TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante GAFISA S A, é apelado JOSE ROBERTO DE FREITAS. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), COELHO MENDES E ROBERTO MAIA. São Paulo, 19 de fevereiro de CARLOS ALBERTO GARBI RELATOR [assinado digitalmente]

2 VOTO Nº APELAÇÃO COM REVISÃO N COMARCA APELANTE APELADO : SÃO PAULO (4ª VARA CÍVEL DO FORO REGIONAL DA LAPA). : GAFISA S.A. : JOSÉ ROBERTO DE FREITAS. CONTRATO. COMPRA E VENDA. IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO. ATRASO NA ENTREGA. PAGAMENTO DA PRESTAÇÃO FINAL ATRAVÉS DE SALDO DO FGTS. DOCUMENTOS NÃO APRESENTADOS PELA CONSTRUTORA. PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. NÃO INCIDÊNCIA DE VERBAS MORATÓRIAS SOBRE A PRESTAÇÃO FINAL. 1. Não há dúvida da responsabilidade da ré pelo atraso na entrega do imóvel. Assim sendo, não se poderia exigir do autor o pagamento das despesas condominiais. Embora fosse o adquirente do imóvel, não tinha a posse direta do imóvel em razão da conduta tomada pela ré, que não providenciou os documentos necessários ao pagamento da prestação final. Logo, a sentença bem determinou o reembolso das prestações condominiais pagas pelo autor. 2. A compra da casa própria gera expectativas e esperanças que, no caso em exame, acabaram frustradas. Ainda que o adiamento do casamento do autor não tenha sido a causa do pedido de reparação, a conduta da ré, com segurança, afetou a dignidade do adquirente, que não pôde usufruir do bem adquirido no tempo esperado. Assim, embora a questão trate de inadimplemento contratual risco inerente a qualquer negócio jurídico, justificase o pedido de reparação por danos morais. Reparação parcimoniosamente fixada. Sentença de procedência parcial mantida. Recurso não provido. R E L A T Ó R I O Recorreu a ré da sentença, proferida pelo Doutor Carlos Roberto de Souza, que julgou parcialmente procedente o pedido de indenização por danos morais e materiais decorrentes do atraso na entrega de imóvel adquirido pelo Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 2 de 7

3 autor. Sustentou que o autor, como adquirente da unidade, deve responder pelo pagamento das despesas condominiais. Afirmou que não poderia ter sido concedida indenização por danos morais, pois, embora tenha sido entregue o imóvel, o casamento do autor ainda não havia se realizado. Assim, a razão que fundamentou o pedido de indenização não subsiste. Alegou que o autor decaiu de parte principal de seu pedido. Logo, teria ocorrido sucumbência recíproca. Pediu a redução da verba honorária, fixada na sentença no valor de R$ 3.500,00, nos termos do art. 20, 4º, do Código de Processo Civil. O recurso não foi respondido pelo autor (fls. 380). É o relatório. V O T O O autor adquiriu da ré imóvel em construção. Pagou as prestações intermediárias, sendo certo que a prestação final, no valor de R$ ,00, seria paga através do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) mantido pelo autor. Sucede que, em razão do atraso na entrega da obra, o autor não pôde tomar as providências necessárias no sentido de resgatar o FGTS. Documentos que seriam expedidos pela ré, no momento da entrega do imóvel, não foram expedidos, o que impossibilitou o pagamento da prestação final. Por estas razões, pediu o autor, na presente demanda: a não Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 3 de 7

