QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DO IFRS, CAMPUS RIO GRANDE

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1 QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DE DOCENTES DO IFRS, CAMPUS RIO GRANDE Viviani Rios Kwecko Liziane Garcia Torchelsen O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - RESUMO Câmpus RioGrande A percepção de docentes, no que tange a temas relacionados à qualificação profissional e ao mercado de trabalho, foi mapeada a partir de entrevistas realizadas com 37 professores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, IFRS Campus Rio Grande, nas quais se utilizou a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Os professores entrevistados pertenciam áreas tecnológicas de Automação Industrial; Eletrotécnica; Enfermagem; Fabricação Mecânica; Geoprocessamento; Informática para Internet; Refrigeração e Climatização; Tecnologia em Construção de Edifícios e Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas. Os docentes foram escolhidos aleatoriamente a partir de um plano de amostragem simples, nível geral de inspeção III, com base na norma ABC-STD-105. Os dados referentes ao perfil do aluno que ingressa na instituição foram agrupados em duas categorias distintas: modalidade de ensino integrada e subsequente ao Ensino Médio.A partir dos resultados preliminares da pesquisa verificamos quea fragilidade na formação básica (matemática, leitura, compreensão e interpretação de textos) e o distanciamento dos estudantes de questões inerentes ao universo do trabalho, refletem na obtenção de êxito na carreira do profissional formado. Cabe ressaltar que o fato do trabalhador atingir êxito na sua carreira pode estar muitas vezes, atrelado, exclusivamente, a inserção deste indivíduo no mercado de trabalho, o que não é correto. No entanto, a relação entre qualificação e inserção no mercado não deve ser desconsiderada durante o processo de qualificação, pois a Educação Profissional também possui essa incumbência, no sentido de articular e monitorar as tendências econômicas e tecnológicas visando determinar a oferta de cursos e definir seus currículos. Palavras-chave: Ensino integrado; Ensino subsequente; Qualificação profissional. INTRODUÇÃO O debate em torno dos temas educação e qualificação profissional transformouse nas últimas décadas em assunto prioritário na agenda governamental brasileira, principalmente se observarmos a relação entre os índices de oferta de trabalho e o papel da educação como elemento estruturante das ações de políticas públicas. Parte integrante de um projeto de desenvolvimento nacional que busca consolidar-se como sustentável e inclusivo, a Educação Profissional e Tecnológica está sendo convocada não só para atender às novas configurações do mundo do trabalho, mas, igualmente, a contribuir para a elevação da escolaridade dos trabalhadores. 5327

2 2 Buscando aproximar-se desse projeto de desenvolvimento nacional, em 2008, houve a transformação de quase quatro dezenas de instituições em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2008a). Nesse mesmo ano, a Educação Profissional técnica de nível médio passou a constituir modalidade de Ensino Médio (seção IV-A da LDB), podendo ser desenvolvida nas modalidadesintegrada e subsequente ao Ensino Médio, denominada também como pós-médio (BRASIL, 2008b). Diante do cenário apresentado, o objetivo desse trabalho foi mapear a percepção de docentes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Campus Rio Grande, no que tange a temas relacionados à qualificação profissional e ao mercado de trabalho. METODOLOGIA A percepção de docentes, no que tange a temas relacionados à qualificação profissional e ao mercado de trabalho, foi mapeada a partir de entrevistas realizadas com 37 professores do IFRS Campus Rio Grande, nas quais se utilizou a metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), com adaptações (LEFEVRE & LEFEVRE, 2005; LEFEVRE & LEFEVRE, 2010). Os docentes foram escolhidos aleatoriamente a partir de um plano de amostragem simples, nível geral de inspeção III, com base na norma ABC-STD-105 (LOURENÇO FILHO, 1985). Ao todo, durante o período em que ocorreram as entrevistas, haviam cadastrados na instituição 104 docentes, resultando em uma amostragem de, no mínimo, 32 entrevistas a serem realizadas. As questões norteadoras pertenciam aos seguintes temas: (1) perfil do aluno que chega à Educação Profissional e sua relação com o curso e o mercado; (2) mudanças no ensino profissionalizante nos últimos anos; (3) demandas da indústria e sua relação com o ensino profissionalizante e (4) principais dificuldades para o desenvolvimento pleno da formação profissionalizante. Cabe salientar que neste trabalho serão apresentados apenas os resultados referentes ao primeiro tema dessa etapa da pesquisa. RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao analisarmos o discurso individual de cada entrevistado, verificamos que a formação inicial da maioria dos professores é na área de Engenharia (45,94%). Esse resultado já era esperado se considerarmos que grande parte dos cursos da instituição pertence a essa área tendo em vista a vocação industrial historicamente desenvolvida na cidade de Rio Grande/RS. Entretanto, no que se refere à atuação, foi possível observar que essa homogeneidade não se manteve. Os resultados demonstraram que 37,84% dos 5328

