PARTICIPAÇÃO EM SAÚDE E O PANORAMA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA RESUMO
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- William de Paiva Peixoto
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1 PARTICIPAÇÃO EM SAÚDE E O PANORAMA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA RESUMO A participação em saúde é uma das diretrizes constitucionais do sistema de saúde brasileiro. Passados mais de anos da promulgação da Constituição Brasileira, mostrouse necessário proceder uma investigação com o objetivo de verificar se a produção científica sobre o tema da participação em saúde ainda é assunto que se encontra presente nas publicações nacionais. A relevância do tema para o âmbito do direito sanitário é inegável, vez que no Brasil, é impossível dissociar o reconhecimento da saúde enquanto um direito de cidadania da participação popular. Empreendeu se uma revisão bibliográfica feita na Scientific Electronic Library Online (SciELO), das produções de artigos científicos publicados no período de Os resultados demonstram que brasileiros e estrangeiros continuam pesquisando e publicando na temática da participação em saúde.
2 PARTICIPAÇÃO EM SAÚDE E O PANORAMA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA Sandra Mara Campos Alves INTRODUÇÃO A participação em saúde é temática que sempre ocupa papel de relevância na discussão das políticas de saúde brasileiras. A Constituição Federal Brasileira promulgada em 0 de outubro de 988 ao estabelecer o princípio democrático de que todo poder emana do povo (art. º, único), privilegiou a participação da sociedade civil não apenas na escolha dos líderes, mas na discussão, problematização, questionamento e proposição de alternativas, propiciando a participação ativa dos cidadãos no processo político e nas tomadas de decisões. No campo da saúde, a participação da sociedade civil é anterior ao texto político. Mesmo nos períodos de ausência de democracia, marcados pela intensa repressão de qualquer forma de mobilização social, e extinção de mecanismos democráticos de representação política, o movimento sanitário se mostrava atuante e combativo (FLEURY, 00) O movimento conhecido como reforma sanitária defendia uma política de saúde universal, equânime, onde o acesso aos serviços e ações de saúde não estivessem atrelados ao trabalho formal. Ademais, defendia a construção da política pública por meio da participação popular (FLEURY e MENDONÇA, 99). O movimento sanitário era composto não apenas por profissionais do sistema de saúde, mas por intelectuais, movimentos populares em sua mais ampla diversidade e por parcela da burocracia. Todos em torno de um objetivo único, a luta por um sistema universal público e gratuito (FLEURY e MENDONÇA, 99). Essa movimentação no campo político e social foi o pano de fundo para a realização da 8ª Conferência Nacional de Saúde, que se constituiu como marco histórico para a origem do Sistema Único de Saúde SUS, formalizado na Constituição de 988. Advogada, Especialista em Direito Sanitário, Mestre em Política Social e Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade de Brasília. Pesquisadora Colaboradora do Programa de Direito Sanitário da Fundação Oswaldo Cruz Brasília Brasil. smcalves@gmail.com
3 Originou se assim o Sistema Único de Saúde (SUS), no meio de intenso debate político e social, organizado segundo as diretrizes constitucionais da descentralização, com administração única em cada esfera de governo; integralidade no atendimento do usuário; sendo priorizadas as ações preventivas, sem prejuízo das assistenciais e da participação da comunidade. Após a inscrição no texto constitucional da diretriz da participação da comunidade na saúde, seguiu se uma ampla regulamentação infraconstitucional e infralegal sobre o assunto, e inúmeros trabalhos acadêmicos começaram a ser realizados com o objetivo de estudar, compreender e analisar o fenômeno da participação da comunidade na construção do sistema de saúde brasileiro. Passados mais de anos da promulgação da Constituição Brasileira, necessário proceder uma investigação com o objetivo de verificar se a produção científica sobre o tema da