DOCUMENTO DE TRABALHO

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1 ASAMBLEA PARLAMENTARIA EURO-LATINOAMERICANA EURO-LATIN AMERICAN PARLIAMENTARY ASSEMBLY ASSEMBLEIA PARLAMENTAR EURO-LATINO-AMERICANA ASSEMBLÉE PARLEMENTAIRE EURO-LATINO- AMÉRICAINE PARLAMENTARISCHE VERSAMMLUNG EUROPA-LATEINAMERIKA Comissão dos Assuntos Sociais, da Juventude e da Infância, dos Intercâmbios Humanos, da Educação e da Cultura DOCUMENTO DE TRABALHO sobre o trabalho informal e não declarado nos países da América Latina e das Caraíbas e na União Europeia Comissão dos Assuntos Sociais, da Juventude e da Infância, dos Intercâmbios Humanos, da Educação e da Cultura Relator ALC: Luis Bernardo Lusquiños (Parlatino, Argentina) DT\ doc AP v01-00

2 Segundo a 104.ª sessão da CIT, entende-se por «economia informal» todas as atividades económicas dos trabalhadores e das unidades económicas que, na lei ou na prática, não estejam cobertas ou estejam insuficientemente cobertas por disposições formais. 1 A informalidade resulta de múltiplas causas, incluindo questões de governação e estruturais, e abrange tanto os trabalhadores do setor informal como o emprego informal fora do setor informal. 2 Os trabalhadores informais são vítimas de uma restrição quase total do exercício dos direitos humanos reconhecidos nos tratados internacionais. 3 Segundo a OIT, a maioria das pessoas entra na economia informal não por opção própria, mas sim em consequência de falta de oportunidades na economia formal e de ausência de outros meios de subsistência 4. Observa-se que «os défices de trabalho digno são mais acentuados na economia informal» 5. Durante a 105.ª CIT foi elaborada a «Iniciativa para a Erradicação da Pobreza: A OIT e a Agenda 2030», que visa, entre os seus objetivos, o trabalho digno, em conformidade com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8. 6 Trabalho informal e não declarado na ALC Os últimos números da OIT referem a existência, na região, de 130 milhões de trabalhadores informais, ou seja, 47,7 % dos trabalhadores 7, distribuídos, sobretudo, por três grupos: Trabalhadores por conta própria (82,3 %) Trabalhadores domésticos (77,5 %) Trabalhadores de microempresas (58,6 %) 8. Trabalho não declarado na UE Na UE, entende-se por «trabalho não declarado» as atividades remuneradas legais não declaradas às autoridades para efeitos de tributação, de segurança social ou da legislação laboral. Existem três categorias: o trabalho não declarado numa empresa constitui o trabalho informal (parcial ou totalmente); o trabalho por conta própria para uma empresa ou outro 1 «Recomendação sobre a transição da economia informal para a economia formal» Adoção: Genebra, 104.ª sessão CIT (12/6/2015) 2 «Resolução sobre estatísticas de emprego no setor informal», VV CIET, 1993, e «Orientações relativas a uma definição estatística de emprego informal», XVII CIET, Declaração Universal dos Direitos do Homem, artigo 23.º. 4 Idem, nota 1. 5 Idem, nota 1. 6 «Iniciativa para a Erradicação da Pobreza: A OIT e a Agenda 2030», CIT, 105.ª sessão, «Panorama Laboral 2015», Lima: OIT / Oficina Regional para América Latina y el Caribe, «Panorama Laboral Temático: Transición a la formalidad en América Latina y el Caribe.» Lima: OIT, Oficina Regional para América Latina y el Caribe (Panorama Laboral Temático: Transição para o trabalho formal na América Latina e Caraíbas. Lima: OIT, Gabinete Regional para a América Latina e Caraíbas), AP v /6 DT\ doc

