A literatura de cordel nas aulas de Linguagem
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- Tiago Franca da Fonseca
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1 A literatura de cordel nas aulas de Linguagem Celia Regina Lopes Feitoza
2 Toda língua viva é uma língua em decomposição e em recomposição, em permanente transformação. É uma fênix que de tempos em tempos renasce das próprias cinzas. É uma roseira que, quanto mais a gente vai podando, flores mais bonitas vão dando. Bagno Os plurais
3 O ensino de Língua Portuguesa, hoje, busca desenvolver no aluno seu potencial crítico, sua percepção das múltiplas possibilidades de expressão linguística, sua capacitação como leitor efetivo dos mais diversos textos representativos de nossa cultura. Os alunos precisam exercer o domínio da linguagem no campo discursivo e cognitivo para que haja pleno desenvolvimento.
4 Falar bem!? Convencionou-se que quem fala corretamente o português são as pessoas de classe alta, escolarizadas e que residem no meio urbano, ou seja, falar bem, seria privilégio de poucos: os detentores do poder e do conhecimento. Aqueles que não se enquadram nesse perfil estariam à margem da sociedade.
5 Clássico x Popular O preconceito linguístico é, portanto, um preconceito social. Isso se comprova, historicamente no ensino de Língua Portuguesa, o qual tem se baseado no ensino dos clássicos, inclusive pelo de currículo dos cursos de Letras das universidade brasileiras.
6 Essas crenças sobre a superioridade de uma variedade ou falar sobre os demais é um dos mitos que se arraigaram na cultura brasileira. Toda variedade regional ou falar é, antes de tudo, um instrumento identitário, isto é, um recurso que confere identidade a um grupo social. BORTONI-RICARDO
7 Opção pelo popular A denominação de literatura de cordel dada por Portugal é folhas volantes, o correspondente a pliegos sueltos, denominação dada pela Espanha. França, Ingalterra, Peru, Nicarágua, México, Argentina, Chile dentre outros.
8 O berço brasileiro Nascida na tradição popular nordestina, a literatura de cordel é pouco conhecida e difundida dentre a cultura letrada. Já para o povo sertanejo ela tem uma importância imensurável, por meio dela difundiam-se os mitos, as crenças, educava e alfabetizava os menores.
9 A literatura de cordel encontrou no Nordeste um ambiente ideal por dois motivos: As condições étnicas, a longa convivência mantida entre o português e o escravo africano; O próprio ambiente social que fornecia condições propícias para o surgimento dessa forma de comunicação literária. Além disso, a expansão da poesia popular se dava por cantorias em grupo e de forma escrita.
10 É literatura? No geral coisa lírica, de pura fantasia, sem nenhum valor técnico. Mário de Andrade Observa que a temática dos romances populares é variada e riquíssima. Orígenes Lessa Lendo isso? É.E nisso há letras! Rui Barbosa
11 O cordel possui seu valor que pode ser comparado com a literatura considerada clássica, já que muitos escritores consagrados como José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto e Graciliano Ramos, também escreveram sobre os problemas da seca, da miséria, do sertanejo e até dos cangaceiros.
12 Rimas e enxada É no contexto sofrido do sertão nordestino, que surge Patativa do Assaré, um homem de vida simples, marcada pela agricultura e pelo cordel, uma união um tanto inusitada. A poesia patativana é toda marcada pela oralidade: sô cantô, trabaio, características da fala que podem ser notadas sem esforço, ou seja, não é um falante, não é uma comunidade, são milhares de falantes do mesmo PB.
13 Para chegar onde chegou, tinha uma receita prosaica: dizia que para ser poeta não era preciso ser professor. Basta, no mês de maio, recolher um poema em cada flor brotada nas árvores do seu sertão. O que ele propõe na verdade, é que cada um deve cantar o que conhece e o que vivenciou, mas nenhum canto pode ter fronteiras (Carvalho, 2001, p. 79).
14 Aos poetas clássicos Poetas niversitário, Poetas de Cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia; Se a gente canta o que pensa, Eu quero pedir licença, Pois mesmo sem português Neste livrinho apresento O prazê e o sofrimento De um poeta camponês
15 O cordel como ferramenta de aprendizagem Texto originais; Biografia de Patativa bem como estudo de Assaré; Características composicionais do gênero (prosa ou verso, ritmo, sonoridade, rimas, crítica social, intertextualidade); Oficinas de xilogravura e caricatura;
16 Livros didáticos e sites Sou filho das matas cantor da mão grossa trabalho na roça deveras o destino.
17 Léxico (lida, brenha, eito); Roda de leitura para turmas iniciantes Festival de cordel Roda de cordel Animação (massinha, bonecos, personagens) Quadro de variantes e sua evolução
18 VARIANTES PRÓPRIAS DOS FALARES RURAIS Dotô Quisé Óio Impussive Proquê Isquicido Home Veve Sodade VARIANTES PRÓPRIAS DOS FALARES URBANOS Doutor Quiser Olho Impossível Porque Esquecido Homem Vive Saudade
19 Variedades rurais isoladas -trabaio -vortá -inté -cantá -rocero -oro -as mesa Rurbanas Variedades urbanas padronizadas -fonoaudiologia -pressupostos -honoráveis
20 Monotongação rocêro / quêjo/ intêro - o ditongo ei é pronunciado quase sempre /ê/. Em nome da lei do menor esforço, os ditongos ei e ai seguidos de /r/, /j/ e /x/, tendem a ser reduzidos, tornando-se vogais simples /e/ e /a/. Outros exemplos: cade/i/ra, ca/i/xa, be/i/jo, ribe/i/ra, etc. Todos esses são traços graduais.
