Agroecologia x Agronegócio: novas possibilidades para as transformações territoriais no/do cerrado
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1 1 Agroecologia x Agronegócio: novas possibilidades para as transformações territoriais no/do cerrado Alemar Moreira de Sousa alemarsousa@ifg.edu.br Introdução Este trabalho propõe evidenciar a agroecologia como alternativa política, social, ambiental, econômica e cultural frente ao modelo agroexportador de produção agrícola no/do cerrado. Este estudo resultou dos trabalhos da comissão de implantação do curso técnico integrado em Agroecologia no IFG Campus Cidade de Goiás, desenvolvido em A pesquisa realizada buscou elementos para elucidar um conjunto de questões que tangem a problemática da relação de oposição entre agronegócio e agroecologia tais como: Quais são limitações do modelo de produção agrícola tradicional, também conhecido como agronegócio? ; Qual é o papel social e político da agroecologia em sua relação de oposição ao agronegócio como alternativa sustentável econômica, social e politicamente? ; Quais são as estratégias de incentivo às pesquisas e à implantação de experiências de agricultura familiar de produção orgânica?. Para situar o problema a pesquisa buscou compreender primeiramente o conceito de agricultura tradicional ou agronegócio; relação de produção gestada no desenvolvimento do sistema capitalista industrial de produção no século XX, na chamada Revolução Verde, cujas origens podem ser encontradas já no processo de industrialização no século XIX, consolidando-se apenas na década de 50 do século passado. Essa agricultura industrial baseada na aplicação de tecnologias e insumos industriais (máquinas, equipamentos, fertilizantes, etc.) e em padrões industriais de produção (monocultura, sementes geneticamente melhoradas, etc.) firmou-se como modelo de produção agrícola hegemônico por meio da aplicação intensiva de capital com o fim de obter escala produtiva e maximizar o lucro. Tal sistema implicou no aumento contínuo da produtividade agrícola, mas também implicou na aceleração da concentração fundiária, no êxodo da população camponesa para as cidades e na destruição da cultura agrícola das populações
2 2 tradicionais desalojadas para a expansão da monocultura e do cultivo extensivo e intensivo. Paralelamente ao desenvolvimento do agronegócio e em grande medida por causa de seus impactos negativos, ambientais, econômicos e sociais, surgiu a agroecologia. A agroecologia somente pode ser entendida na sua plenitude quando relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade. Nesse sentido, a agroecologia se concretiza quando, simultaneamente, cumpre com os ditames da sustentabilidade econômica (potencial de renda e trabalho, acesso ao mercado), ecológica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais), social (inclusão das populações mais pobres), cultural (respeito às culturas tradicionais e locais), política (movimento organizado para a mudança) e ética (mudança direcionada a valores morais transcendentes). Para a realização da pesquisa utilizamos como procedimento metodológico: o levantamento bibliográfico; análise de dados censitários dos órgãos de planejamento estadual e federal (SEPLAN-GO, IBGE); releitura dos dados apresentados pelo Observatório do Mundo do Trabalho acerca do estudo de implantação do Campus Cidade de Goiás (IFG/MEC) e elaboração do Projeto Político Pedagógico do Curso Técnico Integrado em Agroecologia. Objetivos Pensar no curso para formar profissionais com ativo compromisso com a cidadania, embasados humanística, científica e tecnologicamente, capazes de contribuir decisivamente para o aproveitamento do potencial agroecológico, identificando e desenvolvendo estratégias que possam resultar na redução do êxodo rural, agregando valor a produção do campo, na perspectiva da melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas, da conservação do meio ambiente e da promoção do desenvolvimento sustentável. Contribuir com a formação arranjos econômicos, sociais e culturais vinculados ao desenvolvimento da agroecologia na microrregião do Rio Vermelho com o fim de promover o desenvolvimento sustentável e fixação da população. Elaborar propostas para contribuir para o desenvolvimento intelectual, moral e político por meio da formação voltada para o pensamento crítico independente da formação técnico.
