4ª VARA DO TRABALHO DE JOINVILLE/SC RTOrd

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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 12ª REGIÃO 4ª VARA DO TRABALHO DE JOINVILLE RTOrd RECLAMANTE: ROBERTO SANTOS DA SILVEIRA FILHO RECLAMADO: JOINVILLE ESPORTE CLUBE 4ª VARA DO TRABALHO DE JOINVILLE/SC RTOrd Vistos etc RELATÓRIO ROBERTO SANTOS DA SILVEIRA FILHO, devidamente qualificado nos autos, ajuizou ação trabalhista em face de JOINVILLE ESPORTE CLUBE, também qualificado, postulando, após expor as causas de pedir, os pedidos elencados na petição inicial, tendo dado à causa o valor de R$ ,00. Disponibilizou documentos. O réu apresentou defesa às fls. 73 e ss., impugnando os pedidos e requerendo o respectivo indeferimento. Disponibilizou documentos, sobre os quais se manifestou o autor às fls. 182 e ss. Em prosseguimento, foi tomado o depoimento do autor à fl O Juízo indeferiu a oitiva de uma testemunha convidada pela ré a respeito do pedido de direito de imagem. Não havendo mais provas a serem produzidas, conforme declarado pelas partes, restou encerrada a instrução processual (fl. 191). Razões finais remissivas e propostas conciliatórias realizadas e rejeitadas. É o relatório. Decide-se. FUNDAMENTAÇÃO Direito de imagem - natureza jurídica e valores em atraso Sustentou o autor a invalidade da contratação pelo direito de imagem, no valor de R$ ,00, já que se trata de nítido salário e fraude aos seus direitos trabalhistas. Requereu a integração do respectivo valor como salário e a sua repercussão nas outras parcelas salariais. Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 1

2 Pleiteou também os valores não quitados. Em defesa, a ré alegou que o ajuste entre as partes de uso de direito de imagem foi legal e dentro do percentual permitido pela atual legislação, de 40% sobre o total das remunerações percebidas pelo jogador. O ajuste civil relativo à licença para uso de imagem, voz, nome e/ou apelido, marketing esportivo e outras avenças", que contém cláusula indenizatória no valor de R$ ,00 ao autor, não foi disponibilizado aos autos. No entanto, a sua existência é incontroversa, e sequer foi questionada pelo jogador, e eventuais diferenças a serem quitadas. Sendo assim, a análise deste particular remete tão somente quanto à natureza do título em epígrafe. Após várias discussões jurídicas a respeito e ao longo dos anos, a Lei nº , de 2011, incluiu o art. 87-A na Lei Pelé que preconiza: Art. 87-A. O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, mediante ajuste contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo. E, posteriormente, para definir a forma de pagamento do respectivo direito de imagem, a Lei nº , de 04/08/2015, denominada de Lei "PROFUT", incluiu o seguinte parágrafo único ao artigo supracitado: Art. 87-A.... Parágrafo único. Quando houver, por parte do atleta, a cessão de direitos ao uso de sua imagem para a entidade de prática desportiva detentora do contrato especial de trabalho desportivo, o valor correspondente ao uso da imagem não poderá ultrapassar 40% (quarenta por cento) da remuneração total paga ao atleta, composta pela soma do salário e dos valores pagos pelo direito ao uso da imagem." (NR) Com efeito e considerando como títulos remuneratórios os valores indicados na petição inicial, de R$ ,00, como salário constante da CTPS, mas o direito de imagem contratado, de R$ ,00, chega-se ao importe total de R$ ,00, que aplicando-se o Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 2

