V O T O 1. CONHECIMENTO

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1 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Marcia Leite Nery Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: ACP ACÓRDÃO 2ª TURMA. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. PROTELAÇÃO. MULTA. Age processualmente de má-fé a parte que suscita omissão com evidente intuito de reexame do mérito, atraindo, assim, a incidência da multa prevista no parágrafo único do artigo 538 do CPC. opostos pela reclamada conhecidos e rejeitados. Vistos, relatados e discutidos os autos de Recurso Ordinário nos quais PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. - PETROBRÁS, SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA e MAERSK BRASIL BRASMAR LTDA que, assim como o MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, figuram como recorrentes e recorridas, opõem (fls /1.643, 1.647/1.662 e 1.663/1.669). Apontam erro material, omissões, contradições e obscuridades na decisão embargada (1.602/1.637). Manifestações do autor (Ministério Público do Trabalho), das primeira e segunda rés (fls /1.682, 1.685/1.686 e 1.692). Regularmente intimada (fl ), a terceira reclamada não se manifestou. É o relatório. V O T O 1. CONHECIMENTO Tempestivos e regulares, conheço dos opostos pelas rés, por atendidos os requisitos legais de admissibilidade. 2.MÉRITO EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS PELA

2 PROCESSO: ACP PETRÓLEO BRASILEIRO S.A. - PETROBRÁS (fls /1.643) A primeira ré (Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás) aponta contradição na decisão regional. Isso porque "[...] o acórdão embargado afirma que '(...) é incontroverso que os empregados das segunda e terceira rés necessitam ingressar nos estabelecimentos e embarcações da primeira, daí decorrendo sua obrigação de impedir a entrada ou embarque de estrangeiros contratados sem o devido visto de trabalho'. Contudo", prossegue, "o próprio acórdão transcreve trechos do Recurso Ordinário em que tal alegação é expressamente impugnada [...], em que nega o ingresso de tais trabalhadores em seus estabelecimentos, salientando, inclusive, que as irregularidades apontadas ocorreram em embarcações estrangeiras que não são operadas pela Petrobrás [...]" Indica, ainda, obscuridade, pois "[...] se existem trabalhadores exercendo suas funções em embarcações estrangeiras sem o necessário visto de trabalho, tal situação se daria de maneira sub-reptícia, de sorte que seria praticamente impossível a detecção destas irregularidades [...]" Assim, "a fiscalização exigida não é a prevista pela Súmula 331 do C. TST [...]" A embargante afirma, por igual, que há omissão, pois a decisão impugnada "olvidou-se de enfrentar a incidência da Resolução Normativa 72/06". Não tem razão. Num texto de 71 laudas, a embargante, com o evidente propósito de induzir o julgador a erro, transcreve um único parágrafo sem a necessária contextualização. Após extensa e profunda análise do tema, não há dúvida mais séria de que a expressão "incontroverso" (fl verso) diz respeito à conclusão regional. Se os empregados das segunda e terceira rés necessitavam ingressar nos estabelecimentos e embarcações da primeira, "daí decorre sua obrigação". O formalismo da embargante tangencia a má-fé. Isso sem levar em consideração que a decisão embargada fundamentou-se em argumento diverso, porquanto "se a primeira ré foi condenada no item 2.2, sendo obrigada a inserir em seus contratos a obrigatoriedade de exigir o cumprimento dos preceitos trabalhistas, impedindo a entrada ou embarque de estrangeiros que não possuam o visto temporário de trabalho, é intuitivo que deve fiscalizar as empresas com as quais possui contrato de prestação de serviços para que estas só contratem estrangeiros segundo as normas da legislação trabalhista brasileira" (item 2.1, que "nada mais representa que decorrência lógica, que implementação fática do item 2.2")

3 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Marcia Leite Nery Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: ACP Noutro passo, a responsabilidade da primeira ré decorre da sua relação com as empresas contratadas, não cabendo ao Regional definir minúcias práticas fiscalizatórias. No mais, os restritos limites do mecanismo manejado inviabiliza discussões acerca do alcance dos termos da Súmula 331 do C. TST. Não percebo, assim, a contradição e a obscuridade mencionadas. A questão afeta à aplicabilidade das Resoluções Normativas (inclusive a 72/06) foi abordada de forma clara, exauriente e expressa. Leio na decisão impugnada que "não se discute a atribuição do Conselho Nacional de Imigração quanto à edição de resoluções [...], mas sim o exaurimento de seus limites". Logo, prossegue o v. acórdão, "[...] pouco importam os argumentos trazidos pelas rés (em especial, a primeira - Petróleo Brasileiro S.A. - Petrobrás), segundo as quais se o Ministério Público do Trabalho solicitou ao CNI a imposição de restrições aos trabalhadores estrangeiros (fato que, segundo afirmam, resultou na Resolução Normativa 72/06), é porque o Parquet 'era sabedor de que a legislação brasileira não confere guarida à sua pretensão'. No mesmo sentido a tese da Petrobrás de que se "a julgadora considerou válida a Resolução 72/06, deve aplicar todas as suas regras'[...]" (fl ). Ademais, se a Turma concluiu ser "constitucional a proporcionalidade fixada pela lei [artigo 354 da CLT] entre trabalhadores nacionais e estrangeiros, porquanto harmonizada com o princípio da igualdade, em atendimento à soberania nacional, fundamento maior da República Federativa do Brasil (artigo 1º da Constituição)", como estampado já na ementa da decisão regional, não vislumbro qualquer omissão quanto aos limites ali impostos. Como bem exposto pelo Ministério Público do Trabalho, "[...] restou devidamente definido que não é permitido o trabalho permanente dentro do território nacional, por trabalhador estrangeiro, sem o visto de trabalho. Isto porque nenhuma resolução do Conselho Nacional de Imigração pode contrariar ou revogar a Lei 6.815/80, a qual só permite o exercício de atividade profissional pelo estrangeiro, admitido na condição de temporário, sob regime contratual [...]" (fl ) EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR SUBSEA 7 DO BRASIL SERVIÇOS LTDA