3 3 Contribuir com a avaliação das atuais condições de esgotamento de modelo de produção agrícola de alimentos por meio do complexo agroindustrial de mercado, mais conhecido como Agronegócio; Compreender a o papel social e político da Agroecologia em sua relação de oposição ao Agronegócio como alternativa econômica, social e política sustentável; Contribuir com a integração de Políticas Públicas de Garantias ao Desenvolvimento da Agroecologia; Contribuir para consolidar a importância da decisiva mulher camponesa no movimento da agroecologia tanto por seu papel decisivo nas famílias como no trabalho e na organização política; Contribuir com a pesquisa e implantação de experiências de agricultura familiar de produção orgânica (agroecologia). Contribuir para a formação pautada no conhecimento, na prática e na reflexão dos princípios fundantes dos Direitos Humanos: dignidade humana, igualdade de direitos, reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades, laicidade do Estado, democracia na educação, transversalidade, vivência e globalidade e sustentabilidade socioambiental. Metodologia Para a realização da pesquisa utilizamos como procedimento metodológico o levantamento bibliográfico de estudos educacionais e afins no tocante aos temas propostos acerca da Agroecologia. Trabalhar em consonância com os dados das entidades governamentais (IBGE, SEPLAN-GO,etc) e Observatório do Mundo do Trabalho sobre as demandas regionais do Curso de Agroecologia. Participação coletiva com a Comissão Pastoral da Terra CPT, Diocese de Goiás, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goiás, Universidade Federal de Goiás UFG, Universidade Estadual de Goiás-UEG dentre outros parceiros que pensaram o curso de Agroecologia. Resultados preliminares O desenvolvimento do sistema capitalista indústria de produção produziu no século XX, a chamada Revolução Verde cujas origens podem ser encontradas já no processo de
4 4 industrialização no século XIX, mas que se consolidou após na década de 50 do século passado. Essa agricultura apoiada no sistema industrial de produção por meio da aplicação de tecnologias e insumos industriais (máquinas, equipamentos, fertilizantes, etc.) e em padrões industriais de produção (monocultura, sementes geneticamente melhoradas, etc.) consolidouse como modelo de produção agrícola baseado na aplicação intensiva de capital com o fim de obter produtiva e maximizar o lucro. Este modelo de produção se expandiu e se tornou dominante no Brasil em grande parte por conta da ação do Estado : No Brasil, o processo de modernização da agricultura foi muito impulsionado pelo Estado, principalmente por meio da política de crédito rural subsidiado, que vigorou no período de 1965 a 1980, para viabilizar a adoção do pacote tecnológico, concentrando-se entre os agricultores patronais7, de modo que foi mantida a tendência histórica elitista das políticas estatais. O subdesenvolvimento de nossa agricultura e do meio rural era atribuído ao seu atraso tecnológico, tomando as teorias do insumo moderno (Schultz, 1965) e do difusionismo (Rogers e Shoemaker, 1974) como referenciais de análise. (SIQUEIRA, 2011). Este modelo de produção implicou no aumento contínuo da produtividade agrícola, mas também implicou na aceleração da concentração fundiária, no êxodo da população camponesa para as cidades e destruição da cultura agrícola das populações. tradicionais desalojadas para a expansão da monocultura e do cultivo extensivo. A concentração fundiária e o êxodo rural são responsáveis em grande medida pelo agravamento das condições e vida nos centros urbanos. Para além do impacto social dessa agricultura industrial e convencional (também conhecida como agronegócio), é crescente a percepção científica, social e política dos efeitos danosos da agricultura convencional para o
5 5 meio ambiente, dados os efeitos nocivos de insumos industriais como agrotóxicos, vegetais e animais geneticamente modificados e monocultura para a conservação dos solos, dos recursos hídricos e para a diversidade animal e vegetal. A parte de qualquer polêmica, somados os efeitos econômicos concentração de renda sociais exclusão social e agravamento das condições de vida dos centros urbanos e ambientais contaminação por produtos tóxicos do ar, do solo e dos recursos hídricos e dos alimentos ameaça à segurança alimentar e à diversidade biológica em esfera global, pode-se observar que existe a necessidade econômica, social e política da ação efetiva do Estado para atender às demandas do que se pode vislumbrar como uma crise do modelo industrial e convencional de agricultura dada a necessidade de equilibrar as diferentes