3 percentual previsto no parágrafo único acima (40%), totaliza R$ ,00. Sendo assim, o valor quitado a título de direito de imagem, conforme legislação atual, encontra-se dentro do limite proposto de 40%. Além disso, e ao contrário do alegado pelo autor, ele reconheceu que os jogos em que participou foram transmitidos na TV, o que comprova a utilização da imagem. E no próprio "facebook" da ré consta a imagem do autor. Havendo a exploração de imagem do postulante, e estando o valor contratado dentro do limite legal, bem como tratando-se de título indenizatório, já que de direito de imagem, rejeito o pedido constante da letra "a" neste particular, relativo ao reconhecimento como verba salarial. Por outro lado, não sendo comprovado o pagamento do título nos meses de agosto a dezembro/2016, defiro o respectivo montante ao postulante, levando em conta que o valor do último mês de trabalho deve ser parcial, já que o contrato se exauriu em 14/12/2016. Para o cálculo deverá ser utilizada como base de cálculo o valor de R$ ,00 mensais. Auxílio-moradia - integração ao salários e valores não quitados Requereu a autor o reconhecimento do título epígrafe como salário e a sua integração nas outras parcelas salariais. Postulou também o pagamento do auxílio-moradia não quitado pela ré dos meses de julho a dezembro/2016. A ré, em contrapartida, afirmou que não quitava o auxílio-moradia ao postulante, e que, mesmo se tal fato tivesse ocorrido, essa parcela não tem efeito remuneratório, mas tão somente indenizatório, já que é para o trabalho, e não pelo trabalho. No que se refere ao pagamento do título, o autor comprovou, por intermédio de conversas via "whatsapp" com o Superintendente do clube à época que, realmente, era quitado o valor relativo ao auxílio-moradia no importe de R$ 1.500,00 mensais (fl. 16). Além disso, a própria ré anexou o contrato de locação do autor às fls Com efeito, e restando demonstrado a prática de pagamento deste título, e não havendo comprovação do lapso requerido, ou seja, do repasse relativo aos meses de julho, agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro de 2016, defiro os respectivos montantes, levando em conta que o valor do último mês trabalho deve ser parcial, já que o contrato se exauriu em 14/12/2016. Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 3

4 mensais. Para o cálculo deverá ser levado em conta o montante de R$ 1.500,00 No que pertine à natureza do título, o auxílio-moradia refere-se a pagamento para a prestação de trabalho, ou seja, para que o jogador tenha onde ficar na cidade em que o clube de futebol esteja situado. Sendo assim, se trata de título indenizatório. Por esse motivo, rejeito o reconhecimento do auxílio-moradia como salário, e a integração nas outras parcelas salariais. Salários em atraso - férias e verbas rescisórias - FGTS da contratualidade - multas dos artigos 467 e 477, 8º, da CLT Postulou o autor o pagamento dos salários em atraso, relativos aos meses de outubro a dezembro/2016, bem como as férias e a gratificação natalina do período. depositado. Pleiteou, ainda, as multas dos artigos 467 e 477, 8º, da CLT, e o FGTS não O réu se defendeu, afirmando que os valores requeridos foram quitados. No entanto, embora tenha anexado aos autos depósitos na conta corrente do postulante, não há prova de que tais valores fossem efetivamente referentes aos títulos requeridos na petição inicial. E o TRCT das fls sequer encontra-se assinado. Em face da ausência de comprovação de quitação dos salários em atraso, e dos títulos rescisórios, defiro ao demandante as seguintes verbas, com base no salário de R$ ,00, e considerando ainda como último dia trabalhado 14/12/2016: - salário de outubro, novembro e dezembro (14 dias), relativos ao ano de 2016; - gratificação natalina proporcional em 07/12 avos; e - férias com o terço legal em 07/12 avos. Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 4

5 Defiro ainda o FGTS do período relativo ao contrato de trabalho, abatendo-se os valores já depositados conforme o extrato da fl. 21. Tendo em vista a falta de pagamento das verbas rescisórias no prazo previsto no art. 477, 6º, da CLT, defiro a multa prevista no 8º, do mesmo artigo citado, no valor de R$ ,00 E considerando a falta de comprovação de pagamento dos títulos acima mencionados (salários em atraso, férias e gratificação natalina proporcionais), do art. 467 da CLT ao postulante sobre os respectivos valores. defiro a multa Friso que embora a ré tenha disponibilizado a comunicação de férias à fl. 139, não há comprovação da quitação respectiva. Indenização por danos morais Postulou o autor a indenização por danos morais, em razão da falta de pagamento de salários e verbas rescisórias. O réu se defendeu, afirmando que vem tentando buscar as melhores soluções para a solvência de seus débitos, e que sempre teve o compromisso de saldar as obrigações assumidas com seus jogadores. O dano moral consiste em uma lesão a um interesse de caráter extrapatrimonial, que fere a honra, a imagem e auto-estima da pessoa, causando, dentre outros sintomas, angústia, desânimo, abatimento, medo, dificuldade de relacionamento social. A CRFB ampara a postulação por dano moral (art.5º, V e X), da mesma forma que o Código Civil (arts. 186 e 927), que são aplicáveis ao direito do trabalho, por força do art.8º, par.único da CLT. Dessa forma, cabe ao Juiz avaliar se os fatos alegados trouxeram à autora prejuízo de ordem moral, causando-lhe constrangimentos e maculando sua honra. Além disso, os meros dissabores, aborrecimentos, irritações e os incômodos do cotidiano não são indenizáveis, pois, além de fazerem parte da normalidade do dia-a-dia, seja no trabalho, no trânsito, entre os amigos e até no ambiente familiar, acabaríamos por banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais aborrecimentos. Verifico que o autor não comprovou a ocorrência de algum dano efetivo à sua moral e que causasse constrangimento e abalo psíquico à época dos fatos. Outrossim, é pública e notória a situação que envolve o clube réu e que está Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 5

