PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA, é apelado SANTA FE VEICULOS LTDA. ACORDAM, em 28ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Indeferiram pedido de adiamento, por V.U. Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CESAR LACERDA (Presidente sem voto), CESAR LUIZ DE ALMEIDA E BERENICE MARCONDES CESAR. São Paulo, 7 de fevereiro de Dimas Rubens Fonseca RELATOR Assinatura Eletrônica

2 APEL. Nº COMARCA: SÃO PAULO (36ª VC) APTE: GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA. APDA: SANTA FÉ VEÍCULOS LTDA. JD 1º GRAU: TERESA CRISTINA CABRAL SANTANA RODRIGUES DOS SANTOS VOTO Nº AÇÃO INIBITÓRIA. CONTRATO DE CONCESSÃO DE VENDAS DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. Lei 6.729/79. Pleito para impedir a fabricante de contratar ou permitir a instalação de nova concessionária na área operacional de atuação da autora, bem como para não recusar o fornecimento de veículos. Desistência da nova concessionária nomeada que não esvazia o objeto da demanda, cujo pedido é mais amplo. Interesse processual caracterizado. Art. 6, I, do referido Diploma, que assegura ao concedente a contratação de nova concessão se o mercado de veículos automotores novos da marca, na área delimitada, apresentar as condições justificadoras da contratação. Prova pericial que se mostra necessária para averiguar se há viabilidade de mercado para a instalação de nova concessionária na área de atuação de apelada. Prova oral que deverá ser oportunamente analisada a necessidade de sua realização. Não caracterização da litigância de má-fé das partes, ante a não configuração das situações elencadas no art. 80 do CPC/2015. Recurso provido, com anulação da sentença. Trata-se de apelação interposta por GENERAL MOTORS DO BRASIL LTDA. nos autos da ação inibitória que lhe promove SANTA FÉ VEÍCULOS LTDA., com pedido julgado procedente para tornar definitiva a tutela antecipada concedida, condenando a ré ao pagamento das despesas processuais e verba honorária Apelação nº

3 fixada em dez por cento sobre o valor atualizado da causa. Sustentou, em síntese, que houve cerceamento de defesa, em razão do julgamento antecipado da lide, tendo em vista a necessidade de produção de provas pericial e oral, a fim de comprovar a existência de gap operacional na área de Florianópolis/SC e a regularidade de sua conduta comercial; que o contrato de concessão e a Lei 6.729/79 não preveem a exclusividade da apelada para atuar como concessionária na área de Florianópolis/SC; que há estudo de mercado confirmado a existência de gap operacional na região, o que autoriza a apelante a nomear outra concessionária; que jamais se recusou a fornecer veículos à apelada, mas sim esta não tinha crédito no Plano de Capitalização para adquirir os automóveis a prazo, não estando a referida concessionária desabastecida, pois mantinha estoque; que há mais de cinco anos vem sendo impedida de nomear uma nova concessionária na região, o que lhe tem causado prejuízos irreparáveis. Foram oferecidas contrarrazões, com pleito de desprovimento do recurso. Petição da apelante comunicando que a empresa AUTOSHOW GM COMÉRCIO DE VEÍCULOS LTDA. desistiu da sua nomeação como concessionária Chevrolet na área operacional de Florianópolis, requerendo, assim, a extinção do feito sem resolução do mérito (fls. 1460/1465). Apelação nº

4 Manifestação da apelada pugnando pelo desprovimento da apelação ou a extinção do processo com resolução do mérito, nos termos do art. 487, III, a, do CPC/2015, bem como a condenação da apelante por litigância de má-fé (fls. 1484/1496). discussão É o relatório. Inicialmente, observa-se que o tema em contrato de concessão comercial para distribuição de veículos, regido pela Lei 6.720/79 (Lei Ferrari) - é matéria da competência recursal da Subseção III de Direito Privado, conforme entendimento do E. Grupo Especial: CONFLITO DE COMPETÊNCIA Ação monitória em fase de cumprimento de sentença Demanda que versa contrato de concessão comercial, tendo por objeto a aquisição e revenda de bens móveis corpóreos Competência preferencial atribuída à Subseção de Direito Privado III (25ª a 36ª Câmaras), nos termos da Resolução 623/2013 (art. 5º, III.14) Precedentes do Órgão Especial Conflito julgado procedente, afirmada a competência da Câmara Suscitante (36ª Câmara de Direito Privado), que antes recebeu os autos por prevenção (art. 105 do Regimento Interno) 1. Não há que se falar em perda do objeto da presente demanda, tendo em vista que o pedido inicial é mais amplo impedimento à apelante de contratar nova concessionária para a área operacional de Florianópolis/SC e de recusar os pedidos de fornecimento de veículos à apelada. 1 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Grupo Especial da Seção do Direito Privado. Conflito de Competência nº J. 25/06/2015. Apelação nº

5 Assim, necessário o pronunciamento de mérito para o equacionamento da questão, pois ainda que tenha havido a desistência da nova concessionária nomeada, isto não garante que não haverá a outorga de concessão para outra empresa, no futuro. Colocado isso, tem-se que o caso em testilha envolve discussão sobre a possibilidade ou não de instalação de nova concessionária da marca Chevrolet na área de atuação da apelada Município de Florianópolis/SC. Assinale-se que a concessão comercial de veículos automotores é regida pela Lei 6.729/79, também conhecida como Lei Ferrari, a qual tem como objetivo equilibrar a relação existente entre produtores (montadoras de veículos) e distribuidoras (concessionárias), evitando práticas comerciais desleais e abusivas. O art. 6, I, da referida Lei assegura ao concedente a contratação de nova concessão se o mercado de veículos automotores novos da marca, na área delimitada, apresentar as condições justificadoras da contratação que tenham sido ajustadas entre o produtor e sua rede de distribuição. No caso, a montadora apelante informou que há condições para a instalação de nova concessionária na área de atuação da apelada (Florianópolis/SC), assim, impõe-se reconhecer a necessidade de realização de perícia para averiguar Apelação nº

6 se há ou não viabilidade de mercado para a nomeação de uma nova concessionária na área de atuação de apelada. Alinhe-se que, não se olvidando do disposto no art. 370 do CPC/2015 art. 130 do CPC/1973, a prova pericial no presente caso não se constitui em mera diligência inútil ou protelatória, mas, ao revés, é medida salutar para a justa solução do caso. Ademais, estabeleceu-se a controvérsia que só pode ser superada pela realização de perícia, esta no âmbito de obrigação da apelante, o que acarreta a anulação do julgado. No tocante à produção de prova oral, sua colheita ficará ao oportuno arbítrio do magistrado, caso entenda que a mesma é necessária para a formação da sua convicção. Alfim, quanto ao pedido da apelada para punição da apelante por litigância de má-fé, não se detectou qualquer ato desta passível de aplicação da tal penalidade. Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento ao recurso e anulo a r. sentença, retornando os autos à instância de origem para realização das provas pericial e oral, na forma acima alvitrada. DIMAS RUBENS FONSECA RELATOR Apelação nº