STF ANALISARÁ A INCIDÊNCIA DE IR SOBRE JUROS DE MORA

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1 Autor: Henrique Coutinho de Souza Fabiana Carsoni Alves F. da Silva STF ANALISARÁ A INCIDÊNCIA DE IR SOBRE JUROS DE MORA O STF, em recente decisão proferida em , reconheceu a repercussão geral da incidência do imposto de renda sobre juros de mora recebidos por pessoa física. Contrariando as decisões anteriores da própria Corte Suprema, a matéria foi reputada constitucional, e será analisada pelo Tribunal nos autos do RE n A discussão aparentemente encontrava-se sedimentada no âmbito dos Tribunais Superiores, em razão da pacificação da matéria no âmbito do STJ, por ocasião dos julgamentos de recursos representativos de controvérsia versando sobre a questão (RESPs ns /RS e /SC, julgados sob a sistemática do art. 543-C do CPC). Ademais, o STF, em decisão proferida em , nos autos do AI n , expressamente afastou a repercussão geral do tema, sustentando tratar-se de matéria de índole infraconstitucional. Tal entendimento foi reproduzido de forma maciça 1 nos precedentes posteriores da Corte Suprema, até o advento da recente decisão proferida nos autos do RE n Cabe destacar que a matéria a ser levada a julgamento pelo STF recai na incidência do IR sobre juros moratórios decorrentes de verbas remuneratórias pagas a pessoa física em Reclamação Trabalhista. 1 A título ilustrativo: STF, 1ª Turma, ARE , Rel. Min. Roberto Barroso, DJ ; STF, 1ª Turma, AI , Rel. Min. Luiz Fux, DJ ; STF, 2ª Turma, RE , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJ ; 1

2 Para se compreender o motivo da revisão do posicionamento do STF, que sempre se manifestou no sentido de tratar-se apenas de ofensa reflexa à Constituição Federal, é necessário revolver a discussão em sua origem. É aqui o ponto que merece destaque, pois delimitará a atuação da Corte Suprema, e poderá representar uma grande reviravolta na jurisprudência versando sobre a questão. Nos autos do Recurso Especial n /RS, julgado em sob a sistemática de recurso repetitivo, a 1ª Seção do STJ firmou entendimento no sentido de que os juros moratórios possuem natureza indenizatória, configurando lucros cessantes. No entanto, para essa Corte, tais verbas indenizatórias estariam subsumidas à materialidade do imposto de renda, por resultarem em acréscimos patrimoniais a que alude o artigo 43, inciso II, do CTN. Dessa forma, entendeu o Tribunal que a tributação dos juros moratórios, contemplada no art. 16, único da Lei n /64 2, não vulneraria a materialidade do imposto de renda, a despeito de sua natureza indenizatória. Assim, conforme entendimento exarado nesse recurso repetitivo, a regra geral é a incidência do IR sobre os juros de mora, exceto na hipótese de eventual isenção, como ocorre para os juros moratórios incidentes sobre os valores pagos no contexto de despedida ou rescisão do contrato de trabalho, por força do quanto disposto no art. 6º, inciso V, da Lei n / Art. 16. Serão classificados como rendimentos do trabalho assalariado tôdas as espécies de remuneração por trabalho ou serviços prestados no exercício dos empregos, cargos ou funções referidos (...): Parágrafo único. Serão também classificados como rendimentos de trabalho assalariado os juros de mora e quaisquer outras indenizações pelo atraso no pagamento das remunerações previstas neste artigo. 3 Art. 6º Ficam isentos do imposto de renda os seguinte rendimentos percebidos por pessoas físicas: V - a indenização e o aviso prévio pagos por despedida ou rescisão de contrato de trabalho, até o limite garantido por lei, bem como o montante recebido pelos empregados e diretores, ou respectivos beneficiários, referente aos depósitos, juros e correção monetária creditados em contas vinculadas, nos termos da legislação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço; 2

