REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA EM INSTALAÇÕES SANITÁRIAS
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- Lúcia Gusmão Ferrão
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1 REDUÇÃO DE CONSUMO DE ÁGUA EM INSTALAÇÕES SANITÁRIAS 1. Introdução Água, um recurso natural finito Depois de utilizar a água de forma indiscriminada durante anos e anos, a humanidade chegou à conclusão que este recurso natural, se não for consumido de forma racional, um dia acabará. A partir da conscientização global da necessidade de uso racional dos recursos naturais e da proteção contra a degradação ambiental, os países - através de iniciativas governamentais e não governamentais e privadas - têm promovido programas e ações visando combater o desperdício, e incentivando padrões tecnológicos de produção de baixo impacto sobre o meio ambiente. Com o objetivo de demonstrar seu engajamento na luta contra o desperdício, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil lançou, em 1999, a Agenda Ambiental na Administração Pública A3P. A A3P consiste em uma estratégia de construção de uma nova cultura institucional para inserção de critérios socioambientais na administração pública. A administração pública, por ser grande consumidora e usuária de recursos naturais, tem papel estratégico na promoção e indicação de novos padrões de produção e de consumo e deve ser exemplo na redução de impactos socioambientais negativos. A partir da criação da Agenda, o setor público passou a ser incentivado a buscar soluções tecnológicas que minimizassem o desperdício. O trabalho apresentado a seguir é uma demonstração do Setor Público fazendo a sua parte. 2. Memorial Descritivo Obra de reforma dos banheiros coletivos e privativos
2 do edifício sede do ÓRGÃO PÚBLICO (estudo de caso) 2.1. Esclarecimento A fim de se evitar a identificação do trabalho aqui apresentado, o nome do órgão público proprietário do edifício, bem como o seu endereço serão omitidos do corpo do documento. Estas informações e outras necessárias à comprovação do conteúdo aqui apresentado estão anexadas neste documento, conforme orientação do Anexo II Regulamento para apresentação de trabalhos do concurso O Objeto dos Serviços Por se tratar de um edifício com mais de 30 anos de construção, a obra consistiu na reforma (demolição e reconstrução) dos banheiros coletivos e privativos do prédio incluindo obras civis, instalações elétricas, hidráulicas e outros serviços correlatos. Escopo dos serviços:. segregação dos esgotos primários e secundários do edifício;. fornecimento e instalação de sistema de esgoto sanitário a vácuo; e. fornecimento e instalação de mictórios a seco. A obra foi iniciada em fevereiro de 2010 e concluída em maio de Toda obra foi executada com o prédio ocupado (fluxo aproximado de usuários/dia) e por este motivo foi dividida em quatro fases. Cada fase contemplou cerca de 25% dos banheiros do edifício (aproximadamente 14 banheiros coletivos e mais 22 privativos, com 84 vasos sanitários e 39 mictórios a seco). Também na primeira fase da obra foi fornecida e instalada a central sanitária de vácuo. Em agosto de 2010 foi inaugurada a primeira fase da obra com a liberação do primeiro conjunto de banheiros reformado e a entrada em funcionamento da central sanitária de vácuo. Iniciou-se, então, a segunda fase com a interdição e reforma de outros 25% dos banheiros do edifício, seguida da terceira fase e por último da quarta
3 fase, concluída em maio de No total, foram fornecidos e instalados 1 (uma) central sanitária de vácuo, 334 (trezentos e trinta e quatro) conjuntos de vasos sanitários para esgoto a vácuo e 156 (cento e cinquenta e seis) mictórios a seco, além da execução da obra civil de reforma dos banheiros e de áreas adjacentes. Os serviços de segregação dos esgotos primários e secundários do prédio também foram executados e o edifício encontra-se hoje preparado para o reuso de águas servidas (esgoto secundário), bastando a instalação de uma central de tratamento de água. O fornecimento e a instalação de central de tratamento de água não faziam parte do escopo do contrato. Foto 1: Central Vácuo Vista frontal; conjunto 01 de bombas; total 02 conjuntos (principal / reserva)