3 cliente; o trabalho por conta própria não declarado. 1 Embora a maioria dos países da UE recorra a sanções para combater o trabalho não declarado, avança-se neste momento para mecanismos que facilitem a sua regularização, destinados tanto a trabalhadores como a entidades patronais. Conclusões a. Condições dos trabalhadores informais Na maior parte dos casos, os trabalhadores aceitam trabalhar em condições de informalidade por ser a única forma de entrar no mercado de trabalho (geralmente jovens sem experiência laboral, mulheres), ou para obter remuneração (principalmente trabalhadores não qualificados, migrantes, adultos idosos). Estes trabalhadores estão conscientes de que a sua situação não é digna e de que estão privados dos benefícios de um trabalho formal, vivendo por isso em tensão entre a necessidade de trabalhar e as condições em que o fazem. Começa então a nascer um ressentimento contra a entidade patronal e um sistema que os sujeita a humilhações. No entanto, este cenário é tão contraditório que, mesmo que possam ser regularizados, alguns trabalhadores preferem manter-se numa situação de informalidade para poderem aceder a um rendimento superior, mesmo que a diferença seja mínima, em comparação com aquele que aufeririam num trabalho formal. Tanto o Estado como o empregador e o trabalhador são cúmplices neste «círculo vicioso» de irregularidades que se vai autoalimentando. Podemos representar a situação no quadro seguinte: Perante o não pagamento de encargos e contribuições, o valor destes aumenta Perspetiva do Estado O elevado montante de encargos e contribuições incita ao não pagamento Num cenário em que 50 % da população não paga as contribuições exigidas, o Estado cobre o défice através do aumento dos valores pagos pelos outros 50 % da população que cumpre. Quando se regulariza, o trabalhador tem de pagar contribuições, o que implica uma diminuição do salário. Perspetiva do trabalhador Pelo facto de o trabalho não ser regularizado, as contribuições são menores, do que pode resultar um salário mais elevado 1 Eurofound (2013), «Tackling undeclared work in 27 European Union Member States and Norway: Approaches and measures since 2008» (Enfrentar o trabalho não declarado nos 27 Estados-Membros da União Europeia e na Noruega: Abordagens e medidas desde 2008), Eurofound, Dublin. DT\ doc 3/6 AP v01-00

4 Por outro lado, tal como no paradigma atual, a organização já não está nas mãos de um empregador mas de um diretor-geral, o que destrói a identificação entre patrão e organização, também nos casos de trabalho informal se rompe o vínculo entre o trabalhador e o trabalho executado, ou seja, o trabalhador não reconhece as tarefas como suas. b. Propostas A nível internacional, existe um amplo consenso sobre a necessidade de passar de uma economia informal à economia formal para se obter um desenvolvimento inclusivo e um trabalho digno. 1 Em primeiro lugar, convém criar normas que obriguem a regularizar todos os empregados e que incluam vantagens e facilidades para os patrões que registem os empregados, como a isenção do pagamento de encargos, contribuições, multas e sobretaxas devidas em consequência da ausência ou erro de registo. Devem também ser criados gradualmente incentivos financeiros, encargos sociais menores e ainda reduções dos encargos dos empregadores e dos trabalhadores, com regimes preferenciais para as micro, pequenas e médias empresas. Sem prejuízo de outras sanções, podem ser criadas leis que condicionem o acesso ao crédito e a benefícios económicos, fiscais e tributários, entre outros, ao registo formal dos trabalhadores; este registo será condição prévia e necessária e o seu incumprimento implica a perda automática dos benefícios referidos. Estas leis devem acautelar os trabalhadores relativamente a processos judiciais e/ou administrativos que estejam a decorrer, assim como em relação aos pagamentos para caixas de previdência e aos efeitos do cálculo da antiguidade e permanência no emprego. Do mesmo modo, deve ficar estabelecido que, caso um trabalhador denuncie às autoridades as condições de informalidade em que trabalha, os montantes arrecadados pelas sanções económicas que sejam impostas ao empregador destinar-se-ão a fundos públicos para combater o trabalho informal, de forma a desencorajar o trabalhador de se manter em condições de informalidade com o fito único de obter posteriormente maior rendimento. A nível macro, os países que não criem leis e mecanismos para a formalização do emprego não devem poder integrar blocos económicos nem celebrar acordos comerciais e/ou são passíveis de expulsão desses grupos e acordos. Nos instrumentos internacionais que sejam assinados com fins comerciais ou de integração deve ser incluída uma «cláusula de trabalho», semelhante à «cláusula democrática», que imponha a suspensão de qualquer das partes em caso de incumprimento. 1 Idem, nota 1. AP v /6 DT\ doc

