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Transcrição

1 1 Espiritualidade é também luta contra o sistema. - Efésios 6 Introdução: 10 Finalmente, fortaleçam- se no Senhor e no seu forte poder. 11 Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, Durante toda a epístola o apóstolo Paulo explica o sentido de ser igreja e lança alguns desafios para nós cristãos: No capítulo 1 - Falou sobre a pessoa de Deus e explica que o ser humano e seus constantes desvios são a maior lição sobre quem Deus é: bondoso, paciente e amoroso. Nos capítulos 2 e 3 - Paulo mostrou a situação do homem sem Deus e a grande obra de reconstrução que o Senhor está fazendo em nossas vidas, através da sua igreja. No capítulo 4 Paulo mostrou que a vocação da igreja é dar legitimidade à vocação humana de andar na presença de Deus No capítulo 5: 15-6:9 Nos convidou a desenvolver uma espiritualidade que seja capaz de nos humanizar. Apontou Cristo como o modelo desta humanização. Agora no capítulo 6 ele nos convida a entrar na batalha, mostrando que a luta da espiritualidade é uma luta contra o sistema deste mundo. Proposição: Finaliza a carta aos Efésios mostrando que a maneira de enfrentar o mundo é revestindo-nos com a armadura de Deus e lutando para que o bem se estabeleça.

2 2 Esse é um texto fantástico, mas algumas interpretações equivocadas têm retirado sua força de impacto, tal como Paulo escreveu Por isso, algumas compreensões precisam ser estabelecidas antes de entramos no assunto da armadura espiritual propriamente dita: I A armadura de Deus nos fortalece na luta contra o Mal contido no sistema. 1 - Em geral pensamos na armadura de Deus como um fortalecimento contra as tentações e demais situações no âmbito espiritual. Como resultado nos afastamos do sentido da luta espiritual. Veja como tiramos o foco do assunto: Sofremos e dizemos: Estou enfrentando uma luta espiritual. Ficamos deprimidos e dizemos: É batalha espiritual. Alguém se opõe a nós e dizemos: É luta espiritual. O que queremos dizer com isso? Que o Diabo está nos perseguindo para que não sejamos aquilo que Deus deseja. De fato ele faz esse papel mesmo. Mas o nome dado a isso não é batalha espiritual e sim tentação, e também luta pessoal. 2 - Como resultado, enfocamos a luta espiritual tão somente nos impedimentos e nunca na construção do bem. Enquanto isso o mal se alastra no mundo, dizimando pessoas. 3 - Perceba que Paulo nos convoca à luta contra o sistema, a partir de seu nascedouro: a lógica luciferiana. O mal em si. 12pois a nossa luta não é contra seres humanos mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais Não estou pintando um mundo fantasioso, onde demônios e anjos estariam lutando dentro de uma batalha espiritual.

3 3 Não é possível que entendamos que o mundo espiritual é uma réplica do mundo físico da idade média, com luta de capa e espada. Não é possível que entendamos que o diabo está desenvolvendo seu plano de dominar geograficamente este mundo através dos chamados espíritos territoriais, cuja missão é tomar posse de lugares geográficos da terra. Não é possível que entendamos a missão da igreja como sendo a de expulsar o diabo destes lugares por ele dominados, imaginando que assim que o expulsarmos o bem será por si mesmo estabelecido. O mal está em todos os lugares, inclusive nas instituições religiosas. II O que é o mal contra o qual devemos lutar? 1 Há pouca compreensão sobre o mal Costumamos personificar situações. Isso nós aprendemos com os gregos. Alguns de seus deuses eram na verdade lugares. Por exemplo: Hades. É o mundo dos mortos e ao mesmo tempo um deus. Assim também acontece hoje. Por exemplo, a morte. Morte não é um ser. É um fato. Um fenômeno que tratamos como se fosse uma pessoa. Damos à morte uma personalidade, como nesta figura tradicional. O mesmo fazemos com o mal. Nós o personificamos como uma força espiritual que domina as pessoas. Uma busca rápida no Google aponta para isso:

