AS REMONTAGENS DE PEDRA LASCADA E A RE-INTERPRETAÇÃO DA ESTAÇÃO GRAVETTENSE DA TERRA DO MANUEL
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- João Guilherme Aires Diegues
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1 4 de Dezembro de 2010 E A RE-INTERPRETAÇÃO DA ESTAÇÃO GRAVETTENSE DA TERRA DO MANUEL Henrique Matias Francisco Almeida Telmo Pereira Rui Carvalho Marco António Andrade
2 Localização Imagem: cortesia de João Zilhão (Terra do Manuel 1988)
3 Intervenções 1988/ Afloramento à cota da base da Camada 1 Abertura da caixa de sondagem da intervenção de emergência em Junho de 2007 a partir do «Corte Norte», perfil de referência das escavações 88/89. Imagem: cortesia de João Zilhão Orientação da sondagem ligeiramente desviada para W e quadrícula desenquadrada cerca de 20cm para N e 50cm para W, em relação à escavação de 88/89.
4 Camada 1 Estratigrafia Depósito holocénico, castanho-acinzentado contendo materiais contemporâneos e préhistóricos. Apresenta um contacto erosivo importante com a camada 2 Seg. João Zilhão (1997)
5 Estratigrafia Camada 2 Sedimentos plistocénicos, areno-siltosos vermelho-alaranjados. Bastante perturbada por fenómenos pós-deposicinais onde se concentram os materiais arqueológicos. Banda Negra Depósito coluvionar do Último Máximo Glaciar? Seg. João Zilhão (1997)
6 Estratigrafia Camada 2s, Nível 2s1 Sedimentos identicos à camada 2, mas com uma pequena argilosidade. A diferenciação com o estrato sobrejacente era clara por um horizonte de abundantes materiais líticos talhados. Seg. João Zilhão (1997)
7 Estratigrafia Camada 2s Nível 2s2 Idêntico ao nível 2s1, mas com a particularidade de ser definido por um horizonte de seixos ( pavimento?) provavelmente com génese antrópica. Apresenta uma maior argilosidade e coloração avermelhada por assentar directamente em um estrato de argila vermelha (C.3) Seg. João Zilhão (1997)
8 Estratigrafia Camada 3 Argilas e siltes de coloração avermelhada. No topo ainda ocorrem alguns materiais, claramente de infiltração da camada superior Seg. João Zilhão (1997)
9 Estratigrafia Camada 4, 5 Sequência fluvial entrecruzada, de camadas sucessivas de seixos, saibro, areão, areias, areias finas ou siltes, terminando frequentemente em bisel, perpendicularmente à ribeira, quando visto em perfil. Na base, argilas castanhas (Mesozóico?) Seg. João Zilhão (1997)
10 Interpretação do sítio seg. Zilhão, 1997 Camada 2: (cultura material semelhante a Vale Comprido encosta e Terra do José Pereira colecção antiga Manuel Heleno) Pontas de Vale Comprido; ausência de lamelas de dorso Datações TL de ±1700 BP; ±1800 BP e 7.300±700 BP a partir de sílex queimado. Hipótese 1: Cronologia Proto-Solutrense (tipologia e posição estratigráfica) Datações descartadas por provável contaminação da amostra pela truncatura erosiva ( Banda Negra ) holocénica Hipótese 2: A camada 2 conteria originalmente uma sequência mais completa, incluindo igualmente