ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), JOÃO PAZINE NETO E SERGIO GOMES.

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1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante TAM - LINHAS AÉREAS S/A, é apelado CARLOS GUSTAVO BRANCANTE SANTIAGO. ACORDAM, em 37ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ISRAEL GÓES DOS ANJOS (Presidente sem voto), JOÃO PAZINE NETO E SERGIO GOMES. São Paulo, 17 de abril de 2018 PEDRO KODAMA RELATOR (Assinatura Eletrônica)

2 Voto nº Apelação nº processo digital Comarca: São Paulo Apelante: TAM Linhas Aéreas S/A Apelado: Carlos Gustavo Brancante Santiago Juiz (a): Jomar Juarez Amorim Apelação. Ação de indenização por danos morais e materiais. Transporte aéreo. Voo e bilhete confirmado. Impossibilidade de embarque por avião lotado, resultando em perda de conexões para outros destinos. Causa excludente de responsabilidade não demonstrada. Overbooking configurado. Danos materiais devidos. Danos morais. Cabimento. Verba indenizatória arbitrada de acordo com o entendimento da C. Câmara. Majoração da verba honorária. Aplicação do 11 do artigo 85 do CPC de Sentença de parcial procedência mantida. Recurso desprovido. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 96/99, cujo relatório adoto em complemento, que julgou parcialmente procedente o pedido formulado em ação de indenização por danos morais e materiais proposta por Carlos Gustavo Brancante Santiago contra TAM Linhas Aéreas S/A para condenar a ré ao reembolso das despesas (passagem R$8.672,56 e refeição R$105,27) corrigidas desde o desembolso pela tabela prática do TJSP e acrescidas de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação, bem como no pagamento de R$10.000,00, atualizados a partir da data da sentença (STJ, Súm. 362) e acrescidos de juros moratórios de um por cento ao mês contados da citação (não se aplica a Súmula 54 do STJ, visto que a responsabilidade é contratual). O autor decaiu de parte mínima, pelo que a ré reembolsará integralmente as custas e despesas e pagará honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação (CPC, arts. 85 2º, STJ, Súm. 326) cst 2

3 Inconformada, apela a ré aduzindo que agiu de acordo com o disposto na Resolução 141/2010 da ANAC e ofereceu a reacomodação no primeiro voo disponível, como a própria parte autora narrou em sua inicial, com a diferença de algumas horas do voo inicialmente marcado, sem alteração na rota primeiramente contratada, cumprindo assim as obrigações de acordo com o que prevê a lei, inclusive com fornecimento de voucher de alimentação, táxi e estada em hotel até que o próximo voo decolasse. Defende a inexistência de prática de ato ilícito, o que a exclui dos casos em que são devidas indenizações, por falta de dispositivo legal que assim o preveja. Discorre acerca da legislação aplicada ao caso e esclarece sobre a prática conhecida como overbooking no transporte aéreo brasileiro e do assistencialismo prestado. Assevera que o overbooking não é ato ilícito capaz de gerar dever de indenizar, mas sim um ônus a que todos os cidadãos estão sujeitos quando dispostos a viajar mediante voos comerciais, porquanto ausente o dever de ressarcimento de danos morais. Requer o provimento do recurso para julgar improcedentes os pedidos iniciais. Subsidiariamente pleiteia a redução do valor fixado a título de indenização por danos morais (fls. 101/121). Recurso tempestivo e preparado (fls. 122). (fls. 125/132). O autor apresentou contrarrazões pleiteando a manutenção da sentença É o relatório. Versa o feito sobre indenização por danos morais e materiais. A decisão recorrida foi disponibilizada em 05/02/2018 (fls. 100), ou seja, na vigência do novo Código de Processo Civil/2015, de modo que o recurso deve ser analisado pelos parâmetros nele previstos. O enunciado nº 3, do Colendo Superior Tribunal de Justiça, destaca: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a cst 3

4 decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. A r. sentença apelada deve ser mantida por seus próprios e jurídicos fundamentos, os quais ficam adotados como razão de decidir pelo não provimento do recurso. Cabe, contudo, acrescentar ao decisum algumas considerações. Alega o autor na inicial que contratou serviços de transporte aéreo com a ré por meio do programa de milhagem, para o trecho São Paulo-Paris, mas que no dia do embarque em 27/06/2017 fora impedido de embarcar em razão de overbooking e, inobstante opção da ré para remarcar passagem sem custo adicional, perdeu as conexões subsequentes, previamente contratadas, com destino a Cairo. Acrescenta que realizou reclamação perante a Anac, que sofre de ansiedade genérica e que não poderia esperar outro voo da ré devido a outros compromissos pessoais. Pleiteia indenização por danos materiais e morais (fls. 01/17). A ré, em contestação, defendeu regularidade no procedimento conforme Resolução 141/2010, eis que ofereceu acomodação no próximo voo disponível. Sustentou configurado mero aborrecimento e pleiteou a improcedência dos pedidos iniciais (fls. 74/88). Os documentos acostados pelo autor demonstram suas alegações (fls. 19/44). De fato, contratou com a ré o transporte aéreo para o trecho São Paulo/Paris, com saída em 27/06/2017 às 22h35; em Paris faria conexão para Frankfurt/Alemanha e, em Frankfurt, ele pegaria voo para a cidade do Cairo (fls. 22/25 e 30). Entretanto, como não pode embarcar no dia previamente contratado na aeronave da ré, por ter perdido as duas conexões, foi obrigado a comprar novas passagens com saída em 28/06/2017, para o trecho São Paulo/Paris e Paris/Cairo, a fim de conseguir voltar para Vancouver, onde estuda, a tempo de realizar seus compromissos, dispendendo a quantia de R$8.672,82 com as novas passagens adquiridas de última hora (fls.31/34). A sentença apelada, correta, determinou o reembolso das passagens aéreas compradas de última hora para os trechos São Paulo/Paris e Paris/Cairo, inclusive do que cst 4

