Europa e África: que futuro comum? Conferência Sala 1 da Fundação Gulbenkian, Lisboa, 12 de Março de Declaração Final
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- Iasmin Barreiro Monsanto
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1 Europa e África: que futuro comum? Conferência Sala 1 da Fundação Gulbenkian, Lisboa, 12 de Março de 2014 Declaração Final Nós, representantes das Entidades 1 de referência para as diversas áreas específicas da sociedade civil portuguesa que estiveram envolvidas nos fora paralelos à Cimeira Europa-Africa que ocorreu em Portugal em 2007, reunidos na Conferência Europa e África: que futuro comum? no dia 12 de Março de 2014, e todos os Participantes deliberámos: - Sensibilizar a opinião pública para a importância da parceria estratégica, e para as suas especificidades no contexto português. - Informar/influenciar os decisores políticos portugueses sobre a posição destas entidades, sinalizando as áreas sobre as quais, no contexto do papel de Portugal na implementação da parceria estratégica, lhes farão no futuro. - Comprometer estas Entidades a continuarem a acompanhar, monitorizar e avaliar a implementação da parceria estratégia por parte do Estado português e a agir conjuntamente, em particular sempre que esteja em causa o compromisso de Portugal assumido no âmbito da parceria. - Contribuir para criar uma relação de colaboração entre as entidades da Sociedade Civil portuguesa no contexto da relação Europa/África. 1 ACEP Associação para a Cooperação Ente os Povos, Amnistia Internacional, CEsA - Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina, Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses Intersindical Nacional, Conselho Nacional de Juventude, Conselho Português para os Refugiados, Fundação Calouste Gulbenkian, PpDM - Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, Plataforma Portuguesa das ONGD, UCCLA União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, União Geral de Trabalhadores. 1
2 Nesta conferência, revimos a implementação da Estratégia Conjunta e do Plano de Acção, discutimos a reforma das prioridades temáticas da Estratégia, mecanismos institucionais e instrumentos financeiros e o papel que a Sociedade Civil nelas pode desempenhar. Neste contexto, identificámos 3 prioridades temáticas para o nosso debate: 1 - Paz, Participação Política, Direitos Humanos e Governação 2 - Desigualdade, Pobreza e Injustiça Social 3 - Coerência das políticas para o Desenvolvimento Considerando que os Direitos Humanos, plasmados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, secundada pela Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, e em demais tratados, convenções e nas constituições dos países que os integraram, constituem referencial bastante para conferir às decisões políticas, legislativas, económicas e outras a universalidade e a indivisibilidade necessárias ao respeito pela dignidade humana, e Considerando que o reforço da participação da Sociedade Civil conduz à boa governação e à democracia participada, onde pontua a defesa dos direitos sociais fundamentais claramente expressos na lei, tantas vezes sem expressão concreta na vida quotidiana dos cidadãos em particular aqueles que enfrentam situações de maior precariedade e exclusão social, Entendemos que é fundamental reforçar o papel da Sociedade Civil na concertação social, e na formulação de Políticas Públicas. Assim, acordámos nas seguintes recomendações: Paz, Participação Política, Direitos Humanos e Governação : Portugal, através das suas relações privilegiadas com diversos países Africanos, tem uma responsabilidade especial em assegurar que as mesmas são conduzidas dentro do respeito 2
3 pelos Direitos Humanos. Consideramos que não é aceitável que interesses de parcerias económicas sejam sobrevalorizadas no contexto da presente crise económica e levem o nosso país e outros países parceiros a serem menos exigente no respeito e promoção dos Direitos Humanos, tanto no que se refere às políticas externas como internas dos Estados envolvidos na Parceria Estratégica. O Estado português não deve acompanhar o processo em curso de recuo a nível europeu nos conceitos e práticas de participação da Sociedade Civil na definição e implementação das políticas. Antes deve procurar influenciar positivamente a inversão dessa tendência e procurar promover progressos na mesma matéria em diversos países africanos. Deverá por isso exigir que a Sociedade Civil se mantenha como um stakeholder pleno no âmbito da Parceria Estratégica e que sejam garantidos os recursos necessários para a sua participação efectiva. O Estado português deve contribuir para uma visão sobre o papel da Sociedade Civil no domínio da paz e da segurança e da construção dos Estados de Direito