4 incidência de cargos moratórios sobre prestação final, a entrega da unidade condominial adquirida, indenização por danos materiais referentes às despesas condominiais exigidas quando ainda não havia sido entregue o imóvel, reparação por danos morais. A sentença reconheceu a procedência dos pedidos do autor. Fez ressalva unicamente à correção monetária, que poderia incidir sobre o saldo devedor, pois representava apenas recomposição do valor da moeda. A decisão condenou a ré a: a) entregar o imóvel, b) reembolsar as despesas condominiais exigidas do autor, c) indenizar o autor por danos morais, fixada a reparação no valor de R$ 2.000,00. Não há dúvida da responsabilidade da ré pelo atraso na entrega do imóvel. Assim sendo, não se poderia exigir do autor o pagamento das despesas condominiais. Embora fosse o adquirente do imóvel, não tinha a posse direta do imóvel em razão da conduta tomada pela ré, que não providenciou os documentos necessários ao pagamento da prestação final. Logo, a sentença bem determinou o reembolso das prestações condominiais pagas pelo autor. Este Tribunal já decidiu a respeito desta questão em exame: As despesas condominiais pagas anteriormente à data da entrega das chaves deverão ser restituídas [...], uma vez que não se admite que o adquirente do imóvel, que ainda não exerce a posse direta do bem, tenha que contribuir com as despesas condominiais (Ap Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 4 de 7

5 , rel. Des. Natan Zelinschi de Arruda, dj ). De outra parte, no que tange à indenização por danos morais, a compra da casa própria gera expectativas e esperanças que, no caso em exame, acabaram frustradas. Ainda que o adiamento do casamento do autor não tenha sido a causa do pedido de reparação, a conduta da ré, com segurança, atingiu a dignidade do adquirente, que não pôde usufruir do bem adquirido no tempo esperado. Assim, embora a questão trate de inadimplemento contratual risco inerente a qualquer negócio jurídico, justifica-se o pedido de reparação por danos morais. Já decidiu nesse sentido o Tribunal em casos semelhantes: Isto porque, o procedimento inadequado das rés ocasionou angústia e desgosto aos autores, pois é notório que quem adquire o imóvel, contrai dívidas e efetua o pagamento regular das prestações, sente-se frustrado por não poder dispor do bem, sofrendo aflição psicológica, em razão do prolongado martírio de espera pela entrega da casa própria. Consequentemente, os danos extrapatrimonais se fazem presentes (TJSP Ap. nº rel. Des. João Francisco Moreira Viejas j ). Indenização por danos materiais e morais. Compromisso de compra e venda de imóvel em construção. Apelados já firmaram contrato de financiamento com instituição financeira. Entrega das Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 5 de 7

6 chaves não ocorreu. Inobservância do lapso cronológico pactuado. [...] Comportamento irregular da recorrente frustrou os recorridos, prolongando o martírio e trazendo aflição psicológica. Danos morais presentes. Verba reparatória compatível com as peculiaridades da demanda. Apelo provido em parte (TJSP Ap. nº rel. Des. Natan Zelinschi de Arruda - j. 06/10/2011). Portanto, é devida a indenização como forma de ressarcir os danos extrapatrimoniais ocasionados ao autor. A reparação foi parcimoniosamente fixada no valor de R$ 2.000,00. Por fim, em relação à sucumbência, a sentença reconheceu que o autor decaiu de parte mínima do pedido. Por esta razão, condenou a ré ao pagamento das custas e despesas do processo, bem como à verba honorária, fixada no valor de R$ 3.500,00, nos termos do art. 20, 4º, do Código de Processo Civil. A sentença, como visto, apenas reconheceu que sobre o saldo devedor a ser pago pelo autor poderia incidir correção monetária. Nota-se que todos os pedidos foram julgados procedentes. Assim, de fato, o autor decaiu de parte mínima do pedido, o que acarretou a imposição da sucumbência à ré, com fundamento no art. 21, parágrafo único, do Código de Processo Civil. A demanda tramitou por sete anos. A ré resistiu ao pedido e, Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 6 de 7

7 inclusive, apresentou diversos recursos. Considerando-se a complexidade da demanda, bem como o trabalho desenvolvido pelos advogados, a verba honorária foi adequadamente fixada. A sentença, portanto, decidiu corretamente a lide e deve ser mantida por seus próprios fundamentos. D I S P O S I T I V O Pelo exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso. CARLOS ALBERTO GARBI relator [assinado digitalmente] Apelação nº [voto nº ] LPRD Página 7 de 7