5 Cada Estado deve articular a informação entre as entidades de cobrança de receitas e os inspetores e, assim, cruzar dados e estabelecer estatísticas que detetem casos de trabalho informal. A educação e formação da sociedade serão centrais nas políticas públicas, de forma que os trabalhadores conheçam os seus direitos, as instâncias a quem dirigir-se para apresentar queixas e denúncias em caso de incumprimento da legislação laboral e os benefícios decorrentes do trabalho formal. c. Efeitos positivos da proposta de formalização do trabalho Uma abordagem integral e estratégica da regularização do trabalho permitirá que o trabalhador recupere o benefício dos seus direitos fundamentais. Quanto ao empregador, terá a segurança de não ser objeto de queixas por empregar trabalhadores em condições de informalidade. O Estado lucra com as contribuições pagas por empregadores e trabalhadores declarados, que deste modo contribuem para a segurança social e beneficiam de cobertura em caso de acidente ou doença, o que conduzirá a uma redução da despesa do Estado em saúde pública. O empregador que paga salários irregulares aos seus trabalhadores informais não socializa o dinheiro e prejudica a economia, ao limitar o poder de compra dos trabalhadores. A regularização permitirá aumentar a capacidade económica das empresas, contribuindo para o crescimento da economia nacional. Também os bancos retirarão benefícios da formalização pois, ao regularizar a sua situação, os trabalhadores passam a estar incluídos no sistema bancário e contribuem para estas entidades, além de usarem os seus produtos. Neste contexto, o país desenvolverá uma competitividade justa e evitará o «dumping social», conceito que abrange a exploração dos trabalhadores e a concorrência desleal daqui decorrente, ao oferecer bens e serviços a preço mais reduzidos relativamente aos bens e serviços produzidos ou prestados por organizações que regularizaram os seus trabalhadores e, consequentemente, têm custos de produção mais elevados. 1 Muitas empresas desenvolvem atividade em países com uma legislação laboral menos rigorosa para reduzir os custos de produção; nesses países os controlos ambientais também são, por norma, mais laxistas, o que é mais uma forma de fugirem às suas responsabilidades e causar prejuízos fora do território de origem. Trata-se do mesmo contexto cultural: o empregador que não regulariza os empregados 1 Perguntas parlamentares, 27 de maio de 2015, E /2015. DT\ doc 5/6 AP v01-00

6 também polui o ambiente, foge à lei em todos os aspetos e provoca prejuízos e danos ao ambiente e a toda a sociedade. Poderemos pensar que os paraísos fiscais são o local onde se refugiam os ganhos obtidos com os salários irregulares dos trabalhadores informais. Se considerarmos que quase todos se alimentam do dinheiro não declarado proveniente de atividades ilegais, é altamente provável que uma elevada percentagem dos fundos tenha origem nos lucros obtidos com o trabalho informal. Para evitar a desregulação dos mercados de trabalho e o desvio dos fluxos comerciais dos países que protegem os trabalhadores para aqueles que não os protegem, é fundamental fortalecer as legislações locais, fiscalizar o seu cumprimento e romper definitivamente com o círculo vicioso que predomina atualmente. Assim garantiremos a todos o exercício do direito ao trabalho digno e, em especial, preservaremos a dignidade humana. AP v /6 DT\ doc