AMAZÔNIA BRASILEIRA: ANÁLISE DA MIGRAÇÃO DE RETORNO DE BRASILEIROS

Transcrição

1 AMAZÔNIA BRASILEIRA: ANÁLISE DA MIGRAÇÃO DE RETORNO DE BRASILEIROS 1. INTRODUÇÃO Jonatha Rodrigo de Oliveira Lira Programa de Pós-Graduação em Geografia - UFPa rodrrigao@hotmail.com Quando pensamos em Amazônia imaginamos a floresta como o elemento que representaria a região por excelência, isso leva a pensar num espaço desprovido de sociedade e que os problemas ambientais se sobrepõem aos demais. No entanto ao pensarmos na floresta, pensamos na natureza e nela a sociedade surge como mais um componente essencial de sua constituição. Portanto, falar de problemas sociais como pertinente as questões ambientais requer que o componente demográfico seja inserido nas análises. Este texto é uma complementação do Trabalho de Conclusão de Curso em geografia do autor (LIRA, 2010), o qual tratou da imigração internacional para a Amazônia Legal brasileira, identificando os municípios dessa região onde se localizavam estrangeiros no ano 2000, conforme o Censo de população do IBGE. Esse estudo não incluiu o retorno de brasileiros e este trabalho busca, ainda que de forma preliminar, preencher essa lacuna. 2. OBJETIVOS Compreender e interpretar a migração de retorno para a Amazônia brasileira, tanto do exterior como do país, a partir dos microdados do Censo Demográfico Brasileiro de METODOLOGIA Neste estudo entendemos como migrantes de retorno aquelas pessoas que em 2000 residiam nas unidades da federação da Amazônia Legal, que nascerem neste estado de residência e que em algum momento de suas vidas saíram de seus estados de nascimento e retornaram, seja do exterior, ou de outras unidades da federação. Num primeiro momento analisa-se a imigração internacional e num segundo momento analisa-se a distribuição espacial dos migrantes de retorno do exterior. Neste caso busca-se comparar os países de origem e a distribuição municipal dos 1

2 imigrantes com os migrantes de retorno. Finalmente analisa-se o retorno de migrantes de outras unidades da federação. 4. MIGRAÇÃO INTERNACIONAL PARA A AMAZÔNIA BRASILEIRA As migrações internacionais recentes para a Amazônia Legal brasileira caracterizam-se por ser principalmente de curtas distâncias. Conforme o censo de 2000, cerca de 40% dos indivíduos residentes na Amazônia Legal, nascidos no exterior, era procedente dos países amazônicos (Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana e Suriname) e da Guiana Francesa; diferentemente de outras épocas em que este fluxo tinha origem em países europeus, Japão e E.U.A. Mapa 01. Municípios de Residência de Migrantes nascidos nos Países Amazônicos, Fonte: IBGE, Elaborado por LIRA, J.R.O. Esse padrão migratório é reflexo do processo histórico de ocupação e urbanização da Amazônia, das diferenças sócio-econômicas dos países amazônicos, e da porosidade da fronteira (LIRA, 2010). A distribuição espacial dos imigrantes nos municípios amazônicos deixa ver, também, o caráter fronteiriço dessa migração. O mapa 01 mostra que os imigrantes nascidos nos países 2

3 amazônicos se localizavam prioritariamente em áreas fronteiriças e nas capitais das unidades de federação. 5. MIGRAÇÃO DE RETORNO PARA A AMAZÔNIA BRASILEIRA No final do século XX a migração de retorno para algumas regiões brasileiras, como para o nordeste, passou por mudanças importantes (ARAÚJO, et. al., 2007), ainda que esse fluxo se desse principalmente de outras regiões do país, e muito pouco do exterior. Para o caso da Amazônia são muito raros os estudos que abordam a migração de retorno. Conforme Aragón (2009, p. 30): (...) a migração internacional na Amazônia brasileira passa por mudanças importantes no que se refere a seus padrões de origem, de distribuição e de seletividade. As melhorias dos transportes e condições de comunicação, os acordos bilaterais, os planos de cooperação internacional como os da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, e de integração física como a Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) poderão acelerar este processo com desdobramentos significativos para o desenvolvimento da Amazônia brasileira e dos demais países (ARAGÓN, p. 30.). Nesse sentido, políticas públicas que regularizem a migração internacional na Amazônia podem fornecer instrumentos e informações para a resolução do descontrole das fronteiras proporcionando desenvolvimento que atenda tanto as características demográficas quanto as características ambientais da região. Daí a importância de incluir nas análises demográficas a migração de retorno e como ela se assemelha e diferencia da imigração Retorno Internacional Segundo o Censo demográfico brasileiro de 2000 residiam na Amazônia Legal pessoas nascidas nos estados da Amazônia Legal que tinham retornado a seus estados de nascimento, sendo retornados do exterior. Dos retornados do exterior, 54,65% tiveram sua última residência nos países amazônicos e na Guiana Francesa, ainda que em nível de países se destaque também o Paraguai e o Japão (Gráfico 01). No caso do retorno proveniente do Japão, em sua maioria (445 pessoas), tiveram como principal destino o Pará, estado que contém um dos principais núcleos coloniais de imigrantes japoneses no Brasil (HOMMA, 2009.) 3