vestígios de ocupações magdalenenses as quais, porém, não deixaram vestígios reconhecíveis. Camada 2s: (cultura material semelhante a Vale Comprido encosta e Terra do José Pereira colecção antiga Manuel Heleno) Lamelas de dorso e de dorso truncadas (na base da camada) Datação 14 C de ±210 BP, a partir de carvão. Hipótese 1: Palimpsesto: - Nível inferior (2s2) com lamelas de dorso e dorso truncadas - Nível superior (2s1) com as armaduras de dorso a serem substituídas por lamelas brutas de sílex e quartzo, funcionando como barbelas. Assim teríamos uma ocupação mais antiga, com um Gravettense final com armaduras de dorso, e um Proto-solutrense imediatamente por cima, sem qualquer tipo de hiato sedimentar, justificado pela presença de algumas pontas de Vale comprido na 2s1. Hipótese 2: Fase de transição entre o Gravetense final e o Proto-solutrense, justificado por: -Carácter aparentemente misto da C2s -Falta de razões sólidas para afirmar com segurança a formação de um palimpsesto
11 % 50 Classes Tecnológicas (escavação 2007) C.2 C.2s1 C.2s2 Predomínio claro dos produtos de debitagem Baixa percentagem de utensílios <5% Homogeneidade inter-estratigráfica Carácter oficinal importante Núcleos Flancos de Núcleo Tablettes Lascas de Crista Lâminas de Crista Lamelas de Crista Lascas corticais Lascas parc. Corticais Lascas não corticais Frag de lasca Lâminas Tipo de Artefacto Lamelas Res. golpe buril Utensílios Lascas de reav. carenados Lascas solutrenses Lascas adelgaçamento bifacial Outro *Esquírolas e fragmentos não representados. 26% para a camada 2 e 2s1 38% para a camada 2s2 % Silex Calcedónia Quartzo Quartzit o Outras Matérias-primas (escavação 2007) Predomínio do sílex, embora perdendo relevância em profundidade O quartzo, pelo contrário, ganha relevância em profundidade, assim como o quartzito na C.2s2 Opção cultural? C.2 C.2s1 C.2s2
12 Tipologia (escavação 1988/ ) Semelhança estatística entre Camada 2 e 2s, se bem que com discrepância assinalável a nível absoluto Diferenças entre os níveis definidos para a camada 2s, em Raspadeiras espessas no 2s1 - Armaduras de dorso no 2s2 Desenhos de Thierry Aubry e Denise Pereira da Silva, segundo Zilhão (1997) Terra do Manuel 88/89 (Fiada D) Contagens Tipológicas Camada 2 88/ Camada 2s 88/ nível 2s nível 2s Nº Tipo N % N % N % N % 1a Raspadeira simples sobre extremo de lâmina 1 1,06 2 0,56 1 0,83 1b Raspadeira simples sobre extremo de lasca 1 1, ,90 5 4,17 2a Raspadeira atípica sobre extremo de lâmina 2 0,56 1 0,83 2b Raspadeira atípica sobre extremo de lasca 2 2,13 1 0,28 1 0,83 3 Raspadeira dupla. 