Poder Judiciário TRT 2^ Região 2^ Vara do Trabalho de Mauá TERMO DE AUDIÊNCIA IOO8-2OIO

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1 2^ Vara do Trabalho de Mauá TERMO DE AUDIÊNCIA Processo IOO8-2OIO Aos dois dias do mês de agosto do ano dois m i l e dez, às l y l i i o m i n na sala de audiências desta V a r a do Trabalho de Mauá, o M M. Juiz do Trabalho, Dr. MOISÉS DOS SANTOS HEITOR, determinou que fossem apregoados os litigantes: José Carlos de França Júnior, reclamante, e Comercial Móveis das Nações Ltda., reclamada. Ausentes as partes. Conciliação prejudicada. SENTENÇA DISPENSADO O RELATÓRIO NA FORMA DO ARTIGO DA CLT. DECIDESE Fundamentação 1 - A inicial preenche os requisitos do artigo 840 da CLT, menos rigorosos do que os exigidos pelo artigo 282 do CPC. 2 A matéria suscitada em preliminar de ilegitimidade diz respeito ao mérito da demanda e desta forma será apreciada, sendo certo que a reclamada é a única apta à defesa, tendo em vista o pedido formulado. De resto, há interesse processual e a pretensão é amparada pelo ordenamento jurídico. 3 - A reclamada não nega a prestação de serviços, tampouco a atividade remunerada, mas afirma que o trabalho do reclamante foi executado de forma autónoma. O vínculo de emprego se comprova com a configuração dos elementos caracterizadores dos sujeitos da relação empregatícia. Vale dizer, com a prova dos requisitos previstos nos artigos 2 e 3 da CLT (prestação de serviços, contraprestação salarial, não eventualidade, subordinação jurídica). No caso dos autos, põe-se em dúvida a subordinação da prestação dos serviços. No entanto, a moderna doutrina tem entendido como subordinada a atividade do trabalhador que se enquadra na estrutura hierarquia imanente à

2 organização do empreendimento. O montador de móveis, dentro da estrutura de um comércio de móveis, presta serviços subordinados. Outrossim, são habituais os serviços que se inserem na atividade fim do empreendimento. Délio Maranhão, citado por Carrion, assim se expressa: a aferição da natureza eventual dos serviços prestados há de ser feita tendo em vista os fins normais da empresa (Comentários à CLT, nota ao art 3^, Saraiva). Ora, a reclamada explora o ramo de comércio de móveis. É inerente à atividade comercial da empresa o serviço de montador. Nestes termos, os serviços prestados pelo reclamante não podem s e r considerados eventuais, porquanto essenciais ao próprio empreendimento. Não se concebe um comércio de móveis que contrate apenas montadores autónomos. A atividade de montador não é, em absoluto, eventual para a empresa. Por fim, em que pese o documento a f. 68 (declaração do reclamante de que executa montagens junto com seu auxiliar, Sr. Welton, arcando com as despesas deste), a reclamada não logrou provar que tenha havido efetivamente auxílio na prestação de serviços em favor da empresa. O valor dos salários é controvertido. A média salarial de R$ 900,00 foi contestada pela ré. A reclamada juntou recibos (fl. 69/86), no qual se verifica que o último salário mensal é de R$ 521,10. Para fins de liquidação de sentença prevalecem os salários constantes dos recibos quinzenais juntados aos autos com as integrações e reflexos ora deferidos. A reclamada alegou que o autor assinou distrato. Entretanto, não logrou juntá-lo aos autos. Reconheço, pois, a dispensa sem justa causa Nestes termos, acolho o vínculo empregatício havido entre as partes, condenando a reclamada a anotar a CTPS do reclamante da seguinte forma: período contratual, de 10/06/2009 até 28/02/2010; cargo. Montador; último salário, R$512,10. Em face da formação não espontânea do contrato de trabalho presume-se a sonegação dos depósitos do FGTS e da verba previdenciária. Determina-se a expedição de ofícios ao Ministério do Trabalho, órgão local, e ao INSS para as providências cabíveis. Os ofícios serão instruídos com cópia desta decisão. Roga-se às autoridades destinatárias que mantenham este juízo informado a respeito das medidas adotadas. 4 - Em face do acolhimento do vínculo empregatício e não havendo prova de pagamento, são devidos: aviso prévio, à razão de trinta dias, cujo período integra o tempo de serviço para todos os efeitos legais; férias proporcionais, à razão de 08/12 (oito doze avos - cf pedido na inicial), acrescidas de um terço; décimo terceiro salário proporcional, à razão de 08/12 (oito doze avos - cf pedido na inicial). Devida igualmente a multa moratória no valor de um mês de salário (art. 477, 8^, da CLT), em razão do inadimplemento. A reclamada deverá depositar em conta vinculada do reclamante as parcelas correspondentes ao FGTS, não recolhidas no curso do contrato de trabalho, inclusive as incidentes sobre as verbas de natureza remuneratória ora deferidas,

