TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame Necessário nº , da Comarca de Campinas, em que é recorrente JUIZO EX OFFÍCIO, é recorrido FABRICIO DE DUARTE PORTELA. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao reexame necessário. V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente) e JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE ALMEIDA., 12 de dezembro de MARREY UINT RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Reexame Necessário nº Recorrente: Juizo Ex Offício Recorrido: Fabricio de Duarte Portela Interessados: Prefeito do Município de Campinas, Diretor da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S/A Emdec e Secretário Municipal de Transportes de Campinas-sp Comarca: Campinas Voto nº Reexame Necessário - Mandado de segurança preventivo - Motorista do Uber - Serviço ainda não regulado no Município de Campinas - Aplicação da Lei Federal nº / Não incidência da Lei /2010 do Município de Campinas - Exercício de natureza privada de transporte individual de passageiros - Aplicação das sanções previstas na mencionada lei municipal - Inadmissibilidade - Transporte clandestino não caracterizado - Sentença mantida. Reexame necessário não provido. Trata-se de mandado de segurança impetrado por Fabrício de Duarte Portela contra ato da autoridade coatora Sr. Secretário Municipal de Transportes de Campinas e Diretor da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas S/A - EMDEC, alegando que exerce a atividade de transporte privado individual de passageiros com aplicativo UBER e vem sendo impedido de exercer sua atividade, sob a alegação de estar efetuando transporte clandestino. 310). coatora (fls. 316/330). O pedido liminar pleiteado foi deferido (fls. Informações prestadas pela autoridade apresentou informações às fls. 421/428. O Município de Campinas também Reexame Necessário nº Voto nº 2

3 O Ministério Público, em parecer, entendeu não haver interesse institucional pela questão de fundo (fls. 445/448). A r. sentença proferida pelo mm. Juiz Mauro Iuji Fukumoto concedeu a ordem de segurança pretendida, no sentido de determinar que a autoridade municipal se abstivesse de atuar fora de sua competência legal, reconhecendo, assim, o direito líquido e certo do impetrante de exercer livremente sua atividade econômica de transporte privado de passageiros (fls. 449/452). Decorrido o prazo para eventual interposição de recurso pelas partes, subiram os autos, em reexame necessário, conforme inteligência do art. 14, 1º, da Lei nº /2009. É o relatório. Inicialmente, oportuno esclarecer que a Uber é uma empresa de tecnologia acessível pela rede mundial de computadores, que agrega motoristas autônomos, que se cadastram no aplicativo e são remunerados por cada transporte, pagando um percentual à companhia. Nesse passo, importante destacar que a modalidade de transporte oferecido por meio de aplicativo móvel para celulares possui evidente natureza privada, distinguindo-o da atividade exercida por taxistas. Narra o Impetrante que é motorista parceiro do sistema Uber, vem sofrendo restrição ao exercício de sua atividade, na medida em que a Administração local, com fulcro na Lei Municipal nº /2010, equipara sua atividade à transporte clandestino de passageiros. Reexame Necessário nº Voto nº 3

4 Com efeito, destaca-se que a Lei Federal nº /12 considera a atividade exercida por taxistas como serviço público individual, conforme interpretação do art. 4º, incisos VIII e X, da Lei Federal /2012, verbis: Art. 4º Para os fins desta Lei, considera-se: VIII - transporte público individual: serviço remunerado de transporte de passageiros aberto ao público, por intermédio de veículos de aluguel, para a realização de viagens individualizadas; X - transporte motorizado privado: meio motorizado de transporte de passageiros utilizado para a realização de viagens individualizadas por intermédio de veículos particulares; A Lei Municipal nº /2010, que dispõe sobre as normas para execução dos serviços de transporte individual de passageiros em veículos automotores de aluguel-táxi e dá outras providências, em seu art. 1º, estabelece que: Art. 1º - O transporte individual de passageiros em veículos automotores de aluguel no Município de Campinas constitui serviço de utilidade pública e será executado sob o regime de permissão. Da leitura atenta, infere-se que a Lei Municipal nº /10 não se aplica ao transporte de passageiros privado individual, por não concorrer com a atividade dos taxistas. Assim, descabida é qualquer medida restritiva da atividade por parte da Municipalidade de Campinas. De fato o serviço UBER ainda não se encontra regulamentado no Município de Campinas, entretanto, revela-se descabida a vigilância e fiscalização do Município de Reexame Necessário nº Voto nº 4

