atores reflexivos da prática e construtores do conhecimento e de alternativas de ação, ao invés de receptores; abordando a equipe e o grupo como estrutura de interação, evitando a fragmentação disciplinar; ampliando os espaços educativos fora da aula e dentro das organizações, na comunidade, em clubes e associações, em ações comunitárias. Assim, identifica-se que o trabalho em saúde envolve um campo interdisciplinar de práticas e conhecimentos, que devem ser devidamente problematizados e integrados por meio dos processos educativos ativos. 2
3 SAIBA MAIS A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde foi instituída pelo Ministério da Saúde em fevereiro de 2004, pela Portaria GM/MS nº 198, como estratégia do Sistema Único de Saúde para a formação e o desenvolvimento de trabalhadores para o setor. Posteriormente foi substituída pela Portaria GM/MS nº de 20 de agosto de 2007, que definiu novas diretrizes e estratégias para a implementação desta Política, adequando-a as diretrizes operacionais e ao regulamento do Pacto pela Saúde (firmado em 2006). Acesse seu texto completo em: < manente_saude.pdf> Segundo Ceccim (2005): A Educação Permanente em Saúde pode corresponder à Educação em Serviço, quando esta coloca a pertinência dos conteúdos, instrumentos e recursos necessários para a formação técnica, submetidos a um projeto de mudanças institucionais ou de mudança da orientação política das ações prestadas em dado tempo e lugar. Pode corresponder à Educação Continuada, quando esta pertence à construção objetiva de quadros institucionais e à investidura de carreiras por serviço em tempo e lugar específicos. Pode, também, corresponder à Educação Formal de Profissionais, quando esta se apresenta amplamente porosa às multiplicidades da realidade de vivências profissionais e coloca-se em aliança de projetos integrados entre o setor/mundo do trabalho e o setor/mundo do ensino. A fim de diferenciar os enfoques de Educação Continuada e Educação Permanente pontuam-se algumas características no quadro abaixo: 3
4 Público alvo Educação Permanente A equipe e o grupo como estrutura de interação, evitando a fragmentação disciplinar; Educação Continuada Centrada em cada categoria profissional - disciplinar Periodicidade Resultados esperados Estratégias educativas Contínua no cotidiano das organizações Atores reflexivos da prática e construtores do conhecimento e de alternativas de ação, ao invés de receptores transformação das práticas Problematização do próprio fazer (a prática como fonte de conhecimento e de problemas) Estratégia descontínua de capacitação com rupturas no tempo em ambientes didáticos (cursos periódicos sem sequência constante) Atualização técnica em temas de especialidade Técnicas de transmissão de conhecimentos Fonte: Elaborado com base na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2009). Ressaltar os princípios da Educação Permanente como orientadores da formação de trabalhadores do SUS expressa o reconhecimento da vinculação entre a gestão e a educação como eixo central para a elaboração de estratégias visando à qualidade da atenção à saúde, e não somente a qualificação técnica individual de cada profissional. Assim, o processo educativo precisa potencializar as capacidades humanas, fomentar as ferramentas necessárias para a autonomia e ampliar 4
5 as capacidades individuais, coletivas e comunitárias, além de construir ambientes institucionais e sociais favoráveis. Resgatando as diretrizes norteadoras do trabalho dos NASF em relação ao exemplo da equipe relatada no Caso Didático, é possível compreender que a mesma seguiu um caminho baseado na Educação Permanente em Saúde, caracterizada, segundo Ceccim (2005), pela flexibilidade dos atores envolvidos quanto à dinamicidade dos serviços de saúde e quanto à relação política existente com a formação de profissionais; e pelos espaços para debates e discussão de temas que sejam capazes de gerar autoanálise, autogestão, novos pensamentos e mudança institucional. Essa equipe buscou tais espaços para constituir um corpo coletivo e compartilhar o desenvolvimento do trabalho, resolveram fazer juntos, com base na educação permanente. Desta forma, compreende-se que a constituição de equipes multiprofissionais, com o fortalecimento de práticas interdisciplinares, é um poderoso mecanismo para melhorar a qualidade do trabalho e as ofertas nos serviços de saúde para a população. Da mesma forma, vê-se a importância de promover e garantir a Educação Permanente no cotidiano dos serviços de saúde. Aproximar a educação da vida cotidiana é fruto do reconhecimento do potencial educativo da situação de trabalho. Em outros termos, que no trabalho também se aprende. A situação prevê transformar as situações diárias em aprendizagem, analisando reflexivamente os problemas da prática e valorizando o próprio processo de trabalho no seu contexto intrínseco. Esta perspectiva, centrada no processo de trabalho, não se limita a determinadas categorias profissionais, mas a toda a equipe, incluindo médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, professores, trabalhadores sociais e todas as variantes de atores que formam o grupo. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2009, p.45). 5
6 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação em Saúde. Política Nacional de Educação Permanente em Saúde Brasília: Ministério da Saúde, p. (Série Pactos pela Saúde, 2006; v. 9). Disponível em: < e_saude.pdf> CECCIM, RB. Educação Permanente em Saúde: desafio ambicioso e necessário. Interface - Comunic., Saúde, Educ., v.9, n.16, p , set.2004/fev Disponível em: < FURTER, P. Educação permanente e o desenvolvimento cultural. Petrópolis: Vozes, (p. 79) SUGESTÕES DE LEITURA CECCIM, R. B. & FERLA, A. A. Educação Permanente em Saúde. In: Dicionário da Educação Profissional em Saúde. Disponível em: Ações iniciais para o trabalho integrado entre NASF e equipes de AB. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de Apoio à Saúde da Família Volume 1: Ferramentas para a gestão e para o trabalho cotidiano (Cadernos de Atenção Básica, n. 39). Brasília: Ministério da Saúde, p Disponível em: < MERHY E.E. O desafio que a educação permanente tem em si: a pedagogia da implicação. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, v. 9, n. 16, fev. 2005, pp CARVALHO, Y. M. & CECCIM, R. B. Formação e educação em saúde: aprendizados com a saúde coletiva. In: CAMPOS, G. W. S. et al. (Orgs.) Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Fiocruz,
7 BRASIL/Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. A Educação Permanente Entra na Roda: pólos de educação permanente em saúde conceitos e caminhos a percorrer. Brasília-DF: Ministério da Saúde, Disponível em: < pdf> FARAH, B.F. educação em serviço, educação continuada, educação permanente em saúde: sinônimos ou diferentes concepções? Revista APS, v.6, n.2, p , jul./dez Disponível em: < SUGESTÕES DE VÍDEOS Luiz Cecílio, Professor Adjunto do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo, fala sobre a Educação Permanente e das experiências profissionais relacionadas ao tema no município de Campinas - SP, durante o VI Seminário Internacional de Atenção Básica (Rio de Janeiro, 2012). Disponível em: < Emerson Merhy, Professor Titular de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro CampusMacaé, fala sobre Educação Permanente aos alunos do Curso de Formação em Educação Permanente em Saúde - EPS em Movimento (2014). Disponível em: < 7
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