4 Gráfico 01. País de Residência Anterior de Migrantes Brasileiros. *Exclui-se 84 pessoas que não informarão os Países em que residiam anteriormente. Fonte: IBGE, Amostra Censo Demográfico de Tabulações Especiais MAPAZ/UFPA. Elaborado por LIRA, J.R.O. Em 10/04/2010. Já a migração de retorno proveniente do Paraguai tem como principal destino o estado do Mato Grosso (232 pessoas), o que leva a pensar que essa mobilidade deve acompanhar a migração de estrangeiros para o Mato Grosso. Ou seja, estar-se-ia dando uma migração de brasileiros retornando do Paraguai junto com seus parentes nascidos nesse país (DO CARMO E JAKOB, 2009). A semelhança da trajetória seguida pelos imigrantes procedentes do Paraguai, descrita por Do Carmo e Jakob (2009), e aquela seguida pelos retornados desse país permite este tipo de hipótese. A comparação das mobilidades espaciais dos imigrantes de países amazônicos (Mapa 01) e dos brasileiros retornados desses países (Mapa 02) permite identificar algumas semelhanças e diferenças. À semelhança do padrão da imigração, os retornados se concentram nas capitais das UF s, principalmente, Belém, Manaus e Macapá e, em municípios ao longo da fronteira com Rondônia, Acre e Amazonas (Tabatinga). As maiores diferenças estão na distribuição de municípios de residência da migração de retorno onde, a diferença do mapa de imigração (Mapa 01), os retornados se distribuem de forma mais uniforme, com destaque para Mato Grosso 4

5 e Oeste do Pará, áreas correspondentes a expansão da fronteira agrícola da soja. Esse padrão pode indicar que os retornados brasileiros podem estar sendo estimulados pela expansão da fronteira agrícola em território brasileiro. Mapa 02. Municípios de Residência de Retornados Brasileiros na Amazônia Brasileira. Fonte: IBGE, Elaborado por LIRA, J.R.O. 5.2 Retorno nacional Mesmo a migração interna sendo correspondente aos movimentos migratórios dentro de um dado território nacional, a mesma pode ser interpretada de forma diferenciada dependendo da escala que se utilize. Pode-se falar na migração entre regiões, entre Unidades de Federação, entre municípios de uma mesma Unidade de Federação; todavia a interpretação será diferenciada de acordo com a escala. Neste trabalho optou-se por analisar a migração de retorno em nível de Unidades da Federação. O gráfico 02 demonstra o número de pessoas que residiam no ano 2000 num estado da Amazônia Legal e que nasceram nesse estado, mas que saíram do seu estado de nascimento em algum momento da sua vida e retornaram a esse estado, provenientes (última residência) de outras Unidades da Federação. Do total de pessoas nessas condições, mais de 50% retornaram de outros estados da 5

6 própria região. Pode-se notar que dos dez primeiros estados cinco correspondem a UF s Amazônicas, sendo as outras cinco São Paulo, Goiás, Piauí, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Esse movimento dentro da própria região pode refletir a diversidade de oportunidades dentro da própria região. Gráfico 02. UF s brasileiras de Residência Anterior de Migrantes Brasileiros. Fonte: IBGE, Amostra Censo Demográfico de Tabulações Especiais MAPAZ/UFPA. Elaborado por LIRA, J.R.O. Em 10/04/ Distribuição espacial dos retornados nacionais A distribuição espacial da migração para a Amazônia brasileira evidenciou um intenso fluxo migratório entre as UF s amazônicas visto que em grande parte a maioria dos migrantes residiam na Amazônia brasileira eram provenientes e procedentes de outras UF s amazônicas. Da mesma forma que os retornados do exterior a distribuição espacial dos retornados nacionais evidenciou dinâmica semelhante, porém com algumas particularidades. O mapa 03 mostra os municípios de residência de retornados nacionais para a Amazônia brasileira. Essa configuração possui um padrão que se assemelha a migração internacional (estrangeiros e retornados brasileiros), pois se concentra nas 6