4 PROCESSO: ACP "Esclarece" a segunda ré (Subsea 7 do Brasil Serviços Ltda) que "os fatos que deram origem a esta Ação Civil Pública não mais ocorrem desde 2003, ou seja, não existem mais estrangeiros trabalhando no Brasil sem visto temporário". Alega, ainda, que "se no passado alguns estrangeiros ingressavam para trabalhar embarcados apenas com 'protocolos' de pedido de visto temporário, isso ocorreu por culpa exclusiva das autoridades competentes, já que estavam em vigor Resoluções Normativas do CNI que autorizavam expressamente este procedimento". Nesse sentido, prossegue a embargante, "deve ser considerado que a indústria do petróleo estava superaquecida no Brasil, precisando urgentemente de embarcações estrangeiras e de profissionais marítimos [...], e que, por questões burocráticas, o Ministério das Relações Exteriores levava vários meses para expedir os vistos temporários, o que justificava o procedimento estabelecido pelas RN 31/98 e RR 01/99, ambas do CNI [...]" Portanto, conclui, "imaginava que estava amparada pelo direito, especialmente porque, através de mandados de segurança, conseguiu liminares que lhe transmitiram ainda mais confiança [...]" Logo, "não houve má-fé". Concorda que "a decisão é clara e não deixa nenhuma dúvida no sentido de serem consideradas irregulares e inaplicáveis aquelas Resoluções". Entretanto, aponta omissão quanto à Resolução Normativa 72/06, "[...] que estabelece uma proporcionalidade inferior a que é estabelecida pelo artigo 354 da CLT, e autoriza, também, o trabalho de marítimos e técnicos estrangeiros em embarcações e plataformas estrangeiras que operam no Brasil, sem vínculo de emprego no Brasil [...]" Pretende, dessa forma, expressa "declaração quanto à aplicabilidade da proporcionalidade inferior, estabelecida pela Resolução Normativa 72/06". Indica, também, obscuridade quanto à aplicação da legislação trabalhista brasileira para os estrangeiros que executam tarefas no território nacional. Tornando à citada Resolução 72, assevera que "[...] não é do interesse desses estrangeiros renunciar aos direitos trabalhistas dos países em que vivem com suas famílias, para gozarem dos direitos trabalhistas da legislação brasileira, país com o qual não mantêm nenhuma relação [...]" Tanto que o C. TST "cancelou a Súmula 207 [...], mandando aplicar o princípio da lei mais benéfica ao trabalhador em substituição ao princípio da lex loci executionis [...]" Também não tem razão. Se após longa e desnecessária repetição de argumentos já expostos no apelo ordinário, a segunda reclamada conclui expressamente que "a decisão é clara e não deixa nenhuma dúvida no sentido de serem consideradas irregulares e

5 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Marcia Leite Nery Av. Presidente Antonio Carlos, 251 6º Andar - Gab.51 Castelo Rio de Janeiro RJ PROCESSO: ACP inaplicáveis aquelas Resoluções" [RN 31/98 e RR 01/99], e se a Resolução 72/06 foi abarcada pelos mesmos argumentos, não há o vício apontado. Aliás, a questão afeta à proporcionalidade ali mencionada, já foi abordada nos Embargos da primeira ré. Não percebo, assim, a omissão indicada. Lado outro, expôs o Regional que se "a pretensão tem natureza preponderantemente coerciva, inibitória [...], e visa a impor às rés sanções de cunho condenatório decorrentes da postura por elas adotada, e sobretudo a impedir que a perpetuem [...], não são importantes as alegações quanto à ausência de vínculo de emprego" (fl ). Isso sem contar que "a presente ação não trata da hipótese de empregados estrangeiros sem vínculo empregatício no Brasil", como salientado pelo Parquet (fl ). Não há obscuridade. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS POR MAERSK BRASIL BRASMAR LTDA Em que pese a indicação de obscuridade, omissão e erro material, a terceira ré (Maersk Brasil Brasmar Ltda) aponta, em última análise, julgamento extra petita. Isso porque, segundo explica, em sede de, a i. sentenciante excluiu da condenação a indenização a título de danos morais, consoante pedidos 1.4 e 1.5, que não foram devolvidos à jurisdição pelo autor. Não há os vícios apontados. Simples leitura do dispositivo da decisão impugnada (fl ) deixa claro que a extensão da responsabilidade da terceira ré abrangeu os itens 1.1 e 1.2. Não há qualquer menção aos pedidos 1.4. e 1.5. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 538 DO CPC É nítida a intenção das reclamadas de revolvimento o cenário fáticoprobatório e obter reexame do mérito, aspecto que revela a natureza meramente protelatória dos embargos. Visam as rés tão somente à manifestação de inconformismo contra a decisão que lhes foi desfavorável. Pelo exposto, CONHEÇO dos opostos pelas rés e, no mérito, REJEITO-OS, condenando, cada uma, no pagamento da multa de

6 PROCESSO: ACP 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos expostos pelo parágrafo único do artigo 538 do CPC. 3. DISPOSITIVO A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer dos embargos de declaração opostos pelas rés e, no mérito, rejeitá-los, condenando, cada uma, no pagamento da multa de 1% (um por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos expostos pelo parágrafo único do artigo 538 do CPC. Rio de Janeiro, 3 de Julho de DESEMBARGADORA DO TRABALHO MARCIA LEITE NERY Relatora