dimensões do desenvolvimento nacional: Não obstante o modelo que se venha a utilizar, deve-se ter em mente que, quando se analisa o agronegócio, não basta considerar fatores puramente econômicos e a competitividade como a única orientação do modelo. A existência de um trade off envolvendo competitividade e cooperação revela que o homem, ao ocupar a principal posição no modelo, pela sua própria condição de gestor e beneficiário do agronegócio, deve perseguir os modelos que apontem para um desenvolvimento sustentável do planeta como um todo. Nessa perspectiva, as ações devem pautar-se por uma visão em que haja maior equilíbrio entre as dimensões econômicas, sociais, políticas, ambientais e éticas (SEKIGUCHI; PIRES, p. 199). Paralelamente ao desenvolvimento do agronegócio e em grande medida por causa de seus impactos negativos, ambientais, econômicos e sociais, surgiu a agroecologia. A agroecologia pode se definida de diversas maneiras, mas no que tange ao objeto deste projeto, importam duas de suas dimensões: 1. A agroecologia está associada à agricultura familiar, como movimento das populações tradicionais, camponeses, indígenas, pescadores, quilombolas e outros que mantém formas
6 6 tradicionais de produção e neste sentido, enquanto se constitui em articulação econômica, social e política dessas populações no sentido da preservação de seu modo de vida e busca de alternativas para a participação não subordinada na sociedade local e nacional, pode constituir-se como arranjos econômicos e sociais sustentáveis. 2. A agroecologia está associada ao desenvolvimento científico de uma compreensão ecológica comprometida com a sustentabilidade ambiental da produção agrícola. Este desenvolvimento científico compreende o conhecimento dos efeitos nocivos da agricultura convencional, nas esferas ambiental e humana, bem como pelo desenvolvimento de técnicas e tecnologias alternativas de produção e de alternativas de organização do trabalho, da propriedade fundiária, da relação com o mercado e da regulação estatal da atividade agrícola.. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 5.154, de 23 de julho de Regulamenta o 2º do art. 36 e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências. Brasília, DF, BRASIL. Decreto nº 7.234, de 19 de julho de Dispõe sobre o Programa Nacional de Assistência Estudantil - PNAES. Brasília, DF, BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF, BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica. Documento Base Educação Profissional Técnica de Nível Médio Integrada ao Ensino
7 7 Médio. Brasília, DF, BRASIL. Lei nº , de 29 de dezembro de Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Brasília, DF, BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 2, de janeiro de Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o ENSINO MÉDIO, a serem observadas na organização curricular pelos sistemas de ensino e suas unidades escolares. Brasília, DF, BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 4, de 6 de junho de Dispõe sobre alteração na Resolução CNE/CEB nº 3/2008, definindo a nova versão do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio. Brasília, DF, BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 6, de 20 de setembro de Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Brasília, DF, FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria, RAMOS, Marise (orgs.). Ensino Médio Integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, MACHADO, L. R. de Souza. Organização da Educação Profissional e Tecnológica por Eixos Tecnológicos. Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 16, n. 30, p , jan./jun MEC (Ministério da Educação). Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Disponível em: Último acesso em 05/05/2013. Observatório Nacional da Rede Federal de Educação Profissoinal, Científica e Tecnológica
8 8 Núcleo Centro-Oeste. Relatório de Estudo/Pesquisa Natural, Social, Econômica e Educacional do Município de Goiás e Região Limítrofe, da Microrregião Rio Vermelho e da Mesorregião Noroeste Goiano. Jun SILVA, Luiz Guilherme Teixeira, VENTURIERI, Adriano e HOMMA, Alfredo Kingo Oyama. A dinâmica do agronegócio e seus impactos socioambientais na Amazônia brasileira. Novos Cadernos NAEA, v. 11, n. 2, p , dez SIQUEIRA, Haloysio Miguel de. Transição agroecológica e sustentabilidade econômica dos agricultores familiares do território do Caparaó-ES. Tese de Doutorado. Campos do Goytacazes, Rio de Janeiro: Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Lista do Patrimônio Mundial no Brasil. Disponível em: Último acesso em: 05/05/2013.
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