1 0,28 4 Raspadeira ogival 1 1,06 1 0,28 5a Raspadeira s obre extremo de lâmina retocada 3 0,84 1 0,83 5b Raspadeira sobre extremo de lasca retocada 1 1,06 5 1,39 2 2,82 8 Raspadeira s obre lasca 2 0,56 11 Raspadeira c arenada 1 1, , ,00 1 1,41 12 Raspadeira c arenada atípica 4 4,26 8 2,23 3 2,50 2 2,82 13 Raspadeira afocinhada espessa 4 4, ,79 5 4,17 1 1,41 14a Raspadeira afocinhada plana 1 0,28 15 Raspadeira nucleiforme 2 0,56 17 Ra sp ad ei ra -bu ri l 1 0,28 18 Raspadeira-truncatura 1 0,28 20 Furador-truncatura 1 0,28 1 0,83 23 Furador 1 0,28 1 0,83 24 Furador atípic o 1 1,06 27 Buril diedro direito 1 0,28 1 1,41 28 Buril diedro desviado 1 1,06 3 0,84 1 0,83 29 Buril diedro de ângulo 1 1,06 5 1,39 2 1,67 30a Buril de ângulo sobre fractura 2 2, ,46 5 4,17 1 1,41 32a Buril arqueado 1 1,06 1 0,83 32b Buril carenado + raspadeira afocinhada espessa 1 1,06 1 0,83 35 Buril sobre truncatura oblíqua 2 2,13 1 0,83 1 1,41 36 Buril sobre truncatura côncava 1 1,06 5 1,39 2 2,82 38 Buril transversal sobre truncatura lateral 1 1,06 1 0,28 40 Buril múltiplo sobre truncatura retocada 3 0,84 1 1,41 41 Bur il m últiplo m is to 2 0,56 2 1,67 42a Buril de Noilles 1 1,06 2 0,56 1 0,83 44a Buril plano 2 2,13 1 0,28 52b Ponta Casal do Filipe 2 0,56 1 1,41 58 Lâmina de dorso total 2 0,56 60 Lâmina ou lasca com truncatura direita 1 0,28 61 Lâmina ou lasca com truncatura oblíqua 1 1,06 3 0,84 1 0,83 62 Lâmina ou lasca com truncatura côncava 1 0,28 64a Lâmina ou lasca bitruncada 2 2,13 65 Lâmina com retoque contínuo num bordo 3 3,19 7 1,95 1 0,83 66 Lâmina com retoque contínuo nos dois bordos 1 1,06 2 0,56 69b Ponta de Vale Comprido 2 2,13 6 1,67 74 Entalhe 16 17, , , ,68 75 Denticulado 6 6, ,74 3 2,50 3 4,23 76 Peça esquirolada 1 1,06 1 0,83 77 Ra sp ad or 2 2,13 8 2,23 1 0,83 1 1,41 79 Triângulo 1 1,06 84 Lamela truncada 4 1,11 1 0,83 3 4,23 85 Lamela de dorso 3 3, ,74 2 1, ,08 86 Lamela de dorso truncada 3 3, ,18 4 3,33 2 2,82 89 Lamela com entalhe 2 2, ,90 5 4,17 2 2,82 90a Lamela Dufour 1 0,28 90c Lamela de dorso marginal 4 4,26 5 1,39 2 1,67 3 4,23 92a Lâminas, lascas ou lamelas retocadas 14 14, , , ,13 92b Fragmento de peça retocada 3 3, ,96 7 5, ,08 92d Lamela apontada 1 1,06 TOTAL
13 Campanha de remontagem ( ) Estratégia: Certezas àpriori: Remontagens e associações descritas por Zilhão (1997) Remontagens feitas no decorrer do tratamento dos materiais da campanha de 2007 Começar com a matéria-prima menos representada e mais fácil de remontar (quartzito) para testar o método. Integrar o espólio das escavações dos anos 80 nas remontagens Espaço: Cerca de 6m 2 no MNA Tempo: Em part-time, 4 pessoas, durante cerca de 1 semana em Abril de 2009, grande parte do tempo a marcar peças dos anos 80. Cerca de 10 horas úteis de remontagem Resultados: Cerca de 30% da totalidade do quartzito remontado 2 blocos de sílex remontados Tendo em conta os problemas da interpretação crono-estratigráfica apresentados antes, as remontagens propunham: 1. Testar integridade da amostra 2. Definir as várias ocupações (ou ocupação?) através da posição vertical e horizontal dos objectos remontados 3. Estudar as varias cadeias operatórias presentes no sítio a partir dos blocos remontados - complementarmente ao estudo das várias classes tecnológicas e seus atributos, já efectuado.
