PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº

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1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SÃO PAULO, é apelada MARIA VANUSLENE ARRAIS MOTA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 20ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores SALLES ROSSI (Presidente sem voto), MOREIRA VIEGAS E LUIS MARIO GALBETTI. São Paulo, 28 de abril de James Siano Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: APEL. Nº: COMARCA: São Paulo MM Juiz(a) de 1º grau: Dr(a). São Paulo APELANTE: Prefeitura do Município de São Paulo APELADO: Maria Vanuslene Arrais Mota AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. Resultado de exame de HIV falso-positivo. Sentença de procedência, condenando a ré a indenizar a autora em R$ ,00, a título de danos morais, corrigidos desde o ajuizamento e acrescido dos juros legais a partir da citação. Estipulada a verba honorária em 10% do valor atualizado da condenação. Redistribuído por força da Resolução 737/2016. Apela a ré, alegando ilegitimidade para figurar no polo passivo, por não ser a responsável contratual pela administração das unidades de saúde; não houve negligência médica; não configuração de culpa, do nexo causal, da responsabilidade civil e do dever de indenizar; paciente foi atendida de forma correta e estava ciente da possibilidade de resultado falso-positivo; valor deve ser diminuído, sob pena de enriquecimento ilícito; condenação a título de honorários é elevada; correção monetária deve incidir desde a fixação dos danos morais (Súmula 362 do STJ). Cabimento parcial. A ré é legitimada para figurar no polo passivo. Serviço que foi prestado à autora possui natureza pública, presente a responsabilidade objetiva do estado, devendo responder a municipalidade pelos supostos danos sofridos. No mérito, embora tenha sido chamada para coleta de segunda amostra, o fato se deu em decorrência da provável contaminação laboratorial. Se assim o foi, a demandante nem sequer deveria ter recebido o 1º resultado que indicava ser ela portadora de HIV. A convivência com esse fator por semanas é passível de trazer graves sequelas à examinada e ao relacionamento com seu parceiro, em especial pela gravidez. Conduta não foi de prudência, ao divulgar o resultado de um exame, com alta probabilidade de resultado falso-positivo, antes de novo exame necessário à confirmação da doença. Presente o dano moral e o dever de indenizar. A indenização pela dor moral suportada pela autora será adequadamente compensada com a quantia de R$ ,00, e não R$ ,00, estipulado na sentença, com juros desde a citação (405 CC) e correção monetária pela Tabela Prática, a partir da prolação do acórdão. Mantida a verba honorária em 10% da condenação, pois adequada à hipótese. Recurso parcialmente provido. Trata-se de apelação interposta contra a decisão de f. 82/84, que julgou procedente a ação indenizatória por danos morais, movida por Maria Vanuslene Arrais Mota contra Prefeitura do Município de São Paulo, condenando a ré a indenizar a autora em R$ ,00, a título de danos morais, corrigidos Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº DJL 2

3 desde o ajuizamento e acrescido dos juros legais a partir da citação, em decorrência de a demandante ter obtido resultado falso-positivo para exame de HIV. Estipulada a verba honorária em 10% do valor atualizado da condenação. Apela a ré, alegando: (i) ilegitimidade para figurar no polo passivo, por não ser a responsável contratual pela administração das unidades de saúde; (ii) não houve negligência médica; (iii) não configuração de culpa, do nexo causal, da responsabilidade civil e do dever de indenizar; (iv) paciente foi atendida de forma correta e estava ciente da possibilidade de resultado falsopositivo; (v) valor deve ser diminuído, sob pena de enriquecimento ilícito; (vi) condenação a título de honorários é elevada; (vii) correção monetária deve incidir desde a fixação dos danos morais (Súmula 362 do STJ) (f. 87/93). Recurso recebido e respondido (f. 94 e 96/99). Distribuído inicialmente à 4ª Câmara de Direito Privado ao Relator Des. Fabio Quadros, por força da Portaria 1/2016 e Resolução 737/2016, deste Egrégio Tribunal de Justiça, este recurso foi redistribuído à 20ª Câmara Extraordinária do Direito Privado. É o relatório. Procede em parte o inconformismo. Narrou a autora que, ao dar início a acompanhamento prénatal e à realização de exames, obteve diagnóstico positivo para exame de HIV, mas que após passa por outro exame em local distinto o resultado foi negativo (f. 14, 19 e 21). A ré é legitimada para figurar no polo passivo. Ainda que não seja a responsável contratual direta pela administração das unidades de saúde, o serviço que foi prestado à autora possui natureza pública, presente a responsabilidade objetiva do estado, devendo responder a municipalidade pelos supostos danos sofridos. No mérito, importa observar que, conquanto seja sustentável Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº DJL 3

4 a alta probabilidade de um resultado falso-positivo, inexistem elementos que demonstrem que a autora tivesse sido advertida dessa possibilidade. Embora tenha sido chamada para coleta de segunda amostra, o fato se deu em decorrência da provável contaminação laboratorial (f. 26). Ora, se assim o foi, a demandante nem sequer deveria ter recebido o 1º resultado que indicava ser ela portadora de HIV. A relação entre os usuários e o laboratório é de consumo, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor, assim, a responsabilidade do laboratório se torna objetiva, nos termos do art. 14, sendo despicienda qualquer apuração a respeito da culpa. É necessário ponderar que aos olhos do leigo inexiste a possibilidade de um resultado falso-positivo, e a convivência com esse fator por semanas, é passível de trazer graves sequelas à examinada e ao relacionamento com seu parceiro, em especial pela gravidez. Não se admite o diagnóstico emitido sem reflexão a la ligera, sin tomar en cuenta los recursos necesarios (SANTOS BRIZ, La responsabilidad civil, Madrid, Montecorvo, 1993, 7ª edição, II, p. 899), sendo necessário enfatizar que não está em pauta de discussão o equívoco, mas a menção do resultado positivo. Importa considerar que a conduta não foi de prudência, ao divulgar o resultado de um exame, com alta probabilidade de resultado falsopositivo, antes de se assegurar por meio de um novo exame, da confirmação da doença referida no laudo. A autora fez prova do fato constitutivo do direito, sendo o dano moral passível de compensação, pois incontroverso. A dor não possui dimensão monetária, sendo insuscetível de Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº DJL 4

5 avaliação estrita, desta forma, assume grande importância o prudente arbítrio do juiz, que deve fundamentar-se na equidade e razoabilidade. Analisados os fatos, tem-se que a indenização pela dor moral suportada pela autora será adequadamente compensada com a quantia de R$ ,00, e não R$ ,00, estipulado na sentença, com juros desde a citação (405 CC) e correção monetária pela Tabela Prática, a partir da prolação do acórdão. adequada à hipótese. Mantida a verba honorária em 10% da condenação, pois Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso. JAMES SIANO Relator Apelação / Reexame Necessário nº Voto nº DJL 5