5 foi gasto de consumo de refeição, na proporção de 1/3 do valor apresentado, considerando-se apenas o autor enquanto consumidor do serviço de transporte aéreo prestado pela ré (fls. 50). Ressalte-se que a ré não nega o fato de o autor ter sido impedido de adentrar na aeronave, porque lotada, mas justifica o procedimento fundado na Resolução 141/2010 da Anac, sustentando que o ocorrido não passou de mero aborrecimento, portanto insuficiente a gerar danos morais. O contrato de transporte, como sabido, é obrigação de resultado, de modo que o transportador deve levar o passageiro ao local de destino, no modo, termo e condições contratados. A ré, como fornecedora de serviço, deve se responsabilizar por eventuais danos que possam ser causados a seus passageiros, que no caso é objetiva, devendo responder independentemente de culpa pelos danos causados, em conformidade com o artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor: O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação de serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e risco. Assim, tratando-se de responsabilidade objetiva, a transportadora aérea somente não seria responsabilizada pelo descumprimento do contrato em caso de comprovação das excludentes legais (art. 734 c/c 393, parágrafo único, ambos do Código Civil e art. 14, 3º, II, do Código de Defesa do Consumidor), fato não demonstrado, eis que o motivo declarado pela ré pelo desvio foi mesmo preterição (fls. 26/27). A alegação de que ofertou ao autor a possibilidade de reacomodação no voo disponível após três dias, não caracteriza a excludente de responsabilidade indicada. O autor foi obrigado a ficar muito além do período previsto, inclusive cst 5

6 perdeu outras conexões, e precisou comprar novas passagens aéreas, portanto justificado o pagamento de indenização moral. Nesse sentido já decidiu este E. Tribunal de Justiça: RESPONSABILIDADE CIVIL. Danos morais. Transporte aéreo internacional. Overbooking. Sentença de improcedência. Hipótese em que a autora contratou voo direto de São Paulo a Roma, mas foi compelida a viajar em outro voo, com conexão no Rio de Janeiro, resultando em atraso de cinco horas para sua chegada ao destino. Venda de passagens em quantidade superior ao de assentos existentes na aeronave com a finalidade de minimizar os prejuízos decorrentes do cancelamento de reservas, revelando-se abusivo tal procedimento que transfere para o consumidor os riscos da atividade do transportador aéreo. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Defeito da prestação do serviço. Responsabilidade objetiva do transportador aéreo (art. 14, CDC). Configuração de danos morais indenizáveis. Indenização fixada em seis mil reais. Sentença de improcedência reformada. Pedido inicial julgado parcialmente procedente. Recurso provido, em parte. Dispositivo: deram parcial provimento ao recurso. (Apelação nº , Relator JOÃO CAMILLO DE ALMEIDA PRADO COSTA, 19ª Câmara de Direito Privado, j. 05/02/2018). E, ainda, de modo semelhante, esta C. Câmara: APELAÇÃO TRANSPORTE AÉREO ATRASO DE VOO, PERDA DA CONEXÃO E DESAPARECIMENTO DE BAGAGEM - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. 1 DANOS MORAIS 1.1. DEVER DE INDENIZAR. Argumentos do apelante que não convencem Atraso de voo e consequente perda da conexão, com necessidade de pernoite não programado Fortuito interno, que não afasta a responsabilidade do cst 6

7 transportador Necessidade de embarque em dia seguinte, com pernoite em hotel, para a realização de nova conexão Situação vivenciada que supera o mero dissabor típico da hodierna vida em sociedade Danos morais caracterizados VALOR DA INDENIZAÇÃO Considerando-se as particularidades do caso concreto, notadamente extensão dos danos, grau de culpa e, ainda, o fato de que a ré prestou certa assistência ao autor em razão do infortúnio, de rigor o reconhecimento de que não exagerado o importe de R$ ,00 (dez mil reais) fixado na sentença. 2. DANOS MATERIAIS Extravio de bagagem - Ausente declaração de bens, correto o reconhecimento de que o valor dos bens subtraídos da mala da autora alcançava a cifra de R$ 813,07 (oitocentos e treze reais e sete centavos) - Valor verossímil, considerando-se que se tratava de pessoa em viagem internacional Notas fiscais, não impugnadas especificadamente, carreadas aos autos. SENTENÇA MANTIDA RECURSO DESPROVIDO. (Apelação nº , Relator SERGIO GOMES, 37ª Câmara de Direito Privado, j. 28/03/2017). Inexiste norma legal específica para a fixação do valor da indenização, pautando-se a doutrina e jurisprudência pelo princípio da razoabilidade, levando-se em conta a gravidade do dano e o nível socioeconômico das partes. enfatizou o STJ: A respeito dos critérios para a fixação do valor do dano moral, A indenização deve ser fixada em termos razoáveis, não se justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido, considerando que se recomenda que o arbitramento deva operar-se com moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao porte empresarial das partes, às suas atividades comerciais e, ainda, ao valor do negócio, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela cst 7