14 Remontagem SXCZ - Blocos 1 a 4
15 Remontagem SXCZ - Blocos 5 e 6
16 Remontagem SXCZ C.2 20 C.2s 7 2s1 67 2s2 0 ind. 1 TOTAL 95
17 Remontagem SXVM
18 Remontagem SXVM C.1 1 C.2 7 C.2s 22 2s1 26 2s2 2 TOTAL 58
19 Remontagem QZI-13
20 Remontagem QZI-13 C.2 0 C.2s 4 2s1 12 2s2 17 TOTAL 33
21 Terra do Manuel 2007 Total da área escavada Núcleos, por matéria-prima camada 2 Nível 2s1 Nível 2s2 Sílex Quartzo Quartzito TOTAL Terra do Manuel 2007 H33/G33 Sul Núcleos, por matéria-prima Nível 2s1 Nível 2s2 Sílex 16 2 Quartzo 9 1 Quartzito 0 7 TOTAL Na única área onde o pavimento de seixos estava presente e foi possível distinguir os 2 níveis fielmente, verifica-se que: 1.Os núcleos de quartzito apenas estão representados na 2s2 2.Os núcleos em sílex e quartzo estão subrepresentados na 2s2, e com um número importante de raspadeiras espessas (7) e núcleos prismáticos (2), respectivamente, na 2s1, 3.As armaduras de dorso são exclusivas do nível inferior enquanto que as raspadeiras espessas só estão representadas no nível superior da camada 2s Terra do Manuel 2007 H33/G33 Sul Armaduras de dorso Tipo Nível 2s1 Nível 2s TOTAL 0 5 Terra do Manuel 2007 H33/G33 Sul Raspadeiras espessas Tipo Nível 2s1 Nível 2s TOTAL 7 0 Assim, a hipótese de contexto misto, de transição, pode ser descartada H33/G33 Sul 70% 60% 50% 40% 30% 20% C.2 C.2s1 C.2s2 Variabilidade estratigráfica da debitagem do sílex e do quartzo semelhante, mas com relevância na camada 2s1, regredindo na 2s2 O quartzito, ao invés, com uma debitagem menos frequente na camada 2s1, adquire relevo importante na 2s2 10% 0% Sílex Quartzo Quartzito
22 Conclusões a partir das remontagens (preliminares): 1. Os materiais remontados da Camada 2 (minoritários) pertencem originalmente a blocos da C.2s, nomeadamente do nível 2s1. A sua presença noutros estratos pode justificar-se por: - Perturbações pós-deposicionais - Erros de decapagem/falta de definição estratigráfica - face ao número elevado de materiais da base da C.2 a remontar com o nível 2s1 Assim, pode-se ainda questionar a homogeneidade desta camada: - Bastante perturbada pela truncatura erosiva ( Banda Negra ), assim como pela proximidade à superfície - Espólio com proporção dos recursos de matérias-primas idêntico ao nível 2s1 2. A Camada 2s pode dividir-se em 2 níveis arqueo-estratigráficos diferentes do ponto de vista tecno-tipológico: - Nível 2s1 com debitagem importante em sílex e quartzo, com a presença de Raspadeiras espessas em sílex e núcleos prismáticos em quartzo. As remontagens de sílex apresentam uma elevada complexidade, com o bloco original a ser transformado em numerosos núcleos no decorrer da debitagem. Esta característica particular já foi identificada anteriormente na Lapa do Anecrial, Gato Preto e Cabeço do Porto Marinho. Pode-se assim avançar a hipótese de uma cronologia do Gravettense Terminal para o nível. - Nível 2s2 em que o quartzito ganha especial importância, e com a presença de armaduras de dorso (lamelas de dorso e de dorso truncadas) A hipótese deste nível datar do Gravettense Final põe-se dada a presença deste tipo de armaduras, assim como pela posição estratigráfica em que se encontra 3. O pressuposto de que o nível 2s2 se definia pela presença de um pavimento de seixos levou a que a sua identificação e decapagem não fosse a correcta : - Remontagem de artefactos do nível 2s2, onde este foi decapado com segurança pelo horizonte de seixos, não ocorre com os provenientes do nível 2s1, excepto onde o pavimento não foi identificado. - Remontagem de artefactos do nível 2s1, onde o nível 2s2 foi decapado, só remontam no resto da área com materiais da 2s1, ou da base da Camada 2
23 O que fica por fazer 1. Nas remontagens: - Terminar a remontagem do sílex -Iniciar com o quartzo e as outras M.P. - Estudar tecnologicamente os blocos -Integrar o espólio das escavações dos anos 40, de Manuel Heleno 2.Crono-estratigraficamente: - Melhor definição crono-estratigráfica: - Datar fielmente os níveis 2s1 e 2s2, de forma a complementar com dados das remontagens
24 Agradecimentos Museu Nacional de Arqueologia João Zilhão (Universidade de Bristol)
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