3 Em outra ocasião, consolidando o entendimento anteriormente manifestado, a 1ª Seção do STJ voltou a enfrentar a questão, nos autos do RESP n /RS, julgado em Embora esse recurso não tenha sido afetado à sistemática de recurso repetitivo, o posicionamento anterior foi complementado, para acrescer outra hipótese de exceção em que os juros moratórios não seriam tributados pelo IR. O RESP n /RS enfrentou a incidência do IR sobre os juros moratórios decorrentes de verbas pagas em Reclamação Trabalhista, mas que não decorriam de rescisão de contrato de trabalho, operando-se o pagamento no contexto da continuidade do vínculo empregatício, ou seja, fora do âmbito da isenção disciplinada no art. 6º, inciso V, da Lei n /88. Todavia, a 1ª Seção do STJ também concluiu pelo afastamento da regra geral de tributação dos juros moratórios pelo IR, na hipótese em que a verba principal, paga em razão do êxito em Reclamação Trabalhista, é isenta ou fora do campo de incidência desse tributo, de modo a se obter o melhor resultado para o trabalhador. Assim, os juros moratórios incidentes sobre verbas pagas mesmo que fora do contexto de despedida ou rescisão do contrato de trabalho a título de FGTS, e a respectiva correção monetária pelo Fator de Atualização dos Débitos Trabalhistas (FADT), foram considerados isentos para fins de IR, por força da regra isentiva prevista no art. 28, parágrafo único, da Lei n /90 4. Aplicou-se, aqui, a regra de que o acessório deve seguir o principal, sob pena de inconsistência na tributação da verba acessória (juros moratórios), em contraposição à isenção da verba principal, prestigiando dessa forma os interesses do trabalhador. Mais adiante, a 1ª Seção do STJ voltou a pronunciar-se sobre a questão, nos autos do RESP n , julgado em , novamente sob a 4 Art. 28. São isentos de tributos federais os atos e operações necessários à aplicação desta lei, quando praticados pela Caixa Econômica Federal, pelos trabalhadores e seus dependentes ou sucessores, pelos empregadores e pelos estabelecimentos bancários. Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo às importâncias devidas, nos termos desta lei, aos trabalhadores e seus dependentes ou sucessores. 3

4 sistemática de recurso representativo da controvérsia. O processo discutia a incidência do IRPJ e da CSLL sobre: (i) juros incidentes sobre valores devolvidos ao contribuinte no levantamento de depósitos judiciais; e (ii) juros moratórios decorrentes de repetição de indébito tributário. No primeiro caso, concluiu a Corte pela natureza de juros remuneratórios e, no segundo, pela natureza indenizatória de lucros cessantes. Nesta última hipótese, a despeito da natureza indenizatória dos juros moratórios, novamente entendeu a 1ª Seção do STJ pela incidência do imposto de renda, por configurarem acréscimo patrimonial previsto no art. 43, inciso II, do CTN. Conforme se constata do panorama acima, a natureza indenizatória dos juros moratórios, nas sucessivas manifestações jurisprudenciais do STJ, não vulneraria o conceito de renda, na intepretação conferida pelo Tribunal ao art. 43, inciso II, do CTN. Considerando as constantes manifestações do STF, acerca da natureza infraconstitucional da discussão, a matéria aparentemente encontrava-se sedimentada nos Tribunais Superiores. Contudo, a recente decisão proferida nos autos do RE n , de , pode alterar por completo o cenário acima descrito. Isso porque, como exposto, o STF reconheceu a repercussão geral da incidência do IR sobre juros moratórios decorrentes de verbas remuneratórias pagas a pessoa física em Reclamação Trabalhista. O RE n é originário da Apelação Cível n , julgada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Como o processo discutia a incidência do IR sobre os juros moratórios decorrentes de valores pagos em Reclamação Trabalhista, no contexto da continuidade do vínculo empregatício, poderia o Tribunal de Origem, à luz do art. 543-C, 7º do CPC, aplicar o entendimento exarado no RESP n (recurso repetitivo), para afastar a incidência da isenção disciplinada no art. 6º, inciso V, da Lei n /88. Todavia, insurgindo-se contra o entendimento do STJ, o TRF da 4ª Região, em acórdão proferido em , declarou a inconstitucionalidade, sem redução de texto, da interpretação conferida pelo STJ, com efeito vinculante, ao art. 43, inciso II e 1º, do CTN, e ao art. 3º, 1º, da Lei n /88. Para o TRF 4

5 da 4ª Região, a tributação de verbas indenizatórias não encontraria fundamento constitucional no art. 153, inciso III, da Constituição Federal. Assim, o art. 16, único, da Lei n. 4506/64, que disciplina a tributação pelo IR dos juros moratórios incidentes sobre verbas pagas em Reclamações Trabalhistas, não teria sido recepcionado pela Constituição Federal de Foi justamente essa declaração de inconstitucionalidade, ainda que sem redução do texto, que levou o Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, a declarar a repercussão geral da matéria. Isso porque, conforme entendimento do STF firmado nos autos da Questão de Ordem no RE n , a declaração de inconstitucionalidade de norma por Tribunal Regional Federal constitui circunstância nova suficiente para justificar o caráter constitucional de matéria, ainda que a Corte Suprema tenha declinado a repercussão geral em oportunidade anterior. Diante desse cenário, o reconhecimento da repercussão geral da matéria levará o STF a se manifestar não apenas acerca da incidência de imposto de renda sobre juros moratórios, pagos no contexto de Reclamações Trabalhistas, como ainda sobre verbas de cunho indenizatório, à luz da dição legal do art. 43, inciso II e 1º, do CTN, o que poderá representar uma grande evolução na jurisprudência dos Tribunais Superiores acerca da existência e do alcance do conceito constitucional de renda. 5