3 3 professores entrevistados possuíam um tempo de docência igual ou inferior a 5 anos; 18,92% já atuavam como docentes por um período entre 5 e 10 anos; o mesmo percentual (18,92%) estavam no magistério entre 10 e 20 anos; e 24,32% estavam nessa profissão por um período superior a 20 anos. Esses resultados indicam que os discursos obtidos durante as entrevistas não foram tendenciados pelo tempo de atuação do profissional entrevistado, tendo em vista a ampla gama de jovens professores, com tempo de carreira inferior a 5 anos, e de docentes com tempo de atuação superior a 10 anos. A diversidade do grupo entrevistado não se restringe apenas ao tempo de experiência, mas também a área de atuação de cada sujeito se considerarmos os nove cursos pesquisados. A percepção dos docentes referente ao perfil do aluno que ingressa no IFRS, Campus Rio Grande, bem como sua relação com o curso e o mercado de trabalho, podem ser observados na Tabela 1.Ao analisarmos a Tabela 1 é possível verificarmos que, no tocante ao perfil do aluno que ingressa na instituição, os resultados foram agrupados em duas categorias distintas: modalidade de ensino integrada e subsequente ao Ensino Médio. Entretanto, as diferenças entre os perfis dos alunos que atualmente ingressam na instituição não se resumem apenas ao formato legal de organização dos cursos. Os resultados revelam que o estudante ao ingressar na modalidade de ensino integrada, em geral, não visa à formação profissional e que seu objetivo é fazer um Ensino Médio de qualidade para inserção no ensino superior. Essa opção pela formação acadêmica expõe o dilema entre a garantia de um tempo maior de preparação na educação escolarizada e, portanto, a suspensão provisória de sua inserção no mundo produtivo (SIMÕES, 2010), e, por outro lado, a necessidade do mercado de trabalho de jovens brasileiros com qualificação técnica. Por outro lado, ao analisarmos o perfil do aluno que ingressa na modalidade subsequente, verificamos que o mesmo é um alunoprofissional, pois, normalmente, já está inserido no mundo do trabalho, tem vocação para a área técnica e ingressa no curso buscando qualificação profissional. Esse processo se justifica em virtude das novas exigências decorrentes da reestruturação produtiva, a superação do taylorismo-fordismo e a emergência de novas demandas aos trabalhadores (OLIVEIRA, 2013). Entretanto, mesmo considerando as divergências existentes entre os motivos que levam os estudantes a ingressarem em ambas as modalidades de ensino, verificamos que os educandos apresentam características semelhantes no que tange as deficiências 5329

