Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Transcrição

1 Número do /001 Númeração Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Antônio Bispo Des.(a) Antônio Bispo 20/03/ /04/2014 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO PARCIAL DOS EFEITOS DA TUTELA PARA EXCLUSÃO DO NOME DO AUTOR DOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO O ajuizamento de ação em que se discute a existência do débito e inscrições negativas em órgãos de restrição creditícia autoriza o Poder Judiciário a conceder a antecipação dos efeitos da tutela. AGRAVO DE INSTRUMENTO CV Nº /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - AGRAVANTE(S): ANA LUIZA APARECIDA SILVA - AGRAVADO(A)(S): TIM NORDESTE S/A A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 15ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos em NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O RELATOR. DES. ANTÔNIO BISPO RELATOR. DES. ANTÔNIO BISPO (RELATOR) V O T O 1

2 ANA LUIZA APARECIDA SILVA agrava da decisão de fls. 20/21-TJ, proferida nos autos da "AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO PARCIAL DOS EFEITOS DA TUTELA PARA EXCLUSÃO DO NOME DO AUTOR DOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO" movida em face de TIM NORDESTE S/A, que determinou a prestação de caução por parte do agravante, para que assim autorizasse a retirada de seu nome dos cadastros de proteção ao crédito. Das razões recursais (fls.02/14-tj) consta, em síntese, que a caução exigida pelo juízo a quo é totalmente desnecessária e praticamente indefere a liminar pleiteada pelo agravante, pois a mesma não possui nenhuma condição financeira para arcar com a caução estipulada, e ainda que tivesse, tal medida é injusta e descabida, em vista da agravante não ter possuir nenhum vínculo contratual com a agravado. Com essas considerações, requereu a parte agravante, liminarmente, a concessão de efeito ativo. Ao final, seja provido o recurso, reformando-se a decisão agravada, para determinar a retirada imediata do nome do agravante dos cadastros de proteção ao crédito, independentemente de caução, enquanto perdurar a lide. Recebidos os autos (art. 527, CPC), deferiu-se o efeito ativo (fls.42/42.v-tj). Nas informações (art. 527, IV, CPC), noticiou-se o cumprimento do art. 526 do CPC (fls. 48-TJ). Sem contraminuta (certidão à fl.50-tj). É o relatório. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso. 2

3 Cinge a controvérsia em definir se estão presentes os pressupostos necessários ao deferimento da tutela antecipada, que objetiva a exclusão do nome dos agravantes dos Órgãos de Proteção ao Crédito. A tutela antecipada está prevista no art. 273 do CPC e exige a presença de três pressupostos genéricos e cumulativos: a) Prova inequívoca; b) Verossimilhança das alegações e c) Reversibilidade dos efeitos do provimento jurisdicional. De outro modo, a tutela antecipada também exige a presença de um de seus pressupostos alternativos, são eles: a) Perigo ou b) Abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório. A prova inequívoca consiste na existência de um mínimo de lastro probatório produzido nos autos, o qual não precisa ser exclusivamente documental, podendo ser pericial ou testemunhal. O adjetivo "inequívoca" significa que a prova tem que ter sido regularmente produzida. De outro modo, relativamente à verossimilhança das alegações, é preciso que a prova inequívoca conduza à plausibilidade das afirmações da parte, ou seja, que a prova produzida convença o juiz de que há probabilidade, razoabilidade no que se afirma. Esses dois pressupostos conduzem à evidência e se somam para gerar a evidência necessária à concessão da tutela antecipada. A soma da prova inequívoca e da verossimilhança das alegações geram a evidência indispensável ao deferimento da tutela antecipada. 3

