ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), JOÃO PAZINE NETO E SERGIO GOMES.

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que são apelantes JORGE UTIMI SOBRINHO, CAMILA RODRIGUES UTIMI e LUCILA MIRANDA ARAÚJO, são apelados TURKISH AIRLINES INC e EMIRATES AIRLINES. ACORDAM, em 37ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), JOÃO PAZINE NETO E SERGIO GOMES. São Paulo, 3 de abril de 2018 PEDRO KODAMA RELATOR (Assinatura Eletrônica)

2 Voto nº Apelação nº Comarca: São Paulo Apelantes: Lucila Miranda Araújo, Jorge Utimi Sobrinho e Camila Rodrigues Utimi Apelado (a): Turkish Airlines Inc. e Emirates Airlines Juiz (a): Eduardo Tobias de Aguiar Moeller Apelação. Ação de indenização por danos morais e materiais. Transporte aéreo. Atraso no embarque. Ilegitimidade da corré Emirates. Admissibilidade. Aplicações das normas das convenções internacionais. Cabimento. Pedido de pagamento de diárias extras e prorrogação do visto. Inadmissibilidade. Valor da indenização por danos morais majorado. Sentença parcialmente reformada. Recurso parcialmente provido. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 214/220, cujo relatório adoto em complemento, que julgou extinto o processo sem resolução do mérito em relação à Emirates Airline, com a condenação dos autores ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios no montante de R$ 2.000,00, bem como, julgou parcialmente procedente o pedido em ação de indenização por danos materiais e morais ajuizada por Lucila Miranda Araújo, Jorge Utimi Sobrinho e Camila Rodrigues Utimi contra Turkish Airlines Inc. para condenar a corré ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 6.000,00 (R$ 2.000,00 para cada autor), devidamente corrigido e acrescido de juros de mora de 1% ao mês desde o ajuizamento da ação e de indenização por danos materiais no valor de R$ 4.162,11. Além disso, condenou a corré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% do valor da condenação. Inconformados, apelam os autores sustentando que a Convenção de dlm 2

3 Montreal não afasta a aplicação do Código de Defesa do Consumidor e a responsabilidade objetiva das rés. Alegam que não deve ser afastada a legitimidade da corré Emirates em responder pelos prejuízos materiais e morais causados. Frisam que as rés integram a cadeia de fornecedores dos serviços de transporte, nos termos do artigo 3º da legislação consumerista. Argumentam que a corré Emirates foi a responsável pela emissão do bilhete de embarque, o qual foi posteriormente cancelado. Acrescentam que foram prejudicados em sua programação inicial, em razão do atraso de praticamente um dia, motivo pelo qual adiaram o retorno e tiveram que arcar com outras duas diárias de hotel, havendo também a necessidade de obtenção de novos vistos, o que gerou novos gastos, os quais devem ser integralmente ressarcidos pelas apeladas e totalizam a importância de R$ 3.420,00. Defendem a majoração do valor da indenização por danos morais, devendo ser fixado em importância não inferior a de R$ ,00 para cada um dos autores. Pugnam pelo provimento do recurso (fls.233/249). Recurso tempestivo e preparado (fls. 250/251). As rés apresentaram contrarrazões (fls. 254/263 e 264/278). A D. Procuradoria Geral de Justiça opinou pela manutenção da r. sentença em relação à corré Emirates e pelo parcial provimento em relação à corré Turkish para que seja condenada ao ressarcimento dos gastos que os autores tiveram com a revalidação dos vistos e também para que o montante indenizatório a título de danos morais seja majorado (fls.289/297). É o relatório. Versa o feito sobre ação de indenização por danos morais e materiais. A decisão recorrida foi disponibilizada em 07/11/17 (fls. 221), ou seja, na vigência do novo Código de Processo Civil/2015, de modo que o recurso deve ser analisado pelos parâmetros nele previstos. O enunciado nº 3, do Colendo Superior Tribunal de Justiça, destaca: dlm 3