3 acrescidas da indenização complementar de 40%, o que se faz em cumprimento ao art. 18, caput e 1^, da Lei 8.036/90, alterado pela Lei de 9/9/97- Multa, juros e atualização monetária na forma da lei (art. 22 da Lei 8.036/90). Deverá, ainda, proceder à entrega das guias T R C T, código de saque 01, para o levantamento, comprovando a regularidade dos depósitos, e das guias do Seguro-Desemprego, sob pena de execução direta dos valores correspondentes. As verbas de natureza remuneratória deferidas sofrem incidência do FGTS, acrescido da indenização de 40%, nos termos da Instrução Normativa FGTS/MTE n^ 25/2001. Para efeito de liquidação, a indenização substitutiva do seguro-desemprego será calculada nos termos da Resolução Codefat n 467 de 21 de dezembro de (DOU ), observando-se os valores definidos pelo CODEFAT. 5 - É fato incontroverso que o reclamante exercia atividade externa. Outrossim, não houve prova da existência de controle de horários. Prestando serviços externos s e m controle de horários o reclamante não faz jus a horas extras (art. 62^ I, da CLT). Ademais, tratando-se de empregado que realiza atividade externa, longe da fiscalização da reclamada, o gozo dos intervalos depende exclusivamente da administração do tempo pelo próprio trabalhador. DEMAIS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Inaplicável o artigo 467 da CLT, em razão da controvérsia havida nos autos. As verbas de natureza remuneratória sofrem incidência do FGTS, acrescido da indenização de 40%, observando-se a Instrução Normativa FGTS/MTE n^ 25/2001. Eventuais valores pagos e já comprovados no processo serão compensados, título a título, mês a mês, sob pena de caracterizar-se o bis in idem. Inaplicável o artigo 359, I e I I, do CPC, porquanto em nenhum momento houve intimação judicial com tal cominação expressa, nem a tanto a parte se submeteu com suas alegações. A contribuição previdenciária é encargo do empregador e do empregado, nos termos da Lei vigente (art. 43 e 44 da Lei 8.212/91). A obrigação tributária compete àquele que adquiriu disponibilidade económica ou jurídica de renda (arí. 43 do CTiV), no caso o empregado. Considerando a declaração de fl. 14, e usando da faculdade expressa no artigo 790^ 3^^ da CLT, concedo a justiça gratuita ao autor. A expedição de ofício requerida à Caixa Económica Federal é inócua para os fins pretendidos neste processo. Qualquer denúncia deverá ser realizada pela própria parte. No que tange ao indeferimento de pedido principal, ficam indeferidos os pedidos acessórios (integração, reflexos, etc): accessorium sequitur principale. Conclusão

4 TRT2^ Região DIANTE DO EXPOSTO, e do mais constante dos autos, Julgo Procedente e m Parte o pleito formulado nesta ação para o fim de condenar a reclamada Comercial Móveis das Nações Ltda. a pagar ao reclamante José Carlos de França Júnior, na forma da fundamentação: 1. aviso prévio, à razão de trinta dias; 2. fériasproporcionais,à razão de 08/12, acrescidas de um terço; 3. décimo terceiro salário proporcional, à razão de 08/12; 4. multa moratória no valor de um mês de salário. Fica a reclamada condenada, ainda, a retificar a CTPS do reclamante para constar como: período contratual, de 10/06/2009 até 28/02/2010; cargo. Montador; último salário, R$512,10, no prazo de 48 horas, a contar da entrega do respectivo documento. Na omissão, proceda a Secretaria. A reclamada deverá depositar em conta vinculada do reclamante as parcelas correspondentes ao FGTS, não recolhidas no curso do contrato de trabalho, inclusive as incidentes sobre as verbas de natureza remuneratória ora deferidas, acrescidas da indenização complementar de 40%, o que se faz em cumprimento ao art. 18, caput e 1^, da Lei 8.036/90, alterado pela Lei de 9/9/97. Multa, juros e atualização monetária na forma da lei (art. 22 da Lei 8.036/90). Deverá, ainda, proceder à entrega das guias T R C T, código de saque 01, para o levantamento, comprovando a regularidade dos depósitos, e das guias do Seguro-Desemprego, sob pena de execução direta dos valores correspondentes. Sobre as verbas de natureza remuneratória ora deferidas incidirá o FGTS, acrescido da indenização complementar de 40%, o que será devidamente apurado em liquidação de sentença. Observar-se-á a Instrução Normativa FGTS/MTE n«25/2001. Para efeito de liquidação, a indenização substitutiva do segurodesemprego será calculada nos termos da Resolução Codefat n 467 de 21 de dezembro de (DOU ), observando-se os valores definidos pelo CODEFAT. Os valores pagos e já comprovados no processo serão compensados, título a título, mês a mês, sob pena de caracterizar-se o bis in idem. Os valores da condenação serão apurados em regular liquidação de sentença (limitando-se ao quantum postulado na inicial) e sobre eles incidirão correção monetária e juros, nos termos da lei. Quanto às verbas de natureza salarial, aplicarse-á o índice da correção monetária do mês subsequente à prestação dos serviços, haja vista os termos do art. 459, único, da CLT. Para os descontos fiscais e previdenciários deverá ser observado o disposto na Súm. 368 do TST e nos Provimentos CG/TST 2/93 e 1/96. A reclamada deverá comprovar o recolhimento das contribuições previdenciárias, inclusive quanto à cota patronal. Na omissão, execute-se ( 3^ do art 114 da CF/88, conforme EC 20/98), observando as normas aplicáveis. P a r a efeito da L e i /2000, registre-se que os títulos que integram o salário de contribuição estão estabelecidos em lei (art. 28 da Lei 8.212/91), não havendo necessidade de pronunciamento jurisdicional a respeito, ressalvadas as hipóteses de controvérsia nos autos, já dirimida na sentença. As alíquotas de contribuição estão igualmente previstas em lei (art. 20 e 22 da Lei 8.212/91). Diante das irregularidades constatadas (falta de anotação na CTPS, ausência dos depósitos do FGTS e sonegação da contribuição previdenciária) oficiese ao Ministério do Trabalho e ao INSS para as providências cabíveis.

5 Custas pela reclamada, no importe de R$40,00 (quarenta reais), calculadas sobre o valor ora arbitrado para a condenação de R$2.000,00 (dois mil reais). Intimem-se. Transitada em julgado, cumpra-se. Nada mais. Moisés dos Santos Heitor JUIZ DO TRABALHO