UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE ARTES, FILOSOFIA E CULTURA DEPARTAMENTO DE ARTES
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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE ARTES, FILOSOFIA E CULTURA DEPARTAMENTO DE ARTES Disciplina: Dramaturgia D Docente: Letícia Mendes Discentes: Natali Bentley Leme Adriana Silva Bárbara Lopes Sebastião Caetano Hideo Neto LIMPEZA SUB-HUMANA Ouro preto 2010
2 LIMPEZA SUB-HUMANA Moço Menina Enfermeiras Moradores de rua CENA I (Menina está na rua em meio ao lixo) (canta e brinca com restos de comida e papéis) Se está rua, se está rua fosse minha, eu mandava, eu mandava, ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar... (Entra o moço. Ele come deliciosamente uma maçã. Ele veste-se de maneira simples, uma calça jeans e camiseta branca) MOÇO (olhando-a maliciosamente) Oi bonitinha! (ela o olha) Gosta de doce? O tio pode pagar um sorvete pra você? Mas, sorvete não mata a fome, né tio? MOÇO (aproximando-se da menina, cautelosamente) Você ta com fome de que? O tio tem dinheiro aqui. Duvido, tio... A fome que eu tenho... (pausa. Ela nega com a cabeça) Ninguém... MOÇO Você quer comer um sonho? (sem hesitar em sua resposta, empolgada) Um sonho? Eu? Eu quero! (levanta-se e acompanha o moço, numa euforia muito grande) Nossa tio, tinha uma menina que ficava toda feia que nem eu, mas um dia eu vi ela muito bonita. Tinha até maquiagê. (ele a leva para os fundos, sem o público possa presenciar a cena. Em meio aos gemidos, ela canta) Peru-lito que bate-bate, peru-lito que já bateu, quem goza de mim é ele quem gosta dele sou eu
3 (a música é cantada repetida vezes, mudando ritmos e intensidades. Até que a cena é tomada pelo silêncio, e aos fundos, surge a menina com a cara pálida e cansada Ela sai suja com espuma de pasta de dente próximo da região do púbis. E começa a pedir informação ao público.) Ei moço, você sabe onde fica uma lugar que limpa agente? (e para um outro) Moça, você sabe de um lugar que limpa as pessoas? Para que é um lugar que todo mundo pode ir. Você sabe onde é? (e para outro) Moço, um lugar que limpa todo mundo, você sabe onde é? CENA II (cansada. Em busca desse lugar, segue para o segundo espaço, O centro Clínico da Limpeza Subumana Esse espaço deve ser obrigatoriamente branco com cheiro de naftalina e álcool. O público deve acompanhar a menina que ao chegar nesse espaço se depara com as enfermeiras) (usa um megafone. Assim como a enfermeira número 2, usará roupas brancas e luvas) Olá senhores pacientes clientes. Venham passar por um processo de limpeza rápida em nossa clinica. O centro clínico da limpeza subumana tem o prazer em recebê-los. O prazer em recebê-los (mostrando a sala) Aqueles que quiserem tirar toda sua sujeira, e tornar-se limpo entre por aqui. Iremos passar por procedimentos delicados, dos quais é preciso estar sempre muito atento. Primeira regra: Não encoste no outro. Não pode haver nenhum tipo de contato. Portanto, mantenham-se distantes.