4 4 apresentadas em termos de formação básica.apesar das importantes mudanças realizadas nos últimos anos, o Brasil ainda é caracterizado como um país de baixo nível educacional, tanto em termos de quantidade como em termos de qualidade. Esse fato é de extrema relevância se considerarmos que o desempenho do aluno na Educação Básica influenciadiretamente a qualidade do profissional formado, segundo a percepção dos docentes. CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentro desse cenário o que pretendemos destacar é que o diálogo entre a Educação Profissional e o mercado de trabalho não deve ser desconsiderado, porém não podemos reduzir a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) as demandas do mesmo, pois estaríamos negligenciando o conjunto de propostas que a constituem. Apesar do espaço social das práticas de ensino, pesquisa e inovação desenvolvidas na EPT possuir características diferenciadas daquelas desenvolvidas no espaço do mundo acadêmico, não se pode concebê-lacomo simples instrumento de ajustamento aos interesses econômicos, mas sim, como importante estratégia para que os trabalhadores tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade. REFERÊNCIAS BRASIL. Presidência da República. Lei n , de 16 de julho de (2008a). Altera dispositivos da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para redimensionar, institucionalizar e integrar as ações da educação profissional técnica de nível médio, da educação de jovens e adultos e da educação profissional e tecnológica. Disponível em: < Acesso em jul. de BRASIL. Presidência da República. Lei n , de 29 de dezembro de (2008b). Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Disponível em: < Acesso em jul. de LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. Depoimentos e discursos: uma proposta de análise em pesquisa social. Brasília, DF: Liberlivro, 2005, 97 p. LEFEVRE, F.; LEFEVRE, A. M. C. Pesquisa de Representações Sociais: um enfoque qualiquantitativo. Brasília, DF: Liberlivro, 2010, 224 p. LOUREÇO FILHO, R. Controle Estatístico de Qualidade. Livros Técnicos e Científicos, 1985, 223 p. OLIVEIRA, R. de. Demandas por qualificação profissional: Recife, segunda metade do século XIX. Revista Brasileira de Educação, v.18, n.54, jul.-set., SIMÕES, C. A. Educação Técnica e Escolarização de Jovens Trabalhadores. In: MOLL, J. (Org.). Educação Profissional e Tecnológica no Brasil Contemporâneo: desafios, tensões e possibilidades. Porto Alegre: Artmed, 2010, p

5 5 Tabela 1 Perfil do aluno ingressante no IFRS, Campus Rio Grande e sua relação com o mercado de trabalho. Categorias Perfil do aluno que atualmente ingressa na instituição na modalidade de ensino integrada ao Ensino Médio Perfil do aluno que atualmente ingressa na instituição na modalidade de ensino subsequente ao Ensino Médio Relação entre o curso, o aluno e o mercado de trabalho Termos descritos Nº de Julgamentos Aluno disperso, desmotivado, despreparado e imaturo. 7 Possui conhecimento superficial. Apresenta dificuldade na formação básica - matemática, 10 leitura, compreensão e interpretação de textos. Não possui interesse em ingressar no mercado. O curso é visto como ensino de qualidade para 21 ingresso no ensino superior. Não apresenta perfil para área técnica. 7 Apresenta baixo comprometimento com a formação. 2 Possui desconhecimento sobre o curso. 6 Apresenta dificuldades, está há muitos anos longe da escola, necessita de maior tempo para o 5 aprendizado. Aluno está inserido ou busca inserir-se na área de formação. Objetiva a qualificação profissional. 16 Procura um curso técnico de qualidade. 3 Fragilidade na formação básica - matemática, leitura, compreensão e interpretação de textos. 11 Possui dificuldades cognitivas. Possui afinidade/vocação/perfil pela área técnica 5 Falta de engajamento e motivação. 3 Possui desconhecimento sobre o curso. 1 Defasagem entre o curso oferecido e o mercado regional. Descompasso entre a formação profissional e a qualificação exigida pelo mercado. 8 Falta de comunicação ente o setor produtivo e a instituição. O profissional formado é absorvido pelo mercado. 3 As deficiências que o aluno tem no ingresso são sanadas durante o curso. 4 Deficiências no ensino básico refletem na qualidade do egresso