CARTILHA APOSENTADORIA ESPECIAL PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS E ZOOTECNISTAS
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- Domingos Furtado Bernardes
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1 CARTILHA APOSENTADORIA ESPECIAL PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS E ZOOTECNISTAS CONCEITO A aposentadoria especial é um benefício concedido ao cidadão que trabalha sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. A aposentadoria especial abrange os médicos veterinários e os zootecnistas, podendo se aposentar com qualquer idade e sem a redução do fator previdenciário. No caso dos profissionais ligados à medicina veterinária e zootecnia esse benefício existe porque em muitas situações são expostos ao contato com animais doentes ou materiais infecto-contagiantes, trabalhos permanentes em laboratórios com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e outros produtos e trabalhos permanentes em que haja contato com produtos de animais infectados, trabalhos permanentes em que haja contatos com carnes, vísceras, glândulas, sangue, ossos, pêlos, dejeções de animais infectados, que são consideradas atividades insalubres. É necessário ressaltar que o tempo de trabalho permanente é aquele continuado, não o eventual ou intermitente, não implicando, por conseguinte, obrigatoriamente, que o labor, na sua jornada, seja ininterrupto sob as condições de risco. (Decisões nesse sentido - STJ, RESP /RS, Quinta Turma, Ministro Gilson Dipp, DJ 02/09/2002; REsp /SC, Sexta Turma, Ministro Hamilton Carvalhido, DJ 21/11/2005; AgRg no REsp /RS, Quinta Turma, Ministra Laurita Vaz, DJ 26/09/2012; AREsp /PR, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJ 08/04/2014). Ainda, para o agente nocivo biológico não há estabelecimento de nível máximo de tolerância pela Página 1 de 10
2 legislação de regência, bastando a simples constatação de sua presença (análise qualitativa) para ser caracterizada a nocividade. O benefício está contido na Constituição da República, na Lei 8.213/91 e na Lei Orgânica do Distrito Federal exigindo Lei Complementar, nos casos dos servidores públicos. PERÍODO E CARÊNCIA Para os médicos veterinários e zootecnistas, a aposentadoria especial se dá, em regra, com 25 anos de serviço (para o recebimento de 100% da aposentadoria), se enquadrando no item do anexo IV do Decreto 3048/99. O valor da Aposentadoria Especial é calculado através da média dos 80% maiores salários que o profissional recebeu durante o período de atividade. Ou seja, são anotados todos os meses trabalhados, excluídos 20% dos meses (aqueles que têm a remuneração mais baixa), somados e divididos pelos meses considerados. É necessário destacar que, conforme a Lei 8.213/91, é exigido um número mínimo de contribuições mensais para fazer jus ao benefício da aposentadoria especial. A carência é de 180 contribuições (ou seja, 15 anos). Há também a possibilidade de se converter o tempo especial em tempo comum (caso não tenha 25 anos de atividade especial), haja vista a lei permitir o aumento de 20% no tempo para o sexo feminino e 40% para o sexo masculino, conforme exemplo abaixo: Página 2 de 10
3 Homem Tempo de serviço especial 10 anos Tempo de serviço comum 14 anos Mulher 10 anos 12 anos MÉDICOS VETERINÁRIOS E ZOOTECNISTAS (CARGO EFETIVO) Nos casos dos médicos veterinários e zootecnistas (cargos efetivos) submetidos ao Regime Próprio de Previdência, a Súmula Vinculante 33/STF (tendo como base o art. 40, 4º da Constituição da República) garante o direito à aposentadoria especial nas mesmas condições dos trabalhadores vinculados ao INSS (celetistas), mediante também apresentação de alguns documentos, conforme será exposto abaixo. Servidores concursados filiados a Regime Próprio possuem direito à integralidade na aposentadoria, sendo concedido o valor completo do último salário em atividade. Defendemos que no caso dos servidores públicos também é possível a conversão do tempo especial em comum. MEIOS DE COMPROVAÇÃO DA ATIVIDADE ESPECIAL Até 28/04/1995 (data da publicação da Lei /95), bastava a atuação como médico veterinário ou zootecnista que já se reconhecia a atividade insalubre, fazendo jus à concessão do tempo de serviço especial. Logo, é possível o reconhecimento do tempo de serviço prestado até 28/04/95 sob condições especiais apenas com base no enquadramento na categoria profissional, na medida em que a exposição a condições insalubres, perigosas e penosas decorria de presunção legal. Página 3 de 10