participação em saúde ainda é tema que se encontra presente nas publicações nacionais, no período de A relevância do tema para o âmbito do direito sanitário é inegável, vez que no Brasil, é impossível dissociar o reconhecimento da saúde enquanto um direito de cidadania da participação popular. METODOLOGIA Trata se de revisão bibliográfica feita na Scientific Electronic Library Online (SciELO), que reúne uma ampla coleção de periódicos científicos brasileiros, e está disponível no endereço Foram utilizados descritores específicos para selecionar, no campo índice de assuntos, os artigos publicados no período de Uma vez que o vocábulo participação apresenta conceito polissêmico que permite várias interpretações (GOHN, 003), foi utilizado um grande número de descritores com o objetivo de abranger o maior número de publicações sobre o tema da participação em saúde. Os descritores utilizados foram: (i) participação da comunidade; (ii) participação da sociedade civil; (iii) participação democrática; (iv) participação do paciente; (v)participação dos cidadãos; (vi) participação dos usuários; (vii) participação e saúde; (viii) participação popular; (ix) participação popular em saúde; (x) participação social na saúde; (xi) participação; (xii) participacion ciudadana; (xiii) participacion del paciente; (xiiii)
4 participacion en salud; (xv) paticipacion popular, (xvi) participacion social; e (xvii) participacion social en salud. Essa diversidade de descritores, também propiciou uma grande repetição de artigos científicos. Todavia, quando da sistematização dos dados na tabela excel, essas repetições foram excluídas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 3 artigos selecionados, observou se que o tema da participação em saúde teve uma produção constante no período de 00 03, com um aumento significativo no ano de 0 (gráfico ). Gráfico : produção científica sobre o tema da participação em saúde por ano de publicação Quantidade de artigos Ano de publicação Esse aumento pode ser atribuído ao suplemento especial do periódico Interface Comunicação, Saúde e Educação, publicado em dezembro daquele ano, abordando o tema da Educação Popular em Saúde. Dos (cinco) periódicos que no ano de 0 apresentaram publicações sobre participação em saúde, a referida revista continha 6 (seis) artigos. O tema da participação no setor saúde precede o próprio reconhecimento do direito à saúde na Constituição Brasileira de 988, quando o movimento da Reforma Sanitária defendia um novo modelo de saúde pública para o Brasil, e que tinha, entre seus
5 elementos informadores a participação da comunidade no processo de construção e avaliação das políticas públicas de saúde. Demo (988) afirma que a participação é o eixo político central das políticas sociais, reconhecendo seu caráter instrumental e metodológico. Para o referido autor, a concretização da participação está intimamente ligada com a questão de poder, uma vez que participação é uma outra forma de poder. A importância do estudo do fenômeno da participação no setor saúde pode ser comprovada não apenas pelo quantitativo de publicações produzidas, bem como pela diversidade de periódicos científicos que dedicaram espaços para a veiculação desse assunto (gráfico ). Gráfico : produção científica sobre o tema da participação em saúde por periódico científico (00 0) Interface 7 Ciênc. saúde coletiva Saude soc. Periódicos científicos Physis Estud. psicol. (Natal) Cad. Saúde Pública Texto contexto enferm. Saúde debate Rev. Saúde Pública Rev. Katál. Rev. esc. enferm. USP Rev. bras. enferm. Psicol. Soc. Esc Anna Nery Arq. Bras. Cardiol Artigos publicados