4 Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. Alegam os autores que adquiriram três passagens da ré Turkish Airlines para voo com partida de Guarulhos, SP, no dia às 4:50 horas com destino a Istambul, por conta de férias que passariam em Istambul, Emirados Árabes e Ilhas Maldivas. Ressaltam que reservaram três diárias em um hotel no destino com valor total de R$ 5.789,20 e também fizeram reserva de passeios no dia da chegada. Afirmam que na véspera do embarque foram avisados por sua agência de viagens que o voo sofreria atrasos e, posteriormente, foram informados que a corré Turkish indicou como alternativa um voo oferecido pela segunda ré, Emirates, que partiria de Guarulhos em à 1:25 hora. Mencionam que aceitaram esta alternativa, mas, ao se apresentarem no balcão da Emirates, foram informados que não poderiam embarcar "por questões de custo" e ao se dirigirem ao balcão da Turkish Airlines foi passada a informação de que havia ordem vinda diretamente de Istambul proibindo o embarque em outras companhias. Frisam que retornaram para sua residência e conseguiram embarcar no dia seguinte ( ), porém apenas às 20:30 horas ou seja, com 16 horas de atraso com relação ao voo original, o que alterou toda a programação da viagem e fez com que perdessem duas diárias de hotel, uma delas contratada quando acreditavam que embarcariam no voo da Emirates, que partiria à 1:25 hora, de Dizem que para não atrapalhar os planos originalmente feitos, contrataram duas diárias adicionais ao final da viagem, o que gerou mais gastos. Assim, requerem a procedência da ação para condenar as rés ao pagamento de indenização por danos materiais correspondentes aos traslados ao aeroporto, visto de trânsito em Dubai e diárias adicionais contratadas, no total de R$ 7.582,11, e indenização por danos morais no valor de R$ ,00. grau, deve ser parcialmente reformada. A r. sentença apelada, respeitada a convicção do MM. juiz de primeiro Tratando-se de pedido indenizatório, fundado em transporte aéreo internacional deve ser aplicado ao caso as normas das convenções internacionais ratificadas pelo Brasil que têm status de norma especial, com prevalência em relação ao Código de Defesa do dlm 4

5 Consumidor, que ganha contorno de norma geral por tratar de relações genéricas de consumo. 210 da repercussão geral, fixando a seguinte tese: Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Federal, apreciando o tema "Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor" Plenário, O reconhecimento da ilegitimidade da corré Emirates deve ser mantido. O artigo 36, itens 1 e 2 da Convenção de Montreal não estabelece responsabilidade solidária entre as empresas no caso de transporte solidário. Além disso, verifica-se que o contrato de transporte foi celebrado diretamente com a corré Turkish e conforme restou consignado na r. sentença: A própria co-ré Emirates, porém, não chegou a emitir nenhuma passagem nem houve formalização do endosso. O documento às fls. 17/18 corresponde em verdade a mera reserva efetuada pela agência de viagens, a qual não chegou a se concretizar em decorrência de desautorização da co-ré Turkish. O endereço no rodapé deste documento também não corresponde ao site da ré, mas sim da empresa "Travelport. (fls.100) Em relação ao pedido de ressarcimento de valores gastos com todas as diárias extras de hotel acrescidas no final da viagem e prorrogação com visto, sem razão os apelantes, vez que não demonstrado o motivo do atraso de voo de dezesseis horas ter causado tais despesas. danos morais comporta provimento. Já o pedido de majoração da verba indenizatória fixada a título de Inexiste norma legal específica para a fixação do valor da indenização, pautando-se a doutrina e jurisprudência pelo princípio da razoabilidade, levando-se em conta a dlm 5

6 gravidade do dano e o nível socioeconômico das partes. enfatizou o STJ: A respeito dos critérios para a fixação do valor do dano moral, A indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, considerando que se recomenda que o arbitramento deva operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, às suas atividades comerciais e, ainda, ao valor do negócio, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e as peculiaridades de cada caso. (REsp /MA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/1998, DJ 05/10/1998, p. 102). Também deve ser observada a dupla função da indenização: compensar a vítima pelos danos suportados e punir o ofensor pelo ato realizado, conforme bem destacou a ilustre Ministra ELIANA CALMON: O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ com o escopo de atender a sua dupla função: reparar o dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor, para que não volte a reincidir. (REsp / RS, j. em 23/03/2004) O valor da indenização deve ser fixado para compensar o dano suportado, não abusivo e nem excessivo, além de atender aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Considerando os parâmetros acima expostos e as circunstâncias do caso, o valor fixado em R$ 2.000,00 se mostra reduzido e deve ser majorado para R$ 5.000,00 para cada autor. Cumpre destacar que, além do atraso, a promessa de que os autores seriam colocados no voo de outra companhia aérea não foi cumprida dlm 6

7 Destarte, o recurso de apelação deve ser parcialmente provido com a finalidade de majorar o valor da indenização por danos morais para o montante de R$ 5.000,00 para cada autor. Ficam mantidas as demais disposições da r. sentença. Por fim, já é entendimento pacífico o de que não está obrigado o julgador a citar todos os artigos de lei e da Constituição Federal para fins de prequestionamento. Assim, ficam consideradas prequestionadas toda a matéria e disposições legais discutidas pelas partes. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao recurso. Pedro Kodama Relator (assinatura digital) dlm 7