4 agente nocivos à saúde. Após essa data, é necessária a comprovação da exposição a A maneira mais comum para se obter essa comprovação é através do LTCAT (Laudo Técnico das Condições Ambientais de Trabalho) feito pelo empregador ou órgão público que deixe explícito a exposição aos agentes nocivos à saúde. Do LTCAT são extraídas as informações necessárias para se fazer o PPP (Perfil Profissiográfico Previdenciário), formulário exigido pelo INSS e pelos Regimes Próprios para a concessão do benefício de aposentadoria especial. No caso, o próprio empregado/servidor ou o Sindicato poderá requerer os documentos comprobatórios. Há também a possibilidade de se obter aposentadoria especial com base em outras provas, tais quais: Anotações em CTPS São provas concretas do desempenho da atividade, mas não da exposição aos agentes nocivos. Não pode ser utilizada sozinha como prova, mas sim como complemento. Recebimento de Adicional de Insalubridade Prova de que a própria empresa pagava valor adicional devido aos riscos do ambiente de trabalho. Laudo de Insalubridade em Reclamatória Trabalhista Se houve a realização de perícia técnica em ação trabalhista, esse laudo poderá ser suficiente para comprovar a existência de exposição a agentes nocivos. Ainda podem ser utilizados como provas indiretas os laudos de colega de trabalho ou de empresa similar. Perícia Judicial no Local de Trabalho Caso nenhuma das provas citadas acima possam ser providenciadas, ainda é possível solicitar ao juiz a realização de perícia técnica no local de trabalho, que terá valor desde que não existam mudanças significativas no layout da empresa, como troca de equipamentos ou modos de manejo de produtos químicos. Pode ser utilizado Página 4 de 10
5 também, como prova indireta e em último caso, a perícia em uma empresa similar. ONDE REQUERER A depender da vinculação, o requerimento administrativo percorrerá caminhos distintos. Na hipótese do celetista, o requerimento será protocolado junto ao INSS e no caso de cargo efetivo, na local de lotação. O QUE DIZEM OS TRIBUNAIS Da mesma forma, em caso de indeferimento administrativo, os processos judiciais deverão ser ajuizados a depender do vínculo do médico veterinário e zootecnistas. Na hipótese do celetista, o processo será ajuizado perante o Tribunal Regional Federal da 1ª Região e no caso de cargo efetivo, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (se servidor distrital) ou Tribunal Regional Federal da 1ª Região (se servidor federal). De qualquer modo, no âmbito de ambos os tribunais é plenamente reconhecido o direito à aposentadoria especial dos médicos veterinários e zootecnistas. Veja-se o exemplo do Tribunal Federal da 1ª Região: PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA ESPECIAL. ATIVIDADES EXERCIDAS SOB A INCIDÊNCIA DE AGENTES NOCIVOS. MÉDICO VETERINÁRIO. EXPOSIÇÃO A AGENTES BIOLÓGICOS. BENEFÍCIO DEVIDO. 1. A aposentadoria especial, benefício decorrente do trabalho realizado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física, é devida ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme a atividade profissional, em condições que, para esse efeito, sejam Página 5 de 10
6 consideradas penosas, insalubres ou perigosas. 2. As condições especiais de trabalho demonstram-se: a) até 28/04/1995 (dia anterior à vigência da Lei nº 9.032/95), pelo enquadramento profissional, ou mediante formulários da própria empresa ou laudos técnicos; b) a partir de 29/04/1995, por formulários próprios (SB-40 e DSS-8030, padronizados pelo INSS), preenchidos pela empresa, ou mediante laudo; c) a partir da vigência do Decreto nº 2.172/97, publicado em 06/03/1997, por Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho, devendo as empresas, desde então, elaborar e manter Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) das atividades desenvolvidas pelos trabalhadores. 