que não a remeta apenas para apoios nas situações de pós-conflito ou em etapas limitadas de processos eleitorais, mas que valorize a sua inclusão no diálogo de prevenção de conflitos e de construção da paz e no fortalecimento de reais mecanismos de participação política nas suas várias dimensões. É inadiável um maior investimento na capacitação e educação de jovens, no fortalecimento das estruturas e organizações juvenis, incluindo a sua participação nas tomadas de decisão sobre políticas públicas, designadamente de criação de emprego de qualidade e promoção do trabalho digno, de forma a melhorar o acesso dos jovens aos seus direitos. As Organizações da Sociedade Civil defendem a importância da Educação para os Direitos Humanos e para a Cidadania, alertando para o risco de banalização destes valores essenciais e do aumento do número de excluídos e de novas formas de exclusão. 3
4 As Organizações da Sociedade Civil irão empenhar-se conjuntamente numa monitorização constante ao nível dos progressos e retrocessos dos Direitos Humanos, bem como de regras e critérios transparentes em relação às políticas de condicionalidade. Desigualdade, Pobreza e Injustiça Social : Portugal deve centrar sempre a sua actuação no respeito pela dignidade humana garantindo que contribui para a promoção da igualdade entre os diferentes povos e para a igualdade de género. Deverá também contribuir para o desenvolvimento sustentável das populações, com as dimensões económicas, sociais, ambientais e culturais equilibradas e para a eliminação de todas as formas de exclusão, de violência, de descriminação, de empobrecimento e de desigualdade. Portugal deverá pugnar para que a União Europeia reforce a eficácia da sua política de cooperação para o desenvolvimento e a dimensão social dos acordos e parcerias com países africanos, respeitando e promovendo os direitos sindicais, laborais e cívicos. Deverão ser criadas e adoptadas Estratégias Europeias e Africanas de Luta contra a Pobreza que abordem a sua multidimensionalidade, pela congregação articulada das estratégias, políticas e medidas necessárias (na área do emprego, da educação e formação, da saúde, da protecção social, da habitação, da imigração, da igualdade etc.). Estas estratégias devem na sua elaboração, implementação, divulgação e monitorização, contar com uma ampla participação da Sociedade Civil e, em particular, com a voz de quem mais directamente vivenciam estes fenómenos. As organizações da Sociedade Civil, pelo papel que desempenham na sociedade e economia, com experiência comprovada na intervenção de proximidade e desenvolvendo um trabalho com referenciais de qualidade, devem ser interlocutores privilegiados dos Governos e assumir um papel mais activo enquanto parceiros sociais, em particular num momento em que as questões da desigualdade, pobreza e exclusão social estão cada vez mais na ordem do dia. 4
5 Coerência das políticas para o desenvolvimento : Inscrita, no Tratado de Lisboa como compromisso político e obrigação legal, adoptada em Portugal, em Novembro de 2010, através de uma resolução do Conselho de Ministros, e recentemente inscrita como um dos princípios do novo Conceito Estratégico da Cooperação Portuguesa, mais do que reafirma-la como pilar da política de cooperação para o desenvolvimento, Portugal deverá garantir a sua operacionalização. Reconhecendo a discrepância entre o discurso europeu estruturado à volta da relevância da Coerência das Politicas de Desenvolvimento, e a implementação de políticas nacionais e europeias penalizadoras das possibilidades de um desenvolvimento efectivo em muitos países, instamos pois o governo Português e a UE a confrontar-se com este double standard em políticas tão importantes como as pescas, as migrações, o comércio, a agricultura ou a segurança. Enfrentar este problema passará também pela criação de mecanismos efectivos de monitorização, em que a Sociedade Civil deve participar. Portugal e a UE devem também reforçar a aposta na Educação para a Cidadania Global, em ambos os continentes, enquanto pilar para o entendimento comum dos processos de Desenvolvimento e para valorização do papel de cidadãos mais informados, interventivos e exigentes em relação à Coerência das Politicas de Desenvolvimento. A Sociedade Civil compromete-se a continuar a divulgar e monitorizar a evolução da Coerência das Políticas para o Desenvolvimento a nível local, nacional, europeu e global, alertando e mobilizando os decisores políticos e outros actores do desenvolvimento, para que as palavras e os discursos se transformem em medidas e acções concretas e para que a relação seja cada vez mais equitativa onde todos aprendemos uns com os outros. Lisboa, 12 de março de
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