TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 fls. 95 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Ribeirão Preto, em que são apelantes THIAGO RODRIGUES REIS JULIO (JUSTIÇA GRATUITA) e JULIANA FREITAS DE SOUZA (JUSTIÇA GRATUITA), é apelada PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRAO PRETO. ACORDAM, em 15ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RAUL DE FELICE (Presidente), ERBETTA FILHO E SILVA RUSSO., 5 de abril de RAUL DE FELICE RELATOR Assinatura Eletrônica

2 fls. 96 Apelação Cível nº DIGITAL Apelantes: Thiago Rodrigues Reis Júlio e outro Apelada: Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto Comarca: Ribeirão Preto Vistos. VOTO Nº 2043 APELAÇÃO CÍVEL Ação anulatória c.c. repetição de indébito ITBI Município de Ribeirão Preto Pretensão de isenção tributária Programa Minha Casa Minha Vida - A isenção prevista na Lei Municipal nº 2.380/09 possui caráter especial e condicionada às exigências previstas em Lei - Inteligência do art. 179 do CTN Contribuinte que não requereu o benefício na esfera administrativa, conforme expressamente determinado no art. 2º do Decreto nº 36/2012, que regulamentou a Lei Municipal nº 2.380/09 A concessão da isenção é ato do Poder Público Municipal, previsto em Lei - Impossibilidade do Poder Judiciário proceder a análise do mérito da isenção - Precedentes do STJ e desta 15ª Câmara de Direito Público - Sentença mantida - Recurso improvido. Trata-se de ação anulatória c.c. repetição de indébito interposta por THIAGO RODRIGUES REIS JULIO E OUTRO em face da PREFEITURA MUNICIPAL DE RIBEIRÃO PRETO, julgada improcedente pela sentença de fls. 71/74, sob o fundamento de que os autores não cumpriram a exigência prevista no Decreto 36/2012, que regulamentou a Lei Municipal nº 2.380/09, qual seja, prévio requerimento administrativo de isenção perante o ente Municipal. Condenou os autores ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em R$ 1.000,00 (mil Reais), observando-se, entretanto, a gratuidade judiciária a que fazem jus. Apelação nº Voto nº

3 fls. 97 Os autores apelaram às fls. 73/83 requerendo a reforma da sentença. Sustentaram que a isenção encontra-se prevista no art. 3º, inciso II da Lei Municipal nº 2.380/09, por se tratar de imóvel inserido no Programa Minha Casa Minha Vida do Governo Federal. Assim, tendo efetuado o pagamento considerado indevido aduzem que fazem jus à repetição de indébito. Portanto, mesmo que não tenham procedido com o pedido administrativo para concessão do benefício, fazem jus a este. Por fim, requereram o provimento do presente apelo para julgar procedente a ação anulatório bem como o pedido de repetição, com inversão dos ônus de sucumbência. Contrarrazões às fls. 87/90. É O RELATÓRIO. O recurso não merece ser provido. Com efeito, a Lei Municipal n 2.380/09, do Município de Ribeirão Preto, dispõe sobre a possibilidade de concessão de isenção de ITBI nos casos de construção de unidades habitacionais que atendam ao programa Minha Casa Minha Vida, a saber: Artigo 1º - Fica instituído no Município de Ribeirão Preto o Plano de Incentivos a Projetos Habitacionais de Interesse Social, para atender o Programa Minha Casa Minha Vida, da Lei Federal nº , de 07 de julho de 2009, os Projetos Habitacionais da Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto - Cohab-RP, bem como da Companhia de Desenvolvimento Apelação nº Voto nº

4 fls. 98 Habitacional e Urbano do Estado de - CDHU. Parágrafo único - Os incentivos previstos na presente Lei Complementar destinam-se a Empreendimentos Habitacionais vinculados ao Programa Minha Casa Minha Vida, da Lei Federal nº , de 07 de julho de 2009, para construção de unidades habitacionais, que atenderão famílias com renda de até 3 (três) salários mínimos nacional e os Projetos da Companhia Habitacional Regional de Ribeirão Preto - Cohab-RP e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de CDHU. A regulamentação da aludida Lei Municipal foi formalizada pelo Decreto nº 36/12, que deixou claro no seu art. 2º que a concessão do benefício devera ser precedida de requerimento administrativo, quando dispôs: Artigo 2º - A isenção de tributos tratada na Lei Complementar Municipal nº 2380/2009, quer seja relacionada ao PMCMV, quer aos projetos da COHAB- RP e do CDHU, deverá ser expressamente requerida pelo interessado, em procedimento administrativo próprio, anexando ao pedido a prova documental da plena satisfação dos requisitos previstos nas Leis Apelação nº Voto nº

