BCE Boletim Mensal Janeiro 2008
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- Flávio Espírito Santo Aldeia
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1 EDITORIAL Na reunião de 10 de Janeiro de 2008, o Conselho do decidiu, com base nas suas análises económica e monetária regulares, deixar inalteradas as taxas directoras do. De acordo com a informação disponibilizada desde a reunião anterior do Conselho do, em 6 de Dezembro de 2007, continuou a registar-se uma forte pressão ascendente de curto prazo sobre a inflação, tendo a taxa de inflação medida pelo IHPC permanecido em 3.1% em Dezembro. No médio prazo e num contexto de crescimento muito vigoroso da moeda e do crédito, a avaliação do Conselho do de que existem riscos ascendentes para a estabilidade de preços foi integralmente confirmada. O Conselho do continua preparado para agir preventivamente de forma que efeitos de segunda ordem e riscos ascendentes para a estabilidade de preços a médio prazo não se concretizem e que, em consequência, as expectativas de inflação a médio e a longo prazo permaneçam firmemente ancoradas em níveis compatíveis com a estabilidade de preços. Em reflexo do seu mandato, o Conselho do atribui a prioridade máxima a este ancorar das expectativas. Os fundamentos económicos da área do euro são sólidos. No entanto, a reavaliação em curso dos riscos nos mercados financeiros ainda é acompanhada de incerteza quanto ao seu impacto potencial na economia real e os riscos em torno das perspectivas para a actividade económica encontram-se do lado descendente. O Conselho do continuará a acompanhar muito atentamente todos os desenvolvimentos nas próximas semanas. Começando pela análise económica, a informação mais recente sobre a actividade económica sugere que o ritmo de crescimento trimestral em torno do final do ano foi mais moderado do que a taxa trimestral em cadeia de 0.8%, observada no terceiro trimestre de 2007 (revista em alta de 0.7%). Esta avaliação está em consonância com os indicadores da confiança dos consumidores e das empresas que, embora decrescentes nos últimos meses, permanecem no geral em níveis que continuam a apontar para a persistência do crescimento. O principal cenário do Conselho do é ainda no sentido de um crescimento real do PIB globalmente em linha com a tendência potencial. Os fundamentos da área do euro são sólidos, a rendibilidade tem sido sustentada e o crescimento do emprego robusto, tendo as taxas de desemprego descido para níveis não observados desde há 25 anos. O crescimento do consumo deverá, portanto, continuar a contribuir para a expansão económica, em linha com o rendimento disponível real, e o apoio proporcionado pelo crescimento do investimento deverá manter-se. Na expectativa de que, em termos gerais, a economia 1
2 mundial permaneça resistente, com o abrandamento do crescimento económico nos Estados Unidos a ser mitigado pela continuação do vigor das economias dos mercados emergentes, a procura externa deverá continuar a apoiar as exportações da área do euro. Assim, a incerteza acerca do crescimento económico permanece elevada e os riscos em torno das perspectivas para a actividade económica encontram-se do lado descendente. Estes riscos estão sobretudo relacionados com um impacto potencialmente maior do que o actualmente esperado da continuação da reavaliação dos riscos nos mercados financeiros sobre as condições de financiamento e sobre o sentimento económico, afectando negativamente o crescimento mundial e da área do euro. Existem também riscos descendentes resultantes da margem para aumentos adicionais dos preços do petróleo e de outras matérias-primas, de preocupações acerca de pressões proteccionistas e da possibilidade de uma evolução desordenada devida aos desequilíbrios a nível mundial. No que respeita à evolução dos preços, a estimativa provisória do Eurostat indica que a taxa de inflação homóloga medida pelo IHPC se situou em 3.1% em Dezembro de 2007, sem alterações em relação a Novembro, o que confirma a forte pressão ascendente sobre a inflação no curto prazo, decorrente principalmente dos fortes aumentos dos preços do petróleo e dos produtos alimentares nos últimos meses. Em termos prospectivos, espera-se que a taxa de inflação homóloga medida pelo IHPC permaneça significativamente acima de 2% nos próximos meses, sendo provável que registe apenas uma moderação gradual no decurso de Por conseguinte, o período de taxas de inflação temporariamente elevadas deverá ser um pouco mais prolongado do que anteriormente esperado. Além disso, é importante salientar que a expectativa de uma moderação da taxa de inflação subjacente às projecções macroeconómicas de Dezembro de 2007 elaboradas por especialistas do Eurosistema assenta no pressuposto de que se verificará uma ligeira inversão dos aumentos recentes dos preços das matérias-primas, em consonância com o que actualmente se pode deduzir dos preços dos futuros, e, mais importante ainda, que a dinâmica recente dos preços do petróleo e dos produtos alimentares e o seu impacto na inflação medida pelo IHPC não terão efeitos generalizados de segunda ordem no comportamento de fixação de salários e de preços. 2 Está plenamente confirmado que os riscos quanto a estas perspectivas de médio prazo em termos de evolução dos preços se encontram do lado ascendente. Estes riscos incluem a possibilidade de um crescimento dos salários mais forte do que o actualmente esperado, tendo em conta as restrições em termos de capacidade produtiva e a evolução positiva dos mercados de trabalho. Além disso, o poder de fixação de preços das empresas