4 Foto 2: Central Vácuo 02 conjuntos de bombas; capacidade da central para até 450 sanitários; área da casa de máquinas = 12 m² Foto 3: Central Vácuo Vista conjunto 02 de bombas
5 Foto 4: Vista banheiro masculino tipo - reformado Foto 5: Vaso sanitário a vácuo
6 Foto 6: Conjunto de mictórios a seco Foto 6: Mictório a seco
7 2.3. Critério 1 Inovação Apesar das primeiras soluções de sanitários a vácuo terem sido concebidas nos anos 50, durante muitos anos sua aplicação foi restrita a alguns setores industriais, entre eles a indústria naval. Em meados dos anos 80, com o avanço da tecnologia, a robustez e confiabilidade dos sistemas de esgoto a vácuo cresceram significativamente e sua utilização se intensificou de maneira notável no segmento da construção civil, principalmente por seu apelo ecológico de redução de consumo de água e de volume de esgoto primário proveniente dos vasos sanitários. No Brasil, as instalações de soluções de esgoto a vácuo são recentes, tendo iniciado por volta do ano A solução dos mictórios a seco também é bastante inovadora. Sua aplicação é mais recente que a dos sanitários a vácuo e significativamente mais eficiente por resultar em 100% de economia de água. A solução instalada no edifício sede do Órgão Público utiliza selo de bloqueio de odores com óleo vegetal biodegradável, que minimiza a propagação de micróbios e elimina, portanto, o uso de tabletes odorizadores e de descartáveis plásticos Critério 2 Modernização do Processo Construtivo A introdução de soluções inovadoras e tecnológicas nos processos construtivos das obras civis tem contribuído significativamente para sua modernização. No caso dos sistemas de esgoto a vácuo e mictórios a seco, pode-se citar: Flexibilidade na execução das instalações hidráulicas, pois possibilita a instalação de sanitários em áreas desprovidas de rede de água e esgoto, sem grandes intervenções. Não existe necessidade de declive, como no esgoto gravitacional, podendo, inclusive, sair com a tubulação para cima; Por funcionar em depressão (vácuo), a linha de esgoto, se rompida, não provoca vazamentos como ocorre com os sistemas tradicionais gravitacionais; Tubulações de diâmetros menores minimizando interferências com outros
8 sistemas e facilitando sua instalação. Os diâmetros menores nas tubulações de esgoto a vácuo são possíveis porque a central de vácuo faz o trabalho de deslocamento dos dejetos através da sucção, necessitando de pouca quantidade de água. Já os sistemas tradicionais, os gravitacionais, necessitam de desnível e de água como meio físico para transportar os dejetos. E um maior volume de água exige maior tubulação hidráulica; Eliminação de estações de recalqueamento de esgoto, uma vez que o trabalho é feito através da central de vácuo; Diminuição de estações de tratamento de esgoto, pois o volume de esgoto a ser tratado é menor; Nos subsolos, o caminhamento hidráulico dos sistemas de esgoto pode ser feito pelo teto por longas distâncias sem necessidade de escavações e sem a preocupação com redução do pé direito, pois não exige declividade de tubulação como nos sistemas convencionais (gravitacionais); O sistema de mictórios a seco elimina a necessidade de dispositivos, como sensores de presença, válvulas de descarga e outros, reduzindo manutenção Critério 3 Aumento do Desempenho da Construção Não há dúvidas quanto ao aumento de desempenho da construção com a opção de utilização de sistemas de esgoto a vácuo e mictórios a seco em instalações sanitárias. Ganha-se em desempenho com economia de água e segregação de esgoto, possibilitando o tratamento do secundário para reaproveitamento no primário. Certamente o maior ganho de desempenho está na economia de água obtida com o sistema e na redução de custo que esta economia proporciona para a administração do edifício (conta de água). A tabela abaixo apresenta os valores da conta de água do edifício público em fevereiro de início das obras - e nos últimos 6 meses, janeiro a junho de na medida em que as etapas foram sendo finalizadas e os banheiros liberados para uso (obs.: todos os números informados abaixo encontram-se devidamente comprovados através das faturas da