5 Campinas quanto à atividade de transporte privado exercida pelo Agravante, porquanto prevista na Lei Federal nº /2012, de tal modo que não se sujeita às disposições da Lei Municipal nº /2010. Oportuno destacar que o Órgão Especial deste E. Tribunal quando do recente julgamento da ADI nº (Rel. Des. Tristão Ribeiro, j. em ), entendeu que a norma de Campinas violou os princípios constitucionais da livre iniciativa, da liberdade de exercício de trabalho, da livre concorrência, da razoabilidade e da proporcionalidade. Em conclusão, razão não há para que a atividade seja cerceada. Não se desconhece a legislação local e as regras atinentes ao transporte público de passageiros vigentes em Campinas, como bem foi apontado nas zelosas contraminutas apresentadas, no entanto, entende-se pela possibilidade de prestação de serviço. deste Tribunal de Justiça: Nesse sentido, os seguintes precedentes Apelação Cível Relator(a): Maria Olívia Alves Comarca: Campinas Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 06/11/2017 Data de publicação: 07/11/2017 Data de registro: 07/11/2017 Ementa: REEXAME NECESSÁRIO - Mandado de segurança - Pretensão de que a autoridade coatora se abstenha de praticar medidas que restrinjam ou impossibilitem o exercício da atividade de transporte individual privado, realizado por motorista particular, por meio do aplicativo "UBER", e de aplicação das sanções previstas na LM nº /10 - Segurança concedida - Pretensão de reforma - Impossibilidade - Necessidade de observância dos princípios da liberdade de iniciativa e da livre concorrência - Serviço de transporte prestado pelo "Uber" que está disciplinado pelo regime de direito privado - Não configuração da atividade Reexame Necessário nº Voto nº 5

6 clandestina de taxi - Órgão Especial desta Corte que, em casos análogos, deferiu liminar para permitir o uso de carros particulares cadastrados em aplicativos para o transporte remunerado individual de pessoas - Precedentes - Sentença mantida. Reexame Necessário Relator(a): Souza Meirelles Comarca: Campinas Órgão julgador: 12ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 29/10/2017 Data de publicação: 29/10/2017 Data de registro: 29/10/2017 Ementa: Mandado de segurança - Reexame necessário - Transporte motorizado privado - UBER - Aplicação da Lei Federal nº / Não incidência da Lei /2010 do Município de Campinas - Transporte clandestino não-caracterizado - Abstenção da municipalidade na apreensão do veículo ou qualquer sanção relativa à atividade - Sentença de concessão da ordem confirmada - Reexame necessário desprovido Aliás, também não diverge o posicionamento adotado por esta C. 3ª Câmara de Direito Público sobre a questão: Apelação Cível Relator(a): José Luiz Gavião de Almeida Comarca: Santos Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 17/10/2017 Data de publicação: 17/10/2017 Data de registro: 17/10/2017 Ementa: Mandado de segurança preventivo - Exercício da atividade de transporte com base no aplicativo Uber - Admissibilidade - Lei Municipal de Santos (3.213/15) - Direito líquido e certo de exercer livremente seu trabalho - Prevalência dos princípios da liberdade de iniciativa, liberdade de concorrência e do livre exercício de qualquer trabalho - Recurso improvido. Reexame Necessário Relator(a): Maurício Fiorito Comarca: Campinas Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 12/09/2017 Data de publicação: 12/09/2017 Data de registro: 12/09/2017 Ementa: REEXAME NECESSÁRIO - MANDADO DE SEGURANÇA - TRANSPORTE PRIVADO INDIVIDUAL DE PASSAGEIROS - UBER - Município de Campinas - Pretensão de que a Municipalidade se abstenha de praticar atos que restrinjam ou impossibilitem a impetrante de exercer livremente suas atividades profissionais de transporte privado individual de passageiros, bem como para que não aplique as sanções previstas na Lei Municipal n. Reexame Necessário nº Voto nº 6

7 13.775/10 - Inaplicabilidade da Lei Municipal n /10 ao transporte privado individual de passageiros - Incidência das regras constantes do regime jurídico de direito privado, informado pela autonomia das partes em pactuar contrato de transporte individual de passageiros - Ofensa ao princípio da livre iniciativa e livre concorrência - Sentença mantida - Reexame necessário improvido. Por fim, mas não menos importante, destaque-se que a Constituição Federal/88 trata da livre iniciativa e da livre concorrência, respectivamente, no inciso IV do artigo 1º e art. 170, como vemos a seguir: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: IV os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; Art A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: IV - livre concorrência; sentença. reexame necessário. De rigor, portanto, a manutenção da r. Diante do exposto, nega-se provimento ao MARREY UINT Relator Reexame Necessário nº Voto nº 7