3. Para a demonstração da permanência e habitualidade da atividade insalubre não é necessária a exposição ao agente agressivo durante toda a jornada laboral, mas apenas o exercício de atividade, não ocasional, nem intermitente, que o exponha habitualmente a condições especiais, prejudiciais à sua saúde ou integridade física. Por sinal, a exigência de habitualidade e permanência da exposição sob agentes nocivos somente foi trazida pela Lei 9.032/95, não sendo aplicável aos períodos anteriores à sua publicação. Inteligência da Súmula 49 da TNU. 4. Além disso, o formulário que evidencia a referida exposição a agentes insalubres ou perigosos, cujas informações nele constantes foram extraídas do laudo técnico, dispensa a apresentação deste, na forma do Artigo 161, 1o, da IN INSS/PRES 27/2008 e do Art. 256, IV, da IN INSS/PRES 45/ Ademais, os formulários, laudos técnicos e demais documentos fornecidos pela empresa têm presunção de veracidade e constituem provas suficientes para comprovar o labor em atividade especial, sobretudo quando os agentes agressivos neles informados são típicos da atividade desenvolvida. Inexistência de prova contrária que infirme a presunção de veracidade dos referidos documentos. 6. O fornecimento de equipamentos de proteção individual, por si, não elide a insalubridade da atividade exercida, quando não haja a demonstração, estreme de dúvidas, da neutralização do agente agressivo. E, para isso, não é o bastante a mera afirmação monossilábica da eficácia do equipamento, desacompanhada de estudos demonstrando o efetivo bloqueio do agente agressivo no ambiente laboral. 7. A circunstância de o laudo não ser contemporâneo à atividade avaliada não lhe retira a força probatória, em face de inexistência de previsão legal para tanto e desde que não se demonstre a existência de mudanças Página 6 de 10
7 significativas no cenário laboral. 8. Desse modo, deve ser mantido o enquadramento efetuado pela sentença, que reconheceu como especial o período compreendido entre 10/08/1978 a 22/03/2005, pois, no referido intervalo, o segurado, no exercício de sua atividade de médico veterinário, estava exposto a agentes biológicos, a exemplo de microrganismos infectocontagiosos - vírus, bacilos, fungos e parasitas transmissores de doenças -, conforme formulário e laudo pericial de fls. 61, 66/84 e 86/ É devida a conversão da aposentadoria por tempo de contribuição proporcional em especial, desde a data de início daquele benefício, pois, no referido marco, o segurado computou mais de 25 anos de exposição aos referidos agentes agressivos. 10. Juros de mora, a partir da citação, e correção monetária nos termos do art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº /09. No período que antecede à referida norma, a correção monetária se fará nos termos do Manual de Cálculos da Justiça Federal. Ressalte-se que tal deliberação não prejudicará a incidência do que será decidido pelo STF do RE /SE, com repercussão geral reconhecida. 10. Prescritas as diferenças vencidas há mais de cinco anos do ajuizamento da ação, nos termos da Súmula nº 85 do STJ. 11. Os honorários, fixados em 10% da condenação, incidirão apenas sobre as prestações vencidas até a data da sentença, proferida sob a égide do CPC/73, nos termos dos precedentes deste Colegiado e da Súmula nº 111 do STJ. 12. Apelação e remessa oficial parcialmente providas (itens 10 e 11). (TRF da 1ª Região, AC / BA, Rel. JUIZ FEDERAL CRISTIANO MIRANDA DE SANTANA, 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DA BAHIA, e-djf1 de 29/09/2016) PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO URBANO. CTPS. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. CATEGORIA PROFISSIONAL. MÉDICO VETERINÁRIO. AGENTES NOCIVOS BIOLÓGICOS. LABOR ESPECIAL NA CONDIÇÃO DE AUTÔNOMO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO/CONTRIBUIÇÃO. CONCESSÃO. As anotações da CTPS fazem presumir (Súmula 12 do TST) a existência de relação jurídica válida e perfeita entre trabalhador e empresa, para fins previdenciários. Ausente qualquer indicativo de fraude e estando os registros em ordem cronológica, sem sinais de rasuras ou emendas, teve o tempo de serviço correspondente ser averbado. Página 7 de 10