4 Não encoste! Não encoste! Mantenham-se distantes. É proibido o contato! Deixe seus sapatos com a outra enfermeira, logo na entrada. Se organizem em filamentos! Em filamentos! (organizam as pessoas em fileiras) Mantenham as mãos distantes dos olhos. Não é permitido o uso de tabaco no local. Para as mulheres incomodadas, retira seus absorventes internos e externos deixando-os ao lado direito, em uma sacola preta. Retira restos de comida e migalhas do corpo. Mantenham as mãos sempre limpas! (a menina em meio as outras pessoas, se sente incomodada, e começa a perguntar baixo para as pessoas, qual é exatamente o procedimento) Queridos pacientes clientes, por favor, coloquem as mãos para frente, com a palma para cima para que possa desinfetar. (passa álcool na mão de todos) (Ao chegar na menina, ela diz baixinho para a enfermeira 1) Moça, ta muito sujo. Tá muito sujo aqui (aponta para a região do púbis) (a enfermeira ignora) (insistindo na informação, encosta na enfermeira) Moça, por favor, ta sujo. Me ajuda, moça, ta sujo. (Ao encostar na enfermeira, a cirene é ligada, atrapalhando o procedimento de limpeza, tendo este que ser cancelado e todos os pacientes-clientes são despejados à rua) Já foi dito que a primeira regra é NÃO ENCOSTAR! O procedimento de limpeza foi cancelado devido ao não cumprimento de regras básicas. Retirem-se e muito obrigada queridos senhores pacientes clientes. Agradecemos a preferência.
5 CENA III (Ao voltar para a rua, a menina senta-se. Aproxima-se dela um outro ator representando o mesmo moço da primeira cena.desta vez ele come deliciosamente um sonho de padaria. Ele veste-se de maneira simples, uma calça jeans e camiseta branca) MOÇO (olhando-a maliciosamente) Oi bonitinha! (ela o olha) Gosta de doce? O tio pode pagar um sorvete pra você? Mas, sorvete não mata a fome, né tio? MOÇO (aproximando-se da menina, cautelosamente) Você ta com fome de que? O tio tem dinheiro aqui. Duvido, tio... A fome que eu tenho... (pausa. Ela nega com a cabeça) Ninguém... MOÇO Você quer comer um sonho? (ela levanta a cabeça) Não, não quero não (ele insiste em aproximar-se dela até que ela grita. Entra o morador de rua número 1 o mesmo ator que antes era o primeiro moço - ) MORADOR 1 O que ta aconteceno aí? Tira a mão da garotinha, malandro. Saivazado se não se furo o bucho. Quem não me dá ligança sai pelo ralo. (o moço sai, menina só olha para o morador) MORADOR 1 E ocê, menina? Fica esperta! Aqui, é cada um com o seu. Tó, fica de boa (ele oferece a menina uma sacola, para cheirar cola. Ela aceita. O corpo começa a pesar, e ao se encostar no chão, ela observa algumas balas e pirulitos e resolve vendêlos para o público.) O moço dá um real? Paga um real na bala, moço. Aqui, quer bala? Moço? Duas por um real só.
6 CENA IV (aos poucos, a menina começa a entrar num processo de alucinação) (olhando para o céu, próximo do público) Ala, ala... Ala tia..o passarinho...aala... o coelhinho, ali.. (ri) Ele tem dentes grandes... (Aos poucos, sua imaginação a leva para o medo de pavor. Vê ratos, baratas... Até que num crescente começa a se coçar freneticamente) Cooooorre moça, ai, ali, tem um rato... corre.. um não, vários. Muitos com muitas baratas! São todos gordos. Sujos, gordos. Corre!!! Ai, ai.. tão subindo formigas.. Muitas formigas. São formigas. Elas tão picando, moça. Me ajuda tia. Ta coçando. Muito. Coça. Coça. Ai, acho que é do doce que comi, foi o sonho. Ai, formigas... Foi o sonho!!! (cada vez mais frenética) Tiiira, tira, tira!!!! Por deus, tira...! (Aos poucos a cena é tomada por outros moradores de rua. Os cinco atores que participam com outros personagens durante a cena, agora aparecem nas figuras dos moradores. É feito um momento de silêncio, e todos os moradores que aos poucos tomaram conta da cena, começam a dizer depoimentos. Este processo será um trabalho individual de improvisação, sobre o material coletado de mídias sobre moradores de ruas e depoimentos durante o processo).
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