6 tentando buscar alternativas para a solução do problema econômico pelo qual vem passando. Diante de todo o exposto, rejeito a indenização pleiteada. Juros de mora e correção monetária Juros e correção monetária na forma da lei, observando-se a TR, conforme disposto no artigo 879, 7º, da CLT, com redação dada pela Lei /17. Os juros são os moratórios, a serem calculados, na forma da Súmula 113, do E. TRT da 12ª Região, da seguinte forma: "JUROS DE MORA. ART. 39, 1º, DA LEI Nº 8.177/1991. CRITÉRIO DE APURAÇÃO. No cômputo do percentual de juros de mora incidentes sobre débitos trabalhistas, previstos no art. 39, 1º, da Lei nº 8.177/1991, aplicam-se juros de 1% ao mês, indistintamente, para os meses completos do período de apuração e, para os meses incompletos - no início e no final do período -, divide-se esse percentual pela quantidade de dias a que corresponde o mês - 28, 29, 30 ou 31 -, multiplicando-se o quociente pela quantidade de dias residuais.". As contribuições previdenciárias devem ser deduzidas antes que se calculem os juros de mora, pois a "condenação" a que se refere o art. 883 da CLT equivale ao valor a ser recebido pelo empregado. Assim, primeiro deve ser realizada a dedução das contribuições previdenciárias, para só depois, sobre o respectivo saldo, se calcularem os juros de mora devidos ao empregado. Estes critérios deverão ser observados até a data do efetivo pagamento ao credor, não tendo o depósito em dinheiro, feito em instituição bancária oficial, o condão de fazer cessar a obrigação. Portanto, em caso de execução, a executada deverá arcar com a diferença entre a correção monetária adotada pela instituição financeira e a correção monetária, inclusive com juros de mora, correspondente aos débitos trabalhistas, previstos na Lei nº 8.177/1991. O FGTS será atualizado pelo mesmo índice trabalhista (TST/SDI-1, OJ nº 302), bem como a multa do art. 477, 8º, da CLT. Os juros de mora não deverão compor a base de cálculo do imposto de renda, nos termos da OJ n. 400, da SDI-1, do C. TST. Descontos previdenciários e fiscais Autorizo, no que couber, a dedução dos descontos fiscais, conforme forma de cálculo prevista na Lei /10, e dos descontos previdenciários (regime de competência, Decreto 3048/99, art. 276, 4º), devidos pelo empregado e pelo empregador, sobre as verbas Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 6