8 O recolhimento de contribuições previdenciárias sobre os períodos anotados em carteira de trabalho incumbe ao empregador, nos termos do art. 30, inc. I, alíneas a e b, da Lei n.º 8.212/91, não podendo ser exigida do empregado para efeito de obtenção de benefícios previdenciários. O reconhecimento da especialidade e o enquadramento da atividade exercida sob condições nocivas são disciplinados pela lei em vigor à época em que efetivamente exercidos, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. Até é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, admitindo-se qualquer meio de prova (exceto para ruído e calor); a partir de não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, sendo necessária a comprovação da exposição do segurado a agentes nocivos por qualquer meio de prova até e, a partir de então, através de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. As atividades de médico veterinário exercidas até devem ser reconhecidas como especiais em decorrência do enquadramento por categoria profissional previsto à época da realização do labor. A lei não faz distinção entre o segurado empregado e o contribuinte individual para fins de concessão de aposentadoria especial. O reconhecimento do direito não configura instituição de benefício novo, sem a correspondente fonte de custeio. Incidência, ademais, do princípio da solidariedade. Comprovada a exposição a agentes biológicos em razão da rotina de trabalho do segurado, deve-se reconhecer a especialidade do correspondente tempo de serviço. Comprovada a exposição do segurado a agente nocivo, na forma exigida pela legislação previdenciária aplicável à espécie, possível reconhecer-se a especialidade do tempo de labor correspondente. Preenchidos os requisitos legais para aposentadoria em mais de um regime jurídico, tem o segurado direito de optar pelo benefício com renda mensal mais vantajosa. (Reexame Necessário Cível Processo: UF: PR Data da Decisão: 11/11/2014 Orgão Julgador: QUINTA TURMA D.E. 19/11/2014 Relator (Auxílio Lugon) TAÍS SCHILLING FERRAZ) Página 8 de 10
9 PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO/SERVIÇO. APOSENTADORIA ESPECIAL REQUISITOS. ATIVIDADE ESPECIAL. AGENTES BIOLÓGICOS. ENQUADRAMENTO POR CATEGORIA PROFISSIONAL. O reconhecimento da especialidade e o enquadramento da atividade exercida sob condições nocivas são disciplinados pela lei em vigor à época em que efetivamente exercidos, passando a integrar, como direito adquirido, o patrimônio jurídico do trabalhador. Considerando que o 5.º do art. 57 da Lei n /91 não foi revogado pela Lei n /98, e que, por disposição constitucional (art. 15 da Emenda Constitucional n. 20, de ), permanecem em vigor os arts. 57 e 58 da Lei de Benefícios até que a lei complementar a que se refere o art. 201, 1.º, da Constituição Federal, seja publicada, é possível a conversão de tempo de serviço especial em comum inclusive após Precedentes do STJ. Até é admissível o reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou por sujeição a agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de prova (exceto para ruído e calor); a partir de não mais é possível o enquadramento por categoria profissional, devendo existir comprovação da sujeição a agentes nocivos por qualquer meio de prova até e, a partir de então, por meio de formulário embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia técnica. A exposição a agentes biológicos decorrentes do trato de animais doentes enseja o reconhecimento do tempo de serviço como especial. A atividade de médico veterinário exercida até deve ser reconhecida como especial em decorrência do enquadramento por categoria profissional. Comprovado o tempo de serviço/contribuição suficiente e implementada a carência mínima, é devida a aposentadoria por tempo de contribuição integral, assim como implementados mais de 25 anos de tempo de atividade sob condições nocivas e cumprida a carência mínima, é devida a concessão do benefício de aposentadoria especial, deve a Autarquia realizar os cálculos e implantar o benefício que resultar mais vantajoso, a contar da data do requerimento administrativo, nos termos do art. 54 c/c art. 49, II, da Lei n /91. Página 9 de 10
10 (APELREEX APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO Processo: RS Data da Decisão: 26/06/2013 Orgão Julgador: SEXTA TURMA D.E. 03/07/2013 Relator CELSO KIPPER) Vale destacar que os julgamentos de médicos veterinários se aplicam aos zootecnistas e vice-versa. O que é levado em conta é a exposição que levará à aposentadoria especial. Brasília, DF, 05 de outubro de CRISTIANO LUIZ BRANDÃO CUNHA OAB/DF FÁBIO FELIX SOUZA DA SILVA OAB/DF Página 10 de 10
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