CASA EM PINHEIROS CASA BOAÇAVA

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1 CASA EM PINHEIROS CASA BOAÇAVA Local: Pinheiros - SP Local: São Paulo - SP Ano: 2007 Ano: 2009 Escritório UNAArquitetos Escritório UNAArquitetos Autoras: Ana Elísia da Costa e Nathália Striebel A análise comparativa de duas casas projetadas pelo Escritório Una Casa em Pinheiros (2007) e Casa Boaçava (2009) permite traçar as seguintes considerações: Implantaçãoe Partido Formal As casas, apesar de estarem em cidades diferentes do Estado de São Paulo, estão implantadas em lotes em que é explorada a relação visual com o mesmo Rio Pinheiros. A Casa em Pinheiros (2007), erguida na cidade de Pinheiros - SP, ocupa uma das colinas da várzea deste Rio. A Casa Boaçava (2009), por sua vez, ocupa um lote na própria cidade de São Paulo, que revela em seu horizonte as margens do Rio. Em áreas urbanas, os lotes em que as casas estão inseridas são os principais condicionantes dos projetos, uma vez que possuem geometria estreita, profunda e irregular, além do acentuado declive. Percebe-se,também, que as casas estão localizadas em zonas residenciais consolidadas, sofrendo pressões das construções do entorno. Levando em consideração essas características, surgem partidos verticalizados e aditivos, caracterizados pela sobreposição de volumes em diferentes níveis. Assim, com os volumes diluídos verticalmente, a área dos lotes possuem um melhor aproveitamento. Ambas as residências se descolam dos limites do terreno, a fim de amenizar as tensões exercidas pelo entorno, além de favorecer a incidência solar e a circulação de ar no seu interior.(figura 1) Figura 1: Implantação (a)casa Boaçava. São Paulo, SP. 2009; UNA Arquitetos (b) Casa em Pinheiros. Pinheiros, SP, UNA Arquitetos Fonte: STRIEBEL, Nathália(2015).

2 Nas fachadas frontal e posterior dos projetos, é perceptível a ampliação de aberturas, não apenas para o aproveitamento da insolação, mas, principalmente, das melhores visuais proporcionadas pelos lotes. Em contraponto, as fachadas laterais, apresentam aberturas menores, garantindo maior privacidade em relação ao entorno construído. A casa em Pinheiros se apóia em quatro volumosos pilares de concreto e é composta por quatro volumes que apresentam materialidades distintas, resultando em um contraste visual de cheios e vazios. O andar inferior está no nível do solo e foi moldado em concreto, sugerindo a estabilidade da construção. Em contraponto, o volume construído no nível de acesso consiste em uma caixa de vidro, que liberta o térreo e promove a permeabilidade visual em relação ao exterior. No piso superior, um prisma de madeira abriga os dormitórios; e a cobertura é composta por um volume preto que abriga um quarto auxiliar independente e, também, permite o acesso ao solário. A luz captada nesse último pavimento percorre verticalmente a edificação pela escada metálica vazada que liga os pavimentos, criando, assim, uma unidade central internalizada entre os contrastantes volumes que compõem a casa. (Figura 2a) A casa Boaçava também apresenta forte contraste entre os volumes que a compõem. Uma extensa barra de concreto, pigmentado com dióxido de ferro, percorre o terreno longitudinalmente e é responsável, além de dividir o lote, por apoiar a construção superior. Esta consiste em um volume compacto de concreto, que sofre duas subtrações nos seus extremos longitudinais. Como todos os ambientes principais se abrem para estas subtrações, o aspecto final do volume é fechado e pesado, evidenciando o caráter privativo e intimista do espaço. Em contraponto, a área de estar, localizada no térreo, é definida por um volume de total transparência, o qual proporciona a fluidez espacial entre o interior e o exterior e explora a bela visual ao fundo do lote. A fim de valorizar, ainda mais, a vista do horizonte, a cobertura da residência assume o caráter de solário e pode ser visitada, assim como ocorre na Casa em Pinheiros. (Figura 2b) Figura 2: Partido Formal (a) Casa em Pinheiros. Pinheiros, SP, 2007; UNA Arquitetos (b)casa Boaçava. São Paulo, SP UNA Arquitetos Fonte: STRIEBEL, Nathália(2015).

3 Configuração funcional No pavimento de acesso à Casa em Pinheiros, estão. o hall, voltado para o acesso da casa, e uma sala de trabalho, voltada para o jardim. Esses dois espaços configuram uma zona de transição que é responsável por conectar a zona de estar, no nível inferior, com a zona íntima, no superior. Dessa forma, são preservadas a privacidade e independência entre as alas da casa.. O pavimento inferior da Pinheiros se divide em duas alas principais, a ala social, voltada para o jardim aos fundos do lote e a ala de serviço, localizada na extremidade oposta do pavimento. A fim de estabelecer a ordem funcional do conjunto, os elementos compositivos irregulares e mais fragmentos, bem como a circulação vertical, foram concentrados em um bloco central, que separa os usos principais a seu redor. Assim, a ligação entre a zona social e a de serviço é feita por dois eixos de circulação simétricos e periféricos ao núcleo central. No pavimento superior, o espaço correspondente ao núcleo central do pavimento inferior se transforma num corredor dilatado, onde estão a escada e um pequeno estar. Este ambiente organiza as suítes que se voltam para frente e fundos do lote. Nas suítes, observa-se que os elementos irregulares de composição banheiros e closet - não estão concentrados e a inserção dos mesmos não segue um padrão recorrente, sendo observada apenas a tentativa de não impedir a ampla abertura dos quartos para o exterior.(figura 3) Figura 3: Configuração Funcional e Circulação Casa em Pinheiros. Pinheiros, SP, 2007; UNA Arquitetos Fonte:STRIEBEL, Nathália, 2015