21 Vocalização trabaio a vocalização do fonema גּ/ / epresentado graficamente por lh é um fenômeno verificado na evolução de diversas línguas como francês, espanhol e está presente em todas as variedades não-padrão do português brasileiro, do norte ao sul do país, sendo justificadas à luz da sociolinguística e da fonética. Neste exemplo ocorreu a vocalização da consoante palatal lateral /lh/ para /i/. Ex.: /filho>fio/; /palha>paia/; /mulher>muié/.
22 Arcaísmos inté é uma forma arcaica da preposição até. Esse arcaísmo se conservou no pólo rural e praticamente desapareceu dos falares urbanos; muitas formas encontradas hoje no pólo rural (dispois, treição etc) são arcaísmos que se preservam e podem ser encontrados em obras de Cordel, como no caso de Patativa, e em obras literárias antigas, como Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.
23 escrama - a troca de /l/ por /r/ denomina-se lambdacismo. Esse fenômeno ocorre nos grupos consonânticos, como em bloco/broco, problema/probrema é encontrado em falares rurais e considerado como um traço descontínuo
24 Os desvios ortográficos típicos do cordel têm origem na estreita relação do gênero com a linguagem oral. Nesse contexto, eles não são considerados erros, mas traços da fala coloquial e da cultura popular que refletem o ambiente no qual o cordel foi criado.
25 Sertão, arguém te cantô, Eu sempre tenho cantado E ainda cantando tô, Pruquê, meu torrão amado, Munto te prezo, te quero E vejo qui os teus mistéro Ninguém sabe decifrá. A tua beleza é tanta, Qui o poeta canta, canta, E inda fica o qui cantá.
26 Meus verso é como simente Que nasce arriba do chão Não tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte Das obra da criação
27 Palavras finais para um novo começo A literatura de cordel, abre o leque de oportunidades que a cultura popular oferece para que as variedades linguísticas sejam respeitadas e valorizadas, sobretudo num país multicultural como o Brasil. O falar do sertanejo, suas crenças, seus sonhos, suas esperanças, são exemplos de assuntos a serem abordados juntamente com o cordel em sala de aula, possibilitando a interdisciplinaridade; Isso efetiva e enriquece a comunicação em língua materna, já que não é um falante, não é uma comunidade, não é uma região, são milhares de lusófonos que utilizam termos não padrão, e que por isso sofrem arraigados preconceitos sociais. Resta aos educadores, empenharem-se em atenuar e até eximir este preconceito de nossas escolas e, consequentemente, da nossa sociedade
28 Obrigada pela presença! Regina Lopes
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30 ASSARÉ, Patativa.Cante Lá Que Eu Canto Cá Filosofia de um Trovador Nordestino.6 ed. Petrópolis: Vozes, BAGNO, Marcos. A Norma Oculta Língua e Poder na Sociedade Brasileira.3 ed. São Paulo: Parábola, Preconceito Lingüístico O que é, como se faz. 26 ed. São Paulo: Loyola, 2003 BECHARA, Evanildo. O Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? 1 ed. São Paulo: Ática, Moderna Gramática Portuguesa. 38 ed. Rio de Janeiro: YHL, BORTONI- RICARDO, Stella Maris. Educação em Língua Materna A Sociolingüística na Sala de Aula. 2 ed. São Paulo: Parábola, CAGLIARI, Luis Carlos. O príncipe que virou sapo: considerações a respeito da dificuldade e aprendizagem das crianças na alfabetização. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, CARVALHO, Dolores Garcia & NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica. 10 ed. São Paulo: Ática, CARVALHO, Gilmar. Patativa do Assaré. 3 ed. Fortaleza: Demócrito Rocha, O poeta diante do espelho. Diário do Nordeste. Fortaleza, caderno 3, p.1, março de CLARE, Nícia de Andrade Verdini. As mudanças lingüísticas: ontem e hoje. Disponível em < Acesso em: 10 ago FEITOSA, Tadeu Luiz. Patativa do Assaré- A Trajetória de um Canto. São Paulo: Escrituras, FRANCHI, Eglê Pontes. E as crianças eram difíceis - A redação na escola - São Paulo: Martins Fontes, MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, MEYER, Marlyse. Autores de Cordel - Literatura Comentada. São Paulo: Abril Educação, PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO MÉDIO Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Brasília: Mec, PRETI, Dino. Estudos de Língua Oral e Escrita. Rio de Janeiro: Lucerna, TEIXEIRA, César. Suplemento Cultural & Literário JP-Guesa Errante, São Luís, n.1, p.109,114, 127, 2003.
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