7 capitais das UF s, principalmente, Belém, Manaus e Cuiabá e, em cidades médias paraenses como Santarém. O caráter transfronteiriço da migração internacional praticamente inexiste na migração nacional de retorno, no entanto deve se destacar a espacialização populacional no estado do Pará onde a mesorregião do baixo amazonas (noroeste paraense) apresenta um grande número de migrantes seguindo em direção a expansão da fronteira agrícola da soja da mesma forma como no retorno proveniente do exterior. A diferença, entretanto está na distribuição espacial de municípios de residência da migração nacional de retorno em que diferentemente do mapa de distribuição de migrantes provenientes de países amazônicos, este, possui maior disseminação na Amazônia Legal, pois dos 856 municípios que compõem a região, 852 possuem pessoas naturais que em algum momento de suas vidas estiveram fora do estado de nascimento. Mapa 03. Municípios de Residência de Retornados Nacionais na Amazônia Brasileira. 7

8 Fonte: IBGE, Elaborado por LIRA, J.R.O. 6. CONCLUSÕES Através da análise do padrão da imigração internacional e da migração de retorno do estrangeiro para a Amazônia Legal brasileira, foi possível tecer duas hipóteses: 1) que a migração de retorno de alguns países, notadamente do Paraguai, pode ser de tipo familiar, ou seja, o retorno de brasileiros poderia estar associado à vinda de parentes nascidos no exterior; e 2) que essa migração pode estar sendo estimulada pelo avanço da fronteira agrícola na Amazônia, especialmente através do avanço do cultivo da soja. A análise do padrão da migração de retorno em nível nacional reflete que o fluxo migratório, em grande parte, se assemelha a mobilidade internacional por possuir aspectos de uma migração de caráter regional mais intensa, porém envolve um número muito maior de municípios. 8

9 Vale ressaltar também a importância de conhecer, em futuras pesquisas, os motivos e as condições em que ocorrem esses fluxos migratórios, seja nos aspectos demográficos, culturais, sociais e, seja também no contexto social, político e econômico dos países envolvidos dando ênfase ao crescimento econômico que serve de atrativo principal. É difícil determinar o que cada movimento migratório significa, mas é fácil observar que esses movimentos, no seu maior volume, ainda são determinados pelas diferenças sócio-econômicas entre os países envolvidos e que é resultado de políticas desarticuladas com interesses bem específicos. 7. REFERÊNCIAS ARAGÓN, L. E.. Aproximação ao estudo da migração internacional na Pan-Amazônia. In: ARAGÓN, L. E.. (Org.). Migração Internacional na Pan-Amazônia. Belém: NAEA, p ARAÚJO, H. E.; SOUSA, A. L.; BASSI, C.; BARBOSA, F.. Potencialização da migração de retorno entre São Paulo e o Nordeste brasileiro: Evidências, perfil dos envolvidos e busca de respostas ao fato em questão. Taller Nacional sobre Migração interna y desarrollo en Brasil: Diagnóstico, perspectivas y políticas. Brasília, 30 de abril, CENSO DEMOGRÁFICO Documentação dos microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE CD-ROM encartado. DO CARMO, R. L; JAKOB, A. A. E. A migração estrangeira recente na Amazônia legal brasileira. In: ARAGÓN, L. E.(Org.). Migração Internacional na Pan-Amazônia. Belém: NAEA, p HOMMA, A. A imigração japonesa na Amazônia ( ): passado, presente e futuro. In: ARAGÓN, L. E.. (Org.). Migração Internacional na Pan-Amazônia. Belém: NAEA, p

10 LIRA, J.R.O. Espacialização da Migração Internacional na Amazônia brasileira Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura e Bacharelado em Geografia) Faculdade de Geografia e Cartografia, Universidade Federal do Pará, Belém. 10