5. UM AEROPORTO NO GRANDE ABC PAULISTA: OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO

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1 Nota Técnica 5. UM AEROPORTO NO GRANDE ABC PAULISTA: OPORTUNIDADES DE DESENVOLVIMENTO Volney Aparecido de Gouveia Resumo Executivo O forte crescimento da demanda por transporte aéreo no Brasil nos últimos anos, associado à expectativa de que esta demanda dobre nos próximos vinte anos, impõe o desafio aos governos locais da necessidade de ampliação da infraestrutura aeroportuária. A Região Metropolitana de São Paulo dispõe de apenas dois aeroportos com operações de voos regulares (Congonhas e Guarulhos), cujas capacidades estão no limite. Para garantir a fluidez da demanda, o Grande ABC Paulista se constitui em alternativa para instalação de um novo aeroporto no conceito cidade aeroportuária para operações de voos regulares, com potencial para gerar 10 mil novos empregos, contribuindo para o desenvolvimento da região e da própria aviação brasileira. Aeroportos são estruturas de transporte complexas que movimentam em grande escala passageiros, cargas, aeronaves e profissionais. Sua função deixou de ser apenas primária, isto é, de movimentação de passageiros e carga. Modernamente, fala-se em cidade aeroportuária, aquela que incorpora ao seu core business atividades de comércio, hotelaria, centros de eventos, serviços automotivos, locações, etc. Atualmente, são mais de aeroportos espalhados por 175 países (ACI, 2017). O Airport Council International - ACI estima que, em 2017, os 919 aeroportos - que movimentaram 78% de todo o tráfego mundial - geraram uma receita de US$ 161,3 bilhões, sendo 56% com atividade aeronáutica, 39,4% não aeronáutica (concessões, estacionamento, locação de espaço e outros) e 2,6%, outras receitas. A receita global por passageiro foi de US$ 17,27 e o custo por passageiro, de US$ 13,55. Isto produziu uma margem de lucro operacional de 22,2% e um retorno sobre o capital investido de 7,3%. Foram 9,3 bilhões de passageiros movimentados nestes aeroportos. No período entre 2005 e 2015, a demanda por transporte aéreo no Brasil avançou mais de 100%, passando de 54 milhões de passageiros em 2006 para 109 milhões de passageiros em 2016 (ANAC, 2017). Para o período entre 2017 e 2037, segundo a Associação Nacional de Empresas Administradoras de Aeroportos - ANEAA (2018), a previsão é de que este número dobre, chegando o país à marca de 200 milhões de passageiros em 2037 (taxa média de 3,35% ao ano). A projeção de carga aérea também é promissora: 84% de crescimento em 20 anos nos aeroportos sistêmicos e regionais. A região Sudeste continuará liderando o volume de carga transportada no Brasil (62% do total). É neste contexto de forte crescimento da aviação que o Grande ABC Paulista se apresenta como espaço econômico capaz de contribuir para os avanços da aviação comercial brasileira, não apenas no âmbito da indústria aeronáutica, mas, sobretudo, da aviação comercial, aquela responsável pelo transporte de passageiros e cargas. Atualmente, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) possui apenas dois aeroportos (Guarulhos e Congonhas). Estes aeroportos já estão com sua capacidade no limite e, portanto, sem possibilidades de ampliação de sua infraestrutura para acomodar as projeções de crescimento do tráfego (Oliveira & Alves, Carta de Conjuntura da USCS nº 03 ago

2 2008). A título de comparação, a Grande Londres (GL), que tem uma população equivalente a 40% da população da RMSP, conta com seis aeroportos (Heathrow, Gatwick, Stansted, Luton, City e Southend) que, juntos, movimentam quase 2,5 vezes o volume de passageiros de Guarulhos e Congonhas. Enquanto Londres levou 13,4 anos em média para construir cada aeroporto, São Paulo levou 51 anos (Congonhas - CGH em 1934 e Guarulhos - GRU em 1985). Os aeroportos estão localizados de forma a atender ao tráfego do seu entorno e permitir também a operação de empresas de baixo custo (low cost). Com isto, os aeroportos garantem níveis de competitividade entre empresas e transferem os ganhos de produtividade aos passageiros. A figura 1 mostra a distribuição equidistante dos seis aeroportos da cidade londrina: Figura 1 Distribuição espacial dos 6 aeroportos da Grande Londres Fonte: Google Maps. Elaboração própria do autor, para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS CONJUSCS. O atraso na construção de novos aeroportos na Região Metropolitana de São Paulo vem resultando, nos últimos anos, no estrangulamento da infraestrutura aeroportuária existente (CGH e GRU). Isto, por sua vez, limita a expansão da própria demanda do transporte aéreo, exigindo assim a construção de um novo aeroporto. Geograficamente, o Grande ABC Paulista se constitui em área apropriada para acomodar um novo aeroporto, não apenas pela sua localização, mas, sobretudo, pelo seu potencial de mercado: PIB de R$ 112 bilhões e mercado consumidor com 2,5 milhões de pessoas, sem considerar as regiões do entorno. Comparando com a Grande Londres, a população do Grande ABC Paulista representa 30% da londrina e 18% de seu PIB;12% da população da Região Metropolitana de São Paulo e 12% de seu PIB. A tabela 1 abaixo mostra alguns indicadores comparativos entre a Região Metropolitana de São Paulo, a Grande Londres e o Grande ABC Paulista. 33 Carta de Conjuntura da USCS nº 03 ago. 2018