5 fls. 99 Complementares 2380/2009 e 2395/2010. Verifica-se, então, que não se trata de isenção de caráter geral, e sim de caráter especial, condicionada a algumas exigências legais, conforme prevê o art. 179 do CTN A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão. O STJ no julgamento do REsp nº /PR, de relatoria do Ministro José Delgado, já deixou consignado que: A isenção condicionada será reconhecida, por decisão da autoridade competente, em cada caso, após análise da documentação apresentada pelo interessado demonstrando preencher os pressupostos exigidos por lei para o seu gozo. Em outro julgado, envolvendo a mesma situação fática, o Ministro Garcia Viana dispôs que: A isenção, quando não concedida em caráter geral, somente pode ser efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento no qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei de contrato para sua concessão. (Resp /SP) Assim, se a própria lei prevê que o requerimento deve ser feito perante a autoridade administrativa e os autores não o fizeram, Apelação nº Voto nº

6 fls. 100 não cabe ao Judiciário, sob pena de afronta ao art. 111 do CTN fazer uma interpretação extensiva para conceder a isenção à autora porquanto, referido dispositivo deixa claro que a legislação tributária, referente à concessão de isenção, deve ser interpretada literalmente. Não é outro o posicionamento deste E. Tribunal de Justiça, conforme se verifica do julgamento das apelações, envolvendo a mesma matéria e a mesma Comarca, cujas ementas encontram-se abaixo transcritas: TRIBUTÁRIO APELAÇÃO AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO ITBI MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO ISENÇÃO Programa Minha Casa Minha Vida - A isenção só pode ser concedida por lei, cabendo à Administração Pública analisar se os requisitos legais necessários à concessão foram ou não preenchidos No caso dos autos, o Município prevê a possibilidade de concessão de isenção do ITBI nos casos de construção de unidades habitacionais que atendam ao programa Minha Casa Minha Vida, desde que preenchidos os requisitos legais - A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, mediante requerimento administrativo em que o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei, a teor do disposto no artigo 179 do Código Tributário Nacional Contribuinte que não requereu Apelação nº Voto nº

7 fls. 101 administrativamente o reconhecimento do benefício Lançamento tributário mantido - Precedentes deste E. Tribunal de Justiça Sentença reformada Recurso provido. (Apelação Cível nº , Relatoria Des. Eurípedes Faim, Comarca de Ribeirão Preto, 15ª Câmara de Direito Público). APELAÇÃO REPETIÇÃO DE INDÉBITO ITBI - Imóvel adquirido pelo Programa Minha casa, Minha Vida - Isenção do tributo precedido de cadastro administrativo na COHAB-RP, conforme legislação municipal Isenção restrita aos adquirentes comprovadamente e cadastrados Requisito essencial - CF art. 150, 6º - Falta de comprovação Ônus processual da autora - Recurso desprovido. (Apelação Cível nº , Rel. Des. Octávio Machado de Barros, Comarca de Ribeirão Preto, 14ª Câmara de Direito Público, julgado em 1/2/2016). Ademais, neste ultimo julgamento o Excelentíssimo Desembargador Relator deixou consignado que: A referida norma está em consonância com o disposto no artigo 150, parágrafo 6º, da Constituição Federal, Apelação nº Voto nº

8 fls. 102 TRIBUNAL DE JUSTIÇA que impõe a seguinte restrição - Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no artigo 155, 2º, II a conferir constitucionalidade e eficácia à exigência. Como a autora não formulou o requerimento prévio exigido por lei municipal, a fim de atender os requisitos inerentes ao aludido programa social, nem se interessou em produzir provas nos autos (CPC, artigo 333, I - fls. 93/94), o óbice legal se mostra incontornável. De rigor, então, a manutenção da sentença, tal como proferida. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso, nos termos do acórdão. Raul De Felice Relator Apelação nº Voto nº