4 Não obstante, o legislador ainda exige um terceiro pressuposto genérico e cumulativo, previsto no 2º, do art. 273, consistente na reversibilidade do provimento antecipado. Neste diapasão, a decisão que tem consequências irreversíveis, não deve ser deferida em sede de tutela antecipada. Contudo, há provimentos que, embora irreversíveis na forma em que foram concedidos, são passíveis de serem antecipados se puderem ser revertidos pecuniariamente, o que será examinado à luz do caso concreto, fazendo-se um juízo de ponderação de interesses. Alternativamente, a tutela antecipada exige ou o perigo (tutela de urgência - efetivar para assegurar o direito material) ou o abuso do direito de defesa/manifesto propósito protelatório. O abuso do direito de defesa ou manifesto propósito protelatório reforçam a verossimilhança. Quer dizer, as alegações são tão verossímeis, que a outra parte estará abusando do seu direito de defesa, praticando atos de mera protelação do feito. Neste linear, esse último pressuposto alternativo é uma forma de punir o ilícito processual. O ajuizamento de ação em que se discute a existência do débito e inscrições negativas em órgãos de restrição creditícia, autoriza o Poder Judiciário a conceder a antecipação dos efeitos da tutela, para que se impossibilite a divulgação de inadimplência, razão pela qual se impõe a reforma da decisão agravada neste mister. Assim, no caso dos autos, há prova inequívoca de que o autor/agravante faça jus à retirada do seu nome dos órgãos de proteção ao crédito, em sede de tutela antecipada. Outrossim, não há que se falar em irreversibilidade da tutela antecipada ora pleiteada pelo agravante, posto que, se, quando do provimento final, se entender pelo não pagamento da referida dívida, o nome do recorrente poderá ser novamente negativado perante os 4

5 Órgãos de Proteção ao Crédito. Desta feita, estando presentes os pressupostos cumulativos da tutela antecipada, passa-se à análise da presença ou não de um dos requisitos alternativos necessários à concessão da tutela antecipada (Perigo ou abuso do direito de defesa/manifesto propósito protelatório). No caso enfocado está presente o perigo da demora na efetivação do provimento jurisdicional, já que é inequívoco o prejuízo advindo de uma negativação nos Órgãos de Proteção ao Crédito, sendo que a presença da razoabilidade do direito alegado possibilita a concessão da liminar. Assim, merece reforma a decisão agravada, já que analisando-se os fundamentos da pretensão recursal, chega-se à conclusão que se encontram presentes os pressupostos legais que autorizam a concessão da liminar para exclusão do nome da parte agravante dos Órgãos de Proteção ao Crédito. Por consectário, incorreta a decisão agravada que indeferiu a tutela antecipada pretendida pela agravante. Mediante tais considerações, DOU PROVIMENTO AO RECURSO para reformar a decisão agravada e deferir a tutela antecipada, determinando que a parte agravada se abstenha de efetuar o registro do nome da parte agravante e dos eventuais devedores solidários nos cadastros restritivos de créditos e, se já o fez, que providencie a imediata exclusão, no prazo de 10 dias, sob pena de multa diária no valor de R$100,00, limitada ao valor da dívida. Custas ao final. DES. PAULO MENDES ÁLVARES VOTO 5

6 No caso não se trata de negativação irregular pela inexistência de relação jurídica entre as partes. A autora, ora agravante, confessa que fez um plano de telefonia móvel com a agravada, no valor de R$ 29,90 (vinte e nove reais e noventa centavos) mensais, alegando, porém, que no mês seguinte à contratação cancelou o contrato, por não ter ficado satisfeita com a prestação do serviço, sendo por essa razão indevida a inclusão de seu nome nos cadastros restritivos de crédito. Todavia, não existem nos autos até o momento documentos que comprovem a indubitável veracidade do alegado pelo agravante, demonstrando o efetivo cancelamento do contrato firmado entre as partes e a conseqüente irregularidade da negativação efetivada. Assim, é prudente que a ordem de exclusão da restrição seja garantida por caução idônea, tal como determinada na sentença. Com tais considerações, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO, para manter a decisão tal como proferida. Custas pela agravante, suspensa a exigibilidade em virtude da gratuidade de justiça DES. EDISON FEITAL LEITE De acordo com o e. 1º Vogal, Des. Paulo Mendes Álvares. SÚMULA: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O RELATOR" 6