3 nomeadamente nos segmentos de mercado com concorrência reduzida poderá ser mais forte do que o esperado. Nesta conjuntura, é imperativo que todas as partes envolvidas assumam as suas responsabilidades e que sejam evitados efeitos de segunda ordem na fixação de salários e de preços em resultado das taxas de inflação actuais. Na óptica do Conselho do, tal é absolutamente essencial para preservar a estabilidade de preços no médio prazo e, desse modo, o poder de compra de todos os cidadãos da área do euro. O Conselho do está a acompanhar com particular atenção as negociações salariais nos países da área do euro. Qualquer esquema de indexação dos salários nominais aos preços deve ser eliminada. Por último, poderão concretizar-se novos aumentos dos preços do petróleo e dos produtos agrícolas, dando continuidade à forte tendência ascendente observada nos últimos meses, bem como aumentos dos preços administrados e dos impostos indirectos para além dos previstos até à data. A análise monetária confirma a prevalência dos riscos ascendentes para a estabilidade de preços em horizontes a médio e a mais longo prazo. A moeda e o crédito continuaram a registar um crescimento vigoroso nos últimos meses. A taxa de crescimento homóloga do M3 em Novembro, que se manteve sem alterações em 12.3%, pode ter sido influenciada por uma série de factores temporários, tais como a menor inclinação da curva de rendimentos, as perturbações nos mercados financeiros e transacções específicas associadas à reestruturação de determinados grupos bancários. No entanto, mesmo tendo em consideração esses factores especiais, a taxa subjacente da expansão monetária permanece forte. Além disso, a expansão sustentada dos empréstimos concedidos ao sector privado interno, os quais registaram uma taxa de crescimento homóloga de 11.0% em Novembro, aponta para a continuação do vigor da dinâmica monetária subjacente. Por conseguinte, a evolução monetária continua a exigir um acompanhamento muito atento no sentido de detectar tendências subjacentes associadas a pressões inflacionistas em horizontes mais alargados e de possibilitar um melhor entendimento da dinâmica monetária de mais curto prazo. Este acompanhamento proporcionará também um quadro mais completo da resposta do sector privado à maior volatilidade dos mercados financeiros. Uma avaliação abrangente das tendências subjacentes do crescimento monetário e do crédito reveste-se de particular importância no actual período, face à recente evolução dos mercados financeiros. A acrescida volatilidade financeira pode influenciar o comportamento a curto prazo dos detentores de moeda e, desse modo, tornar mais difícil determinar as tendências subjacentes da evolução monetária. Paralelamente, os dados monetários e do crédito 3
4 podem também proporcionar informação importante sobre a forma como as instituições financeiras, as famílias e as empresas reagiram às perturbações nos mercados financeiros. Contudo, por enquanto, é ainda reduzida a evidência de que a turbulência nos mercados financeiros desde o início de Agosto de 2007 tenha influenciado fortemente a dinâmica do agregado monetário largo e dos agregados do crédito. Com efeito, o crescimento dos empréstimos bancários ao sector privado interno manteve-se robusto nos últimos meses, o que poderá sugerir que, até à data, não se verificam dificuldades em termos de oferta de crédito. O crescimento do M1 e do endividamento das famílias registou nova moderação nos últimos trimestres, reflectindo o impacto das taxas de juro directoras do mais elevadas desde Dezembro de 2005 e não a influência das perturbações financeiras. O endividamento das empresas não financeiras permanece muito forte. São necessários novos dados e uma nova análise para se obter um quadro mais completo do impacto da evolução dos mercados financeiros nos balanços dos bancos, nas condições de financiamento e no crescimento da moeda e do crédito. Resumindo, o cruzamento dos resultados da análise económica com os da análise monetária confirma plenamente a avaliação de que existem riscos ascendentes para a estabilidade de preços a médio prazo, num contexto de crescimento muito vigoroso da moeda e do crédito e face aos sólidos fundamentos económicos da área do euro. Simultaneamente, mantém-se a incerteza quanto ao impacto potencial na economia real da reavaliação em curso dos riscos nos mercados financeiros. Assim, o Conselho do acompanhará muito atentamente todos os desenvolvimentos. Permanecerá, além disso, preparado para agir preventivamente com vista a que os efeitos de segunda ordem e os riscos ascendentes para a estabilidade de preços não se concretizem e que, em consequência, as expectativas de inflação a médio e a longo prazo permaneçam firmemente ancoradas em níveis compatíveis com a estabilidade de preços. Em reflexo do seu mandato, o Conselho do atribui a prioridade máxima a este ancorar das expectativas. 4 Em termos de política orçamental, a maioria dos países da área do euro apresentou programas de estabilidade actualizados. Nessa base, após uma redução do rácio do défice agregado da área do euro em 2007, projecta-se um aumento do mesmo em 2008, apesar de muitos países não terem alcançado posições orçamentais sólidas. Existe um risco evidente de alguns países não cumprirem as disposições da componente preventiva do Pacto de Estabilidade e Crescimento, comprometendo assim a credibilidade deste último. Em alguns países com desequilíbrios orçamentais, a consolidação em 2008 será inferior ao
5 mínimo exigido de 0.5% do PIB em termos estruturais. São necessárias políticas muito mais ambiciosas para assegurar que todos os países cumpram os objectivos de médio prazo, no máximo até 2010, em conformidade com os compromissos assumidos em Abril de No que se refere a reformas estruturais, começou o novo ciclo de três anos previsto na estratégia de Lisboa para o crescimento e o emprego. Embora os progressos alcançados nos últimos três anos após o relançamento da estratégia sejam encorajadores, é importante que os governos intensifiquem os esforços de reforma com vista a apresentarem resultados em termos do conhecimento e da inovação, da competitividade e da flexibilidade dos mercados de trabalho. Estas reformas são cruciais para o aumento da produtividade e o fomento de oportunidade de emprego na área do euro. A edição de Janeiro de 2008 do do inclui três artigos. O primeiro debate a evolução da produtividade do trabalho na área do euro e as suas implicações para a política monetária. O segundo analisa as oportunidades e os desafios da globalização que se colocam à macroeconomia da área do euro. O terceiro debruça-se sobre a experiência do Eurosistema na previsão de factores autónomos e reservas excedentárias. 5
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