4 4 Direitos reservados Domingos Sávio Rodrigues Alves Uso gratuito, permitido sob a licença Creative Commons No conceito popular, o mal é uma força que influencia as pessoas para fazerem o que é ruim. Escolhi uma delas para explicar o que desejo Veja na cena abaixo. Ela explica o mal da seguinte forma: uma força tomou o corpo de um cadáver e o levou a fazer o mal. Pelas mãos em forma de garra, percebemos que há ódio. Pelos olhos acesos e vermelhos, percebemos que há uma força sobrenatural dominando o corpo morto Em síntese: O conceito popular de mal é: Uma força pessoal, oculta, que toma conta das pessoas.

5 5 O mal não é uma força pessoal. É uma lógica que se baseia no egoísmo e ganha vida através de nossas ações mesquinhas. Qual a relação do mal com o diabo? O mal é maior que o próprio diabo. Ele fez o mal existir em suas ações. Entretanto, o mal é maior que ele porque é uma lógica que se alastrou no coração das pessoas Qual a nossa relação com o mal? Nós também podemos fazer o mal existir através de nossas ações. Vemos na Bíblia que as palavras Diabo, Satanás referem- se àquele que está ligado ao mal. São títulos, e não um nome próprio. O nome do Satanás é Lúcifer. Satanás, diabo, demônio são apenas títulos de Lúcifer e de qualquer pessoa que haja como ele. Por isso, essas palavras também são utilizadas em relação aos seres humanos: Em João 6:70-71, Jesus refere- se a Judas chamando- o de Diabo: Então Jesus respondeu: "Não fui eu que os escolhi, os Doze? Todavia, um de vocês é um diabo!" ( Ele se referia a Judas, filho de Simão Iscariotes, que, embora fosse um dos Doze, mais tarde haveria de traí- lo.) Em Mt 16:23 Jesus referindo- se a Pedro o chama de Satanás: Jesus virou- se e disse a Pedro: "Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens" Alguns insistem em afirmar duas coisas: A Que Jesus falava com Satanás, que estava por ali e influenciou Pedro. B Que Pedro estava possesso. Mas observe o texto direitinho e perceberá que nada tem a ver com satanás e sim com uma atitude digna de satanás: 1 Mateus afirma que Jesus falou com Pedro e não com Satanás

6 6 Jesus virou- se e disse a Pedro: "Para trás de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, 2 Jesus enfatiza que a lógica de Pedro é puramente humana, e não satânica e não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens" Em outras palavras, o que está em pauta não é o pensamento de um demônio, mas de um homem. A teologia da batalha espiritual acabou tirando o foco de nosso olhar, para a verdadeira batalha que se trava. - A batalha espiritual nos ocupa olhando para o mundo espiritual, quando é no mundo físico que o mal está se desenvolvendo. O mal é encarnado em pessoas. Não estou referindo- me a gente possessa, mas a gente que tem toda a aparência de piedade entretanto seus intentos são absolutamente egoístas e maquiavélicos. Gente que é tão cândida, mas que subscreve na lógica do poder deste mundo opressor O Diabo existe? Claro que sim. Existe e não está parado. Eu apenas estou dando lastro para afirmar que a verdadeira batalha espiritual é travada no âmbito das ações históricas e da implantação do bem, que é o que conhecemos por Reino de Deus. O Reino de Deus é a vitória do bem. Na Bíblia o Reino de Deus é uma construção de Deus com nossa cooperação. Por isso é que não adianta dizer que é cristão e viver como um demônio. Não adianta dizer que é cristão e odiar, porque desta forma estaremos dando oxigênio ao mal e subscrevendo essa lógica no mundo. Por isso Paulo nos convida a certo preparo para enfrentar o mal em nós e no mundo:

7 7 13 Por isso, vistam toda a armadura de Deus, para que possam resistir no dia mau e permanecer inabaláveis, depois de terem feito tudo. Perceba que Paulo enfatizará não o diabo, ou uma batalha de oração, como muitos entendem esse texto. Seu discurso é que para combater o mal, precisamos nos comprometer com o bem neste mundo. Você está na batalha espiritual, ou seja, você é comprometido com justiça ou injustiça? Seu estilo de vida traz Liberdade ou opressão? Se não assina a carteira do funcionário você tem a lógica escravista de César Se você entende autoridade em casa ou no trabalho, como uma relação vertical em que manda quem pode e obedece quem tem juízo, você entende autoridade segundo Maquiavel e não Jesus. III O Cristianismo pretende despojar o mal neste mundo. Por isso Paulo utiliza- se da analogia de uma armadura espiritual. Não é uma armadura literal. É apenas uma forma de explicar o compromisso e a vivência cristã 1 - Despojamos o mal neste mundo através da verdade e da justiça. 14 Assim, mantenham- se firmes, cingindo- se com o cinto da verdade, vestindo a couraça da justiça A verdade e a justiça é que transforma o mal em bem O que poderá mudar a lógica deste mundo é a justiça Justiça social

8 8 2 - Estabelecemos o bem neste mundo entendendo O Evangelho como uma mensagem de paz 15 e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz. Com este verso Paulo nos mostra que vestimos a armadura, não para caminhos de guerra e sim caminhos de paz. A armadura é apenas uma analogia. Observe que a ênfase é na prontidão para a paz Estamos de prontidão para semear a paz, porque é assim que um filho de Deus age. O evangelho é paz Paz com Deus Paz com os homens Um cristão precisa comprometer- se com a criação de uma cultura de paz no mundo Paz é o ideal de Deus A paz se faz através do respeito mútuo A paz se conquista através da empatia 3 - Precisamos fazer de nossa fé, um escudo capaz de neutralizar os maus intentos seja de demônios, ou de gente que é um demônio. 16 Além disso, usem o escudo da fé, com o qual vocês poderão apagar todas as setas inflamadas do Maligno. Mas preste atenção: Paulo não está falando de tua luta pessoal e das armas que Deus te dá para derrotar teus inimigos. Paulo está te convidando para fazer parte de um projeto universal em nome do bem: O evangelho de Cristo Em momento algum deste trecho vemos que Paulo fala dos nosso problemas. Ele está olhando para onde qualquer pessoa cheia do espírito santo deveria olhar: o mundo.

9 9 4 Precisamos entender a salvação é como um capacete e a Palavra de Deus como uma espada A função do capacete é proteger a cabeça. 17 Usem o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Eis uma brilhante metáfora para entender a salvação como a transformação de nossa mente, e não apenas como a mudança de meu status espiritual, de perdido a salvo. Rm 12:2 Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem- se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Se o capacete é a renovação de nossa mente, a espada está associada à Palavra de Deus é sua justiça e vontade. É a justiça de Deus que neutralizará a maldade deste mundo IV - A luta de Deus vale à pena. Somos convidados a transformar realidades em nosso derredor. 18 Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por todos os santos. 19 Orem também por mim, para que, quando eu falar, seja- me dada a mensagem a fim de que, destemidamente, torne conhecido o mistério do evangelho, 20 pelo qual sou embaixador preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu fale com coragem, como me cumpre fazer.

10 10 Conclusão: O convite de Deus é para que sejamos transformados e isso levará outros à transformação. Precisamos nos deixar tocar e transformar por Deus. A proposta de espiritualidade do cristianismo é transformadora. Nossas ações é que transformam o mundo. Envolva- se com o que Deus está fazendo 21 Tíquico, o irmão amado e fiel servo do Senhor, lhes informará tudo, para que vocês também saibam qual é a minha situação e o que estou fazendo. 22 Enviei- o a vocês por essa mesma razão, para que saibam como estamos e para que ele os encoraje. 23 Paz seja com os irmãos, e amor com fé da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 24 A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com amor incorruptível.