8 doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida, notadamente à situação econômica atual e as peculiaridades de cada caso. (REsp /MA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/1998, DJ 05/10/1998, p. 102). Também deve ser observada a dupla função da indenização: compensar a vítima pelos danos suportados e punir o ofensor pelo ato realizado, conforme bem destacou a ilustre Ministra ELIANA CALMON: O valor do dano moral tem sido enfrentado no STJ com o escopo de atender a sua dupla função: reparar o dano buscando minimizar a dor da vítima e punir o ofensor, para que não volte a reincidir. (REsp / RS, j. em 23/03/2004) O valor da indenização deve ser fixado para compensar o dano suportado, não abusivo e nem excessivo, além de atender aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Considerando os parâmetros acima expostos e as circunstâncias do caso, a importância de R$ ,00, considerados na data do arbitramento se mostra razoável e proporcional a fim de atender aos critérios já elencados. O valor deve ser corrigido monetariamente nos termos da Súmula 362 do STJ e com acréscimo de juros de mora de 1% ao mês partir citação, nos termos do art. 405 do Código Civil. Destarte, o recurso de apelação deve ser desprovido, mantendo-se a r. sentença apelada pelos seus próprios fundamentos e pelos ora acrescentados. Outrossim, cabível a majoração dos honorários advocatícios sucumbenciais, nos termos do art. 85, 11, do novo Código de Processo Civil, diante do trabalho adicional realizado em grau recursal: O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o trabalho adicional realizado em cst 8

9 grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto nos 2o a 6o, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos 2o e 3o para a fase de conhecimento. Teresa Arruda Alvim Wambier e outros, em sua obra Primeiros Comentários do Novo Código de Processo Civil Artigo por Artigo, citados nos Embargos de declaração nº , 32ª Câmara de Direito Privado, Relator RUY COPPOLA, j , observam a existência de dupla finalidade para a fixação dos honorários recursais: Sem previsão no Código vigente (CPC/73), o NCPC inova ao prever a fixação de honorários advocatícios na fase recursal. O dispositivo estabelece que o tribunal, ao julgar recurso, fixará nova verba honorária advocatícia, atento aos parâmetros dos 2º ao 6º, e o limite total de vinte por cento para a fase de conhecimento. Esse dispositivo busca atingir duas finalidades. A primeira delas consiste na tentativa de impedir recursos infundados e protelatórios, pois a parte que desta forma agir sofrerá imposições pecuniárias adicionais. De outro lado, quer-se que haja a remuneração gradativa do trabalho do advogado. A regra, portanto, apresenta dúplice caráter, tanto punitivo como remuneratório. A majoração, no caso, é obrigatória, consoante o dispositivo legal acima citado. Nesse sentido já decidiu esta C. Corte: Ação despejo - Denúncia vazia - Procedência decretada - Prorrogação da execução do contrato por tempo indeterminado - Prévia notificação judicial - Ocorrência de pretensão resistida - Majoração da verba honorária - Aplicação do 11 do artigo 85 do CPC de Apelo desprovido, com observação (Apelação , 29ª Câmara de Direito Privado, Relator FORTES BARBOSA, j ) cst 9

10 Trecho do v. acórdão: Na sistemática nova estabelecida para a verba honorária advocatícia, foi introduzida a figura dos honorários recursais, como acréscimo àqueles já anteriormente arbitrados. Este acréscimo, efetuada uma leitura atenta do 11 do artigo 85 do CPC de 2015, não é meramente facultativo, ele é obrigatório e decorre da atuação concreta do advogado em segunda instância, efetivado novo trabalho profissional, este consistente, na espécie, na apresentação de contrarrazões a um recurso de apelação. Tudo somado, cabe majorar a verba honorária devida pela apelante em favor da apelada para 12,5% (doze e meio por cento) do valor atualizado da causa. (grifei). Os honorários advocatícios foram arbitrados na r. sentença, em razão da sucumbência da ré em 10% do valor da condenação. Diante do trabalho adicional realizado em grau de recurso pelo apelado, que ofertou contrarrazões (fls. 125/132), elevo os seus honorários para 15 % do valor da condenação atualizado. Por fim, já é entendimento pacífico o de que não está obrigado o julgador a citar todos os artigos de lei e da Constituição Federal para fins de prequestionamento. Assim, ficam consideradas prequestionadas toda a matéria e disposições legais discutidas pelas partes. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao recurso. Pedro Kodama Relator (Assinatura digital) cst 10