3 Quando comparamos geograficamente as regiões de São Paulo e Londres, cujo número de habitantes é 40% menor que a população da Região Metropolitana de São Paulo, identifica-se a necessidade de construção de novos aeroportos nesta região. O cinturão populacional da mesma região se espraiou e suas populações precisam realizar grandes deslocamentos para se chegar a Congonhas ou Guarulhos. Alguns projetos de novos aeroportos foram aventados no passado recente, como o de Caieiras-CCR em 2015 e o apresentado pela então Gestão Municipal de São Bernardo do Campo em 2014 ao Ministro da Aviação Civil (CONCEIÇÃO et al, 2015). Entretanto, o cenário de crise econômica e política dos últimos três anos abortou as possibilidades de se levar estes projetos adiante. No contexto de expansão aventada para os próximos anos, torna-se necessário retomar os projetos de construção de novos aeroportos pelas autoridades municipais. Um novo aeroporto deveria movimentar passageiro e carga; e ter o mesmo porte do aeroporto de Congonhas, com potencial para receber 20 milhões de passageiros/ano e 40 mil toneladas de carga/ano, contribuindo para a geração de 10 mil novos empregos (Aeroportos Brasil Viracopos). Expandindo-se o cenário, e considerando o mesmo número de aeroportos da Grande Londres, a Região Metropolitana de São Paulo poderia contar com mais três novos aeroportos: Caieiras, Itapevi e Suzano-Mogi das Cruzes, com potencial para gerar 30 mil novos empregos. A figura 2, disposta no Anexo, apresenta um cenário hipotético de distribuição geográfica de novos aeroportos na Região Metropolitana de São Paulo. Se levarmos em conta o potencial populacional e econômico da Região Metropolitana de São Paulo, há insuficiência de infraestrutura aeroportuária na região. A expansão do mercado aéreo brasileiro abre perspectivas para o desenvolvimento de novos aeroportos, notadamente na Região do Grande ABC Paulista, que assiste à carência do modal aéreo para atender suas atividades produtivas e os fluxos de passageiros. A rentabilidade média de 22% por passageiro, segundo o Airport Council International - ACI, justifica a realização de estudos mais detalhados para se explorar o conceito de cidade aeroportuária e adotá-lo em novas construções na Região Metropolitana de São Paulo. É preciso que os gestores públicos da Região do Grande ABC Paulista voltem a se apropriar desta agenda e a levem adiante, não apenas para contribuir com o desenvolvimento da região, mas também com o da Região Metropolitana, o do Estado de São Paulo e da própria aviação comercial brasileira. Referências bibliográficas: Tabela 1 Comparativo de Indicadores Socioeconômicos Regiões Selecionadas Indicadores RMSP Grande Londres Grande ABC População (mi) 21,4 8,5 2,5 PIB per capita (EUR) Área (km2) IDH 0,79 0,91 0,79 PIB (EUR bi) Elaboração própria do autor, para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS CONJUSCS. Fonte: IBGE e Eurostat. ACI. Relatório anual de tráfego do aeroporto mundial, Disponível em: annual-world-airport-traffic-report-2017/. Data de acesso: 15 de julho de ACI. AirportEconomics Disponível em: Data de acesso: 15 de julho de ANAC. Dados do Anuário do Transporte Aéreo Disponível em << dados-e-estatisticas/mercado-de-transporte-aereo/anuario-do-transporte-aereo/dados-do-anuario-do- Carta de Conjuntura da USCS nº 03 ago

4 transporte-aereo>>. Data de acesso: 15 de julho de ANEAA. Projeção de Demanda da Aviação Civil, Passageiros, Aeronaves e Cargas Disponível em Data de acesso: 15 de julho de CONCEIÇÃO, Jefferson José da; KLINK, Jeroen Johannes; OLIVEIRA, Nilza Aparecida de; ANAV, Roberto Vital. A cidade desenvolvimentista: crescimento e diálogo social em São Bernardo do Campo, SP: Fundação Perseu Abramo, Data de acesso: 15 de julho de OLIVEIRA, P. Os Aeroportos e a Adaptação aos Desafios do Crescimento, ISEC. Disponível em < dited.bn.pt/31623/2610/3187.pdf>. Data de acesso: 15 de julho de OLIVEIRA & ALVES. Estudo da Capacidade Aeroportuária da Grande São Paulo. Instituto Tecnológico de Aeronáutica, São José dos Campos, SP, Brasil, Outubro, 20 a 23, Disponível em < br/xivencita/infra02.pdf> Anexos Figura 2 Cenário de Distribuição espacial dos 6 aeroportos da RMSP Elaboração própria do autor, para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS CONJUSCS. Fonte: Google Maps. Tabela 2 Dados de Aeroportos da Grande Londres Elaboração própria do autor, para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS CONJUSCS. Fonte: Civil Aeronautics Board -CAB (nda). 35 Carta de Conjuntura da USCS nº 03 ago. 2018

5 Tabela 3 Dados de Aeroportos da RMSP e Campinas Elaboração própria do autor, para o Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS CONJUSCS. Fonte: Infraero, ANAC (2017). Carta de Conjuntura da USCS nº 03 ago