7 de natureza salarial, observando-se o disposto nos arts. 22, 2º e art. 28, 9º da Lei 8212/91 e no 9º do art. 214 do Decreto 3048/99 (TST, Súm. 368, Provimentos 01/96 e 03/05 da CGJT). Vale ressaltar que, com o advento da Lei /10, que acrescentou o art. 12-A da Lei nº 7.713/98, o cômputo do imposto de renda será calculado a partir do valor recebido acumuladamente e dos meses correspondentes ao pagamento, e regulamento pela Instrução Normativa RFB nº 1.127/11. Quanto aos recolhimentos previdenciários, cada parte deverá arcar com sua cota de contribuição (Provimento/Colendo Tribunal Superior do Trabalho 2/93) e a parte ré, comprovar nos autos a efetivação do recolhimento de ambas as cotas, sob pena de execução direta do valor (CLT, art. 876, parág. Único). A parte autora deduzirá sua cota do seu crédito. Friso que, com a edição da Súmula nº 80, do E. TRT - 12ª Região, o fato gerador da contribuição previdenciária para o serviço prestado até 04/03/2009 é o efetivo pagamento do débito trabalhista em Juízo, só incorrendo juros e multa caso não sejam recolhidas as contribuições previdenciárias até o dia 02 do mês seguinte ao pagamento. E, para o serviço prestado de 05/03/2009 em diante, o fato gerador é a data da prestação do serviço, sendo os juros de mora apurados desde então, mas com multa moratória a ser apurada a partir do prazo de 48h contadas da citação, em caso de não pagamento. Os juros e a atualização da contribuição previdenciária incidente deverão ser suportadas apenas pelo ex-empregador. Saliento que esta Justiça Especializada não detém competência para executar as contribuições de terceiros. No entanto, reputo-a competente para executar as contribuições do Seguro de Acidente de Trabalho (SAT), o que faço com fundamento na OJ n. 414, da e. SDI-1, do e. TST. Benefícios da Justiça Gratuita Diante da declaração de pobreza e não havendo provas que infirmem o contrário, tenho por preenchidos os requisitos legais (CLT, art. 790, 3º e Lei 5584/70, art. 14), razão pela qual, concedo à parte autora os benefícios da justiça gratuita, dispensando-a do pagamento de custas processuais, observado o disposto no art. 12 da Lei 1060/50. Honorários Advocatícios No âmbito trabalhista e nos casos que envolvem relação empregatícia (TST, IN nº 27, art. 5º), a verba honorária pressupõe o preenchimento dos requisitos previstos nos arts. 14 e 16 da Lei 5584/70, quais sejam, empregado beneficiário da e assistido pela entidade Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 7

8 sindical (TST, Súm. 219 e 329), que não foram revogados pelo art. 133 da CRFB e pelo Estatuto do Advogado. Assim, ausentes os requisitos acima e considerando que na data da propositura desta demanda não vigorava o disposto no artigo 791-A, da CLT, com redação dada pela Lei /2017, rejeito os honorários advocatícios postulados. DISPOSITIVO integrante deste dispositivo, ISSO POSTO, nos termos e limites da fundamentação que passa a fazer parte ACOLHO EM PARTE os pedidos formulados por ROBERTO SANTOS DA SILVEIRA FILHO, autor, em face de JOINVILLE ESPORTE CLUBE, para condenar o réu a pagar ao demandante, as seguintes parcelas: a) direito de imagem relativo aos meses de agosto a dezembro/2016, sendo que do último mês deve ser parcial, já que o pacto se exauriu em 14/12/2016, conforme fundamentação; b) auxílio-moradia dos meses de julho a dezembro/2016, sendo que do último mês deve ser parcial, já que o pacto se exauriu em 14/12/2016, conforme fundamentação; c) salário de outubro, novembro e dezembro (14 dias) relativos ao ano de 2016, conforme fundamentação; d) gratificação natalina proporcional em 07/12 avos, conforme fundamentação; e) férias com o terço legal em 07/12 avos; f) FGTS da contratualidade, sobre os títulos remuneratórios, abatendo-se os valores depositados em conta vinculada (extrato da fl. 21); g) multa do art. 477, 8º, da CLT, no valor de R$ ,00; e h) multa do art. 467 da CLT, sobre os salários em atraso, férias e gratificação natalina. Concedo à parte autora os benefícios da justiça gratuita. Os valores serão apurados em regular liquidação de sentença, por cálculos. Juros, correção monetária, descontos previdenciários e fiscais, nos termos da Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 8

9 fundamentação. R$ ,00, pela ré. Custas de R$ 3.200,00, calculadas sobre o valor ora arbitrado à condenação de Após o trânsito em julgado, cumpra-se. Intimem-se as partes. Nada mais. Joinville, 24 de setembro de PATRICIA ANDRADES GAMEIRO HOFSTAETTER Juíza do Trabalho jc JOINVILLE, 25 de Setembro de 2018 PATRICIA ANDRADES GAMEIRO HOFSTAETTER Juiz(a) do Trabalho Titular Número do documento: Num. c0c77a6 - Pág. 9