CASA NO PEIXE GORDO ANÁLISE: CASA NO PEIXE GORDO. Implantação e Partido Formal

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1 CASA NO PEIXE GORDO Local: Peixe Gordo - CE Ano: 2012 Escritório Arquitetos Associados Autoras: Juliana Colombo e Ana Elísia da Costa ANÁLISE: CASA NO PEIXE GORDO Implantação e Partido Formal Localizada na cidade de Peixe Gordo, região praiana do Ceará, a casa está inserida em um lote de 391m² de topografia predominantemente plana e envolvida pela vegetação, com rarefeitos edifícios no entorno (Figura 1). A residência se configura em um prisma isolado no lote e seu arranjo linear de um pavimento busca harmonia e simplicidade na integração do edifício com a paisagem. a) b) c) Figura 1: (a) Implantação e (b e c) imagens da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados. Fonte: COLOMBO, Juliana, A composição compacta da casa é subdividida em dois volumes internos que organizam os setores social e íntimo unificados exteriormente pelos planos inclinados do telhado tradicional de duas águas, cuja modulação de pilares explicita o vão entre os dois volumes internos (Figura 2). Livre de fechamentos verticais, a varanda a norte se configura como um eixo que unifica todos os elementos e como área de convívio e lazer, formando um vazio gerenciador do espaço (Figura 3). Nesta vertente, o partido da residência é dito pelos arquitetos como o ato de construir o aberto, de ir ao encontro com o ilhar e prender e a favor de projetar, na essência, apenas porta e teto.

2 a) b) Ala dos setores social e de serviço Ala do setor íntimo Figura 2: (a) Alas e (b) modulação da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados. a) b) Figura 3 a e b: Esquema volumétrico da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados. Fonte: COLOMBO, Juliana, À medida que se dispõe a maior extensão linear da casa no sentido norte-sul, percebe-se um cuidado primoroso com a orientação solar e os fatores climáticos do nordeste do Brasil, local onde o projeto está inserido. Na fachada norte, os cômodos de permanência prolongada ficam recuados do limite do telhado, formando a ampla varanda que garante sombreamento e frescor dos ambientes o dia todo. Além disso, se observa que todos estes ambientes possuem grandes aberturas e pé direito alto, favorecendo a ventilação cruzada nos mesmos. (Figura 4) Figura 4: Esquema de quebra-sol (seta) e ventos da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados.

3 Configuração funcional A casa é organizada em um único pavimento que abriga todos os setores (social, íntimo e serviços). Na ala oeste se situa o setor íntimo, cuja modulação regular define cinco quartos. Os setores social e de serviço ocupam uma mesma ala na parte leste da edificação. Entre as duas alas, configura-se um espaço residual, um grande jantar, que é tratado com uma extensão da grande varanda a norte. (Figura 5) Figura 5: Espaço residual entre as duas alas (tracejado) e espaço da varanda da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados. Os elementos irregulares das alas banheiros, cozinha, despensas e áreas de serviço - são agrupados em faixas e transladados para o limite externo sul do edifício, favorecendo a relação direta dos ambientes de permanência prolongada com a varanda. Na ala íntima, com exceção da suíte, cada dois quartos compartilha um banheiro, deixando livre um vão que se abre para um pequeno espaço de transição entre o interior e o exterior. Na ala social-serviço, os elementos irregulares são organizados em duas faixas que são separadas pela circulação que garante o uso das bancadas periféricas (Figura 6). Figura 6: Elementos irregulares da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados

4 A varanda é o elemento de maior hierarquia organizacional da casa: é o espaço para onde se abrem todos os ambientes, e por onde está sugerida a circulação principal. Ademais, caracteriza a residência o fato de não ser identificável um único acesso pela ausência de um hall espacializado. Assim, a varanda também atua como elemento de recepção, visto ser o elo entre o ambiente interno e externo, materializando-se em uma faixa de transição. Nos quartos, a circulação é sugerida na periferia longitudinal dos ambientes, conectando o acesso e o banheiro. Assim, a porta voltada a sul tem papel secundário, promovendo a ventilação cruzada no eixo onde estão dispostas as camas. Na ala social, o layout do grande estar sugere duas circulações longitudinais periféricas, que contraditoriamente se opõem às duas aberturas transversais que estão centralizadas no ambiente. A circulação longitudinal também é explorada na faixa de serviços, como já observado, sugerindo uma espacialização (Figura 7). Figura 7: Esquema de circulação interna (linha tracejada) e periférica (linha contínua) da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados Espacialidade A análise da tipologia espacial se detém no itinerário arquetípico mais comum em residências: o movimento de deslocamento que passa pela entrada, setor social e setor íntimo. Essa análise permite avaliar qualitativamente os espaços por meio de percursos virtuais em maquetes 3d que simulam a realidade, embora não a reproduzindo fielmente. A entrada da residência, como abordado anteriormente, se dá pela varanda, que apresenta o espaço de transição do ambiente externo para o interno, funcionando como uma espécie de hall modificado e ampliado. Configura-se um espaço de tensão multidirecional em virtude de ser composto, na sua extensão longitudinal, por uma sequência ritmada de pilares de um lado, mantendo relações abertas com o exterior, em contraponto com o plano isolado de outro, parede opaca que privatiza os ambientes. Percebe-se, assim, um espaço bastante dinâmico e com diversas visuais de interesse (Figura 8).

5 Figura 8: O espaço da varanda da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados Fonte: COLOMBO, Juliana, Ao adentrar no espaço residual que se localiza entre as alas social e íntima, o espaço se dilata verticalmente pelo aumento do pé-direito dado pelo encontro das águas do telhado. Confinado por dois planos paralelos, o espaço se tensiona unidirecionalmente para as circulações periféricas da varanda e da faixa de serviços (Figura 9). Figura 9: O espaço residual entre as duas alas, Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados Após percorrer as áreas de transição, a sala de estar se apresenta como local de acolhimento, com maior quantidade de vedações verticais, apesar de abrir-se para a varanda e para o exterior pelo uso abundante de portas-venezianas. O ambiente possui duas ambiências: uma primeira, em que as venezianas ficam totalmente fechadas, configurando um caráter estático ao espaço, e uma segunda, em que as venezianas estão abertas, abrindo os planos e promovendo uma tensão multidirecional. Observa-se neste último caso um enriquecimento da dinâmica da casa ao conectar os ambientes de estar com a varanda, fornecendo à zona social diversos pontos de interesse focal e conexão com as atividades da varanda (Figura 10).

6 Figura 10: As duas ambiências do estar da Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados Da varanda dilatada, tem-se também o ingresso direto nos quartos, abertos por grandes porta-janelas venezianadas. Nestes, a geometria dos ambientes e o forro rebaixado definem uma espacialidade mais estática. Além disso, se observa que, ao fundo, o volume do banheiro e a pequena porta para o exterior condicionam um espaço mais introspectivo e privado, cuja natureza pode ser alterada com a abertura das grandes portas-janelas venezianadas para a varanda. (Figura 11) Figura 11: O dormitório e sua relação com a varanda, Casa no Peixe Gordo (2012), Arquitetos Associados