4 No pavimento inferior da casa Boaçava, o estar é organizado em uma planta livre, com dois níveis distintos, que garantem a permeabilidade visual entre o interior e o exterior da casa. Em contrapartida, os serviços e áreas molhadas, caracterizados pela configuração irregular, concetram-se em uma longa barra, que apenas tangencia a área social, proporcionando o apoio necessário, sem que a fluidez do espaço social seja interrompida. O eixo principal de circulação é sugerido na interface das duas alas, configurando um pequeno hall, que funciona também como patamar da escada, que conecta os diferentes níveis. No pavimento superior, quartos e banhos se concentram em duas faixas laterais, configurando uma faixa central, que, assim como na casa Pinheiros, se comporta como um corredor dilatado, com a escada e um pequeno estar. Os quartos se voltam para a frente e fundo do lote, com aberturas para as subtrações volumétricas discutidas anteriormente. Priveligia-se,assim, a privacidade destes quartos em relação ao entorno, mesmo que em detrimento de uma melhor orientação solar ou de um melhor enquadramento das visuais. Também aqui, os elementos irregulares de composição não estão concentrados, e sim, interpostos entre os quartos e com aberturas voltadas para os recuos laterais.(figura 4) Figura 4: Configuração Funcional e Circulação Casa Boaçava.,SP UNA Arquitetos Fonte:STRIEBEL, Nathália, 2015 Assim, comparando os dois projetos, observa-se alguns pontos de convergência no arranjo funcional: Na zona social e de serviços: a) concentração dos elementos irregulares de composição em núcleo internalizado (Pinheiros) ou em ala independente (Boaçava) -, configurando o setor social como uma planta livre; Na da zona íntima: a) definição de uma circulação central agigantada que organiza as alas transversais (Pinheiros) ou longitudinais (Boaçava), em que os quartos se voltam para a frente ou para os fundos do lote; b) inserção não padronizada dos elementos irregulares de composição - interpostos entre quartos ou transladados para o perímetro da edificação -, buscando apenas não comprometer a ampla abertura dos quartos para o exterior; Na articulação das zonas, definição de um hall que segrega e organiza os fluxos internos. Tanto a cobertura da Boaçava, quanto a da Pinheiros são visitáveis, caracterizando um espaço de solar, que valoriza a visual privilegiada. Entretanto, na Pinheiros, o último pavimento é composto, além do amplo solar que se estende longitudinalmente em direção às melhores vistas, por uma suíte. Nesse volume, o banheiro é considerado o elemento de forma irregular da planta e sofreu uma translação para o perímetro do edifício.. A circulação neste caso é estabelecida a partir da escada, cujo patamar permite seguir diretamente para o espaço aberto do solar ou penetrar no ambiente.

5 Espacialidade Ao ingressar no terreno da casa em Pinheiros, pelo portão de acesso, é possível seguir para o pavimento inferior por dois eixos de circulação, localizados nas adjacências do lote, ou seguir em direção ao hall de entrada pelo eixo central. Nessas três situações, o indivíduo irá se deparar com uma visual ampla do horizonte, em direção à área verde do terreno, que é favorecida pela materialidade translúcida do volume. Assim como ocorre no ingresso da Pinheiros, a primeira visual de quem entra na Boaçava é em direção a um volume de vidro, que permite a visual do horizonte, entretanto, nesse caso a tensão visual se torna menos multidirecional e mais estática, pela presença de um plano opaco lateral. (Figura 5) Figura 5: Espacialidade - Ingresso Em seguida, ao ingressar nas áreas sociais de ambas as casas, percebe-se uma forte dilatação visual. A tensão multidirecional,com vários pontos focais, é proporcionada pelos planos envidraçados, que abrem o espaço de estar em direção ao pátio interno. Cria-se, dessa forma, um espaço de ampla fluidez, no qual as barreiras entre o interior e o exterior são quase que imperceptíveis. O estar invade o pátio, assim como, o pátio invade o estar, caracterizando um espaço dilatado e repleto de conexões. (Figura 6) Figura 6: Espacialidade - Estar Social

6 Seguindo o percurso em direção ao setor íntimo, localizado nos pavimentos superiores das duas casas, percebe-se a contração espacial. Em contraponto, à dilatação do espaço de estar, a circulação vertical de acesso à zona íntima é caracterizada por um espaço estático e com tensão visual unidirecional, sem aberturas laterais. (Figura 7) Figura 7: Espacialidade - Passagem do Setor Social para o Íntimo Já os cômodos da área íntima, apresentam um único plano translúcido, que, apesar de amplo, tende a tornar as visuais mais direcionadas e a sensação espacial mais estática se comparadas à dinamicidade da zona social. Visto que, no caso da zona íntima a relação com o exterior é limitada, a fim de garantir o conforto e a privacidade dos usuários. (Figura 8) Figura 8: Espacialidade - Setor Íntimo