FIADORES: CONHEÇA AS SUAS REAIS RESPONSABILIDADES
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- Luiz Gustavo Bonilha Castel-Branco
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1 PUBLICADO NA EDIÇÃO IMPRESSA SEGUNDA-FEIRA, 21 DE MAIO DE 2012 POR FIADORES: CONHEÇA AS SUAS REAIS RESPONSABILIDADES Porque muitos consumidores têm procurado, ultimamente, este Serviço, apresentando questões acerca das responsabilidades dos fiadores e avalistas, decidimos abordar a questão, com vista a elucidar os leitores sobre a temática. Os bancos exigem, cada vez mais, garantias na hora de concederem empréstimos. Uma das exigências frequentes é a de um fiador, alguém que substitua o seu cliente em caso de não pagamento da prestação devida pelo empréstimo. Ser fiador pode ser uma verdadeira dor de cabeça: são praticamente só obrigações. Segundo os dados do Banco de Portugal, em Dezembro de 2010, havia mais de um milhão e quatrocentos mil fiadores em Portugal, para um total de mais de 4,6 milhões de indivíduos, que contraíram um crédito. Na maioria dos casos em que alguém aceita avalizar uma dívida de outra pessoa, encontra na boa fé a razão para não negar o que se considera ser um favor. Mas, ser fiador é muito mais do que isso! É ser responsável pelo pagamento do dinheiro que foi emprestado, caso o mutuário deixe de cumprir essa obrigação. Quando a situação dá 1
2 para o torto, pode ser uma descida aos infernos, com pressões dos credores. O caso pode ir parar a tribunal e este determinar o arresto dos bens do fiador. EM SITUAÇÃO DE INCUMPRIMENTO, O FIADOR/AVALISTA RESPONDE PELAS DÍVIDAS? Para qualquer contrato de crédito, sobretudo automóvel e habitação, os bancos exigem, cada vez mais, a figura do fiador/avalista, no sentido de reforçar a garantia pessoal. Na actual crise financeira que estamos a atravessar, emergiu a figura do fiador e do avalista. Pessoas que, ao prestarem fiança ou o seu aval, com o intuito apenas de ajudar terceiros, foram arrastadas para autênticas situações de desespero: viram os seus bens e rendimentos penhorados. Alguns deles, como também possuíam créditos, nomeadamente à habitação e ao consumo, não lhes restou outra alternativa que não a insolvência. Os altos índices de incumprimento nos contratos de crédito têm levado a que muitas pessoas desistam de prestar fiança aos amigos e parentes. A figura de fiador/avalista acarreta, deste modo, muitas responsabilidades e graves consequências em casos de não cumprimento. A FIANÇA E O AVAL COMO GARANTIAS PESSOAIS As garantias pessoais, como é o caso da fiança e do aval, são aquelas em que, além do devedor principal, uma ou mais pessoas podem ser vinculadas a cumprir a uma obrigação, respondendo com os respectivos patrimónios. Existe um elevado desconhecimento relativamente aos direitos e obrigações do fiador/avalista, que estão em claro desequilíbrio. Do lado dos deveres, o fiador/avalista entrega o seu património para garantir a dívida de outra pessoa e é obrigado a responder, junto do credor, em caso de incumprimento do 2
3 devedor. Em suma, o fiador/avalista tem a obrigação de pagar, caso o devedor não o faça. FIANÇA Mediante o recurso à figura da fiança, o fiador garante a satisfação do crédito do devedor principal, ficando pessoalmente obrigado perante o credor (entidade bancária). A obrigação do fiador é, por isso, acessória em relação àquela que recai sobre o principal devedor. O fiador responde com o seu património ou, no caso de as partes o convencionarem, com certos e determinados bens. A vontade de prestar fiança deve ser expressamente declarada pela forma exigida para a obrigação principal. Na relação entre o credor e o fiador, a fiança tem o conteúdo da obrigação principal e cobre as consequências legais e contratuais da mora ou culpa do devedor. Significa, assim, que alguém garante o pontual e integral cumprimento da obrigação de terceiro, ou seja, a vinculação de alguém ao bom cumprimento de uma obrigação (alheia), sujeitando-se a ser chamado à responsabilidade, se o devedor principal não cumprir, total ou parcialmente, ou se houver atraso nesse cumprimento. Se, por exigência bancária, o devedor estiver obrigado a ter um fiador, a entidade bancária não é forçada a aceitar quem não tiver capacidade ou bens suficientes para garantir a obrigação. O fiador goza, porém, do direito do benefício da excussão (prévia), ou seja, pode recusar o cumprimento da obrigação, enquanto o credor (Banco) não tiver excutido (executado) todos os bens do devedor principal. 3
4 Contudo, o fiador não pode invocar o benefício da excussão prévia se a ele tiver renunciado. Actualmente, a maioria dos fiadores, nos contratos de crédito à habitação, renunciam ao benefício da excussão prévia, o que não devia acontecer, uma vez que não salvaguardam a sua posição e, consequentemente, o seu património. AVAL No que respeita ao aval, este consiste numa declaração escrita em títulos de crédito, tais como, letras, livranças ou cheques, em que uma pessoa (avalista), garante à outra (avalizado) o pagamento, total ou parcial, da respectiva obrigação pecuniária, ou seja, da dívida subjacente ao título de crédito. O aval é uma garantia específica para os títulos de crédito, dada por um terceiro, ou mesmo, pela pessoa que assina o título, de que o crédito será pago pontualmente. A finalidade do aval será, como na fiança, garantir o cumprimento da obrigação principal do avalizado. Porém, ao contrário da fiança, que é essencialmente acessória, o aval é dentro de certos limites, uma obrigação dotada de autonomia. Saliente-se que o avalista, ao contrário do fiador, não pode invocar o benefício da excussão prévia, já que pode ser chamado a cumprir a obrigação do avalizado, respondendo com o seu património pelo pagamento da dívida titulada no título de crédito, sem que primeiro tenha sido executado o património daquele. CENTRAL DE RESPONSABILIDADES DE CRÉDITO 4
5 Segundo fonte do Banco de Portugal, ( ) as responsabilidades dos fiadores e avalistas são comunicadas à CRC do Banco de Portugal, uma vez que os mesmos respondem solidariamente com o devedor principal pelo cumprimento das suas obrigações. Se o crédito concedido ao devedor principal se encontrar em situação regular, as responsabilidades dos fiadores e avalistas são comunicadas como crédito potencial. Se o crédito concedido ao devedor principal entrar em situação de incumprimento de pagamento, as instituições deverão dar conhecimento do facto aos avalistas. Caso os pagamentos em falta não sejam regularizados decorrido o prazo dado ao avalista para o fazer, deverão comunicar à CRC as responsabilidades decorrentes das fianças ou avales prestados como crédito vencido. Assinar um contrato, no campo previsto para a assinatura do fiador do empréstimo, é assumir uma importantíssima obrigação legal, com todas as consequências que daí advêm. Ser fiador é muito mais do que colocar uma mera assinatura para fazer um favor a um amigo ou a um familiar: trata-se de um acto de grande responsabilidade, que perdura até ao cumprimento total da dívida. LEGISLAÇÃO Código Civil Português; Lei Uniforme de Letras e Livranças. 5
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