9 concessionária de água encaminhadas em separado à coordenação técnica do concurso Falcão Bauer). Mês de Consumo médio Consumo do mês Referência últimos 12 meses Valor da conta Fev m³ m³ R$ ,62 Jan m³ m³ R$ ,39 Fev m³ m³ R$ ,60 Mar m³ m³ R$ ,20 Abr m³ m³ R$ ,13 Mai m³ m³ R$ ,80 Jun m³ m³ R$ ,01 Verifica-se uma redução do consumo mensal entre fevereiro de 2010 e junho de 2011 de 71,4%, gerando uma economia mensal de R$ ,61 (cinquenta e nove mil, quatrocentos e setenta e quatro reais e sessenta e um centavos) na verba de custeio do órgão. Considerando o consumo médio de fevereiro de 2010, 6374 m³, com o consumo medido em junho de 2011, 1985 m³, a redução é da ordem de 68%. Se for analisado o consumo médio dos últimos 12 meses, a redução em junho de 2011 é de 22,6% (vinte e dois vírgula seis por cento). O consumo médio, por considerar a média aritmética das últimas 12 leituras de consumo, tende a caminhar de forma lenta para os valores de consumo mensal alcançados nos últimos meses Critério 4.1 Redução Custos Homem Hora / m² Em razão da modernização do processo construtivo dos sistemas de esgoto a vácuo e mictórios a seco, a simplificação dos serviços necessários a sua instalação gera redução do custo homem hora / m².
10 Fatores que contribuíram para a redução dos custos de homem hora / m² da obra em questão: Redução do número de interferências com as demais instalações existentes em razão da flexibilidade de caminhamento das tubulações sanitárias do sistema de esgoto a vácuo; Como as instalações de esgoto a vácuo utilizam tubulações com diâmetros menores quando comparadas com as instalações de esgoto tradicionais, o rendimento do serviço aumenta reduzindo o seu tempo de execução; Os mictórios a seco utilizam zero de água. Sendo assim, todos os serviços de instalação de pontos de alimentação de água para descargas dos mictórios foram suprimidos, bem como a instalação de registros, válvulas de descarga, sensores de presença etc., reduzindo em 100% o custo de homem hora / m² para estes serviços Critério 4.2 Redução de Custo Material O sistema de mictórios a seco traz o grande benefício de tornar desnecessário instalar rede de alimentação de água ou dispositivos de descargas. Sem dúvida alguma, trata-se da maior contribuição na redução de custos de materiais observada na obra do edifício público. Quanto ao sistema de esgoto a vácuo, houve economia de material por dispensar a necessidade de caixas de passagem e de estações elevatórias nos subsolos do edifício e por utilizar tubulações de esgoto de diâmetros menores Critério 5 Redução do Desperdício Inquestionavelmente, esta é a maior contribuição dos sistemas de esgoto a vácuo e mictórios a seco: o conceito da economia de água potável, bem finito, hoje imperativo à população mundial, que busca a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente.
11 A obra de reforma dos banheiros coletivos e privativos do edifício público, mediante a instalação de sistema de esgoto a vácuo e mictórios a seco, reduziu o consumo de água, ou melhor, o desperdício de água em cerca de 70% Critério 6 Reutilização de Materiais O reuso da água consumida pelo edifício público também foi levado em consideração quando da execução das obras de reforma dos banheiros coletivos e privativos do edifício. As instalações sanitárias dos esgotos primários (sanitários e mictórios) e secundários (lavatórios) do edifício foram segregadas (separadas), estando o edifício preparado para reutilização do esgoto secundário, bastando a instalação de uma central de tratamento de esgoto.
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