Fotógrafo retrata casas abandonadas e preenchidas pela areia, resultado da inevitável passagem do tempo.

Transcrição

1 Relógio de areia Fotógrafo retrata casas abandonadas e preenchidas pela areia, resultado da inevitável passagem do tempo. O tempo é implacável: constrói e destrói. Divulgação. Para além das insólitas imagens de cômodos inundados de areia, é isso o que o projeto Sing of Life (Sinal de vida, em tradução livre) mostra: tudo o que a humanidade cria é útil apenas por um período. Num primeiro olhar, as fotografias parecem ter sido manipuladas por softwares de edição de imagem. Mas são reais: foram clicadas em duas cidades do sudoeste da Namíbia, pelo fotógrafo britânico Christopher Rimmer. Cidades que, grão a grão, estão sendo enterradas pelas areias do deserto em constante movimentação. Fiquei interessado em como o tempo afeta a cultura material da aspiração humana e o que acontece de pois, quando essa finalidade material já não é mais relevante, conta Rimmer. Essas cidades, por algumas décadas, serviram para extração de

2 diamante na região. Mas, quando o recurso acabou, na década de 1950, restaram apenas vestígios de um lugar não mais habitado, propriedade apenas do deserto. Feitas entre 2012 e 2013, as imagens evocam o sinal de vida, que é bela e ao mesmo tempo perturbadora. Somos lembrados de que nada dura para sempre. Talvez as areias encobertem tudo e obscureça rastros de existência. Assim como é a vida: tudo o que temos é o agora, o momento de viver antes que a passagem do tempo apague todos os vestígios das nossas aspirações, reflete o autor. Fonte original da notícia: Revista Vida Simples Casas cheias de história Construção desconhecida Casa de madeira, de propriedade e ano de construção desconhecidos, abandonada no interior de Paverama

3 Tão vazias mas ao mesmo tempo tão cheias. Para alguns podem ser apenas casas abandonadas, empoeiradas e em ruínas. Para outros, como Fernando Koch e Lylian Cândido, são a memória concreta de um passado repleto de histórias. Apaixonada por fotografia e por coisas antigas, a dupla registrou 15 velhas construções nos municípios de Estrela e Paverama, no Vale do Taquari. O resultado pode ser conferido nas 80 imagens da exposição fotográfica Casas Esquecidas, que fica até a próxima sexta-feira no Centro Universitário Univates, em Lajeado. Açougue e fábrica Construção centenária, onde funcionou o açougue de Hugo Markus e uma fábrica de manteiga e gelo em Paverama. Hoje serve como depósito de lixo reciclável O cheiro de pão de milho assando no forno de pedra atrás da cozinha. Os retratos de casamento em preto e branco pendurados na parede da sala.

4 Casa construída pelo avô de Ito Markmann está abandonada há 25 anos e vem sendo engolida pela vegetação, mas ainda mexe com a memória da família A algazarra dos 29 netos correndo pelo pátio sempre que a família se reunia, nos invernos, no dia do aniversário do vô Rodolfo Markmann. Nada disso preenche mais a casa, que teve alicerces sedimentados com sonhos nas terras do bairro Cidade Baixa, no interior de Paverama, no Vale do Taquari. Abandonada há 25 anos, desde que o patriarca morreu, a moradia agora está sendo engolida pela vegetação. Era tudo tão bonito, tinha um gramado com camélias e azaleias, onde a gente brincava com os primos. Dá uma tristeza ver nesse estado, mas foi ficando de herança e chegou nesse ponto lamenta uma das netas, a agricultora Circe Roloff Müller, 60 anos. A história da casa se confunde com a vida do avô dela, que foi o primeiro e último morador. Há cerca de 90 anos, foi o próprio Markmann quem entalhou cada uma das pedras de areia que formam a estrutura e as paredes externas do imóvel. É uma casa muito forte. Tranquilamente pode durar mais uns cem anos e não cai comenta outro neto, o agricultor Ito

5 Markmann, 56 anos. Naquela época, era costume construir a cozinha e o banheiro separados do corpo do domicílio. Na frente, a casa tem quatro peças com divisórias de madeira: sala e três quartos. Embaixo desse espaço existe um porão. Nos fundos, só há mais o esqueleto da cozinha, com portas e janelas. O telhado e o assoalho caíram. Foi nesse lar que Markmann viveu casado com Alvine Wallauer. Eles tiveram oito filhos. Ao nascer o último, a mulher e o bebê tiveram uma infecção e morreram dias depois do parto. Viúvo, ele casou novamente para ter quem cuidasse das crianças. Florentina foi sua segunda mulher e companheira por muitos anos. Juntos, os dois envelheceram e viram a prole sair de casa: Rosalina, Alberto, Olga, Osvino, Erna, Helga e Arceno. Mas Florentina não resistiu a um câncer no estômago, e mais um vez o patriarca enviuvou. Morou sozinho por mais de uma década. Os netos não sabem qual foi a causa da morte, só lembram que ele tinha 91 anos. Doente, passou seus últimos dias na moradia de uma filha. Desde então, a casa dele é mantida fechada. Mas nos dias de sol os raios ainda espiam pelas frestas da janela os últimos habitantes da sala: uma cadeira de palha, um berço de vime e um terço de plástico pendurado num prego na parede.

6 Bodega e hotel Casa na Rua Geraldo Pereira, em Estrela, construída por José Horn. Foi demolida em Abrigou a Bodega do João José e um hotel. No sótão, havia um alojamento Programe-se O que: Exposição Casas Esquecidas Quando: até a próxima sexta-feira (dia 24 de abril), das 8h às 22h30min (não abrirá no domingo e no feriado) Onde: Espaço Arte 2 da Univates (Rua Avelino Tallini, 171, bairro Universitário, Lajeado) Quanto: entrada gratuita Informações: pelo telefone (51) , ramal 5326, pelo site ou pelo nucleodecultura@univates.br

7 Três décadas de abandono Casa construída por Jacó Haunstein, por volta de 1860, em Paverama. Está abandonada há mais de 30 anos