6 Importante ainda salientar que o tema é sensível para todos os profissionais que direta ou indiretamente atuam na política pública de saúde, pois a participação em saúde envolve os diversos ciclos de formação, implementação e avaliação da política, sendo imprescindível a articulação entre os diversos atores sociais que compõem os poderes públicos e a sociedade civil. Para tanto, utiliza se o conceito de sociedade civil utilizado é aquele apresentado por Dagnino et alli (006) que concebe uma sociedade civil heterogênea, pondo fim ao modelo dicotômico de sociedade civil homogênea e virtuosa em contraposição ao Estado igualmente homogêneo e repleto de vícios. A pesquisa corrobora bem essa necessidade de articulação dos diversos atores uma vez que demonstrou, em seus resultados, que os autores dos periódicos examinados estão ligados não apenas as instituições de ensino acadêmicas (universidades e faculdades), mas também as escolas de formação profissional, órgãos do Poder Executivo e Organizações Não Governamentais. Neste ponto destaca se ainda a presença não apenas de autores provenientes de instituições nacionais, mas também estrangeiras, reforçando o grande valor do assunto objeto da pesquisa. O trabalho revelou ainda que esses autores estrangeiros algumas vezes publicaram em co autoria com autores advindos de instituições nacionais, e algumas vezes apresentaram produções exclusivas de autores de instituição estrangeiras (gráfico 3). Gráfico 3: Quantidade e categorias de instituições as quais os autores das publicações estão vinculados Quantidade de instituições Universidade Escola de Saúde Pública 8 0 Poder executivo Organização Não Governamental Nacional Estrangueira Instituição
7 Uma vez que a pesquisa empreendida foi realizada em base de dados que reúne exclusivamente periódicos científicos brasileiros, a presença de autores vinculados a instituições estrangeiras pode ter uma dupla interpretação. Primeiramente, a relevância do tema não apenas no âmbito nacional, mas também no cenário internacional, vez que estão presentes instituições da América do Sul, América do Norte e Europa. Outra interpretação que pode ser dada é o reconhecimento dos periódicos brasileiros como importante veículo para a disseminação e discussão da produção científica sobre participação em saúde. Gráfico : Produção científica realizada por autores vinculados a instituições estrangeiras Instituições estrangueiras MÉXICO VENEZUELA PORTUGAL ESPANHA CHILE CANADÁ 0 3 Quantidade de países publicantes Por fim, tendo como norte o panorama nacional, a distribuição da produção científica se concentra na Região Sudeste, seguida das regiões Nordeste, Sul e Centro Oeste. Não se observou nenhuma produção advinda de região Norte.
8 Gráfico : Produção científica realizada por autores vinculados a instituições nacionais, por unidade da federação SÃO PAULO 9 CEARÁ 6 RIO DE JANEIRO MINAS GERAIS Estados Brasileiros ESPÍRITO SANTO BAHIA SANTA CATARINA RIO GRANDE DO SUL 3 PARAÍBA MATO GROSSO GOIAS DISTRITO FEDERAL Quantidade de instituições CONCLUSÃO Embora o tema da participação em saúde não seja recente, a produção científica permanece despertando interesses. De um lado, os pesquisadores nacionais e estrangeiros que se debruçam investigando e tentando compreender em sua plenitude, esse complexo fenômeno social. De outro, os periódicos científicos que conferem espaço e relevância para essa produção ser difundida. A ampliação da democracia participativa e o reconhecimento de novas formas de inserção dos múltiplos atores sociais na construção, implementação e avaliação de importante política pública significa não apenas uma redefinição de prioridades políticas, mas a diferença entre a garantia e a negação do direito à saúde.
9 REFERÊNCIAS DAGNINO, Evelina; OLVERA, Alberto J. e PANFICHI, Aldo. Para uma outra leitura da disputa pela construção democrática na América latina. In: DAGNINO, Evelina; OLVERA, Alberto J. e PANFICHI, Aldo (Org.). A disputa pela construção democrática na América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 006. p. 3 9 DEMO, Pedro. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 988. FLEURY, Sonia. Contra reforma e resistência. In: Rocha, Denise e Bernardo, Maristela (Org). A era FHC e o Governo Lula: transição? Brasília, INESC, 00. Disponível em: / Seguridade%0Social.pdf. Acesso em:. set FLEURY, Sonia e MENDONÇA, Maria Helena. Reformas Sanitárias na Itália e no Brasil: comparações. In: FLEURY, Sonia (Org). Reforma sanitária: em busca de uma teoria. São Paulo: Cortez, 99. p GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação sociopolítica.. ed. São Paulo: Cortez, 003.
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